04/02/2019

Orgulho de Ser Professor

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br

 

            A profissão docência nos dias atuais tem mais motivos para a pessoa não seguir a carreira do que para ela ser um professor, começando por uma pesquisa publicada pela Varkey Foundation em 2018 ao qual coloca o Brasil em primeiro lugar em relação ao menosprezo aos professores, ou seja, uma pesquisa realizada com 35 países, o nosso amarga um primeiro lugar em menosprezo, desvalorização do profissional em educação.

            Na China que ficou em último mostra que os professores lá são bem respeitados a ponto de 81% dos pais quererem que seus filhos façam uma licenciatura.  Aqui no Brasil corresponde a menos de um quinto dos pais que gostariam que os filhos seguissem a carreira da docência.

            Obviamente isso não aconteceu da noite para o dia, pois em tempos remotos, professores eram bem quistos na sociedade e representavam status perante ela, entretanto, com a desvalorização da classe, o desrespeito dos alunos e de seus familiares, o descaso dos secretários (regionais e estaduais), a indiferença dos governantes, tornaram a seara do magistério em o que era para ser um campo fértil em um deserto salino.

            Para ser professor em nosso país, faz-se necessário que o profissional enfrente alguns reveses como a própria desvalorização e falta de respeito citado acima, como também falas imbecis de pessoas que fizeram desta profissão o seu sustento e que hoje devido a sua mudança de status, simplesmente ignora a classe.

            Interessante é perceber, que na área da sociologia tal comportamento é fundamentado pelas falas de Marx quando ressaltava que as idéias dos homens mudavam, conforme mudavam as suas condições de vida material, e assim aconteceu com nosso ex-presidente FHC, que se aposentou como professor e disse a infeliz frase "se a pessoa não consegue produzir, coitada, vai ser professor. Então é aquela angústia para saber se o pesquisador vai ter um nome na praça ou se vai dar aula a vida inteira e repetir o que os outros fazem".

            Até mesmo no meio acadêmico, corre-se o risco em ler ou ouvir pérolas que vem a denegrir a imagem do professor ou até mesmo frustrá-lo em seus planos como aconteceu quando o Cid Gomes que até então era governador do Estado do Ceará disse que "quem quer dar aula faz isso por gosto, e não pelo salário. Se quer ganhar melhor, pede demissão e vai para o ensino privado", ou seja, nós professores não precisamos de um salário digno.

            Antes para um professor ganhar um adicional, precisaria fazer especializações (Lato sensu ou strictu sensu) com esperança de ter entre 10 a 30% de acréscimos em seu salário o que já foi cortado por muitos governadores nos planos de carreiras, e já ouvimos até mesmo de Secretária de educação a de que professor de ensino fundamental não precisa de pós-graduação, pois isso é apenas requisito para o mesmo lecionar em faculdades.

            Como percebido, são tantas imbecilidades de pessoas que deveriam valorizar a classe, que as mudanças congelaram suas sensibilidades e memórias, pois se esqueceram de onde vieram.

            Apesar destes intempéries enfrentados pelos docentes, mesmo não sendo reconhecidos pelos familiares de seus alunos, por políticos, estes trabalhadores do conhecimento, acreditam na mudança que a educação pode implicar, e por isso, dedicam-se ao máximo para que esta mudança faça a diferença da vida de seu aluno.

            A docência é uma profissão que tem a função de conduzir almas para saírem de suas inércias e caminharem para a realização de seus sonhos como verdadeiros lapidários, pois o aluno é visto com uma pedra bruta que será lapidada, ressaltando o diamante valioso que estava ali escondido pelas impurezas mas que este profissional com seu olhar clínico conseguiu enxergar o quão valiosa é esta alma, e assim, pode-se dizer que muitos familiares sequer conseguiram enxergar o quanto seu filho poderia se metamorfosear.

            A profissão de docência é tão importante que ela afeta a eternidade tornando-se difícil mensurar até onde sua influencia é capaz de chegar.

            O bom professor carrega consigo uma estranha mania de ter fé na vida, e desta forma, ele vai trabalhando, apesar de seu quase esgotamento, ele acredita que aquela aula que está lecionando é a aula que mudará a vida de um de seus alunos, e desta forma, ele vai juntando seu rebanho para que nenhuma de suas ovelhas se perca.

             Embora ele seja a profissão menos prestigiada em nosso país, todos os profissionais passam por sua mão e carregam em si a sua marca.

            Ser professor exige do profissional um olhar mais crítico e mais holístico, ou seja, não basta ter conhecimento de sua disciplina, e apesar de falarem que pós-graduação não é importante para um professor de ensino fundamental, muitos acreditam e buscam cada vez mais um aperfeiçoamento, pois tal pensamento nos faz com que sejamos uma das profissões mais completas do mercado, pois além das nossas habilitações, precisamos ter entendimentos de áreas como sociologia, pedagogia, psicopedagogia, filosofia, psicologia, antropologia, assistência social, tecnologias e política, para que o aluno entenda o seu contexto e tenha um olhar diferenciado sobre o seu entorno e saia de um mero agente passivo para um agente transformador e protagônico.

            Faz-se perceber que o bom professor nada sabe em termos de como o aluno aprende, isso porque o aluno não pode nunca ser visto como uma folha em branco. Quando o professor começa a ter segurança quanto ao seu método de ensino, muda-se a turma e tudo cai por terra, pois somos ímpares e cada aluno tem a sua especificidade, ou seja, não se pode aplicar o mesmo método para todos alunos e/ou todas as turmas.

            O professor tem sempre que encantar seu aluno, rever sua postura, suas metodologias e inovar suas aulas para que tal transformação em seu aluno possa ocorrer.

            Todos os professores precisam comungar com a ideia de que a sua aula não é uma simples aula para fazer parte do histórico escolar e/ou grade curricular, mas sim a oportunidade que ele está tendo para fazer a diferença na vida de alguém, tirando-a de sua área de risco social e mostrando que a educação realmente se levada a sério pela sociedade, pode transformar sonhos e vidas.

            E assim o professor vai auxiliando seu aluno a tecer seu próprio destino, desenvolvendo nele o desejo de aprender e de fazer a diferença.

            O orgulho em ser professor está desta forma em ser referência para seu aluno, em saber que aquele aluno desacreditado pela sociedade, hoje é um juiz, um médico ou até mesmo um professor graças ao seu empenho e fé na vida.

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