18/10/2022

O Vitiligo em Questão - Uma Revisão Bibliográfica Frente aos Desafios da Patologia

Vitiligo2

MENDONÇA, João Paulo Santos Neves.*;

DO VALE, Francielly Felipe.**;

DE SANTANA, Laura Ribeiro.**;


* Professor Orientador. Docente na Universidade de Cuiabá – Campus Primavera do Leste. Mestre em Ciências da Educação. Especialista em Docência do Ensino Superior. Graduado em Química e Pedagogia.

**Graduandas pela Universidade de Cuiabá – Campus Primavera do Leste.


      O vitiligo é a falta de pigmentação na pele caracterizada pela ausência dos melanócitos, células responsáveis pela pigmentação da pele, que resulta em manchas brancas pelo corpo, a causa que leva destruição dos melanócitos, permanece desconhecida. É uma doença sem distinção de raça ou sexo, sendo mais evidente em pessoas de pele negra.

      Existem algumas teorias de sua causa, sendo elas genética, autoimune e emocional. Na maioria dos casos a despigmentação da pele afeta diretamente a autoestima, fazendo com que desenvolvam doenças psicológicas e que aumente sua manifestação pelo corpo. Mesmo que desconhecida a causa, o maior motivo para proliferação da doença é o estado emocional que o paciente se encontra.

      Geralmente a fase de início dessa doença é em jovens, sua manifestação é mais comum em pacientes com menos de 20 anos, com o surgimento de manchas no pescoço, punhos, rosto, pés e axilas, com tendencia a aumentar com o avanço da doença, também é comum aparecer pelos brancos pelo corpo (sobrancelhas, barba e cabelos) de forma prematura. Essas manchas são esbranquiçadas, espalhadas por todo o corpo, com formatos ovais, arredondadas ou lineares, com bordas curvadas de tamanhos variados.

      Até o momento, não existe cura para doença do vitiligo, apenas tratamentos para evitar o aumento das manchas pelo corpo, sendo elas o usam de protetor solar, pomadas a base de cortisol que ajudar o organismo a controlar o estresse, reduzir inflamações, contribuir para o funcionamento do sistema imune e manter os níveis de açúcar no sangue constantes e também laserterapia, que associado vitamina A, que aumenta a produção de melanócitos.

O VITILIGO EM QUESTÃO

      Para darmos início ao assunto, devemos explicar um pouco sobre a pele, que por sua vez é o maior órgão do corpo humano. Nossa pele se divide em 3 camadas, sendo a Epiderme, onde se encontra os melanócitos e queratinóitos (células responsáveis pela queratina e pigmentação da pele), a Derme onde se encontra as fibras de colágeno, responsáveis pra sustentação da pele, e a Hipoderme que é composta pelas células de gordura, os adipócitos. Uma doença crônica caracterizada por manchas de despigmentação na pele.

      A doença do vitiligo ocorre nessa primeira camada da pele, a derme, onde por sua vez é decorre a despigmentação, ocasionada pela auto destruição dos melanócitos, e quando isso acontece, por conta da morte destes melanócitos, a produção de melanina e interrompida, fazendo com que a pele perca a sua cor, levando ao início das aparições de manchas brancas espalhadas pelo corpo.

      Já os melanócitos, são as células responsáveis pela produção de melanina a qual se dá a pigmentação da pele. São derivadas da crista neural, que além de ficarem localizadas na epiderme, também são encontradas em partes dos olhos, no ouvido interno, no epitélio vaginal, nas meninges, ossos, e coração, o que explica os lugares de aparição das manchas no início da dermatose. A melanina produzida nos melanócitos, que ocorre mais precisamente no interior de organelas chamadas melanossomos, transportados para queratinócitos próximos. Estas células exercem um papel importante na proteção contra a radiação UV. No microscópio, uma amostra de pele afetada, irá mostrar a ausência dos melanócitos, produtores do pigmento.

      Essas manchas podem surgir em qualquer parte do corpo, inicialmente é pelo rosto, pés, axilas, mãos e com avanço da doença, se espalham pelo resto do corpo, podem aparecer também nas regiões das mucosas. Os pêlos da região afetada também perdem a sua cor, como cabelo, barba, cílios e sobrancelhas.  Essas manchas são assimétricas, com as bordas arredondadas, com formatos ovais ou arredondadas e de tamanhos variados.

      Geralmente existem 3 tipos de padrões de manchas, sendo elas: Padrão Focal, onde a despigmentação se limita a apenas uma ou algumas áreas. Padrão segmentar, que se desenvolvem em apenas um lado do corpo, e por fim o mais comum, Padrão generalizado, que despigmentam ambos os lados do corpo assimetricamente. O vitiligo atinge cerca de 0,5% da população mundial, de diferentes idades, raça ou sexo, o início de sua aparição é mais comum em pacientes com menos de 20 anos.

      Seu diagnóstico geralmente é dado após um exame físico, o médico suspeitara após o relato, e a averiguação das manchas brancas. Fatores importantes para o diagnóstico serão questionados pelo médico bem como: histórico familiar, alguma erupção cutânea, queimadura solar, ou algum outro trauma de pele na região da aparição da mancha. Também será avaliado se ocorreu algum trauma ou estresse. O médico poderá também fazer retirada de uma pequena amostra de pele para biópsia.

      Algumas teorias tentam explicar esta dermatite, que é considerada uma das mais graves, sendo elas: a autoimune onde os melanócitos são destruídos pelas células de defesa, que passam atacar e matá-los. A teoria da autocitotoxicidade. Sua base é que a morte dos melanócitos é secundária à sua capacidade diminuída em eliminar os metabólitos tóxicos formados durante a síntese de melanina. E por fim a teoria neural, pela qual a morte dos melanócitos seria causada por mediadores neuroquímicos liberados pelos nervos e são tóxicos para os melanócitos. Em resumo, nenhuma dessas teorias citadas acima, explica o surgimento da doença, mas ambas estão de alguma forma ligadas à doença, e ainda precisam ser bastante estudadas.

OS DESAFIOS ENFRENTADOS POR PORTADORES DE VITILIGO

      O vitiligo apesar de não apresentar nenhuma deficiência física, afeta significativamente a qualidade de vida e a auto autoestima dos pacientes, que sentem vergonha por conta de as manchas serem bem visíveis pelo corpo, comprometendo a imagem corporal e a vida social. Muitas vezes paciente sofrem bullying por conta da sua condição, que são mais visíveis em pacientes de pele negra.

      Com o aumento do estresse causado pelo incômodo com as manchas, a doença vai progredindo, as manchas aumentam e se espalham em mais partes do corpo. Indivíduos com vitiligo sofrem discriminação, o que resulta mudanças significativas em relação ao seu estilo de vida, como o uso de roupas mais fechadas para tentar esconder as manchas ou até mesmo evitar de sair para lugares com um acúmulo de pessoas, para evitar perguntas e comentários, situações que geralmente desencadeiam quadros de depressão, ansiedade, crises de pânico e fobia social.

      Considerado por alguns profissionais da área médica apenas uma questão estética, pelo fato de não comprometer a saúde física do portador, isso acaba potencializando ainda mais os prejuízos psicossociais do paciente (Nogueira; Zancanaro; Azambuja-2009). O início do vitiligo pode ser atribuído, pela genética, doença autoimune ou pelo emocional, vindo de um grande estresse emocional, perda de pessoas muito próximas, separações ou morte.

      De acordo com o Papadopoulos (2005), os pacientes relatam com frequências sentimentos de inseguranças, ansiedade e desamparo. Além disso é normal que os pacientes não entendam como a doença se desenvolveu, por isso a importância de um auxílio psicológico aliado ao seu tratamento, para evitar tanto os problemas psicossociais, quanto para a ajuda na melhora das manchas e ter um resultado positivo.

      Em meados de 1980, o cantor Michael Jackson foi diagnosticado com vitiligo e se tornou um dos casos mais conhecidos no mundo. Muitos na época achavam que ele tinha feito cirurgias ou tomado remédios para mudar a cor da pele, por ser uma doença não muito conhecida, quando na verdade se tratava mesmo do vitiligo.

      A partir daí, surgiram muitos famosos diagnosticados com a doença, alguns nomes como Luiza Brunet, Steve Martin, Jon Hamm, Thomas Lennon, Winnie Harlow, entre outros nomes, que com o avanço da internet e as mídias sociais, vieram a público incentivar outras pessoas com a doença, fazendo com que diminui-se consideravelmente a descriminação e principalmente a desinformação sobre a doença.

TRATAMENTOS

      Como ainda não foi descoberta cura, são abordados diversos tratamentos para o vitiligo, onde seu objetivo é reduzir o contraste sobre a área da pele afetada. O início do tratamento se dá após a avaliação do número de manchas brancas, da localização, tamanhos e o quão exposto elas estão. Estes tratamentos, vai paciente para paciente, onde uns podem ter melhoras significativas e para outros, pode não funcionar. As opções atuais para o tratamento do vitiligo incluem medicamentos, cirurgia e terapias adjuvantes, nas quais podem ser usadas junto com tratamentos cirúrgicos ou médicos. Algumas terapias médicas e cirúrgicas ajudam a reduzir a aparência do vitiligo, abaixo citaremos algumas delas, começando pelas terapias médicas.

      Terapia tópica – onde é prescrito o uso de cremes e corticosteroides, que ajudam na repigmentação de manchas brancas, principalmente se for aplicado no início da doença. Mas, assim como qualquer outro medicamento, os cremes podem causar efeitos colaterais, por isso o médico faz o acompanhamento da pele durante o uso.

      Fotoquimioterapia com Psoralen – um tratamento eficaz para muitos pacientes, é conhecido como terapia psoralen e ultravioleta a PUVA, que tem como objetivo, estacionar a progressão e promover a repigmentação da pele através da exposição das áreas afetadas a radiação ultravioleta. O tempo que o paciente é mantido em contato com os raios varia de acordo com o tipo de pele e outros fatores, assim como a duração do tratamento, que tende a ser prolongado. Já a Psolaren, é uma droga, ministrado tanto por via oral, quanto via tópica, que contém produtos químicos onde associados a luz ultravioleta causam o escurecimento da pele. Existem alguns efeitos colaterais com o uso da psoralena oral, sendo coceira, queimadura solares, náuseas e vômito, também podendo causar câncer de pele. Por isso é um tratamento que exige muito acompanhamento médico.

      Tratamento de despigmentação – este tratamento e indicado para pessoas com mais de 50% da área do corpo afetada, e após este tratamento, o paciente será mais sensível a luz solar. Para este tratamento, e prescrito um medicamento em forma de pomada, chamado Monobenzil éter de hidroquinona, onde o indivíduo e instruído a passar 2 vezes ao dia nas partes do corpo onde ainda há cor, até que fiquem igualmente despigmentadas. Podem causar vermelhidão e inchaço, e é recomendado ficar até 2 horas sem contato com outra pessoa pois o contato pode causar manchas nas outras pessoas.

      Existe também tratamentos com laser de baixa frequência, mas que seus resultados podem não ser permanentes, por isso é considerado um tratamento leve. Além desses tratamentos médicos existem os tratamentos cirúrgicos, que geralmente são escolhidos quando os tratamentos tópicos não dão resultados, feitos à base de enxertos/transplantes, são eles: Enxertos autólogos de pele – que é a retirada de pele do individuo na região afetada e transplantada para parte não afetada. Podendo ocorrer infecções no local de retirada, e também o surgimento de cicatrizes. É mais indicado para pacientes no inicio da doença, ainda com poucas manchas.

      Outra forma de enxerto é com bolhas, onde o medico cria bolhas na pele pigmentada do indivíduo, usando calor, congelamento ou sucção, e após isso e cortado o topo desta bolha que é enxertada no local despigmentado da pele. Neste procedimento o risco de cicatrizes é menor do que os outros tipos de enxertos, mas o risco de não pigmentar também é o mesmo.

      Um ultimo procedimento de enxerto, é o transplante autólogo de melanócito, que é feito a retirada do tecido do mesmo indivíduo que recebera o mesmo, o médico coleta uma amostra da pele ainda não afetada, onde no laboratório é adicionado em uma solução de cultura especial de células, para o estímulo de crescimento dos melanócitos. Quando os melanócitos na solução de cultura se multiplicam, o médico transplanta estes enxertos para as áreas despigmentadas do corpo. É um procedimento caro, e seus efeitos colaterais não são conhecidos, podem deixar cicatrizes, na área implantada e também há o risco de não pigmentar.

      Além de terapias médicas e cirúrgicas, existe práticas que o paciente pode fazer por conta própria para a proteção da pele, evitando o aparecimento de manchas brancas, tais como: Protetores solares, que seu uso ajuda a minimizar a exposição direta com o sol, é indicado um protetor solar que ofereça a proteção contra a luz UVA e ultravioleta, para proteger a pele de queimaduras solares. Optam também pelo uso de maquiagem para cobrir a área afetada.

      E grupos de apoio, pois os pacientes com vitiligo são afetados não só fisicamente, mas também psicologicamente, por isso obter ajuda de um psicólogo, é importante para ajudar a lidar com a doença, e também frequentar grupos de apoio com pessoas que também passam pelo mesmo problema.

      Não é aconselhável que o individuo com o vitiligo faça bronzeamentos, pois os locais onde ainda tem cor, podem ficar mais evidentes e causar mais desconforto relacionados a auto estima. Alguns pacientes também recorrem a micropigmentação ou tatuagem, onde é implantado pigmento na área afetada, quando recorrem a micropigmentação, geralmente é feita na área da mucosa, o procedimento tem menor durabilidade porque é implantado numa camada superficial, devolvendo a cor dos lábios temporariamente. Contudo, são apenas tratamentos que ajudam no controle da doença, onde sua eficácia depende da resposta do individuo em relação ao tratamento. Ainda há muito estudo sendo realizado para uma possível cura e controle desta dermatose.

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