03/05/2017

O UNIVERSO.

*Dênio Mágno da Cunha

            Sou leitor de horóscopos. Diariamente leio três. Faço também visita a um site que me permite lançar cartas do Tarô. De vez em quando, jogo o I Ching. Isso não faz de mim um ser ansioso por saber o futuro ou (pelo menos) a previsão de como será o “clima” do dia, dos nascidos em Peixes com ascendente em Leão. Sou apenas um curioso por tudo que seja possível ser curioso. No entanto, especificamente, essa curiosidade tem revelado alguns bons resultados.

            Uma das lições que aprendi com este hábito é sobre a impossibilidade de prevermos o futuro ou, horóscopo não é para prever o futuro. Não fico sabendo com antecedência se os alunos faltarão às aulas ou se o trânsito estará ruim naquele dia. Nada disso. No entanto, entre crenças, previsões e sensações, percebi por diversas a mensagem dirigida a todos, coincidir com o meu momento de vida, ou trazerem algum tema sobre o qual vale a pena refletir.

            Um exemplo é esta mensagem escrita por Oscar Quiroga[1] e compartilhada por uma amiga que prezo muito.

Tua presença individual é tão importante e valiosa quanto valham e sejam importantes as conexões que fizeres com teus semelhantes do reino humano e, também, com todos os outros reinos da natureza, visíveis e invisíveis, porque, será através dessas conexões que o Universo distribuirá graciosamente a Vida para a qual e pela qual ele mesmo existe. (QUIROGA, 28-04-2017)

            Chama-me a atenção em primeiro lugar à relação estabelecida entre o indivíduo e o universo, entre a parte e o todo. Esta relação nem sempre é observada, embora vivamos em rede. Observo no cotidiano da sala de aula, o quanto alunos desvalorizam o seu papel em trabalho em grupos: faltam às aulas, deixam de comparecer a reuniões dos grupos, ficam em silêncio quando aparecem, concordam com tudo que é decidido, não se integram ao grupo. Os atuantes me dizem serem aqueles, “folgados”, do tipo que não quer saber de nada. Penso não ser assim. O comportamento auto excludente é na verdade uma ignorância quanto a relevância da individualidade no processo do grupo, espelhada na frase: “se eu não fizer, alguém fará”, uma negação da capacidade de fazer e uma delegação proposital da capacidade de fazer a outro.  Na verdade, uma negação do talento individual em prol da coletividade.

            O segundo aspecto a destacar é a utilização da expressão “Universo”. Não que seja estranha ao texto, mas porque, junto com “humanidade” forma a dupla que define a área de influência do Ser. Quando uso estas duas expressões, consigo ver como somos restritos no dia a dia; como a expressão “olhar para o próprio umbigo” predomina. Aliás, cada vez mais literal, uma vez que a postura da nova geração está mudando, sofrendo um retrocesso em direção às cavernas. Sociologicamente, observa-se um impasse entre cuidar de si mesmo e abrir-se para a sociedade; entre o efeito “cocoon” (casulo) e a teoria Gaia[2] ou o conceito da interdependência (budista). Vejo no Brasil esses dois movimentos e na escola, idem. Grupos de trabalho altamente produtivos, energéticos, brilhantes, que funcionam harmoniosamente em sua produção coletiva, convivendo ao lado de indivíduos que vivem dobrados sobre si mesmos, vivendo uma relação virtual distante que os impede de interagir com a vida real. Estão sempre lá, nunca aqui.

            O texto do astrólogo continua, expressando as consequências de uma ou outra relação estabelecida com o Universo:

O que guardares para ti e, também, todos os convencimentos que te levarem a desprezar os semelhantes e diferentes servirão de constatação da pouca importância que tua presença individual terá.

Tu és quem verdadeiramente és por tua presença ser integrada ao complexo e fabuloso sistema de distribuição de Vida, que é o Universo. Qualquer comportamento que desvie essa finalidade será tua ruína. (QUIROGA, 28-04-2017)

            Caso a sua relação com o Universo seja de esconder seus talentos, desprezando (a si mesmo) os demais, o risco é do agravamento do distanciamento. A responsabilidade pela proximidade não é do Universo, é do indivíduo. Isto é, parte do indivíduo o gesto de integração, de abertura, de expansão. O Universo, dizem, “conspira a favor” daqueles que vão ao seu encontro.; “O Universo protege quem o proteger e arruína quem o arruinar”, vaticina o astrólogo.

            Conclui-se, portanto, que se desejamos – e com certeza desejamos – alterar a relação de vida entre os indivíduos e o Universos, devemos trabalhar cada vez mais a integração entre equipes; entre as organizações e seus membros; entre membros de uma comunidade; entre governos e sociedade; entre países; na construção de uma agenda única. Sabe-se o quanto isto é difícil e complexo, dado os diversos interesses individuais e de grupos que predominam nos comportamentos e na cultura brasileira. Por mais que dizemos ser o brasileiro um ser solidário, ainda estamos muito aquém do necessário. No plano que rege a sociedade, infelizmente, estamos a “anos luz” de distância, pois não temos um projeto de futuro comum.

            Para terminar este texto, ressalto um aspecto sobre o qual tenho discutido com frequência: a necessidade da relação professor-aluno ser alterada para uma relação mestre-aprendiz, de modo à construção de um relacionamento entre partes do Universo escolar. A base para isso é a compreensão também da responsabilidade (e relação) comum que deveríamos ter com a transformação da Humanidade, através da ação coletiva-cooperativa, interdependente. Quando ela acontece, vê-se a diferença entre o casulo e a comprovação do efeito Gaia.

* Professor Doutor em Educação pela Uniso, Universidade de Sorocaba. Consultor em Carta Consulta; professor em Centro Universitário Una.

 


[1]  Astrólogo (e escritor) argentino, naturalizado brasileiro. Estuda a relação entre os astros e a humanidade. https://www.facebook.com/astroquiroga/

[2] A hipótese Gaia, também denominada como hipótese biogeoquímica, é hipótese controversa em ecologia profunda que propõe que a biosfera e os componentes físicos da Terra (atmosfera, criosfera, hidrosfera e litosfera) são intimamente integrados de modo a formar um complexo sistema interagente que mantêm as condições climáticas e biogeoquímicas preferivelmente em homeostase. (Wikipédia)

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