09/05/2017

O que é essencial na Política de Egressos?

*Wille Muriel

Não é exagero afirmar que os egressos são a maior riqueza que uma instituição de ensino superior pode ter. Eles representam aquilo que ela produz por meio de suas ações educacionais, pois forma profissionais para o mundo do trabalho e, também, para a cidadania.

Egressos bem formados tornam-se profissionais melhores, criam carreiras mais bem-sucedidas, empreendem inovações de valor para as organizações e para a sociedade e tornam-se a principal referência para a marca de uma instituição de ensino superior. Eles podem atuar, direta ou indiretamente, na captação de novos alunos, no desenvolvimento de novas oportunidades para a IES, participando ativamente da vida acadêmica, e na formação de novos profissionais.

Relacionamento

Acompanhar os egressos deveria ser uma das principais ações da gestão universitária no Brasil. Estatísticas mais recentes do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) revelam que existem 7,8 milhões de alunos matriculados na educação superior. Estima-se que pouco mais da metade concluirá o curso; ou seja, algo em torno de quatro milhões de pessoas que buscam desenvolvimento profissional e a realização de sonhos de vida. Estes números indicam a importância de acompanhar os egressos, não apenas para medir o impacto de sua formação universitária na sociedade, mas também para manter o relacionamento com eles, estabelecendo-se como seu porto seguro, seu refúgio em momentos difíceis e a sua principal referência científica. Os professores seriam percebidos como mentores e o campus seria um local para reencontros e para o entretenimento, por meio de programas esportivos, científicos e culturais.

Na prática

Mas o que é preciso fazer para transformar essa visão em resultados concretos?

Para criar um relacionamento duradouro com os egressos, é preciso criar, primeiro, uma instituição de “educação” superior, uma organização que não se desprende do que é essencial para a sua relevância econômica e social e que supere o entendimento ultrapassado de que bons educadores não podem ser bons gestores, e vice-versa.

Partindo para a operação, é necessário entender que um programa de relacionamento com egressos começa antes do primeiro dia de aula e nunca depois do último. Isso exige um novo entendimento quanto à importância da experiência no campus universitário, pois a oferta educacional de qualidade não se restringe à sala de aula ou à matriz curricular. Estas estruturas são próprias de uma planta de produção, em que o aluno entra como matéria-prima e sai como produto acabado para o mercado. Esta não deve ser a lógica conceitual nem o modelo de operação de uma IES, sobretudo para este novo século.

A experiência com a marca começa quando ocorre o primeiro contato com uma imagem ou quando se ouve falar sobre uma instituição. Este momento é muito importante para o desenvolvimento do relacionamento com o candidato, com o aluno e com o egresso, sendo, portanto, o primeiro passo para a execução da política de egressos. Uma percepção positiva pode levar a uma sensação de segurança, de acolhimento e, até, a um desejo de fazer parte. É uma porta que se abre, e por ela tem-se o primeiro contato com o campus, com o website ou com alguém que trabalha ou estuda na organização. O sucesso dos próximos passos decorrerá da coerência entre a percepção positiva e o que acontecerá depois: um campus agradável e bem equipado; um website claro e aberto para o engajamento; uma saudação especial, típica da universidade, simpática e acolhedora. Tudo isso reforça a coerência e impulsiona as ações de relacionamento, despertando o desejo de que novos passos ocorram. Então, tem-se que ser realmente bons em tudo que se oferece aos alunos durante toda a vida.

Considerando a complexidade do processo de formação, algo que envolve descobertas e frustrações, alegrias e tristezas, conquistas e decepções, além do tempo de uma vida inteira de relacionamento entre uma universidade e seus alunos, percebe-se como é desafiadora a tarefa de ser bons e coerentes. É desafiadora porque, certamente, erros irão ocorrer em alguns momentos, assim como a incoerência, fruto da complexidade inerente a ela.

Educação

É por essa razão que o resgate estratégico da essência educacional da instituição se faz totalmente necessário para seu sucesso. Tal resgate implica a concepção de uma filosofia organizacional coerente com a educação e com os objetivos de um empreendimento que precisa ser economicamente viável. Implica também o investimento na capacitação de gestores e professores, com base em metodologias previamente deliberadas pela IES, evitando os modismos da hora. Por fim, implica o desenvolvimento de processos eficientes e eficazes, corretos sob o ponto de vista da regulação e da avaliação, na perspectiva da gestão e da excelência em serviços educacionais.

Quando os membros da instituição se desgrudam de sua essência educacional, eles se transformam em figuras incoerentes com o meio da educação e esta é uma péssima estratégia para o empreendimento. Então, é preciso reforçá-la institucionalmente e comunicá-la durante todo o processo de relacionamento com o aluno, de modo a ser algo que faça sentido para a vida dele, algo forte o suficiente para que ele possa criar um ponto fundamental de identificação com a IES. Este ponto não muda durante toda a vida do relacionamento e é sempre resgatado na consideração do aluno diante dos estímulos da universidade.

Com essa base sólida e uma identidade construída na mente do aluno, os próximos passos devem ser direcionados para a constituição de uma comunidade acadêmica em que a participação de alunos e professores se torne um pilar fundamental para o desenvolvimento de um hábito: o de participar.  Para provocar a participação, é necessário que a IES saia do lugar comum das grades curriculares e abra espaço para a extensão universitária, para os projetos de inovação, empreendedorismo, internacionalização e ação humanitária e, talvez o mais importante, para a criação e desenvolvimento pelo aluno de seu projeto de vida.

Pensando e agindo nessa direção, a IES não terá dificuldades para implantar sua política de egressos, inclusive com as festinhas e encontros anuais cheios de ex-alunos e suas famílias.

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