03/05/2021

O Poder e a Realidade Imaginada

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

O poder descortina o verdadeiro caráter do indivíduo, e muitos políticos mesmo cientes disso, fazem de tudo para a conquista do poder, que segundo Andrada em seu livro Ciência Política e Ciência do Poder, publicado pela LTR em 1998, este poder político tem como característica a dominação, ou seja, a capacidade de imposição, controle e direcionamento.

Andrada no livro Ciência Política e seus Aspectos Atuais: Engenharia Política e Politicometria, publicado pela Câmara dos Deputados em 2000, complementa que através da midiologia fica fácil a manipulação de emoções e a isso está inserido a nunciopolítica que visa esta manipulação.

Vale ressaltar nas falas do autor que o elemento psicológico é de suma importância para a manipulação do indivíduo.

A importância de uma propaganda influenciadora na ideologia política já era usado tempos atrás, e tal informação é corroborada por Harari em seu livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016.

O autor ressalta que Hitler ciente do poder influenciador midiológico, deixou registrado que "a mais brilhante técnica de propaganda não vai ter sucesso a menos que se leve em conta um princípio fundamental - ela tem de se limitar a alguns pontos e repeti-los sem parar", assim sendo, o autor acrescenta sob este viés que uma mentira dita uma vez continua uma mentira, mas quando a mesma é dita mil vezes, a mesma  torna-se então uma verdade.

O poder é tão viciante que políticos fazem de tudo para se manter nele, assim sendo, pode-se observar nas falas de Pétry em seu  livro Poder e Manipulação: como entender o mundo em 20 lições extraídas de O Príncipe de Maquiavel, publicado pela Faro Editorial em 2016, que o trabalho do político é de nos persuadir e nos manipular para tirar vantagens próprias, e a política brasileira na atual conjuntura não representa a coletividade e tampouco o bem comum, isso porque ela visa unicamente os interesses próprios prevalecendo a individualidade ou o corporativismo dos corruptos e corruptores.

Cabe observar na obra supracitada de Harari que as pessoas detentoras do poder, para se manterem nele, criam uma realidade imaginada que diverge da mentira, exercendo uma influência no mundo por ser uma crença compartilhada e persistente.

Para o autor, poder e verdade andam juntos até certo momento, em seguida, ou se busca a verdade abrindo mão do poder, ou usufrui do poder abrindo mão da verdade, disseminando mentiras que hoje são conhecidas como fakenews.  

Harari no livro 21 Lições para o Século 21, Publicado pela Companhia das Letras em 2018, deixa claro que o medo é uma forma de manipular as pessoas e ciente disso, o medo passa a ser manipulado em nossa mente pelos terroristas.

Observe como a nossa educação é falha quando não desenvolve em nossos educandos o poder do discernimento no mesmo. Veja, com as informações acima, há 40 anos eles saberiam o quão estão sendo manipulados pelo sistema político.

Segundo informações postadas por Karnal em sua rede social, o dia 30 de abril foi uma data para os cidadãos jamais se esquecerem, pois representa o dia em que houve um "atentado fracassado a um show no Riocentro".

Para Karnal, no governo de Figueiredo havia uma abertura que era visto como falha, e isso causava desconforto em alguns conservadores do exército, causando certo incômodo, o que acarretou em uma tentativa terrorista, explodindo uma bomba dentro de um carro Puma, levando a morte um sargento e um capitão que estavam no veículo.

Todavia, isso não passava de um plano articulado estrategicamente para que a responsabilidade caísse sobre os grupos ligados a esquerda, entretanto com a investigação, descobriu-se a verdade o que acarretou na renúncia do então chefe da Casa Civil da presidência.

Nas falas de Karnal, o "caso faz parte de uma tradição de criar clima de insegurança para justificar repressão e fechamento político, como no famoso Plano Cohen[1] (1937) e o caso Para-Sar[2] (1968)".

Segundo Carneiro no seu artigo intitulado 4 momentos em que a violência contra políticos marcou os rumos do Brasil, publicado pela BBC em 2018[3], episódios de violência política influenciam sobre a opinião pública e em todas as épocas que ocorrem, ou fortalecem ícones políticos e seus movimentos ou desconstrói imagens derrubando reputações.

Segundo a autora, nas eleições para presidente em 2019, durante as campanhas, houve um crime provavelmente motivado por razões psiquiátricas e visto como um fato isolado que tomou um viés de crime político, construindo um mito imaginário e mudando totalmente a situação política do país e com o apoio da nunciopolítica, virou uma conspiração política a favorecer a suposta vítima, já que é ressaltado neste artigo que episódios deste tipo, criam climas, modificam a imagens de pessoas, transformando-as em vítimas ou mártires. Situações assim mexem com o imaginário das pessoas, principalmente as menos esclarecidas e que acabam repercutindo e influenciam nos resultados políticos.

O fato é que a educação pública tem que desenvolver em nossos educandos o discernimento para que os mesmos possam perceber a manipulação para anulá-la, desmascarando assim tanto a mentira quanto a realidade imaginada, fazendo com que o educando fique focado apenas nos fatos e na verdade.

Temos que apesar da indiferença do sistema político em relação a educação, do sucateamento da educação pública e em concomitância a desvalorização dos professores, oferecer o nosso melhor como profissional. O que é corroborado por Romão em seu livro Pedagogia Dialógica, publicado pela Cortez em 2002, ao afirmar que o papel do educador é ser libertador e emancipador, construindo em parceria com seus educandos as condições de superação, desenvolvendo assim uma curiosidade epistemológica de forma a sobrepor a curiosidade ingênua e também toda a criticidade que for possível em nosso educando, fazendo que a consciência intransitiva mágica seja totalmente substituída pela consciência transitiva crítica.

Quando alcançarmos estas falas, poderemos ter a certeza de que nosso país é realmente uma Nação e não mais um gigante adormecido, "deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo".

 

[1] O Plano Cohen foi uma suposta tentativa de tomada do poder por parte dos comunistas, em 1937. Ele foi denunciado por Vargas pela rádio e foi utilizado como justificativa para o golpe de Estado que instalou a ditadura do Estado Novo, em 10 de novembro de 1937. Anos depois, comprovou-se a falsidade do plano e que sua real intenção era servir de justificativa para Getúlio Vargas instalar uma ditadura no Brasil. Para mais informações vide https://brasilescola.uol.com.br/historiab/plano-cohen.htm

[2] O caso Para-Sar ficou conhecido quando um militar disse "não" a um atentado terrorista arquitetado pelo próprio exército. Sérgio Macaco foi responsável por impedir que o Rio de Janeiro se tornasse palco de um grande plano terrorista que, com explosivos, mataria mais de 100 mil pessoas. Para mais informações vide https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-o-que-foi-o-caso-para-sar.phtml

[3] Para mais informações vide https://www.bbc.com/portuguese/brasil-45444618

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