12/12/2025

O Papel da Escola no Combate à Ignorância Fabricada

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

 

 

Estamos vivendo em uma espécie de obscurantismo. Isso se justifica devido a uma política que tivemos baseada no negacionismo e em um gabinete do ódio que utilizou a máquina do Estado para disseminar mentiras, aumentando, em concomitância, a massa de manobra formada por pessoas ignorantes. Não a ignorância que representa o desconhecer, mas a ignorância que é a matéria-prima para se fabricar em larga escala a miséria social.

Interessante pontuar que esta ignorância, fabricada de forma intencional, faz com que a pessoa substitua a verdade — que a tiraria da inércia, fazendo-a agir contra o sistema manipulador — pela mentira que a manterá em sua zona de conforto, isto é, na plena comodidade que a inverdade oferece.

A ignorância produzida é tão levada a sério que existe uma área denominada agnotologia, que é o estudo da produção de ignorância, seja ela de forma deliberada ou por meios estruturais.

A ignorância por falta de conhecimento é algo natural do ser humano; afinal de contas, não temos como saber sobre tudo. Mas a ignorância corrosiva, esta sim, é fabricada pela negação, desinformação e até mesmo pela criação de realidades paralelas.

A agnotologia investiga as estratégias utilizadas para enganar ou semear dúvidas sobre fatos e, principalmente, sobre conhecimento científico. Como contraexemplo, podemos citar absurdos afirmados por políticos, influenciadores e/ou outros manipuladores de que as vacinas contribuem com o aumento de autismo, que nelas estão contidos microchips de rastreamento, que podem causar a doença que se pretende prevenir, que vacinas de COVID-19 alteram o DNA humano. Enfim, foram e continuam sendo absurdos para negar algo que salva vidas.

Claro que temos muitas estultices nas diversas áreas — como saúde, educação, política, economia, ciência, dentre outras — que o sistema manipulador busca ludibriar sua massa para que não questione. E uma forma de isso acontecer está na não aquisição do verdadeiro conhecimento.

Como reforçado por Leite (2014, p. 179) [1], o termo agnotologia foi cunhado por Robert Proctor, que designa “o estudo da negação da ciência com vistas a produzir a dúvida ou a ignorância – em oposição ao estudo do conhecimento pela epistemologia –, a saber, agnotology, que podemos traduzir por agnotologia (do grego agnosis, não conhecimento)”.

Nas falas do pesquisador, o estudo da ignorância faz com que compreendamos o porquê de várias formas de conhecimento não emergirem ou até mesmo desaparecerem, ou porque foram negligenciados por longo tempo.

Grützmann (2022) [2] complementa que a agnotologia é conhecida como sociologia da ignorância, que além de estudar como a ignorância é produzida socialmente, ela busca identificar os agentes produtores, os impactos e efeitos sociais desta imposição no consumo, na política e na educação.

Uma forma de produzir a ignorância em uma área que deveria ser a responsável pela produção do conhecimento, como a educação, é por meio da narrativa de que as escolas são as verdadeiras doutrinadoras, o que, conforme constatado nos livros de minha autoria[3], elas na verdade são a antítese da doutrinação, por desenvolver em seu corpo discente o poder do discernimento.

 

[1] LEITE, José Corre. Controvérsias científicas ou negação da ciência? A agnotologia e a ciência do clima. scientiæ zudia, São Paulo, v. 12, n. 1, p. 179-89, 2014. Disponível em: https://www.scielo.br/j/ss/a/Jd3Sn8qkN5y3YWYwymPXq5R/?format=pdf&lang=pt

[2] GRÜTZMANN, L. F.. Resenha de Agnotología, Sociologia de la Ignorancia, Ignorancia de la Sociologia, de Augustin Galán Machío. Mediações, v. 27, n. 1, p. e44779, 2022.

[3] TAVARES, Wolmer Ricardo. Educação e a não neutralidade. São Paulo: Ícone 2024

TAVARES, Wolmer Ricardo. Educação uma Questão de Politizar. São Paulo: Ícone 2022

TAVARES, Wolmer Ricardo. Educação um Ato Político. São Paulo: Autografia 2019

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×