19/07/2017

O Momento

Dênio Mágno da Cunha*

As noticias indicando o estado doentio de nossa educação chegam de todos os lugares. Faltam recursos do governo para a sustentabilidade financeira das universidades federais; as universidades particulares enfrentam escassez de alunos; alunos ou pretendentes não encontram condições para financiamento de seus estudos, o crédito anda escasso; professores não recebem seus salários e são ajudados por colegas mais previdentes; e agora a pouco, vejo uma notícia símbolo da nossa situação.

Publicada no portal UOL, a história é de um professor[1], ex-morador de rua, que após fazer faculdade de letras e transformar sua vida, sente-se ameaçado de retornar a antiga vida diante da queda no número de aulas que costuma ministrar.

A mim não importa a localização geográfica deste professor, porque me parece ser uma ameaça constante neste momento. Não vou ficar fazendo uma coletânea de provas aqui. Está a “olhos vivos”... e, infelizmente isto está acontecendo em outras profissões também.  Mas aqui falamos de educação.

Outro aspecto é a generalização da situação... Espalhada por todos os níveis – da pesquisa pura ao ensino básico – e formatos organizacionais – privadas e públicas – e até naquelas altamente especializadas, elite da nossa educação, começam a sentir o reflexo. O sistema de ensino brasileiro passa por um momento de desmontagem, como um castelo de cartas a desmoronar com um vento mais forte que entrou pela janela.

Posto o cenário, a pergunta que surge é sobre a reversão deste quadro. Para nossa infelicidade a resposta primeira nos é dolorosa: esperando a crise política ser superada. Porque a crise política? Porque somos altamente dependentes do financiamento de governo. E neste momento estamos desgovernados, ou melhor, sem governo. O mal e o bem no Brasil, do ponto de vista econômico, estão preso à qualidade do Governo. E neste momento... por isso não podemos dizer que há um descaso com a educação. O que existe é um descaso com a sociedade, pois a luta é pela salvação pessoal e não pela salvação nacional.

Portanto, não vou me alongar repetindo argumentos[2], mas apenas chamar a atenção para uma máxima que agora se faz verdadeira: “a qualidade de um povo é consequência da qualidade de sua educação”. Aí sim, o descaso com a educação colaborou para que nos tornássemos um povo medroso, distante da seara política, uma grande massa de manobra (como dizem), que fica, assim como Romulo e Remo, esperando o leite das tetas da loba. Enquanto o Governo forma maior e mais poderoso que a Nação, vamos amargar essa dependência e continuaremos a ser escravos, numa repetição da dicotomia da Casa Grande e da Senzala.

 

*Mestre em educação pela Uniso - Sorocaba. Professor no Ensino Superior – Centro Universitário Una. Professor e Consultor na área da educação em Carta Consulta – Belo Horizonte. Articulista da Revista Gestão Universitária.

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