O Lixo do Consumismo
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Tantas coisas que nós educadores poderíamos fazer para melhorar o mundo para as próximas gerações, entretanto, muitos ainda ficam amarrados a currículos engessados e metas a serem cumpridas, enganando assim a sociedade com resultados forjados, já que Souza em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela Autêntica em 2007, esclarece que as escolas não conseguem ser modernas por ainda continuarem se curvando ao tradicionalismo político, e em consequência a isso, perde a sua autonomia, desta forma, como trabalhar a autonomia de seus educandos se a mesma não é democrática?
Nas falas freireanas, a educação não transforma o mundo. Educação muda as pessoas. Pessoas transformam mundos. E assim que precisamos pensar e agir para que realmente as próximas gerações possam usufruir de um mundo melhor.
Por exemplo, temos vivido em um tempo em que a inversão de valores é gritante. Valemos pelo que aparentamos ter e não pelo que realmente somos, em relação a nosso caráter e personalidade.
Deixamo-nos ser levados a um consumismo exacerbado, mostrando à sociedade algo que não somos, porém, colocamos a máscara da hipocrisia e banalizamos o que é mais importante no ser humano, a sua dignidade.
Harari em seu livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016, ressalta que o consumismo e a competitividade levam ao emagrecimento moral e intelectual da pessoa, reduzindo assim a sua personalidade, bem como a sua visão do mundo.
Vale enfatizar que este texto não tem o intuito de fomentar o não consumo, mas esclarecer que este consumismo tende a trazer drásticas consequências a nossa sociedade, por isso faz-se mister analisar o seguinte ponto: até onde o que eu vou consumir é realmente necessário para mim? É realmente uma necessidade para o meu bem estar ou é somente a influência de uma publicidade voltada para um capitalismo avassalador?
Nós educadores precisamos levar nossos alunos a perceberem onde nisso tudo entra o verdadeiro papel de cidadão?
Rodrigues em seu livro Ética e Cidadania, publicado pela Moderna em 1994, explica que cidadão é o indivíduo que tem consciência de seus direitos e deveres e participa ativamente de todas as questões da sociedade, e vale acrescentar que é uma pessoa esclarecida.
Souza supracitado, elucida que na Idade Média, a cidade começou a ser vista como lugar de liberdade, e esta cidade era considerada como o mundo da urbe, isto é, do urbano que passou a ser visto como lugar de homens livres, e estes trabalhadores livres que vendiam sua força de trabalho, eram conhecidos como burgos, daí a origem da palavra burguesa, o que deu origem também a palavra cidadão, ou seja, aquela pessoa que tinha capacidade de adquirir posse.
Será que continuamos este mesmo pensamento de séculos atrás? Será que o que eu tenho define realmente quem eu sou?
Santos em seu livro Por uma outra Globalização: do Pensamento Único à Consciência Universal, publicado pela Record em 2003, é enfático ao afirmar que o consumismo nos diz que para sermos felizes precisamos consumir tantos produtos e serviços quanto possível.
Para o autor, toda a mídia está direcionada para impregnar nosso consciente e/ou inconsciente de que quanto mais produtos e/ou serviços eu consumir, mais feliz eu serei e minha vida será melhor.
Já observaram que o produtos consumidos hoje têm uma data de validade que parece uma bomba relógio, e que assim que passa o seu tempo, eles acabam estragando de forma que o seu conserto é quase o preço do mesmo produto novo? Desta forma, somos levados tanto ao consumismo que ao invés de mandarmos consertar algo que não esteja funcionando da maneira correta, simplesmente compramos um novo e jogamos o "ruim" no lixo.
Observe nas falas de Santos, supracitado acima, que empresas hegemônicas, buscam hodiernamente desenvolver o consumidor antes mesmo de produzir o produto.
A BBC noticia que Países pobres são destino "de 80% do lixo eletrônico de nações ricas"[1], desta forma, estes representantes vestem a máscara da hipocrisia e ao invés de poluírem seus países, preferem jogar o seu lixo nos países subdesenvolvidos que segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), são países que apresentam baixo desenvolvimento econômico e social, e estes países ao receberem o lixo do primeiro mundo, não sabem lidar com ele, o que causa impactos ambientais, sociais e também a própria saúde.
Nossa educação precisa trabalhar nossos alunos para um consumo consciente, que segundo Silva, Santos e Araújo[2], no artigo “Consumo consciente”: o ecocapitalismo como ideologia, publicado pela R. Katál., Florianópolis, v. 15, n. 1, p. 95-111, trata-se de converter o consumo em um ato consciente, que faz com que o cidadão perceba seus impactos na sociedade e na natureza e não se deixando alienar pelas publicidades e marketings, já que Bosi em seu livro O Tempo Vivo da Memória, publicado pela Ateliê Editorial em 2003 esclarece que a alienação decorre de um sistema econômico, e este incita a um constante consumo de objetos cada vez mais descartáveis.
Silva, Santos e Araújo enfatizam que o consumo consciente e o fim das práticas predatórias devem ser responsabilidade de toda a sociedade, e cabe a nós professores fazermos nossa parte com nossos educandos, ensinando-os a serem consumidores conscientes, buscando o discernimento para analisarem as informações disponíveis em relação ao produto, sejam elas negativas e positivas e quais impactos as mesmas causam ao meio ambiente e sobre que situação foram produzidas, como no caso, mão de obra escrava, como ressaltado por Pequenas Empresas & Grandes Negócios, que segundo ACIEG (Associação Comercial, Industrial e de Serviços do Estado de Goiás) ao ressaltarem que Empresas ainda usam o trabalho escravo pela lucratividade[3].
[1] Para mais informações vide https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2013/01/130118_lixo_eletronico_bg
[2] Para mais informações vide https://www.scielo.br/pdf/rk/v15n1/a10v15n1.pdf
[3] Para mais informações vide https://acieg.com.br/noticias/671/empresas-ainda-usam-o-trabalho-escravo-pela-lucratividade#:~:text=Os%20setores%20que%20mais%20se,para%20n%C3%A3o%20sair%20no%20preju%C3%ADzo.