15/09/2025

O Ensino da Cultura Indígena no Ensino Fundamental: Caminhos para uma Educação Intercultural e Inclusiva

Toca-da-raposa-2016-39

Vanilda de Deus Silva

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Juliana Cristina Rogerio dos Santos

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Maria Cristina Fagundes Correa Rosa

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Maria Leonice Monteiro

Licenciatura em Pedagogia. Licenciatura em Matematica. Especialista em Alfabetização e Letramento. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

Cristilene Franco da Cruz

Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clinica e Institucional. Primavera do Leste, MT.

 


      O ensino da cultura indígena nas escolas brasileiras é uma exigência legal e um compromisso ético com a diversidade cultural do país. A promulgação da Lei nº 11.645/2008 tornou obrigatória a inclusão da história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo da educação básica, reafirmando a importância de combater preconceitos e valorizar os povos originários.

      No entanto, a simples inclusão formal no currículo não garante práticas pedagógicas efetivas. É necessário compreender que a valorização da cultura indígena exige uma perspectiva intercultural (Candau, 2008), que permita o diálogo entre diferentes formas de conhecimento, respeitando saberes, tradições e modos de vida desses povos. No Ensino Fundamental, essa abordagem é estratégica, pois contribui para a formação de crianças mais conscientes, críticas e abertas à pluralidade cultural.

      O Brasil é um país de múltiplas matrizes culturais, com mais de 305 povos indígenas e 274 línguas faladas atualmente, segundo o Censo do IBGE (2022). Essa diversidade desafia a escola a ir além de estereótipos e folclorização, apresentando os povos indígenas não como parte de um passado distante, mas como sujeitos históricos e contemporâneos, que resistem, criam e inovam em diferentes contextos (Oliveira, 2017).

      A cultura indígena, nesse sentido, abrange não apenas mitos, rituais e artefatos, mas também saberes sobre a natureza, práticas sustentáveis, formas de organização social e visões de mundo. Ensinar sobre esses elementos significa, portanto, ampliar horizontes e promover uma educação que dialogue com a realidade ambiental, social e cultural do país.

      A escola é espaço privilegiado para promover o respeito às diferenças e para enfrentar preconceitos. O Ensino Fundamental, etapa em que as crianças formam suas primeiras concepções sobre sociedade, é crucial para o desenvolvimento de atitudes de respeito e valorização da diversidade.

      Segundo Cavalcanti (2013), trabalhar a cultura indígena no ensino requer superar a visão reducionista que a limita a datas comemorativas, como o “Dia do Índio”. O ensino deve ser contínuo, articulado ao currículo e conectado com diferentes áreas do conhecimento, como História, Geografia, Artes e Ciências.

      A Base Nacional Comum Curricular (BNCC, 2017) reforça essa necessidade ao indicar a valorização da diversidade étnico-cultural como um dos fundamentos da educação. Assim, ao trabalhar a cultura indígena, o professor contribui não apenas para o cumprimento de uma lei, mas para a formação integral dos alunos.

      Apesar dos avanços legais e curriculares, persistem desafios para o ensino da cultura indígena:

  • Formação docente insuficiente: muitos professores não receberam, em sua formação inicial, conteúdos relacionados à história e cultura indígena, o que dificulta práticas consistentes (Munanga, 2005).

  • Estereótipos e preconceitos: ainda é comum reduzir a cultura indígena a imagens simplificadas e distorcidas, reforçando preconceitos em vez de combatê-los.

  • Materiais didáticos limitados: embora já existam obras importantes, os livros didáticos frequentemente apresentam abordagens superficiais ou equivocadas (Silva, 2014).

  • Pouca integração curricular: em muitos casos, o ensino sobre os indígenas ainda é pontual, restrito a atividades isoladas, sem continuidade ao longo do ano letivo.

      O ensino da cultura indígena no Ensino Fundamental é um passo essencial para consolidar uma educação intercultural, inclusiva e crítica. Mais do que cumprir uma obrigação legal, trata-se de reconhecer os povos indígenas como sujeitos de direitos, protagonistas de sua história e portadores de saberes fundamentais para a humanidade.

      Promover esse ensino implica romper com estereótipos, valorizar narrativas indígenas e reconhecer a contribuição desses povos na formação do Brasil. Dessa forma, a escola assume seu papel social de formar cidadãos conscientes, abertos ao diálogo e capazes de valorizar a diversidade cultural que compõe a identidade nacional.

Assine

Assine gratuitamente nossa revista e receba por email as novidades semanais.

×
Assine

Está com alguma dúvida? Quer fazer alguma sugestão para nós? Então, fale conosco pelo formulário abaixo.

×