O Ensinar da Escola e o Educar da Família
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Falar sobre educação exige um olhar crítico e mais holístico, fugindo as meras especulações e achismos, pontuando assim, falhas no sistema educacional bem como no acompanhamento da família quanto a aprendizagem de seu tutelo.
As fontes deste texto estão inseridas em meus livros Escola não é Depósito de Crianças: A importância da família na educação dos filhos, publicado pela WAK em 2012, Educação um Ato Político, publicado pela Autografia em 2019, Gestão Afetiva: Sistema Educacional e Propostas Gerenciais publicado pela WAK em 2020 e principalmente nesta última publicação realizada pela Ícone em 2022 intitulada Educação uma questão de politizar.
Assim sendo, cabe primeiro ressaltar que toda educação é um ato político, desta forma a escola só cumprirá a sua missão política no momento em que sua prática educativa preparar o seu discente para a compreensão da totalidade social, ou seja, trabalhar neste aluno todo a cidadania crítica e protagonismo cognoscente.
Vale lembrar que este protagonismo se dará quando o aluno adquirir e ampliar seu repertório interativo, aumentando concomitantemente sua capacidade de interferir de forma efetiva e construtiva em seu contexto social e sociocumunitário.
Trata-se de um momento em que o aluno desenvolve a sua consciência mediante seus interesses e se dispõe a lutar em defesa dos mesmos, deixando de ser um sujeito objeto, passando assim a ser um homem sujeito, ou seja, alguém que pense de forma crítica e humanizada sem se abster da ética e do coletivo.
Cabe ressaltar que o sonho de muitos pais é encontrar uma educação de qualidade para seu filho, e quando almeja tal intento, eles simplesmente deixam o filho nesta escola, seja do setor público ou privado, olvidando-se assim de que a função da escola é de ensinar o seu filho, desenvolver todas as suas habilidades e discernimento e não educar, já que a educação como diz o adágio popular, ela vem do “berço”.
Temos exemplos cabais de profissionais que se formaram em escolas modelos mas que se abstiveram completamente da moral, da ética e da própria dignidade, fazendo valer o mau caratismo, coisas que foram aprendidas em seus leitos familiares apesar da escola ter cumprido o seu dever social, a família foi falha nesta parceria.
É por meio da educação que os riscos sociais são minimizados, todavia, estes profissionais citados acima, fomentam ainda mais estes riscos, aumentando o abismo social que separa os seres humanos.
A sociedade tem sido tanto vítima quanto algoz da corrupção, crises políticas, consumismo, violência, intolerância religiosa e ideológica, fome, desinformação, competitividade desleal, flexibilização do trabalho induzindo ao trabalho análogo a escravidão como ocorrido no Rio Grande do Sul nas Vinícolas da Serra Gaúcha dentre outros males que são banalizados pelos familiares sendo assim, contraexemplos ao que se foi ensinado nas escolas.
Neste caso, sim, as famílias contribuem para o mau caratismo de seus filhos já que escola realmente não ensina caráter a ninguém.
Como ministrado em uma de minhas palestras intitulada Família e Escola: um elo para educação de qualidade, realmente a educação vem do berço e é dever da família educar seus filhos e da escola ensinar.
Desta forma, cabe elucidar que será no leito familiar que ocorrerá o primeiro processo de socialização, construção de caráter e educação não formal e será nesta família que o homem receberá toda formação moral.
Como ressaltado em minhas obras, pela escola ter assumido o papel dos pais no processo de educar os filhos, ela com isso, passou a ter um papel mais tímido e mais apagado quanto a sua verdadeira função, e consequentemente passa a ser mais omissa com o discente na função de educar, que era total responsabilidade da família e passou a ser também da escola.
Quanto aos pais, estes que outrora eram os responsáveis, passam a ser agentes passivos quanto a educação de seus filhos e se acham no direito de cobrar das instituições uma postura tão leviana quanto a deles, quando estas instituições assumindo o papel que é de responsabilidade da família, resolve cobrar de forma correta um comportamento adequado de seu aluno.
As famílias são em alguns casos, o problema a ser equacionado para a educação de qualidade nas instituições, pois além de sua omissão neste processo, muitos pais são travestidos de bons e gentis, mas suas atitudes demonstram intolerância, preconceito e discriminação quanto as diferenças.
O fato é que quando a família se interessa pela escola, o aluno se interessa mais pelos estudos e o relacionamento família e aluno melhora gradativamente e vice-versa e cabe pontuar que o apoio da família é crucial no desempenho escolar.
Obviamente não foi escrito aqui nenhuma novidade, pois tudo dito neste texto é corroborado pelo ECA Art. 4 quando ressalta que a responsabilidade de educar e cuidar dos filhos é da família, e deflui em seu artigo 129, inciso V que “os pais, além da matrícula, têm o dever de acompanhar a frequência e o aproveitamento escolar do filho [...] garantir a permanência, bem como no de observar e participar da evolução escolar da criança ou adolescente, avaliando seus progressos individuais e estimulando-os para que o estudo seja-lhes rendoso”.
O fato é que uma escola nunca será boa o suficiente para suprir a carência deixada pela família, assim sendo, que o ensinar seja a verdadeira função da escola e o educar, bem, que a família volte a exercer a sua verdadeira função.