14/03/2022

O Desafio da Gestão do Futuro*

Geraldo Magela Nogueira Marques
(Coordenador do curso de Medicina UNAERP - Campus Guarujá.)

O maior desafio que pode ser encarado no planejamento do futuro é não deixar o presente tomar conta de todo tempo e energia empregados em um projeto, seja ele individual ou institucional**. Conectar-se ao futuro é uma ação presente. E no presente muitas outras coisas acontecem.

O que hoje experimentamos como realidade foi planejado há muito pouco tempo. Graças a imensa fluidez de tudo, de todas as informações e de toda tecnologia, somos atropelados por novas informações sem tempo de digeri-las, compreendê-las como orgânicas e fundamentais. Nem tudo parece ser tão fundamental assim.

A cada dia desenvolvemos novas habilidades e capacidades de entender e lidar com o que se apresenta como futuro no nosso presente. Será esta a polimatia insistente e necessária?

Então chega o momento de parar e refletir. Observar o mundo ao redor e decidir, baseado na melhor evidência, quais são as mudanças que serão necessárias para que meu futuro enquanto gestor e o futuro da instituição na qual estou inserido estejam garantidos no sentido do alcance de objetivos, sucesso e realização.

Por força de uma pandemia, a migração para o digital se deu numa velocidade estonteante dentro das instituições de ensino, de uma forma não planejada, utilizando recursos pouco conhecidos da maioria, buscando ferramentas de transmissão de conhecimento, criando processos avaliativos do conteúdo entregue aos alunos. Experimentou-se de tudo um pouco e alguns já ousavam prever que esta seria a única metodologia possível de ser utilizada num futuro muito próximo para a educação.

Concomitante, outros negavam o ensino remoto, ainda que síncrono e presencial, por acreditar que não seria possível desenvolver um conhecimento prático sem a presença física no ambiente de ensino, e aqui se destacaram todos aqueles ligados a cursos da área da saúde.

Sempre existem aqueles que resolvem seguir um caminho do meio… os que resolvem parar, observar e depois, de modo colegiado e humanizado, definir algumas intervenções ou sugerir alguns caminhos que podem se beneficiar tanto do pensamento sobre ensino remoto quanto do pensamento do ensino presencial.

É exatamente neste momento que a ousadia, a escuta ativa, a empatia, o poder de síntese e a capacidade de convencimento do gestor entram em cena para convencer a entidade mantenedora, o corpo docente e discente que existe caminho viável a ser seguido.

A tecnologia não pode suplantar o contato e o cuidado humano. Podemos lançar mão de toda tecnologia disponível e ainda assim haverá um momento de retorno ao cuidado, à atenção, à cumplicidade de se executar uma tarefa de forma presencial, física e emocionalmente.

Não usar a tecnologia é impensável ao mesmo tempo que deixar que ela domine o cenário de ensino é desumano. As mudanças impostas pela pandemia fizeram com que gestores se agarrassem à tecnologia para dar conta de prosseguir com suas instituições em funcionamento, mas também provocaram outra percepção. Tornou-se necessário, mais do que nunca, dar ouvidos àqueles que foram altamente impactados pelos novos modelos pedagógicos, tanto docentes quanto discentes.

Um espaço antes fechado se abriu para discussões, para ousadia, para improvisações mas sobretudo para a exposição das avaliações das mudanças que vieram e para o consequente planejamento das mudanças que estão por vir ou das que serão perpetuadas.

Ficou claro que o modelo pedagógico até então utilizado e considerado o melhor ou único possível dentro de cursos da área da saúde tinha sido abalado.

Um momento de crise também é um momento de reflexão, então, o gestor que souber utilizar todas as possibilidades do momento certamente perceberá que a chance de repensar toda a estrutura de uma instituição de certa forma viciada em um modus operandi bate à sua porta. Fazer o futuro acontecer depende grandemente desta reestruturação. Aquilo que se mostrava como impedimento para a reestruturação, como a resistência às mudanças e as dificuldades de implementação, agora cai por terra. A reestruturação da instituição agora se vê permeada por dois aspectos: de um lado um processo planejado e de outro um processo que necessita de emergência nas decisões. Cada nova mudança emergencial é analisada e classificada em pertinente, ou seja, que será mantida e aprimorada, ou não pertinente, assim sendo abandonada ou modificada. A adaptabilidade da instituição é colocada em cheque.

O reconhecimento e o aproveitamento das oportunidades acabam por criar a possibilidade de reavaliação e de implementação dos processos planejados. Muito embora as decisões emergenciais possam não ser completamente alinhadas à cultura da instituição, o processo planejado oferece a possibilidade deste alinhamento.

Um segundo aspecto a ser observado é que a situação emergencial de construção do futuro pode criar as condições para que aquilo que havia sido planejado e que aguardava uma “oportunidade” seja então implementado, pois a emergência permite a experimentação e a reavaliação.

Migração para um modelo híbrido de ensino, criação de canais de comunicação com todos os envolvidos no processo reestruturação, busca por metodologias ativas, interatividade entre gestor e demais componentes da instituição são apenas exemplos de caminhos a seguir para um futuro próximo, claro, permeados por tecnologia e humanização que não são antagonistas. São complementares.

O maior defafio do gestor é ser, no presente, capaz de reunir conhecimentos e experiências, analisando-as frente a movimentação do presente, projetando-as para a contrução do futuro, criando novas formas de alcançar os objetivos da qualidade na educação.

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*Escrito no contexto do MBA Gestão Acadêmica & Universitária – Módulo Futuro - Carta Consulta – Turma 14 – Outubro/2021.

 

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