13/11/2017

O Comportamento Humano a partir do pensamento Psicológico

O comportamento humano a partir do pensamento Psicológico[1]

 

Michele Silveira Azevedo[2]

Elisabete Silveira Ribeiro[3]

A trajetória humana sobre o universo, fez surgir uma ampliação dos espaços cognitivos, espaços de experiências entre o homem e o mundo.

O homem na busca da tão sonhada felicidade, constrói alternativas para examinar seu próprio eu, criando a chamada inicialmente “ciência do comportamento”, hoje psicologia, busca explicações que dêem conta de sua conduta, o desenvolvimento dessa ciência, alça raízes distantes, na história da filosofia.

A partir do momento em que se separa a psicologia da filosofia, esta desenvolve diferentes perspectivas em torno do comportamento humano, levando em conta princípios como o desenvolvimento e a aprendizagem, buscamos aqui apresentar as três grandes escolas do pensamento psicológico: Behaviorismo, Gestalt e Psicanálise.

O desenvolvimento dessa perspectiva traz a tona uma nova concepção de sujeito da história, ou seja, ao longo de nossa evolução, vamos gradativamente abrindo possibilidades para a investigação de aspectos inconscientes, de nossa vida.

No que se refere à educação é indiscutível a contribuição da psicologia para o entendimento do desenvolvimento infantil, e para a aprendizagem.

A primeira escola de grande importância para a psicologia é o Behaviorismo[4]. Essa corrente foi empregada predominante em consultórios e escolas até a década de 50.

O Behaviorismo foi criado por John Broadus Watson (1878-1959). Este psicólogo teve sua inspiração pautada no desenvolvimento das ciências naturais,  aliada a seu descontentamento com as investigações psicológicas de seu tempo. Propõe um novo objeto de estudo para a psicologia, o comportamento observável, segundo ele fonte de critério para conclusões científicas relevantes.

Desta forma pode-se observar que:

Com isso, descartou dos estudos os fenômenos mentais, sensações, imagens ou ideias, funções mentais e também, a introspecção como método. Afirmava que a única fonte de dados sobre o homem era o seu comportamento, o que as pessoas faziam, o que diziam.

BRAGHIROLLI[5]

Dentro desta perspectiva são descartados conceitos e categorias relacionadas aos estados mentais ou subjetivos, que são questões centrais de outras correntes teóricas.

Ivan P. Pavlov (1849 –1936) , fisiólogo russo, desenvolveu um trabalho a respeito do reflexo condicionado, que foi muito bem aceito pelo behaviorismo, por explicar o comportamento direcionado a observação.

As experiências do russo, na observação de animais levaram-no a analisar que ao encontrar certos objetos e pesquisadores, tais animais produziam um aumento salivar. Observou que este fenômeno não se tratava de uma reação causal, descreveu o reflexo condicionado, essa ação é variada, envolvendo uma gama de músculos e glândulas.

Watson reconheceu no condicionamento uma base para explicar toda a aprendizagem, mesmo a mais complexa, já que esta poderia ser reconhecida como encadeamentos, combinações e generalizações de condicionamentos simples.

BRAGHIROLLI[6]

A partir dos estudos de Pavlov, Watson utiliza-se de seu método na relação do medo infantil, centrando sua observação em bebes, segundo BARROS[7] “Watson acreditava que vários medos que o adulto apresenta foram adquiridos na infância, por condicionamento.”

Watson em sua teoria atribuiu grande importância ao meio ambiente, tendo este como característico para moldar o comportamento humano. Suas experiências se basearam na observação do comportamento emocional de recém-nascidos. É de fundamental importância seus estudos desenvolvidos a respeito da aprendizagem para a educação.

Com relação à aprendizagem, para esta corrente, consistiria em adquirir respostas, após condições especiais, sobre novos estímulos que em outro momento seriam indiferentes ou neutros a esse processo.

Além disso:

Para a “escola” de Watson, toda a aprendizagem consiste em condicionar respostas. A aprendizagem da língua oral, da linguagem, escrita e  mesmo de emoções não passa de reações que apresentamos a vários estímulos, devido a certas condições de nossa experiência anterior.

BARROS[8]

Desta forma pode-se dizer que para a corrente behaviorista, educar seria condicionar a criança, através de estímulos,  proporcionando por meio da aprendizagem  uma mudança de comportamento.

Posteriormente o psicólogo norte-americano Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), o mais célebre behaviorista, traz a luz da psicologia escolar a importância das condições ambientais no comportamento, em lugar das causas internas. A pessoa é conhecida através de seu comportamento que é determinado pelas implicações de sua ação sobre o ambiente.

Seu principal conceito é o “condicionamento operante”, onde as conseqüências do comportamento retroagem sobre o indivíduo, alterando a expectativa de o comportamento ocorrer novamente. Desta forma quando determinado estimulo aumenta a constância de um comportamento é denominado, reforço positivo, se sua ausência aumenta a freqüência, este é denominado negativo.

Quanto à classificação dos reforços segundo SAFFI e NETO[9]

O reforço pode ser primário, se necessário a sobrevivência do organismo e secundário, se adquiriu esta propriedade por associação ao primário. Os reforços secundários são mais importantes no aprendizado entre eles destacam-se o reforço social (elogio, afeto, contato físico) e o dinheiro.

Skinner defende que a gratificação não deve se estabelecer como uma relação de troca, condicionada ao comportamento adequado. A criança deve receber amor e afeto, sem que se estabeleça uma ligação com seu comportamento, quando apresentar comportamento impróprio precisa receber apoio. O ambiente deve fortalecer o desenvolvimento da autoconfiança.

De relevante importância é a Gestalt[10], movimento que tem origem na Alemanha, mas se desenvolve nos Estados Unidos, surge como oposição às correntes psicológicas existentes.

Essa corrente defende a unidade do sujeito no processo psicológico, segundo BRAGHIROLLI[11]: “ O lema da Gestalt veio a ser “ O todo é mais do que a soma das Partes”.

Os principais representantes da Gestalt ou Psicologia da forma foram:

Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgag Kohler (1887-1964), Kurt Kofkka (1886-1941) e Kurt Lewin (1890-1947).

Os estudos de Max Wetheimer dão origem à escola gestalista. Abordou a percepção visual, no movimento aparente, denominado fenômeno.

Segundo essa corrente toda a percepção é um todo, não sendo possível sua compreensão por partes. Nossa percepção sobre os objetos é o todo, sendo este dependente do relacionamento que se estabelece entre as partes.

Este relacionamento, entre todo e partes pode ser de gradação (quando este se dá entre as várias partes da coisa percebida), de figura e fundo (na observação de um objeto, um de seus aspectos se sobrepõe, denominado figura, essa aparência que contrasta contra o fundo, atraindo mais a atenção).

Dessa forma pode-se observar que:

A percepção de um objeto depende desse relacionamento. Conforme se dirija a atenção para um ou outro aspecto do objeto, a percepção muda completamente. Observando as figuras chamadas ambíguas, vemos quanto a percepção depende do relacionamento figura-forma.

BARROS[12]

Foram de grande relevância para a compreensão do fenômeno da aprendizagem, os princípios estabelecidos pela Gestalt, que defende a possibilidade da aprendizagem de várias formas: por gradação, diferenciação, assimilação e redefinição.

KÖHLER[13], R, Grisi, refere-se à relação de aprendizagem por gradação da seguinte forma:

“ O fato de a criança, de início, perceber a forma total, a gestalt das coisas e estabelecer gradação entre suas partes, aconselha o ensino pela apresentação inicial de frases e palavras completas para que haja oportunidade de estabelecimento de gradação, e desaconselha a apresentação de letras ou sílabas isoladas.

O ensino silabário de uma consoante, em uma só vez, dificulta a aprendizagem da criança, levando-a a confundir as sílabas, quando o que queremos é levá-la a distinguir.”

Sob essa perspectiva a criança percebe a forma total das sílabas e a sua gradação, ou seja, suas partes.

O processo que realizamos quando destacamos uma parte do objeto que estamos percebendo é denominado aprendizagem por diferenciação. No caso da alfabetização infantil apresenta-se uma mesma palavra em distintas sentenças, levando a mente a destacar tal palavra das demais, tornando-se esta a figura, as demais o fundo. Determinando o princípio da unidade dentro da variedade de diferentes situações.

A aprendizagem por assimilação se segue ao de diferenciação. Tomando como princípio a questão da leitura, evidencia-se o aprendizado por assimilação no momento em que a criança é capaz de escrever uma palavra nova por ter aprendido outras que possuem as mesmas sílabas.

Nas experiências de Köhler, realizadas inicialmente com animais, posteriormente com crianças, foi possível observar que para chegar ao objeto de seu desejo, repentinamente, ambos conseguem encontrar um meio para tal.

Surge daí um dos conceitos chave para Gestalt, nessas condições BARROS[14] salienta:

Insight é uma palavra que se aplica significando: “achar subitamente a solução para uma situação difícil”, “perceber relações entre os elementos de uma situação”, “ver dentro da situação”. Pode ser traduzida por discernimento. O insight tem sido chamado o fenômeno do “ah!”.

Quando a criança é capaz de perceber estímulos de forma absolutamente nova, dentro da situação total denomina-se como Aprendizagem por redefinição.

Tomando como princípio o ensino da leitura, a Gestalt, defende a apresentação da unidade completa do objeto, sendo esta prática denominada nos dias atuais pela pedagogia como método global.

De suma importância, não só para a educação como para a própria construção do sujeito contemporâneo é a escola psicológica conhecida como Psicanálise.

Sigmund Freud (1856-1939), é considerado o precursor da psicanálise, esta corrente, nasceu de seus estudos desenvolvidos em conjunto com  o neurologista Jean Charcot (1825-1893) e Joseph Breuer, ambos interessados pelos aspectos psicológicos das doenças nervosas.

Freud se distingue de seus colegas ao determinar como causa das neuroses a origem sexual.

Dessa forma:

Freud constatou que a descarga de tensão nervosa obtida pela hipnose era um fato incontestável, mas, por outro lado , a melhora era pouco duradoura e demasiado dependente da relação pessoal médico e paciente. Passou então a utilizar o método de associação livre, com o que, em suas próprias palavras nasceu a psicanálise.

UCHOA[15]

Valendo-se da linguagem como instrumento, o médico fazia com que seus paciente relaxassem e relatassem sobre os problemas que os afligiam. Ao longo do tratamento observou que os pacientes no momento em que conseguiam falar sob seus traumas, superavam-nos, para tanto se utiliza da associação livre, deixando a resposta a cargo do paciente, no diálogo voltam-se para os sonhos, lembranças da infância. Em certas ocasiões observou como resposta expressões como: agitação, raiva, felicidade, enfim uma gama de sentimentos.

Nessas condições:

Empregando o método de associação livre, Freud solidificou cada vez mais firmemente sua idéia de que os traumas causadores das perturbações são de natureza sexual; em outros termos, trata-se-ia de impulsos que teriam sido reprimidos mais ou menos profundamente na infância do paciente.

UCHOA[16]

Os estudos freudianos explicam de forma inovadora o funcionamento da mente e o desenvolvimento da vida psíquica. O comportamento está diretamente relacionado à motivação, que fica a cargo do subconsciente. O determinante desse motivo encontra-se na libido ou busca do prazer.

A força psíquica que se opunha a tornar consciente, e revelar um pensamento Freud chamou resistência. Repressão, segundo ele é o processo psíquico que pretende encobrir, uma ideia dolorosa, que encontra-se na origem do problema psíquico, este conteúdo está localizado no inconsciente.

Na formação da personalidade, Freud destaca a importância do desenvolvimento da vida psíquica, dividida segundo ele, em elementos conscientes e inconscientes. Determinada pela formação do Id, Superego e do Ego ou Eu. As duas primeiras instâncias inconscientes a ultima consciente.

Compreender a formação da personalidade é de grande importância para a educação, as contribuições de Freud para tal, são reconhecidas e retomadas até os dias atuas. A influência do movimento psicanalítico não se restringe apenas ao consultório, expande-se por toda a cultura ocidental.

As diferentes escolas mencionadas acima fazem referencia ao comportamento humano e seus reflexos na sociedade, cabe lembrar que a aprendizagem se dá em conjunto com o desenvolvimento, físico, psíquico e social do indivíduo, compreender esse processo é imperativo para um bom trabalho pedagógico.

Considerações finais:

Se a civilização impõe sacrifícios tão grandes, não apenas à sexualidade do homem, mas também à sua agressividade, podemos compreender melhor porque lhe é difícil ser feliz nessa civilização. Na realidade, o homem primitivo se achava em situação melhor, sem conhecer restrições de instinto. Em contra partida, suas perspectivas de desfrutar dessa felicidade, por qualquer período de tempo, eram muito tênues. O homem civilizado trocou uma parcela de suas possibilidades de felicidade por uma parcela de segurança.

(FREUD)[17]

A capacidade humana de limitar a propensão instintiva revela, outra forma de construção da felicidade, antes pautada apenas na realização do desejo de um prazer momentâneo, com transcorrer do tempo o homem, por meio de sua cultura, transpõe essa propensão para outros âmbitos, não deixando de lado a associação entre felicidade e prazer.

Referenciais Bibliográficos:                 

BRAGHIROLLI[1], Eliane Maria. Psicologia Geral. 9º ed. Porto Alegre: Vozes. 1990.

BARROS, Célia, Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Escolar. 5º ed. São Paulo: Ática. 1998.

FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. In: Os pensadores.São Paulo. Abril Cultural. 1978. P 169/170.

KÖHLER, Wolfgang. Psicologia da Gestalt. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, 1968. In: BARROS, Célia, Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Escolar. 5º ed. São Paulo: Ática. 1998.

SAFFI, Fabiana e NETTO, Lotufo, Francisco. O sujeito visto pelas terapias comportamentais cognitivas. In:  Revista Educação – Especial Educação & Psicologia. V.1 O homem e o impacto da ciência. São Paulo: Editora Segmento. 2010.

UCHOA, Darcy.Vida e obra. In: Os pensadores. Sigmund Freud.São Paulo. Abril Cultural. 1978.

 


[1] O presente texto foi apresentado ao Curso de Formação de Professores de Espanhol como Língua Estrangeira – Na disciplina Psicologia da Educação, como material didático. 

[2]  Assessor Pedagógico 5ª Coordenadoria Regional de Educação – RS – Professora de Filosofia, Pedagoga, Especialista em Gestão Escolar, Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pelotas.

 

[3] Professora Universidade Federal do Tocantis – Pedagoga,  Mestre em Educação pela Universidade Federal de Pelotas. Doutoranda da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

[4] “Em inglês, a palavra correspondente a comportamento é behavior. Por essa razão, esses psicólogos têm sido chamados behavioristas. (BARROS, Célia, Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Escolar. 5º ed. São Paulo: Ática. 1998. p.52).

[5] BRAGHIROLLI[5]) Eliane Maria. Psicologia Geral. 9º ed. Porto Alegre: Vozes. 1990. p.19/20.

[6] BRAGHIROLLI[6], Eliane Maria. Psicologia Geral. 9º ed. Porto Alegre: Vozes. 1990. p.20.

[7] BARROS, Célia, Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Escolar. 5º ed. São Paulo: Ática. 1998. p.56.

[8] BARROS, Célia, Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Escolar. 5º ed. São Paulo: Ática. 1998. p.57.

[9] SAFFI, Fabiana e NETTO, Lotufo, Francisco. O sujeito visto pelas terapias comportamentais cognitivas. In:  Revista Educação – Especial Educação & Psicologia. V.1 O homem e o impacto da ciência. São Paulo: Editora Segmento. 2010. p.40.

[10] Em português, Gestalt corresponde, aproximadamente, às palavras: forma, figura, estrutura, todo, padrão, configuração etc. (BARROS, Célia, Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Escolar. 5º ed. São Paulo: Ática. 1998. p.72).

[11] BRAGHIROLLI[11], Eliane Maria. Psicologia Geral. 9º ed. Porto Alegre: Vozes. 1990. p.21.

[12] BARROS, Célia, Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Escolar. 5º ed. São Paulo: Ática. 1998. p.75.

[13] KÖHLER, Wolfgang. Psicologia da Gestalt. Belo Horizonte, Ed. Itatiaia, 1968. In: BARROS, Célia, Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Escolar. 5º ed. São Paulo: Ática. 1998. p.75/.

[14] BARROS, Célia, Silva Guimarães. Pontos de Psicologia Escolar. 5º ed. São Paulo: Ática. 1998. p.78.

[15] UCHOA, Darcy.Vida e obra. In: Os pensadores. Sigmund Freud.São Paulo. Abril Cultural. 1978. p.VI.

[16] UCHOA, Darcy.Vida e obra. In: Os pensadores. Sigmund Freud.São Paulo. Abril Cultural. 1978. p.VI.

[17] FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. In: Os pensadores.São Paulo. Abril Cultural. 1978. P 169/170.

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