05/06/2023

O ATO DE BRINCAR: Contextos investigativos na educação infantil

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ALIPIO, Andréia Nunes Pereira.[1]

ARRUDA, Alexssandra Rodrigues de.[2]

MATOS, Ivonete Gonçalves de.[3]

BUENO, Solene Sousa Rodrigues.[4]

ROCHA, Valdinete Ribeiro.[5]


RESUMO

A infância se vincula a cada tempo e lugar e nunca se dá da mesma forma, uma vez que as diferentes culturas, os níveis socioeconômicos e o tempo histórico em que cada uma se insere dizem muito acerca de suas particularidades. Arriscamos dizer, que existem muitas infâncias; e dentro destas, muitas nuances que se descortinam em diferentes contextos. Aquela criança que estuda, brinca, se diverte e se frustra; passa por diferentes experiências que serão amplificadas na vida adulta. Enfim, estas são algumas evidências para que alguns autores possam se referir às “infâncias”. Este artigo, busca discutir o aparato bibliográfico acerca da construção do conhecimento a partir das vivencias com os princípios da escuta e do olhar do professor, compreendendo estes como elementos essenciais na reflexão e análise dos registros feitos pelos educadores. Ao propiciar às crianças vivencias que instiguem a curiosidade e o desejo de sentir, manusear e experimentar; estamos contribuindo para que elas se empenham cada vez mais em suas explorações, descobrindo assim novas texturas, sensações e na criação de muitas outras possibilidades de brincar. Para tanto, consideramos que ao propor contextos investigativos, estamos desencadeando novas perspectivas para que a criança se desenvolva de forma confiante, exercitando a autonomia e compreendendo que é capaz de criar e aprender.

Palavras-chave: Contextos Investigativos. Educação Infantil. Aprendizagens.

 

INTRODUÇÃO

      Com a evolução da humanidade, estamos enfrentando diferentes contextos sociais, econômicos e ambientais que estão nos fazendo mudar nosso modo de viver. Ante as pandemias, catástrofes ambientais e influências econômico-sociais, presenciamos uma sociedade em que as descobertas se fazem cada dia mais necessárias.

      Entretanto, ainda é necessário se fazer muito, refletir bastante e nos refazer (mais uma vez); pois na mesma intensidade em que ocorrem as mudanças; o modo de viver muda, fazendo com que a educação se adapte mais uma vez ao contexto externo que nos impõe. Diante desse contexto, os professores podem enfrentar o desafio de aproximar seus ensinamentos dentro da sala de aula à realidade fluida e cada vez mais veloz que acontece fora dos muros da escola.

      Para isso, precisamos trabalhar em sala de aula sobremaneira que exista um significado humano e social para aquilo que está escrito na lousa; para o que é socializado dentro da escola, de modo que provoque interesse no aluno e o faça compreender de maneira imersiva tudo o que está a sua volta. Neste sentido, uma das estratégias didáticas utilizadas está assegurada nas atividades que promovam vivências; experiências concretas, que tragam para dentro da escola o que se é vivido fora dela – uma maneira fatídica de trazer a realidade para a escola.

      Estas atividades quando orientadas e pautadas em objetivos determinados, produzem resultados que nos favorecem identificar o grau de envolvimento e materialização da realidade vivida em um contexto menor, porém com o grau de complexidade possível de ser resolvido pelas crianças. De acordo com Suart e Marcondes (2009, p. 53), “[...] as atividades experimentais podem contribuir para o desenvolvimento de habilidades cognitivas, desde que sejam planejadas e executadas de forma a privilegiar a participação do aluno”.

      Isto, se concretiza de modo sobressalente como uma maneira investigativa de resolver situações que são apresentadas e diferentes contextos. Carvalho et. al. (2009) conceitua experimentação investigativa como um método de ensino que desperta o interesse do discente e favorece uma aprendizagem diferenciada, na qual as falas, concepções e ideias dos estudantes são valorizadas, contribuindo na construção do conhecimento, promovendo o pensamento crítico.

      Desta forma, os professores deixam de ser os únicos a favorecer o conhecimento de maneira pronta e pré-moldada; fazendo com que os estudantes deixem de atuar passivamente e como meros receptores de informação. Assim, o aluno alcança de fato a proatividade, inserindo-se nos contextos que ele vivência no seu cotidiano, porém; agora com a supervisão do professor que lhe ajudará a potencializar suas habilidades que não lhe são estranhas, mas apenas não orientadas.

      Conforme Medeiros e Lobato (2010, p. 66), “a contextualização do ensino tem relação com a motivação do aluno, por dar sentido àquilo que ele aprende, fazendo com que relacione o que está sendo ensinado com a sua experiência cotidiana”. Por isso, julgamos importante discutir tal temática, uma vez que é ‘questão de sobrevivência’ se contextualizar e experienciar a realidade dentro do meio educacional; uma vez que é importante estratégia de ensino e aprendizagem. Com isso, estes escritos buscam revisar na literatura sobre a experimentação investigativa direcionada para as crianças da educação infantil, visando aprofundar a temática investigada, trazendo elementos de aperfeiçoamento da prática dos educadores.

 

LUDICIDADE E EDUCAÇÃO – Uma ação necessária

      As diferentes formas de aprendizagem tem manifestado grande interesse no campo investigativo dos educadores contemporâneos, principalmente quando o assunto são as dificuldades que cada universo específico apresenta. Desta forma, a escolarização formal passa a representar uma maneira de assegurar benefícios aos cidadãos, favorecendo maneiras de enfrentar as dificuldades que surgem no dia a dia. Com o passar do tempo, a infância passou a ser associada a um período no qual seria possível desenvolver várias atividades; inclusive a educação.

      Pois bem; nesta etapa criou-se metodologias que fossem cada vez mais aplicáveis a esta faixa etária com vistas ao desenvolvimento crítico e social das crianças; tendo a preocupação de inseri-las no mundo escolarizado com vistas a progressão dos estudos.

      Como se trata de um período especifico da vivencia do ser humano, os sinais e gestos no ato de brincar, conforme Mukina (1996), recriam os objetos e pensam os acontecimentos que as cercam. E assim, o brincar se tornou elemento importante na inserção das crianças no ambiente escolar; entretanto, com a preocupação de criar ambientes que fossem possíveis de observar pedagogicamente o desenvolvimento cognitivo de cada uma.

      Na educação infantil, o lúdico é uma maneira de oferecer a criança, um ambiente de aprendizagem prazeroso, planejado e motivador. Cabendo assim, aos educadores promover ambientes agradáveis e pedagogicamente saudáveis ao desenvolvimento de cada criança. O perfil do público da educação infantil, se caracteriza muito bem pela imaginação, curiosidade, movimento, vontade de conhecer, explorar e principalmente pelo ato de brincar. O brincar pelo brincar é involuntário, a criança faz sem o perceber. Ela simplesmente brinca.

      O olhar do educador que por ser voltado ao desenvolvimento pedagógico percebe primeiro as possibilidades pedagógicas e as interpretações educativas antes do simples ato de brincar. E isso que é importante – para o professor. Tendo este fator como elemento norteador da práxis educativa, o aluno desenvolve suas habilidades a partir daquilo que já o faz – o brincar.

      Porém, esta abordagem não é tão simples; uma vez que o brincar pelo brincar é aos olhos da criança. Ao nosso olhar, o ato de brincar é um fazer pedagógico que nos favorece perceber o desenvolvimento de habilidades educativas nos contextos macro que serão vivenciados em sociedade. Tanto que, para Piaget (1967), é necessário deixar de ver o jogo somente como atividade recreativa e transformá-lo em um tempo bem planejado, capaz de proporcionar a construção de novos saberes na educação infantil, com uma postura inovadora, buscando levar para a sala de aula algo que desperte na criança o desejo de aprender.

      Com relação a este tema, Vygotsky (1979, p. 45) complementa nossas percepções quando afirma que “a criança aprende muito ao brincar. O que aparentemente ela faz apenas para distrair-se ou gastar energia é na realidade uma importante ferramenta para o seu desenvolvimento cognitivo, emocional, social e psicológico”. Assim, percebe-se que para que as crianças possam avançar no seu desenvolvimento, é necessário uma ação reflexiva de todos os envolvidos na organização escolar, e que esta volte seus olhos para o ato de brincar como uma ferramenta pedagógica que favorece a observação atenta do professor nos atos espontâneos das crianças. Estes atos, irão entregar subsídios fatídicos para aquilo que a criança faz, como ela faz e por que ela o faz.

 

O lúdico como promotor do desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral

      O ato de brincar vem conquistando espaço no panorama educacional brasileiro, principalmente quando o assunto é a educação infantil. A brincadeira focada, objetivada e bem planejada; deixa de ser brincadeira aos olhos do professor e passa ao status de atividade; mesmo que para as crianças ainda seja uma brincadeira, e o importante é que continue sendo compreendida assim por elas; e pelo professor como uma atividade. Pois, ao ‘brincar’, as crianças irão se expressar espontaneamente e ao observar, o professor enxergará objetivos alcançados em sua ‘atividade’.

      Neste mesmo sentido, Russo (2012, p. 21) explica que

Quando o ambiente favorece a aprendizagem, transforma o desinteresse de alguns em motivação. A sala de aula deve incentivar a reflexão e ser motivadora da leitura da escrita e do manuseio do material didático. O professor não precisa esperar um momento específico para expor o material escrito, usando como critério a possibilidade de compreensão por parte de todos os alunos. Todo e qualquer material pode ser apresentado em qualquer fase do processo de aprendizagem. Cada aluno assimilará o que sua fase de alfabetização permite, ou seja, o que sua percepção possibilita e o que seu nível de compreensão comporta.

 

      Ainda de acordo com Russo (2012), é necessário conceber um lugar lúdico, que permita ao aluno momentos de alegria e aprendizado, de forma a atender principalmente o desenvolvimento espontâneo e autônomo de cada um, e neste contexto, proporcionando uma aprendizagem educacional. Assim como explica Maluf (2009), o jogo é uma espécie de ensaio para a vida em sociedade e não há aprendizagem construída no caos. De forma bem detalhada, a autora discute que

O professor deve organizar suas atividades, selecionando aquelas mais significativas para seus alunos. Em seguida deverá criar situações para que estas atividades significativas sejam realizadas. Destaca-se a importância dos alunos trabalharem em sala de aula, individualmente ou em grupos. As brincadeiras enriquecem o currículo, podendo ser propostas na própria disciplina, trabalhando assim o conteúdo de forma prática e concreta. Cabe ao professor, em sala de aula ou fora dela, estabelecer metodologias e condições para desenvolver e facilitar este tipo de trabalho (MALUF, 2009, p. 29).

      As crianças são sujeitos sociais, historicamente marcados pelas mudanças que os rodeiam, e de forma inconsciente se inserem em tais contextos e vão vivendo, de maneira como a realidade vai se apresentando a elas. Portanto, pelas condições das sociedades em que eles estão inseridos, a criança não é e nem deve ser quem ela não é, mas buscar melhorar aquilo que ela será no futuro; e por isso conta com a ajuda do professor – seu referencial, seu exemplo.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

      Revisando a literatura, e lendo manuscritos percebemos que a ludicidade se materializa como fator importante do ato de ensinar, principalmente nesta etapa de vida. Quando levadas ao contexto escolar, os momentos de brincadeiras se tornam meios de aprendizado e observação atenta do professor, pois são situações ricas em detalhes sociais de convívio e produção de conhecimento, descobertas, curiosidades, imaginação e criação autônoma que de fato levam consigo saberes prévios de cada estudante. São nestes momentos, que descobrimos habilidades de liderança, criatividade, imaginação, descobertas sociais, sentimentos, frustrações e como lidam com as emoções.

      Reconhecemos a importância da formação docente para a ampliação deste olhar atento e cuidadoso do ato de brincar – para que ele se torne um momento de observação e coleta precisa de informações fatuais e práticas, ali, momentâneas; que serão vistas naquele momento, dentro daquele contexto; sendo um recurso imprescindível no desenvolvimento de múltiplas habilidades e aptidões físicas, cognitivas, afetivas e sociais. Por isso, promovem a motivação, a concentração e o aprimoramento das relações interpessoais, criando suportes de aprendizagem.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, A. M. P., VANNUCCHI, A. I., BARROS, M. A., GONÇALVES, M. E. R.; REY, R. C. Ciências no Ensino Fundamental: o conhecimento físico. São Paulo: Scipione, 2009.

MALUF, Angela Cristina Munhoz. Brincar, prazer e aprendizado. Petrópolis: Vozes, 2009.

MEDEIROS, M. DE A.; LOBATO, A. C. Contextualizando a abordagem de radiações no ensino de química. Revista Ensaio. v.12, n.03, p.65-84, 2010.

MUKHINA, Valeria. Psicologia da idade pré-escolar. Porto Alegre: Martins Fontes, 1996.

PIAGET, Jean. O raciocínio na criança. Rio de Janeiro: Record, 1967.

RUSSO, Maria de Fatima. Alfabetização, um processo em construção. 6ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

SUART, R. C.; MARCONDES, M. E. R. A manifestação de habilidades cognitivas em atividades experimentais investigativas no ensino médio de química. Ciência & Cognição. v. 14, p. 50-74, 2009.

VYGOTSKY, Lev. Do ato ao pensamento. Lisboa: Morais, 1979.

 

[1] Servidora da Secretaria Municipal de Educação de Primavera do Leste – MT. Licenciada em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Institucional, Educação Infantil e Letramento.

[2] Servidora da Secretaria Municipal de Educação de Primavera do Leste – MT. Licenciada em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia Clínica e Institucional.

[3] Servidora da Secretaria Municipal de Educação de Primavera do Leste – MT. Licenciada em Pedagogia. Especialista em Psicopedagogia e Educação Infantil.

[4] Servidora da Secretaria Municipal de Educação de Primavera do Leste – MT. Licenciada em Pedagogia. Especialista em Educação Infantil, Letramento Perspectivas de Trabalho em Creches e Escolas.

[5] Servidora da Secretaria Municipal de Educação de Primavera do Leste – MT. Licenciada em História. Especialista em Psicopedagogia Institucional.

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