12/10/2006

Novela mostra dificuldade de pais para incluir filhos com Down em escola regular

A novela “Páginas da Vida”, exibida pela Rede Globo, tem mostrado diariamente a todo o Brasil a dificuldade que muitos pais enfrentam para colocar seus filhos, portadores de síndrome de Down, nas escolas regulares. Um dos grandes problemas é que muitas instituições de ensino não aceitam a matrícula desses alunos, sob o argumento de que não possuem profissionais aptos a atendê-los de forma adequada, embora a legislação especifique que nenhuma escola pode recusar a matrícula.

O processo de aceitação desses alunos leva o nome de inclusão. A coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Valéria Luders, explica que muitas recusas ocorrem porque existe falta de preparo dos professores para o atendimento a crianças especiais. Valéria diz que na grade curricular o aluno tem uma disciplina de educação especial, mas isso não é suficiente para o professor formado trabalhar com os alunos especiais.

A coordenadora também explica que o currículo de Pedagogia da UFPR é de 1996 e a grande preocupação da instituição é modificar esse currículo, passando o aluno a ter disciplinas obrigatórias, não só para atender síndrome de Down, mas crianças com qualquer tipo de deficiência.

A universidade oferece cursos optativos para aqueles alunos que pretendem trabalhar nessa área, mas o corpo docente e os próprios alunos vêem a necessidade de mudanças na grade curricular. A coordenadora informa que as mudanças no currículo do curso devem ocorrer apenas em 2008.

Segundo Iaskára Maria Abrão, Coordenadora de Atendimento às Necessidades Especiais da Secretaria Municipal de Educação de Curitiba, atualmente existem 1.283 crianças especiais incluídas na rede municipal de ensino. Ela comenta que tem assistido diariamente à novela Páginas da Vida e ressalta que o autor, Manoel Carlos, aborda “muito bem” a questão da inclusão de crianças especiais, da realidade que elas vivem e da discriminação e do preconceito que sofrem.

A coordenadora lembra que a inclusão é feita de forma gradativa e responsável e que toda criança especial necessita do acompanhamento da Rede de Apoio aos Portadores de Síndrome de Down, e que, de acordo com ela, isso ainda não foi mostrado na novela. A Rede de Apoio prepara os pais e as crianças para o convívio no ensino regular. A criança portadora de necessidade especial precisa de acompanhamento psicólogo e fonoaudiológico para depois ser incluída no ensino regular. Iaskára afirma que “a escola deve estar adaptada para a criança e não a criança a escola”.

A dona de casa Rosa Mazon, que tem um filho de 16 anos portador da Síndrome de Down, diz que a novela exibida pela Rede Globo mostra bem a realidade que os pais sofrem. Rosa disse que muitas vezes seu filho teve que mudar de escola porque a professora não sabia como trabalhar com ele. E mesmo seu filho mudando para várias escolas, inclusive particulares, hoje Rosa está satisfeita com a escola Estadual Ângelo Trevisan.

Ela comenta que a escola tem uma professora que “está bem preparada” para receber as crianças portadoras de Síndrome de Down. “Quando meu filho estava em outras escolas ele passava a tarde rabiscando um papel. A professora foi sincera comigo e disse que não sabia como tratá-lo. Então pediu para eu procurar outra escola”. A dona de casa espera que a conscientização comece dentro de casa com os próprios pais. “Os pais devem batalhar mais, ir atrás por uma qualidade de ensino melhor para as crianças”.

A aposentada Divete Fuverki comenta que seu filho Gabriel, portador de síndrome de Down, não tem tantas dificuldades para se relacionar dentro da escola. Ele, além de estudar, também faz duas vezes por semana fonoaudiologia, psicopedagogia, natação e aulas de judô. “Meu filho estuda na Escola Atuação, que é muito boa. Ele participa do recreio e faz todas as tarefas como os outros alunos, sem discriminação”.

A pedagoga Liete Trevisan Bueno, da Fundação Ecumênica de Proteção ao Excepcional, explica que a maior preocupação dos pais é com a discriminação. “O processo de inclusão é lento. São feitas reuniões entre a escola, a família e a Rede de Apoio ao Excepcional, para depois a criança participar das atividades escolares.

O professor universitário Moisés Prado Silveira tem uma filha de 25 anos com síndrome de Down. Para ele a novela da Globo tem pontos positivos e negativos, e que a maior dificuldade em lidar com esta situação é o desconhecimento da população e professores sobre os portadores da síndrome. Silveira explica que as pessoas não sabem como tratar, olham, não sabem como agir diante da situação. Ele comenta que não existem muitas escolas preparadas para receber as crianças especiais e também falta apoio. “O próprio governo não incentiva, não investe em escolas para receber as crianças especiais”. O professor disse que todo o desenvolvimento da filha foi incentivado com recursos próprios. Ela freqüenta escola, toca piano e tem acompanhamento fonoaudiólogo e psicológico.

Crédito da imagem: Nota 10

Legenda: Gabriel faz uma série de atividades no contraturno da escola.

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