28/09/2016

Notório Saber e a Idiotização dos Alunos

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade – www.wolmer.pro.br

            Quando a gente pensa que não tem como piorar uma situação, vem um político e impõe algumas imbecilidades, principalmente quando se trata de educação. Mas para que mesmo serve essa tal educação? Para que servem os cursos de licenciatura? Apesar de ser uma área que o país mais necessita e ter o revés de ser pouco valorizada, o nosso então “governo” com uma ação nefasta e idiota, simplesmente a desvalorizou ainda mais, pois para lecionar não será necessário o curso de licenciatura, bastará ter um notório saber.

            Este notório saber é uma forma de sucatear o ensino, ação que terá triste reflexo por toda uma geração, e como se já não fosse o suficiente para acabar de vez com a dignidade do profissional licenciado, já se encontra operando no país uma organização social denominada “Ensina Brasil” e esta organização “sem fins lucrativos” com cinco semanas apenas, habilita uma pessoa a lecionar para crianças e/ou adolescentes.

            Esses “professorzinhos” capacitados irão para as escolas com um contrato de dois anos de treinamento em serviço. Os critérios para aderirem ao Ensina Brasil são:

Ser brasileiro(a) nato(a) ou naturalizado(a)

Possuir português fluente

Ter curso superior completo ou previsão de graduação até dezembro de 2016 (Você ainda pode se inscrever caso sua data de graduação tenha sido postergada para o primeiro semestre de 2017 em função de greve na sua universidade. Estes casos serão analisados posteriormente)

Ter diploma de graduação reconhecido pelo MEC

Ter disponibilidade para participar da formação inicial de 5 semanas em janeiro de 2017

Ter disponibilidade para participar do programa de fevereiro de 2017 até dezembro de 2018 (trabalho remunerado)

Ter disponibilidade para morar fora de sua cidade por 2 anos, a partir de fevereiro de 2017[1]

            Citando Marcelo Luna, o governo com apenas um golpe, matou o corpo (educação física), matou o espírito (filosofia), matou a criatividade (artes) e matou a interação humana (sociologia). Este governo nos tirou a humanidade e nos transformou em sua imagem e semelhança.

            Interessante ressaltar as falas de Giles em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela Editora EPU em 1983, ao esclarecer de forma direta que o homem se torna humano graças a educação. O autor vai além quando ressalta a necessidade da educação ser trabalhada pela vida e para a vida, e nosso governo está roubando essa educação de seu povo.

            Ele com essa atitude vil, deixará ainda mais alienada nossa juventude, e de acordo com Gallo em seu livro Ética e Cidadania, caminho da filosofia: elementos para o ensino da filosofia publicado pela Editora Papirus em 2003, uma pessoa alienada perde sua capacidade de ser sujeito das situações, e consequentemente vai perdendo a sua humanidade.

            Este governo usurpador sabe do peso das falas de Delors em seu livro Educação: um tesouro a descobrir, publicado pela Editora Cortez em 2001 quando aduz que a educação é um trunfo indispensável à humanidade para a construção dos ideais de paz, liberdade e justiça social, mas com um povo alienado, onde e para quem ocorrerá essa justiça social? E a liberdade? E qual seria a definição de liberdade para essa juventude que será formada de idiotas?

            O socialista Herbert de Souza deixou claro em uma entrevista que o que define o futuro de um país são as propostas de humanidade e nossa educação pública está perdendo esta humanização.

            O notório saber é pura demagogia de um governo impositor que com uma equipe de 5 pessoas sem conhecimento de realidade em uma sala de aula define com uma única canetada, um futuro sem perspectiva para milhões de jovens e também rouba a dignidade do profissional licenciado.

            Essa demagogia cairá por terra quando a sociedade começar a questionar as seguintes situações:

            Para fazer um procedimento cirúrgico em uma pessoa, bastaria um profissional com notório saber ou seria importante um profissional na área e com sua especialidade bem definida?

            Para construir um viaduto e/ou um prédio bastaria um profissional com notório saber ou realmente um bom engenheiro civil?

            Independente a área, precisaremos sempre de bons profissionais e não de pessoas com notório saber. O notório saber devemos deixar para a política que infelizmente não exige o mínimo de conhecimento e de moral.

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