Nomofobia e Realidade Social Concreta
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
A educação é uma ação voluntária e que tem um grande poder de transformação, tanto do indivíduo quanto da sociedade em que ele se encontra inserido, todavia, tal ação tem sido cada vez menos efetivada, e isso tem tido como consequência, uma geração alienada formada por pessoas submissas, inseguras, estultas e totalmente imbecilizadas.
O uso do celular que outrora era para ser visto como um diferencial no processo educativo, hoje virou o verdadeiro algoz da civilidade e até mesmo da falta de humanidade, reverberando em uma geração formada por verdadeiros apedeutas, com uma arrogância de pós-doutorado em falácias, fakenews dentre outras desinformações.
Hoje o celular passou a fazer parte de nossa vida, já que pessoas se sentem perdidas quando esquecem ele em casa. Existe aí uma forte dependência e até mesmo medo de se tornar invisível a sociedade, já que o seu uso passou a ser uma forma de ostentação, vivendo em um mundo de mentiras, alheios a realidade social concreta.
Esta realidade paralela é como um mundo de fantasias, onde não existe feminicídio, racismo, homofobia, intolerância religiosa, analfabetismo social dentre outras mazelas que se tornam problemas sociais, mas que a falta de discernimento e a escolha de uma verdade que atenda os anseios da população, permitem até mesmo uma comunicação com alienígenas colocando as lanternas dos celulares nas cabeças para que estes extraterrestres venham socorrer os imbecis terráqueos.
Esta alienação coíbe o conhecimento de que sim, nosso país tem uma sociedade covarde com suas mulheres a ponto de uma mulher morrer a cada 17horas, sendo que 75,3% dessas mortes são cometidas por pessoas próximas como parceiros e ex-parceiros, pessoas estas que se sentem donos da vida alheia[1].
Esta mesma alienação nos subtrai o discernimento em perceber que em nosso país embora haja uma miscigenação em seu povo, ele ainda anda de mãos dadas com a racismo, problema enraizado há gerações e que reverbera até nos dias atuais, o que é pontuado por IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), ao elucidar que 63,7% dos entrevistados em sua pesquisa, percebem que a raça é determinante na qualidade de vida dos cidadãos, principalmente no trabalho, embora haja um paradoxo, isto porque 89% da população preta assumem existir o preconceito no Brasil mas apenas 10% da população assumem ser racistas.
A nomofobia, segundo Oliveira et al (2017)[2] é, “portanto, a angústia ou medo de o indivíduo ficar impossibilitado de se comunicar por meios virtuais”, e ela nos subtrai da realidade social concreta que nos faz perceber que a nossa sociedade também é homofóbica, já que o Brasil é o país que mais mata quem apenas quer o direito de ser quem é[3], registrando quase 300 mortes violentas por LGBTfobia em 2024[4].
A dependência das redes sociais que mostram um mundo de ostentação e de hipocrisia, fomentando pelo uso de celular, que alimenta ainda mais o preconceito também contra outras religiões, dando forças cada vez mais a intolerância religiosa, pregando assim o seu verdadeiro deus[5] e subjugando a religião alheia a sua, a ponto de, no Brasil no ano de 2024, registrar 3.853 violações de liberdade religiosa por intolerância.
É obvio que o número é muito maior, visto que este registro se deu apenas para quem fez a denúncia discando o número 100 e registrando a intolerância.
Vale pontuar que a intolerância religiosa teve saltos em 5 anos de até 240,3% de aumento, e continua aumentando, sendo que de 2022 a 2023, o aumento foi de 80,7%, e que as maiores vítimas são as religiões de matriz africana, como candomblé e a umbanda e o preconceito vêm geralmente de religiões protestantes.[6]
A realidade social concreta nos permite perceber que sim, o Brasil abriga milhões de analfabetos funcionais, informação esta corroborada pelo Indicador de Analfabetismo Funcional (Inaf) ao esclarecer que a cada 10 brasileiros, 3 são analfabetos funcionais, o que corresponde a uma população de 30% que têm dificuldade para ler, escrever e fazer contas no dia a dia.
[1] https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2025-03/cada-17-horas-ao-menos-uma-mulher-foi-vitima-de-feminicidio-em-2024
[2]OLIVEIRA, T. S. et al.. CADÊ MEU CELULAR? UMA ANÁLISE DA NOMOFOBIA NO AMBIENTE ORGANIZACIONAL. Revista de Administração de Empresas, v. 57, n. 6, p. 634–635, nov. 2017.
[3] https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/lgbtfobia-brasil-e-o-pais-que-mais-mata-quem-apenas-quer-ter-o-direito-de-ser-quem-e/
[4] https://www.brasildefato.com.br/2025/01/18/brasil-teve-quase-300-mortes-violentas-por-lgbtfobia-em-2024/
[5] Letra minúscula proposital
[6] https://g1.globo.com/fantastico/noticia/2024/01/21/brasil-tem-aumento-de-denuncias-de-intolerancia-religiosa-veja-avancos-e-desafios-no-combate-ao-crime.ghtml