Avilés, Espanha, 17/12/2010 – A cidade espanhola de Avilés foi cenário, nos dias 15 e 16, dos atos de apresentação do Centro Cultural Internacional Oscar Niemeyer, projetado pelo arquiteto brasileiro e considerado sua maior obra na Europa. O Centro, que será inaugurado oficialmente em março, terá entre suas primeiras atividades a apresentação do programa mundial de educação cultural “Impacto Acadêmico”, da Organização das Nações Unidas (ONU), informou seu secretário-geral, Ban Ki-moon.
Observando a construção, muitos recordam o “Poema da Curva”, escrito em 1988 pelo próprio Niemeyer: “Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso de seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein”.
Niemeyer, que completou 103 anos de vida no dia 15, foi o responsável, em meados do Século 20, por projetar e dirigir a construção de uma dezena de edifícios oficiais quando nascia Brasília, incluindo a residência presidencial, a catedral e as sedes do governo federal, do Congresso e do Itamaraty.
Por suas ideias firmemente esquerdistas, foi reprimido e teve que deixar o Brasil e exilar-se em 1965, um ano após ser instaurada a ditadura que durou até 1985, regressando ao país em 1980, após ter percorrido e trabalhado em diversas partes da Europa, África e Ásia, em todas elas deixando sinais de seu trabalho criativo.
“Para mim, a vida é mais importante do que a arquitetura e o fato de persistirem as disparidades sociais deve nos fazer lutar para conseguir um mundo novo mais fraterno e solidário”, disse Niemeyer em uma entrevista publicada esta semana pelo jornal La Voz de Avilés.
Sobre a igualdade, uma referência principal é seu projeto do Centro, cujo auditório não possui palco nem assentos especiais, sendo todas os lugares iguais, desde o da presidência até o último dos convidados.
Acrescentou que gostaria de “ser lembrado como um homem que passou mais de seis décadas sobre a mesa de trabalho, preocupado com sua arquitetura, mas sempre pronto para contribuir com a luta política, a superação deste sistema de classes que criou o capitalismo e que desmerece a humanidade”, também quer passar à história “como alguém que considerou que a vida é mais importante do que a arquitetura”, destacou o ganhador, em 1989, do Prêmio Príncipe de Astúrias das Artes.
Quando esses prêmios completaram 25 anos de existência em 2006, o então diretor da Fundação Príncipe de Astúrias, Graciano García, entrou em contato com os ganhadores nesse período, pedindo-lhes que participassem dos festejos desse aniversário. A resposta de Niemeyer foi curta e clara: “Sou arquiteto, e, portanto, o que sei fazer são projetos de edifícios, e isso é o que vou fazer, desenhar um edifício”.
E assim criou a sede do Centro Cultural, sem poder participar de sua apresentação, mas presente de diversas formas, entre elas com a projeção de filmes resumindo sua vida e suas criações. Um passeio pelo novo Centro, todo cheio de curvas e círculos, nas paredes, nos tetos, nos habitáculos, nas escadarias, em tudo, ilustra a sua criatividade.
Para que essas linhas se mantivessem no novo projeto, apresentou propostas e trocou opiniões uma e outra vez com os profissionais que dirigiram e controlaram sua construção. O Centro possui um conselho assessor, entre os quais se destacam personalidades como o cineasta norte-americano Woody Allen, o cientista britânico Stephen Hawking, e o escritor, dramaturgo e jornalista Paulo Coelho.
Com a habilitação deste Centro, “nos vinculamos aos oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio da ONU e essa é a melhor homenagem que podemos prestar”, disse à IPS Vicente Álvarez Areces, presidente do governo do Principado de Astúrias, uma das 17 comunidades autônomas que integram a Espanha e à qual pertence Avilés. Areces recordou que este ano o Brasil comemora os 50 anos da proclamação de Brasília como sua capital, “um símbolo do modernismo e uma arquitetura única no mundo”.
Por sua vez, García, tomando os versos do poeta espanhol Pedro Salinas (1891-1951), afirmou: “Não renuncie aos sonhos por serem sonhos”. Este dia “é para a história e para a esperança. A apresentação de um centro como este sai do âmbito asturiano para ser europeu”, talvez mundial.
O Centro Niemeyer tem uma cúpula branca, como toda sua construção, e ali ficará um museu. Ao seu lado, uma torre abriga em seu topo um mirante circular onde funcionará um centro de gastronomia, e outro setor que será o auditório, cuja forma lembra uma lágrima. Localizado às margens do Rio de Avilés, o Centro Niemeyer pretende servir como encontro cultural “no qual tenham lugar e apoio todas as artes, uma verdadeira fábrica de produtos culturais”, explicou à IPS seu diretor, Natalio Grueso.
Sobre a cultura, Areces também se expressou em um discurso, dizendo que “a cultura é uma ferramenta de transformação econômica”, e nesse campo o Centro deverá contribuir eficazmente para fortalecer as relações da América Latina com Astúrias, e com isso com a Espanha e o restante da Europa. Envolverde/IPS
(IPS/Envolverde)
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