11/11/2019

Navegações Fluviais No Vale Amazônico: Santos, Heróis e Demônios no Caminho das Águas.

AVEGAÇÕES FLUVIAIS NO VALE AMAZÔNICO: SANTOS, HERÓIS E DEMÔNIOS NO CAMINHO DAS ÁGUAS.

                                                     DIÓGENES DE FRANÇA[1]

                                                     MARINHO CELESTINO DE SOUZA FILHO2

                                                     FERNANDO FERREIRA PINHEIRO3

                                                     GILMAR VIEIRA GOMES4

                                                     CLÉBER DE OLIVEIRA FERREIRA5

                                                     PAULO FERNANDO CAMPGNOLLI6

Resumo: Este artigo procura apresentar um levantamento das principais expedições ocorridas no rio Amazonas, desde a sua descoberta, até o século XVII, pretende ainda mostrar as adversidades encontradas pelos seus primeiros navegadores, como foram realizadas as excursões; quem foram os primeiros navegadores do grande rio; como e o que aconteceu no percurso. Além disso, assinala as contribuições que essas viagens trouxeram para a formação territorial do Brasil. Por isso, para a concretização desse estudo foi realizada uma pesquisa bibliográfica,  utilizando-se de quatro grandes escritores sobre o assunto: Adas (2002), Brasil (1996),  Souza (1992) e Tocantins (1973), os quais apontam com grande clareza os acontecimentos nas viagens dos primeiros desbravadores do rio-mar, demonstram em suas obras muitas situações de heroísmo, aventura, desventura, maldade, evangelizações e sucessos alcançados pelos mais diversos expedicionários desses dois séculos de navegação nas águas do Amazonas. No final do artigo, também foi elaborada uma tabela cronológica, com a finalidade de enumerar os principais acontecimentos nesses duzentos anos da História da navegação sobre os caminhos das águas amazônicas.

Palavras-Chave: Navegações no Vale Amazônico. Principais Expedições. Santos, Heróis e Demônios das Navegações Amazônicas.

Abstract: This article seeks to present a survey of the main expeditions that took place on the Rio Amazonas, from its discovery until the 17th century. It also intends to show the adversities encountered by its first navigators, as the excursions were made; who were the first navigators of the grande-Rio; how and what happened along the way. Moreover, it points out the contributions that these trips brought to the territorial formation of Brasil. Therefore, for the accomplishment of this study a bibliographical research was carried through, using of four great writers on the subject: Adas (2002), Brasil (1996), Souza (1992) and Tocantins (1973), which point with great the events in the voyages of the first explorers of the rio-Mar, clearly show in their works many situations of heroism, adventure, misadventure, evil, evangelization and successes achieved by the most diverse expeditionary of these two centuries of navigation in the waters of the Amazonas. At the end of the article, a chronological table was also elaborated, with the purpose of listing the main events in these two hundred years of the history of navigation on the Amazonian waterways.

Key Word: Navigations in the Amazon Valley. Major Expeditions. Saints, Heroes and Demons of the Amazonian Navigations.

Introdução

A região amazônica, de acordo com Adas (2002), constitui-se na mais vasta área de cobertura florestal do planeta, sendo também detentora da maior bacia hidrográfica do mundo, incluindo o rio mais extenso e de maior volume de água, o rio Amazonas.

A região está inserida na zona intertropical, por isso, apresenta climas equatoriais do tipo quente e úmido na maior parte de sua extensão. A Amazônia não é só brasileira, conforme nos assegura Adas (2002, p.105) “[...] abrange terras do Brasil, da Bolívia, do Peru, do Equador, da Colômbia, da Venezuela, da Guiana, do Suriname e da Guiana Francesa. Estende-se por 6,5 milhões de quilômetros quadrados [...]” e o Brasil, desse total, possui uma área de 4,8 milhões de km².

Quando se trata de domínio amazônico, temos de imediato a ideia de apontarmos para uma região homogênea. No entanto, esta região apresenta formas variadas, quanto ao relevo, clima que varia de chuvosos a secos, bem como vegetação que vai de mata de igapó, floresta de várzeas e de terra firme até áreas de cerrados em alguns trechos.

Nesse aspecto, o Rio Amazonas, que neste artigo será palco de grandes aventuras, possui uma extensão de aproximadamente 6.570 km, nasce em território peruano a mais de 5.000 metros de altitude, recebe vários nomes de sua nascente até a foz. Quando percorre o território brasileiro recebe o nome de Solimões e somente na confluência com o Rio Negro é que passa a ser denominado Rio Amazonas e segue com esse nome até desaguar no atlântico.

O Rio Amazonas, consoante Adas (2002), por influência da sua posição geográfica, possui dois períodos de cheias, o que contribui decisivamente em seu grande volume de água, apresenta uma vazão média de 209.000 m³.   Neste caminho natural e hostil, movidos pelo espírito das “Grandes Navegações”,  vários atores: santos, heróis, demônios, marcados por verdadeiras odisseias, aventuras, desastres, monstruosidades , vitórias, pois, eles tinham os mesmos objetivos: encontrar riquezas e fama impulsionados pela “energia mercantilista-metalista”,

É importante lembrarmos que o período de verificação histórica deste artigo, compreende os dois primeiros séculos da História da conquista e ocupação europeia.

Portanto, de acordo com Brasil (1966), quando se trata de Vicente Yanez de Pinzón como o descobridor do grande Rio Amazonas e Francisco de Orellana como o primeiro a realizar uma viagem completa em suas águas, devemos lembrar que isso é válido apenas pelo prisma ocidental (visão eurocêntrica), pois, sem dúvida alguma, este rio já era conhecido e já funcionava como meio de transporte pelos povos indígenas.

Assim, este é um trabalho de revisão bibliográfica embasado nos relatos de cronistas e anotações levantados nas obras de Adas (2002), Brasil (1996), Souza (1992) e Tocantins (1973).

Nesse sentido, no item seguinte, apresentaremos, de fato, como ocorreram as grandes navegações no Rio Amazonas e, como ficou conhecido esse Rio.

1-Santa Maria Del Mar Dulce – O Rio Amazonas

De acordo com Tocantins (1973), As potências europeias, tais como: Inglaterra, Espanha, Portugal, entre outras, dominaram o período das grandes navegações marítimas, que impulsionadas pelo espírito metalista se lançaram nas mais espetaculares aventuras já realizadas pela humanidade. A descoberta de lugares onde pudessem encontrar pedras preciosas e outras riquezas que lhes garantissem fortuna eterna, era a energia que motivava os europeus com tanta determinação.

Nesta atmosfera de descobertas, ocorre um dos mais importantes momentos desses navegadores, a descoberta da desembocadura de um enorme rio, que de tanta água que despejava no atlântico, a 50 km de sua foz se fazia sentir sua presença, conforme afirma Tocantins (1973; p.14):

“Fortes tempestades açoitaram as naus de Pinzón, mas o comandante dirigiu-as com firmeza, vindo a divisar terra no horizonte – as costas de Pernambuco – a 26 de fevereiro de 1500[...] A viagem prosseguiu rumo norte até depararem, no mês de fevereiro, com a foz de um caudal imenso, “la boca Del Rio Grande”, onde Pinzón percebeu “o Mar Dulce” que “sale quarenta léguas em la mar com la água Dulce”.

Isto posto, podemos assinalar que o primeiro navegador europeu a se defrontar com o rio Amazonas foi o espanhol Vicente Yañes de Pinzón que ao se deparar com tamanho fenômeno hidrográfico e devido ao seu espírito legitimamente religioso, batizou o grande rio de Santa Maria de la Mar Dulce. Apesar disso, ainda em consonância com Tocantins (1973), Pinzón não permaneceu por muito tempo na região, seguiu logo a sua viagem realizando outras descobertas como o Cabo Orange e o rio Oiapoque. A primeira foi batizada inicialmente de São Vicente e a segunda de Vicente Pinzón.

Nesse sentido, Vicente Yañes de Pinzón descobriu o Amazonas por acaso. Ele acreditava que tinha chegado às Índias, fato que era comum entre os navegadores da época, pois, conforme Souza (1992, p. 22), o principal objetivo dos grandes navegadores era chegar primeiro àquelas terras; por isso:

“[...] Pinzón achou que tinha atingido as Índias. Ele acreditava ter navegado para além da cidade de Catai e atingido um território não muito distante do Ganges. A presença de água potável avançando mar afora interpretado por Pinzón como resultado da correnteza de muitos rios a descer de montanhas”.

 

Este feito traria maior glória a Pinzón, como descobridor do próprio Brasil, se não fosse o tratado de Tordesilhas, que impedia a presença de espanhóis naquela região. Isso poderia causar um desentendimento entre Portugal e Espanha, podendo ainda ter mudado o rumo da história da Amazônia e, consequentemente, do Brasil.

Diogo de Lepe, também é um navegador que entra para a história do Rio Amazonas, sendo o segundo a encontrar a desembocadura do grande rio e o batiza como Rio Marañon, esse fato é ratificado por Tocantins (1973; p. 15): “Poucos meses após Pinzón haver descoberto o Amazonas, Diogo de Lepe veio aportar na região, seguindo o mesmo trajeto de seu antecessor [...].  Os expedicionários chamaram o rio de Marañon [...]”.

Apesar das bibliografias atribuírem a Diogo de Lepe, apenas, a descoberta da desembocadura do Rio Pará, porção sul da foz do Amazonas, de acordo com o que assevera Tocantins (1973; p.15 e 16) “[...] Vicente Yañes Pinzón descobriu o Amazonas propriamente dito, e Diogo de Lepe o Rio Pará [...]”, asseguramos que ele também teve a mesma visão de Pinzón, pois, os dois rios, em sua desembocadura, formam junto o anfiteatro amazônico, porque não era possível, naquela época, distinguir qual era realmente a desembocadura do Amazonas ou do Pará, por isso, acreditamos que era entendido como uma grande desembocadura de um grande rio com uma ilha no meio (atual ilha de Marajó).

Nesse processo, o primeiro português a navegar nas águas do Amazonas foi Diogo Nunes, de acordo com Brasil (1996; p.13). “[...] Em 1538, Diogo Nunes, um aventureiro português incorporado às tropas espanholas do Pacífico, foi a primeira pessoa a entrar na atual Amazônia Brasileira, a partir dos Andes”.

Assim, após as considerações feitas anteriormente sobre a navegação no Rio Amazonas, no item 2, apresentaremos duas importantes expedições realizadas também na região amazônica.

2- A expedição de Gonzalo Pizarro e a consagração de Francisco de Orellana.

A primeira expedição feita no rio Amazonas, foi a comandada pelo espanhol Francisco Orellana, que realizou este feito graças aos acontecimentos desastrosos, ocorridos na expedição comandada por Gonzalo Pizarro, da qual o mesmo era membro.

Amigos e conterrâneos, os dois e mais outro espanhol, o Frei Gaspar de Carvajal (o cronista que vai relatar os fatos da expedição) serão protagonistas desta História de aventura, fome, guerra, doenças, intolerância e sucesso, numa viagem que ficaria conhecida como: a primeira viagem realizada completa pelo Rio Amazonas, desde a nascente até sua foz.

A grande mola propulsora, que conduzia esses aventureiros a essas verdadeiras odisséias era o desejo de ficarem ricos e famosos. Todos eles movidos por um espírito de ambição e força destemida, chegaram a acreditar em boatos construídos pelos índios e alucinações gananciosas deles mesmos. Acreditavam que entre meio às águas e florestas, insetos, doenças, mortes e solidão existia um reino muito rico chamado de El Dorado.

Este reino, segundo a lenda, era um país fabuloso, localizado à noroeste da Amazônia; rico, cheio de tesouro, onde o chefe da tribo se lambuzava de ouro em pó, por isso, chamava-se El Dorado, depois de se lambuzar de ouro, o chefe da tribo ia se banhar em um grande lago vulcânico.

Existia também uma lenda menos mirabolante, mas tão ilusória, que era a idéia do país das canelas, pois, acreditava-se que além das montanhas dos Andes, partindo da costa do Pacífico, encontrar-se-ia uma grande floresta de canelas.

Em sua obra, “os Desbravadores do Rio Amazonas”, Brasil (1996) afirma que a expedição de Pizarro era a mais bem equipada das expedições já montadas, até aquele momento, na América. Ela continha 220 cavaleiros armados e encouraçados, milhares de lhamas, 2.000 porcos, 2.000 cães de caça e 4.000 índios, preparados para a aventura.

E ratifica ainda que, Pizarro partiu de Quito em fevereiro de 1541, deixou para trás um tripulante ilustre, o seu amigo Francisco de Orellana, que sem demora segue a trilha da expedição, na iminência de encontrá-la e se integrar a ela. O primeiro percurso da excursão foi extremamente difícil, exigindo grandes sacrifícios para fazê-lo, pois, na região em que iam navegar: a dos Andes, muito montanhosa com intensas atividades vulcânicas, temperatura e pressão atmosférica muito baixas e grande frequência de nevascas.

Orellana encontrou com a expedição de Pizarro, na localidade conhecida como Muti, após ter percorrido algumas léguas e, ter, praticamente, acabado com a sua expedição, mais modesta que a de seu conterrâneo, fato esse assinalado por Brasil (1996; p. 18) “[...] Depois de ter percorrido 30 léguas e de haver perdido pelo caminho todos os cavalos, roupas, palestras e arcabuzes [...]. ”

Este foi o momento de alegria e de desespero. De alegria por terem se encontrado, de desespero pelo que ocorre em seguida. Segundo Brasil (1996; p.18), “[...] Na tarde do dia seguinte, o céu escureceu e a terra começou a tremer, abrindo enormes crateras. A noite foi infernal. O vulcão Chimborazo (6.310m) começou a vomitar fogo [...]”. Este acontecimento sem dúvida acaba por desfalcar ainda mais, a expedição de Pizarro e Orellana, pois, nesta situação de desespero, perderam mantimentos enterrados sob as lavas vulcânicas, índios se dispersaram, os porcos se espalharam etc.

Nesse sentido, já haviam passado pelo pior, pois, nada poderia ser pior do que acabara de acontecer. Provavelmente, esse foi o pensamento dos expedicionários após a tragédia. Estavam enganados. Agora estariam diante do “inferno verde”, a “Floresta Amazônica”. Nesta altura, encontravam-se esfarrapados, esfomeados e febris diante de um desafio jamais encontrado, como assinala Brasil (1996; p. 18) “[...] A selva se apresentou como uma devoradora de homens. Chuvas pesadas e contínuas apodreceram as roupas dos espanhóis. Florestas virgens se contrapõem ao passo do homem, sendo necessário abrir o caminho no facão, umidade permanente, fome, febres, mosquitos, vampiros, jacarés, serpentes e aranhas venenosas [...]”.

Gonzalo Pizarro e sua comitiva ficaram extremamente decepcionados, quando chegam ao famoso vale das canelas. Encontram apenas umas poucas árvores de qualidade extremamente inferior que não compensava à sua exploração. E quanto ao sonhado El Dourado, nem pista.

Neste momento, de insatisfação com o decepcionante vale das canelas e o El Dourado, decidem construir uma embarcação para descerem o Rio Coca. Portanto, construíram o San Pedro, com muito sacrifício e iniciaram o transporte de equipamentos pesados e os 25 soldados enfermos.

A situação só se agravava. Já tinham comido quase tudo que levaram, inclusive os cavalos e os cachorros, mas era necessário encontrar rapidamente uma solução.  Isto posto, os índios que os seguiam, asseguravam que na confluência do Rio Coca com o Rio Napo havia alimentação capaz de alimentar um exército de mil homens por mês. Então Pizarro resolve mandar a embarcação na frente, para que eles pudessem conseguir alimentos para os expedicionários famintos. Contudo, se não encontrassem nada, deveriam esperar o restante da tropa no encontro dos dois rios.

Para conduzir a embarcação, Pizarro nomeou Francisco de Orellana, a pessoa de sua maior confiança na expedição, de acordo com o que assevera Brasil (1996:19) “[...] Ele era uma pessoa de confiança, antigo guerreiro da Nicarágua, também veterano da conquista do Peru e fundador da cidade de Guayaquil [...]”. Seguiram nesta segunda turma, 57 homens, entre eles, o cronista Frei Gaspar de Carvajal, além de munições e presentes para os índios.

Assim, após Orellana ser nomeado por Pizarro e, seguir viagem, juntamente com o Frei Gaspar, abaixo, mostraremos como Orellana entrou para a história do grande rio.

2.1 - A hora e a vez de Orellana entrar para a história do grande rio

É por meio de Souza (1992) que tomamos ciência desta aventura, pois, afirma que no dia 26 de dezembro de 1541, iniciou a segunda etapa da História desta expedição, constituindo-se, apenas, numa pequena viagem de apoio à expedição de Pizarro, todavia, tornou-se uma das mais importantes viagens feitas pelo Rio Amazonas.

Nos primeiros quilômetros, a expedição se deparou com o primeiro grande problema. A embarcação se chocou com um tronco de árvore que desceu a correnteza do rio, um evento comum nesta época do ano (cheia); e a fome, já que, neste momento, estavam sem mantimentos. O primeiro problema foi resolvido, apesar das dificuldades, arrastaram o Bergantim para o seco e consertaram-no.

Já, o segundo era mais caótico, atravessaram uma região desértica sem possibilidades de se reabastecerem, segundo Souza (1992), a fome causava enorme aflição na expedição. Após ter passado três dias do término dos mantimentos, procuraram desesperadamente o que comer. Não encontraram nada, por isso, ainda de acordo com Souza (1992), passaram a cozinhar e comer couros dos cintos, solas de sapatos, bainhas das espadas, raízes e frutos silvestres que encontraram nos barrancos do rio.

Brasil (1996) relata a chegada da expedição de Orellana ao lugar combinado com Pizarro, a confluência do Rio Coca com o Rio Napo, segundo a versão dos índios que os seguiam, encontrariam alimentos em abundância para todos.  No entanto, a decepção foi geral, quando perceberam que não havia comida. Ainda em consonância com Brasil (1996), Orellana se vê diante de um dilema: esperar Pizarro ou seguir viagem sem seu chefe? Esperar Pizarro não parecia a saída mais inteligente, uma vez que a comissão se encontrava sem alimentos e esgotada física e mentalmente. Ir ao encontro do grupo principal, também não seria a melhor saída, pois tal empreitada demandaria um desgaste físico enorme para subir correnteza acima e, o tempo gasto levaria quase um ano para alcançá-lo, se alcançasse, o que inviabilizou por completo a ideia.

Por isso, Orellana resolveu seguir a correnteza do Rio Napo em busca de alimentos. No dia 03 de janeiro de 1542, eles encontraram ainda no Rio Napo, o reino de Apária Menor, onde, apesar de os indígenas terem se mostrado amigáveis, os espanhóis os atacam e dominam a aldeia e, lá fazem seu primeiro almoço decente, pois havia dias que não comiam algo de qualidade. Quando os índios voltaram ao fim do dia, em conformidade com Souza (1996), Orellana se mostra amigável e faz com que eles os levem até o chefe da tribo, que logo dá um abraço forte e presenteia-os, conquistando-os, imediatamente. O chefe da tribo ordena que os demais indígenas reabasteçam os barcos dos “novos amigos” com fartas provisões.

Assim, de acordo com Souza (1996), depois de terem alcançado um dos seus principais objetivos, alimentação para toda a expedição, Orellana resolve ir ao encontro do seu comandante, Gonzalo Pizarro, contudo, seus comandados não estavam com as mesmas ideias. Eles não aceitavam a situação de terem que passar por todo aquele sacrifício novamente e, ainda a incerteza de reencontrar Pizarro. 

Nesse contexto, no dia 04 de janeiro, Orellana é nomeado chefe da expedição pelos integrantes de sua própria comissão, sobre pressão, por isso, eles exigiram que Orellana os conduzissem rio abaixo. Se ele não aceitasse promoveriam uma revolta, no entanto, se Orellana concordasse, eles lhes teriam toda a obediência e honrá-lo-iam.

Orellana encontrava-se com sua consciência bastante pesada, visto que não obedecera a seu comandante e amigo de velhas jornadas, Gonzalo Pizarro. Todavia, não havia escolha e eles se lançaram na correnteza do Rio Napo, no dia 02 de fevereiro de 1542, rumo à morte ou à glória.

Ainda, numa tentativa de entrar em contato com o seu chefe, Orellana tenta enviar um mensageiro, oferecendo-lhe recompensa para isso, mas ninguém foi seduzido por sua oferta. Todavia, um dos homens não aceitou embarcar na expedição de Orellana e ficou na barranca:

“[...] um único tripulante, Hernán Sanches de Vargas, insubordinou-se com a decisão, preferindo desembarcar e permanecer na praia. Caminhando pelas barrancas, este heróico soldado acabou reencontrando seu comandante. Pizarro continuava percorrendo a região do alto Napo, vencendo dificuldades e contratempos de todas as espécies. A notícia alcançada por Sanches de Vargas encheu-o de revolta e indignação. Não lhe restando alternativa senão regressar a Quito [...]” (BRASIL, 1996; p. 21).

Assim, os destemidos desbravadores seguiram a jornada e, no dia 12 de fevereiro de 1542, deparam-se com uma cena inusitada: ver o Rio Napo desaguar em um imenso rio sobre o qual seguiram em uma viagem de contemplação e admiração. No dia 24 de junho do mesmo ano, chegaram a um lugar cheio de índios e tentaram descer para celebrar a festa de São João Batista, onde foram atacados com tanta fúria que seus barcos ficaram repletos de flechas cravadas nos cascos. Após este episódio, o grande rio passou ser batizado de Rio Amazonas:

“[...] registra terem visto ali mulheres altas, tez clara, vestindo unicamente com uma tanga, e que lutavam melhor que os homens. Arqueiras exímias, disparavam 7 flechas por cada tiro de arcabuz ou de balestra dos atiradores espanhóis [...]” (BRASIL, 1996; p. 23).

A partir desse acontecimento, começa a lenda das amazonas no novo continente, por isso, o grande rio foi batizado de Rio Amazonas. Além dessa visão dos espanhóis, ou seja, das mulheres guerreiras, que se destacavam ainda melhor do que os homens na guerra, para justificar o nome dado ao grande rio, eles teriam capturado um índio desta tribo como prisioneiro e, ele confirmou a suspeita dos espanhóis em relação às amazonas, de acordo com a assertiva feita, abaixo, por Brasil (1996; p. 23).

“[...] Contou que elas (as amazonas) eram senhoras de um imenso império de 70 cidades; que conviviam com ouro e com prata; que sua rainha se chamava Coñori, e que eram filhas do sol, adorando ídolos de ouro. Que eram solteiras, e por ocasião da primavera faziam guerra a seus vizinhos, capturando jovens para com elas coabitar [...]”.

Depois deste episódio, os desbravadores descem o rio, passam ainda por outros lugares perigosos e, deparam-se com outras tribos selvagens como Trapajosos. Em 24 de agosto de 1542, aproximadamente, um ano e meio depois da partida de Quito, a expedição chega ao Atlântico. Estava completa a grande saga. Para os tripulantes, restavam à alegria e à euforia de terem completado a viagem. Para Francisco de Orellana, ficou o nome na história, como o primeiro europeu a navegar o Amazonas; de oeste para leste e, responsável pelo batismo do próprio Rio Amazonas.

Assim, termina a saga da descoberta do Rio Amazonas, por isso, no próximo item, tratar-se-ão sobre alguns fatos, que merecem destaque, ocorridos nesse grande Rio.

3- Ambição, traição e crueldade no Rio-Mar

No dia 26 de setembro de 1.560, iniciou-se uma expedição com o objetivo de procurar ouro e, expandir o território dos espanhóis sobre as terras Amazônicas. Os personagens principais dessa aventura foram: Pedro de Ursua, (o comandante da expedição); Lopes de Aguirre, Dom Fernando de Gusmão e, alguns padres jesuítas. Acompanhou também a viagem uma mulher extremamente sedutora, Inês de Antieza. Esta por sua vez era amante de Ursua e só foi credenciada para a aventura, por ter patrocinado 8.000,00 pesos para a realização da viagem, sendo que a coroa real dispôs de 15.000,00.

Nesse sentido, há uma discordância entre os autores quanto à trajetória e o local de partida exata da expedição. Para uns ela partiu de Cuzco à margem do rio Urubamba, todavia outros afirmam que ela partiu de Topesana, no Huallaga. Contudo, não há discordância em relação à mancha de crueldade, cobiça e à falta de disciplina e comando, conforme assinala Brasil (1996; p. 27) “decorrido apenas três meses da partida, os desmandos e a indisciplina tomaram conta da tropa. Ninguém mais se entendia. ” Esse fato é ratificado por Souza (1992; p. 32) “[...] Ursua não estava comandando uma expedição composta por aventureiros e conquistadores, mas por bandidos e assassinos”.

Neste ambiente, aparece Lopes de Aguirre que inicia sua saga de matança rio abaixo, o qual assassinou Pedro de Ursua, assumindo o comando e, apossou-se de sua amante Inês de Antieza. D. Fernando de Gusmão, também foi assassinado, de forma misteriosa, por um punhal. Mais tarde matou também a Inês de Antieza. E assim seguia a viagem, enchendo as margens dos rios de cadáveres e manchando as águas barrentas dos rios amazônicos de sangue, de acordo com o que assinala Brasil (1996; p 28)

“[...] Milhares de índios, mulheres e crianças foram abatidos sem dó nem piedade. Seus companheiros foram assassinados um a um (Salduendo, De la Vandera, Serrato, Cristóbal Hernandez, Alonzo de castro, Montoya, Monteverde, Cabanas, Trujillo, Juan Gonzalo e Guevarra). [...]”.

      O fim da “expedição infernal” se deu no dia 20 de julho de 1561, quando os sobreviventes do “Bergantim da morte” chegam ao Caribe nas ilhas Margaritas, onde em mais uma de suas insanidades mentais, Aguirre matou sua própria filha a punhaladas. Diante disso, os seus subordinados revoltados com tamanha monstruosidade matam Lopes de Aguirre com dois tiros de arcabuz e, depois o esquartejam. Sua cabeça é exposta numa estaca em Tucuyo, a mão esquerda foi enviada para Valência e a direita para Mérida, o restante do corpo espalhado para os abutres comerem em terrenos Venezuelanos. E assim chega ao fim, a excursão que ficou conhecida como, “A Cólera dos Deuses”.

     Depois de relatar essa excursão, no item seguinte, mostraremos como ocorreu a subida do grande Rio, por meio de uma pequena canoa.

4- Uma canoa correnteza acima

     Subir o grande rio era algo que não havia acontecido até 1636, quando apareceu em cena um “desafiador das águas”. Ele era o desconhecido português Francisco Fernandes, solitário, em cima de uma pequena canoa, a remo, quando subia o grande rio, a vela saiu do Pará e atingiu a Cordilheira dos Andes. Por isso, no percurso desta epopeia, Fernandes atingiu a província dos Encabelados, onde situa-se uma missão religiosa espanhola, protegida militarmente pelas tropas do capitão Juan de Palácios. A sua chegada ao povoado deu-se logo após uma violenta repreensão aos nativos por parte dos militares. Essa repreensão causou um grande descontentamento nos padres e enorme revolta nos indígenas, o que gerou grande conflito, conforme assevera Brasil (1996; p. 30)

 “O capitão Palácios foi assassinado, e a Missão arrasada. (8 de outubro de 1636). Ainda sob efeito do pânico, os remanescentes da tragédia ouviram atentos à narrativa do português recém-chegado, e decidiram fugir no rumo do Atlântico. Embarcados em uma pequena canoa e guiados pelo português, os padres espanhóis lançaram-se “águas abajo”, exatamente como tinha feito Orellana, século antes”.

 

Assim, de acordo com Brasil (1996), Fernandes não só se consagra sendo o primeiro a subir o Rio Amazonas (sozinho), mas também, por ter sido o primeiro a fazer o trajeto de ida e volta completa no Rio-Mar.

Após esses acontecimentos, apresentaremos abaixo, a expedição das expedições. Nesse sentido, Souza (1992), ajudar-nos-á a compreender melhor, como, por que e, quando ocorreu essa expedição, que tornou-se fato notório, inerente às grandes navegações ocorridas no grande Rio.

5-A expedição das expedições

            Souza (1992), assinala que, após a aventura de Francisco Fernandes, os portugueses se apressaram na conquista do grande Rio e estavam cientes da presença dos espanhóis na região,

Então, no ano de 1637, é estruturada uma expedição de grande porte, que entraria para a história, sendo a mais importante de todas. Para organizá-la, escolheu-se Pedro Teixeira (Capitão-Mor do Pará de 1620 – 1621) para comandar Frei Domingos de Brieva (um dos padres que voltaram com Francisco Fernandes) como guia e, o brasileiro Bento da Costa como piloto, que elaborou, nesta viagem, o primeiro mapa do Rio-Mar.

A viagem iniciou-se no dia 28 de outubro recheada de aventura, drama, mortes, ataques indígenas, cansaço, fome e incertezas, mas, apresentava um grande diferencial: o comando. Teixeira sabia como ninguém conduzir sua equipe, através de seu carisma e da confiança que passava à tripulação, obtinha a obediência total de todos os seus comandados.

Após vários dias de navegação, eles alcançam o rio Napo e, em 3 de julho de 1638 chegaram ao rio Aguarico, que indica a proximidade do fim da excursão. Nesta localidade, domínio dos Encabelados (os que mataram Juan de Palácios em 1636), Pedro Teixeira montou um posto militar para proteger sua gente, que o deixou a cargo a Pedro da Costa Favella e Pedro de Abreu.

Pedro Teixeira enviou uma expedição precursora à frente da sua, para acalmar os ânimos dos seus comandados e, tranquilizá-los. Todavia, não encontrou nenhuma pista da expedição amiga. Somente, em agosto de 1638, eles obtiveram notícias, segundo essas notícias, a comunidade do povoado de Payamino havia seguido viagem a pé para o povoado de Baeza.

 Teixeira então seguiu a trilha da expedição de frente e, apenas no dia 14 de outubro de 1638 é que se encontraram no povoado de Quíchua de Pupas, onde, Bento Rodrigues (o escolhido por Teixeira para comandar a expedição precursora), aguardava os amigos para comemorarem juntos os sucessos da viagem, conforme assevera Souza (1992; p. 33)

" Quando Pedro Teixeira chega a Quito, sua expedição é recebida com assombro e admiração pelos espanhóis. Missas solenes, recepções e muitas festas ocuparam os portugueses, que também foram homenageados com uma tourada que durou dois dias e da qual até os índios foram autorizados a participar e a matar o touro a flechadas"

 

Brasil (1996) afirma ainda que a expedição portuguesa ficou em Quito por apenas quatro meses, pois, os espanhóis não se sentiram, politicamente, à vontade em mantê-los por mais tempo na cidade. Então, no dia 16 de fevereiro de 1639, iniciou-se a odisséia de volta. Fizeram, praticamente, o mesmo caminho e chegaram ao local, que haviam deixado o destacamento militar, na região dos Encabelados. Encontraram os Comandantes Favella e Abreu em sérios apuros com os índios. Eles não conseguiram manter boas relações de vizinhanças com os nativos, que, logo atacaram-nos. Só não morreram, porque o reforço de Pedro Teixeira chegou e colocou ordem no local.

Além disso, Teixeira fundou nessa localidade, no dia 16 de agosto de 1639, um povoado com o nome de Franciscana, em homenagem aos padres franciscanos, amigos de Jun de Palácios martirizados pelos nativos em outro conflito nesse mesmo lugar.

O retorno foi mais tranquilo, pois, nesta altura, já não existia o problema das incertezas, despreparos e, claro a correnteza, então, neste momento, sobrou tempo suficiente para a realização do mapeamento do Rio Amazonas, da catalogação das tribos indígenas e ainda fez-se um registro amplo da região.

No dia 12 de dezembro de 1.639, a expedição de Teixeira chegou a Belém, chegando ao fim de mais de dois anos de puro desafio nas águas amazônicas. Essa expedição foi de grande importância para Portugal, pois, de acordo com que nos assegura Brasil (1996; p. 39):

“Até hoje, ninguém excedeu Pedro Teixeira no que concerne à relevância de serviços prestados à Coroa Portuguesa. Foi graças ao seu valor pessoal e à façanha de sua esquadra que Portugal conseguiu expandir a fronteira amazônica até o contraforte dos Andes. Os tratados posteriores respeitaram os marcos ali deixados. Juridicamente, estava comprovado o Utipossidetis potuguês, e legitimou - se a protuberância amazônica em direção ao Pacífico. O Brasil incorporou mais da metade de seu território, adonando-se da Bacia Amazônica, quase que por inteiro.

Sem deixar de fazer justiça à Franciso Caldeira Castelo Branco e a Bento Manoel Parente, além de outros nomes ilustres, devemos concordar que Pedro Teixeira granjeou para si o título de maior figura portuguesa do século XVII em todo o nosso setemtríão equatorial. Durante mais de três décadas, ninguém lhe superou nas lutas de conquistas, manutenção e integração ao território brasileiro. Ele é a figura de maior destaque em toda a história da Amazônia.”

                Assim, após essa citação, concluímos as aventuras de Pedro Teixeira no grande Rio, por isso, a posteriori, mostraremos a expedição de Antônio Raposo Tavares.

6- O caminho de Raposo – uma aventura vinda do sul

Uma outra expedição, que merece destaque, na história do Amazônas, no século XVII, foi a realizada por Antônio Raposo Tavares. Considerado um fazendeiro bem de vida, muito ambicioso e apresador de indígenas. Raposo Tavares organizou uma expedição de 60 homens para aprisionar os índios catequizados pelos jesuítas espanhóis na cidade de Guaíra .

Ao chegar no seu destino, percebeu que havia chegado tarde demais, provavelmente, alguém já havia passado primeiro. Resolveu, então, seguir com sua expedição em busca do famoso El Dorado. Seguiu rumo ao norte navegando pelos rios Paraná, Paraguai, Guaporé, Mamoré, Madeira e por fim o grande Rio Amazonas.

Pelo que conta a história, Tavares, foi o primeiro homen branco a atingir as águas do Amazonas pela via Guaporé - Mamoré - Madeira. Passou por todos os sacrifícios que todos os aventureiros do rio Amazonas passaram, ataques indígenas, fome e todos os tipos de privações, além das enfermidades que a região hostil continha.

Quando em 1651, Raposo tavares, chegou à foz do Amazonas, ele estava irreconhecível e fracassado, consoante assevera Brasil (1996; p. 40):

[...]doente e envelhecido, com a tropa reduzida e desmoralizada. Raposo Tavares surgiu na Fortaleza de Santo Antônio de Gurupá, no Pará de onde retornou a São Paulo. Seu périplo tinha durado três longos anos, findo os quais, ele tinha percorrido mais de 12.000 quilômetros ao comando da aquela que é considerada a maior expedição de reconhecimento geográfico já realizada no país.

 Em razão das arremetidas dos bandeirantes, especialmente as de Raposo Tavares, a Espanha passou a reconhecer o direito de Portugal sobre um vasto território.

                De acordo com essa citação, inferimos que as aventuras de Raposo Tavares no Rio Amazonas teve um fim trágico, ele passou por dantescas desgraças: doente, já avançado em idade, com a tropa totalmente arrasada, ele volta a São Paulo.

Nesse sentido, chegamos ao fim da História de Raposo Tavares na região amazônica, por isso, a seguir, apresentaremos mais um navegante que aventurou-se pelo vale amazônico: um alemão, conhecido pelo nome de Fritz.

7-Fritz, um Alemão a seviço de Castela

Nos fins do século XVII, a Espanha contratou o padre Samuel Fritz para realizar serviços no Rio Marañon, e este por sua vez deixou uma herança invejável na história do Rio – Mar, conforme nos mostra Brasil (1996; p. 41)

 

" Em 1689 ele recebeu ordem para descer o Marañon desde São Joaquim de Omáguas até a província do Grão - Pará realizando observações e estudos. Após a volta da viagem, que durou três anos, escreveu um diário, no qual registrou os contatos mantidos com as diferentes tribos indígenas que visitou. Além de seu trabalho pastoral, ele era escritor, pesquisador, cartógrafo e até um jurista improvisado na defesa dos interesses espanhóis junto a Portugal. Trabalhou durante 42 anos na Amazônia, percorrendo inúmeras vezes o grande Rio, de um ponto a outro. Catequizou os Omáguas, Yurimâguas, Aisuaris e lbanomas. Além de seu diário supra referido, deixou um Mapa Geographico del Rio - Maranon ó Amazonas , de grande valor para a etno - história amazônica. Samuel Fritz é cognominado o Apóstolo da Amazônia, mas a história ainda lhe confere um outro título: o de Primeiro Cartógrafo do Amazonas."

                Assim, após esse breve relato sobre o Alemão Fritz na região amazônica, teceremos as considerações finais acerca desse estudo, cujo tema principal é a história das navegações no Rio Amazonas e, consequências dessas navegações para a expansão da ocupação do território brasileiro.

8- Considerações Finais

Dois séculos de várias histórias de vencedores e vencidos resume 200 anos que passaram, desde o primeiro contato dos europeus com o Amazonas, até o final do século XVII. Por isso, o passar desses anos de navegação no rio Amazonas foi sem dúvida algo revelador de grandes heróis, santos e demónios. Desafios, coragem, bravura, e conquistas podem ser vistos nas expedições de Gonzalo Pizarro e Francisco Orellana; Pedro Teixeira, Francisco Fernandes e Raposo Tavares, sendo estes considerados como os grandes heróis do caminho das águas até o século XVII.

Ambição, traição, ganância e desumanidade são narradas na expedição de Pedro de Ursa, na figura do mais "carniceiro" dos desbravadores da história do Amazonas, Lope de Aguirre - o Demónio do caminho das águas. Nesse sentido, Conquista, sucesso e a palavra de Deus, a expedição de Samuel Fritz é um marco destacável - o santo do grande Rio.

Nessa direção, estudar esses dois séculos de história do rio Amazonas é de grande proveito para o entendimento da história regional do país, principalmente, da região norte. A partir desses estudos é possível entender a importância do rio Amazonas no processo de ocupação da região Amazonica, desde os primórdios até os dias de hoje. Além disso, é possível perceber como e o que levou as pessoas a entrarem na floresta sem rumo certo ou certeza de volta.

Nas histórias das expedições, exceto a expedição de Fritz, ficou claro que, realmente, pouco importava a vida dos indígenas, os quais, quando não eram simplesmente exterminados, eram escravizados pelos mais diversos tipos de aventureiros invasores.

Nesse processo, muitas tribos foram obrigadas a se mudarem, outras foram amansadas e transformadas em tapuios para servirem ainda mais de instrumento para a dominação europeia na região.

Nesses dois séculos também houveram expedições (Pedro Teixeira de 1637 à 1639 e Antônio Raposo Tavares em 1651 ) de extrema importância geopolítica, uma vez que elas deixaram marcos valiosos na definição dos limites territoriais entre as duas potências marítimas europeias: Portugal e Espanha.

Assim, as navegações ocorridas no grande Rio foram e, ainda são de suma relevância para não só definir os limites territoriais brasileiros, como também auxiliar na popularização da região amazônica, considerada por muito tempo inóspita e, muitas vezes inabitável.

9-RECORTE CRONOLÓGICO

MÊS/ANO

ACONTECIMENTO (S)

Janeiro de 1.500

 

Descobrimento do Rio Amazonas por Pinzon e Diogo de Lepe que encontram a desembocadura do Amazonas.

Em 1.538

 

Diogo de Nunes ( português ) primeiro homem a entrar na Amazônia Brasileira a partir dos Andes.

Fevereiro de 1.541

 

A expedição de Gonzalo Pizzaro parte de Quito.

Dezembro de 1.541

 

Orellana é enviado por Pizarro para comandar uma expedição com o intuito de aprovisionar alimentos.

Janeiro de 1.542

 

Orellana encontra a região da tribo indígena de Apária Menor e sob Pressão é nomeado chefe, sendo obrigado, a seguir, rio abaixo pelos comandados.

Fevereiro de 1.542

 

Orellana deixa as terras de Apária Menor e descendo o rio Napo encontra o rio Amazonas: marcando o primeiro contato do "homen moderno" com o grande Rio por via Andina.

 

Maio de 1.542

Orellana atinge a região dos Omáguas ou Cambebas; Orellana descobre o rio Purús ou Trindade

Junho de 1 .542

Orellana descobre o Rio Negro e o rio Caiari ( Madeira ) ; Orellana chega a uma   localidade   com   sete   cabeças humanas fincadas numa estaca e, batiza a  província   de   Picotas;   Frei Gaspar  de  Carvajal  perde  um dos olhos em batalha ; Carvajal relata em seus registros ter visto as Amazonas - as famosas guerreiras do   Grande-Rio.

Agosto de 1.542

A expedição de Oreliana chega ao fim.

Setembro de 1.560

Início da expedição de Pedro de Ursa.

Dezembro de 1.560

Lopes de Aguirre mata seu comandante, Pedro de Ursa assumi o comando da expedição.

Junho de 1.561

Fim “da “Expedição da Morte” de Lopes de Aguirre”.

Em 1.636

Francisco Fernandes viaja solitário pelo Amazonas e chega até os Encabelados.

Outubro de 1.636

Morre Jun de Palácios.

Fevereiro de 1.637

Retorno da expedição de Francisco Fernandes.

Outubro de 1.637

Início da expedição de Pedro Teixeira.

Fevereiro de 1.638

Bento Rodrigues é enviado por Pedro Teixeira a um destacamento precursor.

Junho de 1.638

 

Pedro Teixeira chega ao Rio Aguarico nos encabelados.

Agosto de 1.638

.

Pedro Teixeira chega a Payamino e, tem notícias de Bento Rodrigues.

Outubro de 1.638

 

Pedro Teixeira encontra-se com Bento Rodrigues em Quichua de Pupas.

Fevereiro de 1.639

Começa o regresso de Pedro Teixeira

Agosto de 1.639

 

Pedro Teixeira funda o povoado de Franciscana na região dos Encabelados.

Outubro de 1.639

Pedro Teixeira chega de volta ao Pará.

Em 1.637

 

Antonio Raposo Tavares realiza uma expedição vinda pelo Paraná, passando pelo Paraguai, Mamoré, Guaporé, Madeira até chegar ao Amazonas.

1.651

 

Raposo Tavares chega a Fortaleza de Santo Antônio do Gurupá – PA encerrando sua viagem.

1.686 a 1.688

Samuel Fritz explorou o Marañon, desde São Joaquim de Omáguas, até a província do Grão-Pará.

 

Referências

ADAS, Melhem. O Brasil e suas regiões geoeconômicas. 4. ed. São Paulo: Moderna, 2002.

BRASIL, Altino Berthier. Desbravadores do rio Amazonas. 1 ed. Porto Alegre: Posenato Arte & Cultura, 1996.

SOUZA, Márcio.  Breve história da Amazônia – 1 ed. São Paulo: Marco Zero, 1992.

TOCANTINS, Leandro. O Rio comanda a vida. 5 ed. Rio de Janeiro:  Civilização brasileira, 1973.

 


[1] Mestre em Educação Escolar – UNIR – Universidade Federal de Rondônia – Campus Porto Velho e Professor de Geografia no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ji-Paraná.

2 Mestre em Linguística e, Professor de Língua Portuguesa no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ji-Paraná.

3 Mestrando em Educação Profissional pela UNIR – Universidade Federal de Rondônia e, Professor de Arte no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ji-Paraná.

4 Mestre em Física pela UNIR – Universidade Federal de Rondônia e, Professor de Física no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ji-Paraná.

5 Especialista em Softwares Educacionais no Ensino de Matemática e, Professor de Matemática no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ji-Paraná.

6 Especialista em Metodologia do Ensino de Filosofia e Sociologia, Professor de Filosofia no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ji-Paraná.

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