NA PRÁTICA COM MATEMÁTICA – GRANDEZAS E MEDIDAS: UMA ABORDAGEM EM SALA DE AULA
Ivan Carlos Zampin;
Elza Maria Simões;
RESUMO
Este artigo apresenta uma abordagem prática para o ensino de grandezas e medidas no ambiente escolar, com o objetivo de tornar a matemática mais acessível, significativa e contextualizada para os estudantes. Através de atividades desenvolvidas em sala de aula, os alunos foram incentivados a compreender conceitos matemáticos relacionados a comprimento, massa, tempo, temperatura e capacidade, explorando situações do cotidiano. A metodologia adotada baseia-se em práticas pedagógicas ativas, com ênfase na aprendizagem significativa e no protagonismo do aluno. Os resultados demonstraram maior engajamento, participação e compreensão dos conteúdos, evidenciando que a matemática, quando ensinada por meio de experiências concretas, contribui para o desenvolvimento de competências essenciais à vida cotidiana.
Palavras-chave: Matemática; Grandezas e medidas; Ensino prático; Sala de aula; Aprendizagem significativa.
INTRODUÇÃO
A matemática é uma das disciplinas fundamentais no processo educacional, mas muitas vezes é percebida pelos estudantes como abstrata e descontextualizada. Dentre os diversos eixos temáticos dessa ciência, o estudo das grandezas e medidas destaca-se por sua aplicação direta na vida cotidiana, possibilitando aos alunos desenvolverem habilidades de cálculo, estimativa e interpretação de situações práticas.
Historicamente, o ensino de grandezas e medidas tem sido tratado de forma fragmentada, muitas vezes restrito a memorização de unidades e execução mecânica de cálculos. Tal abordagem dificulta a compreensão dos conceitos e afasta os alunos do sentido real da matemática. Nesse sentido, propõe-se neste artigo uma abordagem prática e interativa para o ensino de grandezas e medidas, de forma a valorizar a vivência dos alunos e a construção do conhecimento a partir da realidade.
A proposta está alinhada às diretrizes da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que orienta a prática pedagógica para o desenvolvimento de competências gerais como o pensamento crítico, a resolução de problemas e a comunicação. Grandezas e medidas aparecem como objeto de conhecimento transversal, sendo abordadas desde o Ensino Fundamental e articuladas a outros campos do saber. Assim, o presente estudo visa apresentar uma experiência didática com alunos do Ensino Fundamental II, destacando a relevância da matemática enquanto instrumento de compreensão e intervenção no mundo.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A aprendizagem significativa, segundo Ausubel (2003), ocorre quando o novo conhecimento se ancora em conceitos já existentes na estrutura cognitiva do aluno. Para tanto, é fundamental que os conteúdos sejam apresentados de maneira contextualizada, relacionando-se com experiências reais e com o cotidiano dos estudantes.
D’Ambrosio (1996) destaca que o ensino da matemática deve respeitar a diversidade cultural e social dos alunos, promovendo situações de aprendizagem que estimulem o raciocínio, a criatividade e a autonomia. No mesmo sentido, Lorenzato (2006) defende que a matemática deve ser ensinada de forma concreta e ativa, permitindo ao aluno "fazer para compreender".
A abordagem das grandezas e medidas deve ir além da simples transmissão de unidades de medida. Envolve a compreensão de relações entre diferentes grandezas, a capacidade de estimar, medir, converter e interpretar resultados em diferentes contextos, como destaca Van de Walle (2014). Portanto, ao propor uma abordagem pedagógica centrada na prática, o presente artigo se ancora em pressupostos construtivistas, que valorizam o papel ativo do estudante na construção do conhecimento, por meio da interação com o meio e com os pares.
DESENVOLVIMENTO
A principal vantagem de uma abordagem prática para Grandezas e Medidas reside na concretização de conceitos abstratos. Quando o aluno é desafiado a medir o perímetro do pátio da escola, estimar a área de uma carteira ou determinar a capacidade de uma garrafa, ele deixa de ser um receptor passivo de informações e se torna um agente ativo na produção do seu saber. Essa experiência sensorial manipular uma trena, usar uma balança, comparar volumes cria marcas mnêmicas mais profundas do que a simples leitura de um livro didático. Ao converter centímetros em metros para descrever o comprimento da sala, o estudante compreende de forma orgânica a relação entre as unidades do Sistema Métrico Decimal, internalizando um conhecimento que será útil para a vida inteira.
Além de facilitar a compreensão conceitual, essa metodologia promove o desenvolvimento de competências cognitivas e sociais essenciais. A resolução de problemas baseados em situações reais como planejar o consumo de ingredientes para uma receita ou calcular a quantidade de tinta necessária para pintar uma parede exige dos alunos raciocínio lógico, capacidade de estimativa e trabalho em equipe. Eles aprendem a levantar hipóteses, testar soluções e negociar significados dentro do grupo, habilidades que transcendem os muros da disciplina de Matemática. Nesse processo, o erro deixa de ser um fracasso punitivo e se transforma em uma ferramenta de aprendizagem, um passo natural na investigação científica.
Para que essa prática seja efetiva, é crucial que o professor atue como um mediador, organizando o ambiente de aprendizagem por meio de sequências didáticas bem planejadas. Estratégias como a rotação por estações de trabalho onde grupos diferentes exploram, simultaneamente, grandezas de massa, capacidade e volume otimizam o uso de recursos materiais e mantêm o engajamento.
O contexto escolhido para as atividades também é fundamental; problemas que dialoguem com a realidade dos alunos, como o planejamento de uma festa na escola ou a análise de dados de consumo de água da própria comunidade, conferem significado e propósito ao que está sendo aprendido, rompendo definitivamente com a visão da Matemática como um conhecimento estanque e desinteressante.
CONCLUSÃO
Fato é, a importância de repensar o ensino de Grandezas e Medidas por meio de uma abordagem prática e investigativa o qual, transcende em muito o âmbito de uma simples atualização metodológica. Esta postura pedagógica representa um compromisso com uma educação matemática verdadeiramente emancipatória, que se contrapõe à tradição instrucionista e descontextualizada. As implicações dessa escolha reverberam em múltiplas dimensões do processo educativo.
Em primeiro lugar, a abordagem prática atua como um potente antídoto contra a chamada "didática da resposta", substituindo-a pela "didática da pergunta" e da investigação. Quando o aluno mexe, mede, erra e corrige, ele não está apenas aprendendo sobre litros e metros; está internalizando um método científico rudimentar. Ele aprende que o conhecimento não é uma verdade pronta e absoluta a ser recebida, mas uma construção humana, sujeita a testes, verificações e refinamentos. Essa compreensão é fundamental para o desenvolvimento de um pensamento crítico e cético, tão necessário em uma era de desinformação massiva, onde números e dados são constantemente manipulados. A familiaridade com grandezas e medidas torna o aluno mais capaz de questionar afirmações do senso comum, como aquelas relacionadas a preços, consumo ou tamanhos, exercendo sua cidadania de forma mais plena e informada.
Em segundo lugar, essa metodologia promove uma democratização efetiva do conhecimento matemático. Ela reconhece e valoriza os saberes prévios que os alunos trazem de suas experiências domésticas e comunitárias como ajudar numa receita culinária ou acompanhar um adulto numa compra a granel. Ao partir dessas vivências, a escola estabelece uma ponte afetiva e cognitiva entre o saber popular e o saber científico, validando a cultura do estudante e facilitando a apropriação formal dos conceitos. Isso é particularmente crucial para alunos que, muitas vezes, se veem distantes da linguagem abstrata dos livros didáticos. A matemática deixa de ser um código secreto para poucos iniciados e se revela como uma linguagem para organizar e compreender o mundo real, tornando-se, portanto, mais acessível e menos intimidadora.
Vale a pena frisar por final que não menos importante, essa prática contínua contribui para a formação integral do indivíduo. As atividades em grupo, inerentes a essa abordagem, fomentam competências socioemocionais como colaboração, comunicação, paciência e resiliência. O aluno aprende a ouvir diferentes estratégias de resolução, a defender seu ponto de vista com argumentos matemáticos e a lidar com frustrações quando uma estimativa inicial não se confirma. Dessa forma, a sala de aula de matemática transforma-se em um microcosmo social onde se aprende muito mais do que cálculos; aprende-se a conviver, a cooperar e a perseverar.
Em síntese, a implementação de uma pedagogia ativa para Grandezas e Medidas não é um fim em si mesma, mas um meio poderoso para alcançar um objetivo educacional mais amplo e urgente, formar indivíduos autônomos, críticos e criativos, capazes de utilizar o conhecimento matemático não como um fim para aprovação em provas, mas como uma lente para ler o mundo e uma ferramenta para transformá-lo positivamente. Ao investir nessa abordagem, a escola cumpre seu papel social de maneira mais profunda, garantindo que a aprendizagem da matemática seja, de fato, um direito exercido por todos, e não um privilégio de alguns.
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Ivan Carlos Zampin: Professor Doutor, Pesquisador, Docente no Ensino Superior, Ensino Fundamental, Médio e Gestor Escolar.
Elza Maria Simões: Professora de Matemática, Matemática financeira, Pedagoga, Especialista em Educação Especial.