Musicalidade na Educação Infantil: Linguagem, Cultura e Desenvolvimento Integral
Adalgisa Pereira Corrêa Alves
Licenciatura em Letras - Língua Portuguesa e Inglês. Especialista em Docência para Educação Profissional. Primavera do Leste, MT.
Sandra Ribeiro da Silva
Licenciatura em Pedagogia. Especialista em Docência para educação Infantil. Primavera do Leste, MT.
Heloiza Tainá de Souza
Graduanda em Psicologia. Primavera do Leste, MT.
Silvana Regina Brancalhão Mazzo
Licenciatura em Pedagogia. Graduação em Administração. Primavera do Leste, MT.
Joelma Veiga da Silva
Licenciatura em Pedagogia. Primavera do Leste, MT.
A musicalidade na educação infantil constitui um elemento essencial para o desenvolvimento integral da criança, atuando não apenas no campo estético e artístico, mas também no cognitivo, no emocional e no social. A música acompanha a humanidade desde tempos remotos, estando presente em rituais, celebrações e momentos cotidianos, e sua inserção no contexto educacional responde a uma necessidade fundamental: promover experiências que estimulem a criatividade, a expressão e a sensibilidade desde os primeiros anos de vida. Na educação infantil, a música não deve ser compreendida como mera atividade recreativa, mas como linguagem que possibilita a ampliação de repertórios culturais e a construção de conhecimentos significativos.
Diversos estudos apontam que o contato precoce com a musicalidade favorece a aquisição de habilidades importantes para a vida escolar e social. Gardner (1994), ao propor a teoria das inteligências múltiplas, reconhece a inteligência musical como uma das capacidades fundamentais a serem estimuladas na infância, uma vez que contribui para a percepção, memorização, ritmo e coordenação. No âmbito pedagógico, a música desenvolve a atenção, a escuta e o raciocínio lógico, além de fortalecer vínculos afetivos entre as crianças e entre estas e seus professores. Ao cantar, brincar com sons e explorar instrumentos, as crianças exercitam simultaneamente a linguagem, a motricidade e a imaginação.
A música, enquanto linguagem universal, atua como recurso integrador dentro da educação infantil. Por meio dela, é possível articular conteúdos de diferentes áreas do conhecimento, transformando a aprendizagem em experiência lúdica e significativa. Uma simples canção pode introduzir noções de matemática, como contagem e sequência; de língua, como rimas e sonoridade das palavras; e de ciências, ao tratar de fenômenos da natureza. Além disso, a musicalidade possibilita às crianças expressarem sentimentos e emoções que, muitas vezes, ainda não conseguem verbalizar, funcionando como meio de comunicação e autoconhecimento. Nesse sentido, a musicalidade contribui para a formação integral, pois contempla dimensões cognitivas, sociais e emocionais.
Outro aspecto relevante é a função social e cultural da música na educação infantil. O contato com cantigas tradicionais, músicas folclóricas e produções culturais diversas permite às crianças o reconhecimento de sua própria identidade cultural e o respeito pela diversidade. Nesse processo, o professor atua como mediador, selecionando repertórios que dialoguem tanto com a cultura local quanto com produções de diferentes origens, favorecendo uma educação inclusiva e plural. Conforme afirma Brito (2003), a música é um patrimônio cultural e deve ser vivenciada de modo ativo, possibilitando à criança não apenas ouvir, mas também experimentar e criar.
No entanto, a inserção da musicalidade na educação infantil enfrenta desafios. Muitas vezes, a música é tratada apenas como complemento ou atividade secundária, sem um planejamento pedagógico consistente. Soma-se a isso a carência de formação específica dos professores, que, em grande parte, não recebem preparação adequada para trabalhar a música de forma intencional e criativa em sala de aula. Como aponta Penna (2010), é necessário compreender a música não como um privilégio de especialistas, mas como um direito de todas as crianças, devendo estar integrada ao cotidiano escolar. Nesse sentido, a formação continuada dos docentes é essencial para que possam explorar a musicalidade de maneira significativa, sem medo de limitações técnicas.
As práticas musicais na educação infantil não precisam estar restritas ao uso de instrumentos formais. Objetos do cotidiano, o corpo, a voz e sons da natureza podem ser explorados como recursos pedagógicos. O mais importante é garantir que a criança tenha contato com experiências sonoras diversificadas, que a estimulem a experimentar, criar e interpretar. A improvisação e a invenção musical, por exemplo, favorecem a autonomia e o desenvolvimento da criatividade, possibilitando que cada criança encontre sua própria forma de expressão.
Em síntese, a musicalidade na educação infantil desempenha papel insubstituível na formação das crianças. Ao integrar aspectos cognitivos, sociais, culturais e emocionais, a música amplia horizontes e fortalece vínculos, ao mesmo tempo em que desenvolve habilidades fundamentais para a vida escolar e para a cidadania. Mais do que uma atividade prazerosa, a música deve ser compreendida como direito e linguagem que possibilita a formação integral da criança. Investir em práticas musicais planejadas, inclusivas e diversificadas é garantir que a escola cumpra sua função de formar sujeitos críticos, criativos e sensíveis ao mundo que os cerca.