07/07/2025

Mulheres na Computação: Invisibilidades e silenciamentos.

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Mulheres na Computação: Invisibilidades e silenciamentos.

Silvia Diamantino Ferreira de Lima  (PPGE/UFMT) – silvia.lima@ifmt.edu.br

Cristiano Maciel (PPGE/UFMT) –   crismac@gmail.com

 

 

Resumo

O objetivo deste trabalho é compartilhar uma análise sobre as disparidades de gênero na área de Computação, com base no diálogo com o artigo “Mulheres na Computação: Foco no Ingresso, Permanência, Êxito e nas Políticas Inclusivas” , publicado em 2022. O estudo apresenta parte dos dados exploratórios da pesquisa de doutorado em Educação desenvolvida na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), vinculada ao grupo de pesquisa LêTece. Os resultados evidenciam uma discrepância significativa entre o progresso acadêmico de estudantes homens e o aumento expressivo da evasão entre as estudantes mulheres, revelando a necessidade de políticas educacionais mais sensíveis às desigualdades de gênero presentes nos cursos da área de Computação.

 

Palavras Chaves: mulheres, cursos de computação, disparidade, gênero.

 

Resumo

O objetivo deste trabalho é compartilhar uma análise das disparidades de gênero na área de Computação, a partir do diálogo com o artigo “Mulheres na Computação: Foco em Ingresso, Permanência, Sucesso e Políticas Inclusivas”, publicado em 2022. O estudo apresenta parte dos dados exploratórios da pesquisa de doutorado em Educação desenvolvida na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), vinculada ao grupo de pesquisa LêTece. Os resultados demonstram uma discrepância significativa entre o progresso acadêmico dos estudantes do sexo masculino e o aumento significativo das taxas de evasão entre as estudantes do sexo feminino, revelando a necessidade de políticas educacionais mais sensíveis às desigualdades de gênero presentes nos cursos da área de Computação.

Palavras-chave: mulheres, cursos de informática, disparidade, gênero.

Introdução

Embora o acesso das mulheres ao ensino superior tenha avançado nas últimas décadas, sua representatividade nas carreiras das áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (STEM) ainda permanece significativamente baixa, evidenciando uma demanda urgente por equidade nesse campo (CESÁRIO; BIM; MACIEL, 2017).

O artigo intitulado “Mulheres na Computação: Foco no Ingresso, Permanência, Êxito e nas Políticas Inclusivas”, publicado em 2022, apresenta parte dos dados exploratórios da pesquisa de doutorado em Educação desenvolvida na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). O estudo está vinculado ao grupo de pesquisa LêTece – Laboratório de Estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação na Educação, do Instituto de Educação (IE/UFMT), e é conduzido por  Lima (2022).

Os resultados referentes ao ingresso, à permanência e ao êxito de mulheres em cursos da área de Computação evidenciam que a suposta neutralidade das políticas públicas educacionais e institucionais contribui para a perpetuação da sub-representação feminina nesses espaços. Essa neutralidade, frequentemente associada à imparcialidade, pode reforçar uma cultura organizacional que, de maneira silenciosa, normaliza práticas discriminatórias e invisibiliza as experiências das mulheres em contextos historicamente masculinizados.

Nesse contexto, a metáfora do "pipeline com vazamento" tem sido amplamente utilizada na literatura para representar o percurso educacional interrompido de muitos estudantes , aqui no Brasil tratada como evasão escolar e o êxito que se comprende neste contexto como a conclusividade dos estudos. Tal metáfora descreve a redução progressiva do número de discentes ao longo do curso, refletindo as dificuldades enfrentadas para concluir a formação e ingressar no mercado de trabalho com as competências demandadas pela indústria. 

Nos dados exploratórios de uma pesquisa realizada por Lima (2022), foi analisado o perfil de estudantes ingressantes ao longo de 12 anos em um curso da área de Computação de uma instituição federal pública. Dos 534 estudantes matriculados nesse período, 348 eram homens (65,35%) e apenas 185 eram mulheres (34,64%), revelando uma severa disparidade de gênero já no ponto de entrada.

 Além disso, a pesquisa indica que essa diferença tende a se acentuar nos indicadores de permanência e êxito, uma vez que os fatores que dificultam a trajetória acadêmica das mulheres — como isolamento, preconceito, falta de representatividade e ausência de apoio institucional — seguem sendo invisibilizados ou tratados como questões individuais.

Além do número de ingressantes mulheres serem menor do que a quantidade de homens ingressantes vemos um cenário muito desfavorável nos dados divulgados pela pesquisa (Lima ,2022) sendo a taxa de evasão de 57, 8% de mulheres e  49,5% de homens e a taxa de concluintes de 8,1% mulheres e 11,1% de homens, conforme dados do grafico:

 

 

 


 

 

 

Fonte: Lima,2022.

Os resultados referentes ao acesso, à permanência e ao êxito de mulheres em cursos da área de Computação evidenciam que a suposta neutralidade das políticas públicas educacionais e institucionais contribui para a perpetuação da sub-representação feminina nesses espaços. Essa neutralidade aparente, muitas vezes apresentada como imparcialidade ou equidade formal, pode integrar uma cultura organizacional que, de maneira silenciosa, normaliza preconceitos, práticas discriminatórias e o apagamento das experiências vividas por mulheres em contextos acadêmicos historicamente masculinizados.

Conforme aponta Crenshaw (2002), a interseccionalidade é um conceito central para compreender como diferentes formas de opressão – como gênero, raça e classe – se entrelaçam e produzem desigualdades específicas. No caso das mulheres na Computação, não se trata apenas de acesso formal garantido por políticas públicas universais, mas da ausência de medidas sensíveis às desigualdades estruturais que impactam sua permanência e seu êxito..

Dados do Censo da Educação Superior (INEP, 2023) mostram que, embora as mulheres representem 59,4% das matrículas no ensino superior brasileiro, sua presença nos cursos da área de Computação é significativamente menor. Esse descompasso revela que a equidade de gênero no ensino superior não se distribui de forma homogênea entre as áreas do conhecimento. A ausência de políticas institucionais específicas para combater a evasão feminina, bem como de ações afirmativas que incentivem sua permanência, colabora para um ciclo de exclusão simbólica e prática.

Segundo Glover (2022), é fundamental a realização de pesquisas com abordagem qualitativa que investiguem, em profundidade, os fatores que influenciam a permanência e o êxito de grupos sub-representados. Somente por meio dessa escuta qualificada será possível propor ações e políticas afirmativas mais assertivas, capazes de enfrentar as desigualdades estruturais e promover uma inclusão efetiva nos espaços educacionais.

Considerações

Dessa forma, torna-se imprescindível que as instituições de ensino reconheçam as limitações de uma abordagem neutra e universalista, e avancem na construção de políticas educacionais que considerem as especificidades de gênero, raça e classe social. Isso implica não apenas em garantir o acesso, mas também em fomentar ambientes acolhedores, assegurar representatividade no corpo docente e adotar práticas pedagógicas que valorizem a diversidade. Somente assim será possível romper com padrões excludentes e consolidar uma cultura institucional verdadeiramente inclusiva e equitativa.

  A falta de políticas públicas e institucionais para trazer equidade de gênero na área de STEM e especificamente na área de computação comprometem a diminuição do gap tão severo  na carreira  e chancela o silenciamento e a invisibilidade do problema. 

Faz-se necessário dar voz às mulheres estudantes da área de Computação, para que possam debater os entraves enfrentados ao longo de sua trajetória formativa. No livro "Pode o Subalterno Falar?" , Spivak (2010) defende que as mulheres devem ser porta-vozes de suas próprias demandas. No entanto, constatou-se que esse é um processo lento de desalienação e de descentralização do poder. Nesse contexto, torna-se urgente discutir as causas da evasão feminina nos cursos da área de Computação, marcada por uma acentuada desigualdade de gênero.

A temática é muito relevante e neste breve ensaio científico, tem por pretensão chamar a atenção que os dados numéricos de disparidade refletem uma cultura organizacional de visão de gênero.

 

 

Referências:

BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Censo da Educação Superior 2022: notas estatísticas . Brasília: INEP, 2023. Disponível em: https://www.gov.br/inep/pt-br/assuntos/noticias/educacao-superior/censo-da-educacao-superior-2022-notas-estatisticas. Acesso em: 7 jul. 2025.

CESARIO, G.; SILVEIRA, N. DA; BIM, S.; MACIEL, C. Por Mais Mulheres na Computação: análise dos trabalhos publicados no X Mulheres na Tecnologia da Informação. In: XI Mulheres na Tecnologia da Informação, São Paulo, 2017, URL: https://doi.org/10.5753/wit.2017.3409 .

GLOVER, Judith. “Mulheres e Emprego Científico: Perspectivas Atuais do Reino Unido.” Science Studies, v. 15, n. 1, p. 29-45, 2002. Disponível em: < Mulheres e Emprego Científico: Perspectivas Atuais do Reino Unido (researchgate.net) > Acesso em 11 de set. de 2022.

 

LIMA, Silvia DF et. al. "MULHERES NO CURSO DE TECNOLOGIA EM ANÁLISE E DESENVOLVIMENTO DE SISTEMAS: INGRESSO, PERMANÊNCIA, ÊXITO E POLÍTICAS INCLUSIVAS” Anais do SEMIEDU 2022 UFMT: (Trans) Ver a Vida pelas Lentes de uma Educação Científica, Sensível, Ética, Estética e Artística MT p. 500-511/2022.

SPIVAK C. Gayaty. Pode um subalterno Falar? Tradução Sandra Regina Goulart Almeida, Marcos Pereira Feitoza e André Pereira Feitoza- Belo Horizonte Editora UFMG,2010.

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