23/06/2025

Modelo Octógono da Qualidade Acadêmica (OQA): Um Referencial para a Gestão Estratégica de Instituições de Educação Superior

Por Ernani Elias, Roberta Muriel e Wille Muriel

Resumo

Este artigo apresenta o Modelo Octógono da Qualidade Acadêmica (OQA), uma proposta estruturada para apoiar a gestão estratégica de Instituições de Educação Superior. O modelo articula oito dimensões fundamentais da qualidade acadêmica, promovendo uma abordagem sistêmica e integrada que visa não apenas a conformidade regulatória, mas também o desenvolvimento sustentável e inovador das instituições. Cada dimensão é analisada com foco na sua aplicabilidade e potencial transformador no contexto da educação superior contemporânea.

Introdução

A qualidade acadêmica, embora amplamente debatida, ainda carece de modelos operacionais que articulem as diversas frentes de gestão institucional de maneira integrada. O Modelo Octógono da Qualidade Acadêmica (OQA) surge como uma proposta metodológica para diagnosticar, planejar e desenvolver ações de melhoria contínua nas IES. Seu diferencial está na integração de dimensões regulatórias, acadêmicas, administrativas, mercadológicas e inovadoras em um único framework de gestão. A seguir vamos apresentar cada dimensão em uma sequência lógica:

As Oito Dimensões do Modelo

O Modelo Octógono da Qualidade Acadêmica propõe uma abordagem holística e pragmática para a gestão institucional, reunindo os principais eixos que sustentam a excelência acadêmica e organizacional. Ao articular aspectos regulatórios, pedagógicos, gerenciais e mercadológicos, o OQA oferece um caminho estratégico para que as IES brasileiras avancem com mais coerência, protagonismo e capacidade de adaptação frente às mudanças do cenário educacional.

1. Indicadores do MEC

A primeira dimensão do OQA refere-se à análise propositiva do desempenho das IES frente aos indicadores estabelecidos pelo Ministério da Educação (MEC), como CPC, IGC, ENADE, e atos regulatórios. Mais do que reagir aos resultados, o modelo propõe que a instituição se antecipe aos critérios, estabelecendo metas internas baseadas em diagnósticos realistas e ações pedagógicas alinhadas às exigências externas. O uso estratégico desses indicadores permite alinhar a performance acadêmica às expectativas do Estado e da sociedade.

2. Indicadores de Autoavaliação Institucional

A segunda dimensão destaca a autoavaliação como eixo de autoconhecimento institucional. Com base nas diretrizes do SINAES, o modelo propõe que as IES desenvolvam processos sistemáticos, participativos e propositivos de autoanálise. A leitura crítica dos próprios dados, realizada por comissões internas representativas, fortalece o engajamento institucional e permite ajustes mais ágeis e alinhados à realidade de cada curso e unidade.

3. Atualização Metodológica e Formação Docente

A terceira dimensão concentra-se na atualização dos projetos pedagógicos e metodologias de ensino, bem como na formação continuada do corpo docente. A qualidade da aprendizagem está diretamente associada à capacidade de inovação metodológica e ao domínio didático dos professores. O modelo propõe que as IES adotem programas estruturados de desenvolvimento docente, incorporando metodologias ativas, avaliação formativa, aprendizagem digital e personalização do ensino.

4. Planos de Cursos

A dimensão quatro diz respeito à formulação e gestão estratégica dos cursos, com definição clara de objetivos, metas e indicadores, articulando a atuação dos Núcleos Docentes Estruturantes (NDE).

5. Gestão Integrada com o Marketing e o Setor Comercial

Esta dimensão destaca a urgência de romper a tradicional separação entre os setores acadêmico, comercial e de marketing. O OQA propõe uma visão integrada, na qual a comunicação institucional, a captação de alunos e a retenção estejam estrategicamente alinhadas com a proposta pedagógica e a experiência acadêmica. O funil de relacionamento com o aluno deve ser compreendido e gerenciado de forma colaborativa, visando à coerência institucional e à conversão sustentável.

6. Gestão da Experiência nos Campi

A experiência do estudante, docente e colaborador nos espaços físicos e simbólicos da IES constitui um fator determinante para a permanência e engajamento. Esta dimensão propõe o uso de ferramentas de escuta ativa, como pesquisas de satisfação e grupos focais, para mapear percepções e criar ações de melhoria contínua nos serviços acadêmicos, administrativos e de convivência. A qualidade percebida é tão relevante quanto a qualidade ofertada.

7. Formação Executiva

Esta dimensão propõe uma formação executiva contínua para gestores e coordenadores, abordando planejamento, liderança, cultura de resultados e compliance acadêmico. A liderança acadêmica deve ser desenvolvida como competência institucional, essencial para a sustentabilidade dos cursos.

8. Inovação

A oitava e última dimensão do modelo orienta as IES para a criação de ambientes favoráveis à inovação. Isso envolve não apenas o desenvolvimento de produtos e serviços educacionais inovadores, mas também a adoção de práticas institucionais flexíveis, apoio à pesquisa aplicada e uso intensivo de tecnologias educacionais, como a inteligência artificial e o ensino híbrido. A inovação deve ser compreendida como um valor transversal e uma competência organizacional.

Análise Estratégica do Modelo OQA a partir de Quatro Perspectivas de Resultados para as Instituições de Educação Superior

O Modelo Octógono da Qualidade Acadêmica foi concebido como um instrumento de gestão que articula os principais eixos da qualidade acadêmica de uma IES. No entanto, sua aplicação plena exige mais do que a leitura isolada de cada dimensão: requer uma análise integrada e orientada por resultados.

Para isso, propõe-se que as oito dimensões do OQA sejam permanentemente analisadas a partir de quatro grandes perspectivas estratégicas, capazes de direcionar ações concretas, gerar valor institucional e garantir sustentabilidade:

1. Aumento da Eficiência Operacional

Essa perspectiva busca identificar como cada dimensão do modelo pode contribuir para reduzir desperdícios, otimizar processos e fortalecer a governança institucional. Por exemplo:

  • Indicadores do MEC (Dimensão 1) orientam melhorias focadas em desempenho objetivo.
  • A autoavaliação (Dimensão 2) permite detectar gargalos internos com agilidade.
  • A formação executiva (Dimensão 7) desenvolve lideranças mais eficazes e produtivas.

2. Aumento da Base de Alunos

Nesta perspectiva, o foco está na expansão da captação e na elevação das taxas de permanência dos estudantes. Dimensões como:

  • Gestão integrada com marketing e setor comercial (Dimensão 5),
  • Gestão da experiência nos campi (Dimensão 6),
  • Inovação acadêmica e curricular (Dimensão 8),

têm impacto direto sobre a atratividade da IES e sua capacidade de reter talentos.

3. Aumento da Proposta e Percepção de Valor

Aqui, o objetivo é ampliar a percepção positiva que alunos, docentes e o mercado têm da instituição, fortalecendo seu posicionamento. Elementos como:

  • Atualização metodológica e formação docente (Dimensão 3).
  • Experiência dos campi (Dimensão 6),
  • Planos de cursos bem estruturados (Dimensão 4),

ajudam a construir uma proposta educacional coerente, diferenciada e percebida como relevante.

4. Criação de Receitas Alternativas

A quarta perspectiva impulsiona a diversificação da receita institucional para além das mensalidades. A inovação (Dimensão 8), por exemplo, pode gerar novos produtos educacionais, programas híbridos e serviços especializados. Já a formação executiva (Dimensão 7) pode originar cursos livres, mentorias e consultorias com foco no mercado externo.

Considerações Finais

Em tempos de novos marcos regulatórios e transformações tecnológicas aceleradas, modelos como o OQA não apenas orientam a adequação, mas possibilitam uma reinvenção da própria identidade institucional, com foco em resultados duradouros e relevantes para a sociedade.

Ao conectar as dimensões do OQA com as quatro perspectivas estratégicas de análise, a IES deixa de operar apenas em modo regulatório ou reativo e passa a atuar com inteligência institucional orientada para resultados. Trata-se de um movimento de maturidade na gestão, no qual qualidade acadêmica, sustentabilidade financeira e posicionamento de mercado caminham juntos, com clareza de propósito e foco no futuro.

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