Mito da Caverna
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
O conhecimento é visto como a chave que abre as algemas da ignorância nos libertando para o novo, porém para muitos isso pode não ser agradável, visto que este mesmo conhecimento te ilumina e te faz sair da escuridão da ignorância, que infelizmente é vista como uma benção, pois a mesma facilita a manipulação com falácias e os fake news em nossa contemporaneidade.
Gallo em seu livro Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia - Elementos para o Ensaio da Filosofia, publicado pela Papirus em 1997, relata que o estudo do conhecimento não é recente. Ele existe desde a época da antiga Grécia, e os filósofos faziam de caráter reflexivo, ou seja, o pensamento dentro de uma ação humana que permitia uma tomada de atitude dos homens diante de acontecimentos da vida, e tinha como instigador e fomentador do conhecimento, e o maior progenitor da filosofia foi Sócrates, que encorajava seus discípulos a buscarem o conhecimento, pois o mesmo sabia de seu poder libertador.
O conhecimento carrega em si um sinônimo de poder já que o mesmo se associa a experiência, intuição, valores, crenças, compromissos e está relacionado a uma capacidade de agir, continuamente criada por um processo de saber que não pode ser destacado de seu contexto
É neste processo que os seres humanos dão sentido à realidade em sua volta, categorizando-a em teorias, métodos, sentimentos, valores e habilidades.
Reale em seu livro Introdução a Filosofia, publicado pela Saraiva em 1994, esclarece que o conhecimento é a relação entre sujeito conhecedor e um objeto conhecido, sendo que a função do sujeito consiste em apreender o objeto, e devido a isso, o simples ato de conhecer exige a análise do sujeito conhecedor e do objeto conhecido.
Conhecimento é veracidade, isto é, ele não pode ser mera ideologia, Em outras palavras, não pode ser máscara para dissimular e ocultar a realidade servindo para a exploração e a dominação entre os homens.
A verdade além de exigir a liberdade de pensamento para o conhecimento, ela também exige que seus frutos propiciem a liberdade e a emancipação de todos e por isso a mesma deve ser objetiva.
Gallo em seu livro Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia – Elementos para o Ensino da Filosofia, publicado pela Papirus em 1997 é enfático ao esclarecer as falas de Sócrates em relação ao conhecimento, pois para ele "o conhecimento do que é certo leva a agir correto”, ou seja, a verdade é a única coisa que nos liberta.
Sócrates sempre encontrou definições claras e válidas para o que é certo e o que é errado, afirmando racionalmente sua capacidade de distinguir o certo e o errado na razão.
Segundo o filósofo, o agir racionalmente faz com que as pessoas possam ser de fato felizes.
Outro a divagar sobre o conhecimento é René Descartes, para ele tudo gerava dúvida. Descartes criou o Discurso do Método, ou seja “Dúvida Metódica”.
Ele duvidava voluntariamente e sistematicamente de tudo. Para Descartes, devemos duvidar dos sentidos, uma vez que eles freqüentemente nos enganam.
A única coisa que ele não duvidava era a sua própria existência, cuja frase mais famosa era: “penso, logo existo”, o que passou ser a base do pensamento cartesiano. Conforme Descartes, mesmo que tudo o que penso seja falso, resta a certeza de que eu penso.
No seu método definiu quatro regras que propôs nunca abandonar e decidiu seguir apenas a sua própria razão: não aceitando nada como verdadeiro se não lhe fosse apresentado provas, clareza e distinção; dividir cada uma das dificuldades nas suas partes mais simples, de modo a facilitar a resposta (conhecido por muitos como refinamento sucessivo); conduzir o raciocínio por ordem começando pelo mais simples e acabando no mais complexo, e por último, fazer enumerações tão completas e gerais a ponto de nada ficar por dizer.
Outro filósofo conhecido como Emmanuel Kant afirmava que a inteligência de um indivíduo é avaliada pela quantidade de incertezas que ele é capaz de suportar, porém nos dias atuais, os indivíduos parecem não ter dúvida alguma.
Acreditam em tudo que recebem das redes sociais e os fake news passaram a ser a fonte da sabedoria, esqueceram os crivos socráticos (verdade, bondade e utilidade), o método de descartes (dúvida metódica) e as falas de Kant.
Voltamos ao mito da caverna que é o debate do conhecimento e da ignorância. Nesta caverna escura trabalha-se a escuridão que representa a ignorância, e a luz que representa o conhecimento, e este é adquirido por uma pessoa que consegue romper os grilhões da ignorância conhecendo a luz, e voltando para o fundo da caverna com o intuito de ajudar seus companheiros que continuaram na escuridão olhando para a parede, foi taxado por eles como louco, tirando toda sua credibilidade.
Assim aconteceu com Sócrates que foi obrigado a tomar “cicuta”, pois seus questionamentos despertavam a ira de muitos sofistas, que indignados, arquitetaram um plano, julgando-o e condenando-o a morrer envenenado.
Hoje, não temos a cicuta, mas temos as pessoas em suas cavernas observando os vultos e vivendo na completa escuridão, já que a luz pode cegar a quem direto olhar para ela.