17/05/2018

Misólogo

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br 

O ato de contar histórias é algo que acompanha a humanidade desde seus primórdios e falando-se em histórias, quem nunca ouviu casos nos quais os mais velhos tiveram privações e perceberam que somente estudando conseguiriam ser alguém que a própria realidade impunha ser?

"Meu filho, para você não ser igual a mim, estude". Observe que fala como essa era algo bem comum, assim, o país começou a se desenvolver, pois a educação pública tornou-se menos elitista e o povo passou a ter acesso, entretanto o perfil do educando mudou com o tempo, independente as metodologias e técnicas de ensino, a educação pública com este Permissionismo

Está excluído o hedonismo do aluno e substituí-lo pelo aluno misólogo, mas o que vem a ser um misólogo?

Ao procurarmos esta palavra em qualquer dicionário encontraremos o seguinte: Alguém que odeia estudar, tem aversão ou medo da razão ou argumento, o mesmo que ilógico, incoerente, incongruente, ignorante. É derivado do grego miseō, “Eu odeio” e logos, “lógica, razão”

A aprendizagem é fundamental para nossa sobrevivência. Nossos ancestrais aprenderam a se manter vivos fugindo de seus predadores, observando o seu entorno sobre o que se poderia comer ou não, qual animal era venenoso e qual os poderia compor a sua dieta de proteínas; e assim fomos aprendendo e compartilhando conhecimento.

Surgiu-se a escrita, que de acordo com Burke e Ornstein no livro O Presente do Fazedor de Machados – Os dois gumes da história da cultura humana, publicado pela: Bertrand Brasil em 1998, tem cerca de 10 mil anos e levou cerca de 7500 anos para atingir o seu pleno desenvolvimento, o que facilitou muito o processo de aprendizagem através da explicitação do conhecimento e o seu registro para outras gerações, dessa forma, o conhecimento não mais morreria com o conhecedor, então foi através desta escrita que tivemos acessos a conhecimentos singulares que se resumia em mais completa êxtase, isso porque de acordo com Harari em seu livro Sapiens: uma breve história da humanidade, publicado pela L & PM em 2016, salienta que a escrita é um método de armazenar informações.

Ainda para Harari no livro Homo Deus: uma breve história sobre o amanhã, publicado pela Companhia das Letras em 2016 esclarece que a escrita facultou aos humanos que organizassem sociedades inteiras.

Hoje, livros didáticos (http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/livros-didaticos) quando não têm informações distorcidas, têm informações estéreis, o que contribui muito para a efetivação de nosso aluno misólogo.

Escola para estes alunos e sinônimo de perda de tempo ou lugar para se fazer qualquer coisa, menos estudar, já que muitas são usadas como ponto de aliciamento de menores, venda de drogas ou até mesmo lugar para se acertar alguma conta , e nós professores nos tornamos ora cúmplice, ora vítima deste sistema corruptível e omisso coma situação escolar.

Temos alunos que não perderam o brilho em aprender, eles somente não desenvolveram isso, porque não se pode perder o que não se tem.

Cabe a pergunta: como fazer com que o nosso aluno deixe de ser misólogo?

A realidade hoje é totalmente diferente de outras gerações e isso tudo é reforçado pela inversão de valores, pois poucos valorizam os verdadeiros responsáveis pela transformação do bicho homem em ser humano socializado, que são a família e a escola.

Qual a concepção que um jovem tinha quando via uma pessoa de mesma origem que a sua, usufruir de certos confortos que a ele foram privados? Muitos casos era através dos estudos, ou seja, a escolarização, educação formal e a vontade da mesma em ser alguém diferente da realidade em que se encontrava.

Hoje com a banalização da educação e com o seu direcionamento para um conhecimento "inverossímil" e estéril, percebe-se que a referência que o jovem tem sobre uma pessoa que goze de certos privilégios e conforto, geralmente estará ligado à droga e a corrupção (desvio de dinheiro público), e ambas situações não precisam de nenhuma escolaridade, apenas popularidade, o que não necessariamente se aprende na escola.

No Brasil basta virar político para se enriquecer, e quanto mais elevado for o cargo, maior o enriquecimento, e em relação a droga, esta alternativa torna-se mais fácil para a maioria, embora a perspectiva de vida reduza bastante, mas isso não é problema para quem é tão imediatista quanto estes misólogos.

Pois se estes não fossem imediatistas perceberiam que para se tornar alguém que usufrua de certas coisas que não são comuns para muitos, exige estudo, disciplina, tempo, dedicação e trabalho.

Não se torna médico da noite para o dia, tampouco engenheiro, arquiteto, dentista, juiz, professor, etc., entretanto, pode se tornar político sem ao menos ter passado por uma escola e o mesmo acontece com um traficante.

Vale ressaltar uma exceção, pois os piores políticos são justamente os graduados em direito, medicina, licenciatura, dentre outros, e neste caso, foi só um uma questão de valores, pois para estes faltaram ética e moral, aliás, coisas que se aprendem na família.

Precisamos desenvolver em nossos alunos o prazer em aprender e de buscar cada vez mais, só assim poderemos afirmar que "sim, realmente o país tem conserto".

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