28/07/2017

Metodologias Ativas e Passivas

*Dênio Mágno da Cunha

Leitores! Compartilho neste pequeno texto uma estória budista, destas que vem sendo repassada de mãos em mãos, de tempos em tempos, por gerações de aprendizes da filosofia oriental. Reflitam.

LAVAR AS TIGELAS

Um monge veio ter com Joshû e disse:

- Vim pedir que me ensineis o Zen.

- Já tomaste tua refeição matinal?

- Já – respondeu o monge.

- Então vai lavar as tigelas.

Da mesma forma, para não dizer que compartilho exemplos orientais e não ocidentais, segue detalhe de um dos diálogos socráticos, narrados por Platão.

- Sócrates – [...] ainda que tenhamos de experimentar momentos quer ainda mais dolorosos, quer mais suaves, o procedimento injusto, em qualquer hipóteses, não é sempre, para quem o tem, um mal e uma vergonha? Afirmamos isso ou não?

- Críton-  Afirmamos.

- Sócrates- Logo, jamais se deve proceder contra a justiça. 

-Críton- Jamais, por certo.

- Sócrates- Nem mesmo retribuir a injustiça com a injustiça, como pensa a multidão, pois o procedimento injusto é sempre inadmissível.

- Críton- Parece que não.

- Sócrates- E daí? Devemos praticar maldades ou não, Críton?

- Críton- Não devemos, sem dúvida, Sócrates.

- Sócrates- Adiante. Retribuir o mal que nos fazem é justo, como diz a multidão, ou injusto?

Caro leitor, fosse você um professor e lhe fosse exposta essas duas situações, pedindo-lhe que classificasse e justificasse sua resposta, serem elas metodologias ativas ou passivas, o que respondereis?

Considerando que, de modo bem básico, nas metodologias ativas o foco da aprendizagem é no aluno e que nas metodologias passivas o foco é no conhecimento do professor:  o mestre Zen seria um ativista porque atribui ao aluno a ação de aprender fazendo? Sócrates, ao contrário seria um “passivista” porque apenas provoca o aluno, tendo ele próprio as respostas? O que o leitor acha?

O fato é que, semelhante a movimentações similares, criou-se um cisma na educação entre as metodologias de ensino. Um movimento político retrógrado e envelhecido uma vez que o Muro de Berlim foi derrubado em 1989, a quase 30 anos atrás. Essa discussão, segundo alguns, útil, de fato trouxe mesmo foi uma cisão desnecessária.

A essa altura, o leitor “ativista” diria estar diante de um passivista, cometendo um enorme erro de julgamento. O primeiro seria o erro de atribuir aos instrumentos/métodos de ensino o poder de definir o Mestre, enquadrando-o. Mestre que é mestre não se define como tal ou qual. Segundo por limitar o conhecimento do Mestre, negando a sua sabedoria sobre qual dos instrumentos deve ser utilizado nas diversas situações que vivência em sala de aula. Terceiro por negar que na complexidade da vida, tanto as ditas “passivas” quanto as “ativas” devem servir a um único propósito: ser um caminho para a evolução da Humanidade, em seus múltiplos aspectos.

É por este último motivo que, pessoalmente, considero uma “forçação de barra” impingir ao ato de ensinar, ao professor a alcunha de antigo ou moderno a partir dos instrumentos que utiliza. A pergunta deveria ser sobre as condições de trabalho e aprendizagem oferecidas ao professor para que ele possa ser um mestre em sua profissão. Considerando que ele, aí sim, pode ter parado no desenvolvimento de sua própria aprendizagem, ficando defasado quando à evolução do mundo.

 Mesmo assim, seríamos, todos nós, capazes de citar mestres que foram, sem saberem estarem usando essa ou aquela metodologia, capazes de trazer à Humanidade ao estágio em que ela se encontra hoje. Sim, porque se retornarmos na história da educação veremos que o selo de “metodologia ativa” poderia ser aplicado a métodos seculares, desde os mestres budistas, aos diálogos platônicos, chegando aos aprendizes e mestres do século XIV, e aos nossos professores que nos abriram o caminho para essa reflexão, por exemplo.

Portanto, amigos professores, relaxem. Ativo ou passivo, não é você, são os instrumentos. Você tem todo o direito de utilizar aquele que melhor for indicado para a solução das questões que a vida profissional lhe impõe. Saibam perceber as armadilhas que a sociedade midiática lhes propõe como solução instantânea. E, sobretudo, estude, aprenda, aperfeiçoe-se para que possa ter cada vez mais instrumentos adequados no cumprimento de suas atividades profissionais. Você deve ser o Mestre em sua área e para isso deve ser capaz de identificar a melhor prática para o desenvolvimento de seu aluno, ele é o centro do exercício de sua expertise. E se assim for, você passará ao largo da fogueira das discussões vaidosas, sem sequer ser chamuscado.

* Professor.

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