02/03/2017

Metodologias Ativas e os Anéis.

Dênio Mágno da Cunha*

              

               Antes de tudo, me posiciono: sou um NW[1], eternamente um neófito; apoio e sou a favor; longe da minha pessoa não gostar de mudanças. Se tiver de definir minha posição no mundo, estou do lado dos ativos, dos “neo”. Sou um divergente convergente. Acredito no efeito Gaia. Sei o que é holosfera e noosfera. Declaração feita, vamos ao texto.

               Esta época de reinicio das aulas é propícia para reavaliações e avaliações. Uma das mais recorrentes é aquela a abordar as metodologias de ensino-aprendizagem. Dentre elas, a onda das metodologias ativas vem varrendo o país, questionando métodos clássicos, derrubando barreiras paradigmáticas, criando uma divisão exclusiva. Levando a uma clareza de posicionamento didático: inativo/passivo ou ativo?.

               Para se localizar nessa discussão, a diferenciação: se você é partidário da metodologia dos Inativos/Passivos, o professor é o centro das atenções e os alunos, desatentos, dispersos, passivos, não envolvidos, receptores de conhecimento, educação bancária. Se você é Ativo, o centro das atenções são os alunos, agentes de seu conhecimento, envolvidos, ativos, construtores do conhecimento.

               Na onda, a palavra de ordem é desfazer-se de tudo que se enquadre na inatividade.

               O debate é movido por uma vontade enorme de transformar a aprendizagem em algo mais dinâmico, prazeroso, envolvente, produtivo e se possível, divertido. Números e pesquisas demonstram a grande diferença de resultados na aprendizagem quando se usa métodos ativos.

               Discurso perfeito para uma nova era desconhecida. Na pressa de estar à frente do seu tempo, atira-se para todos os lados como se houvesse uma luta pelo domínio metodológico da relação professor-aluno; uma luta pelo domínio do espaço de uma sala de aula invertida e também desconhecida, ainda no futuro.

               Ora, sabemos que o futuro é construído; consequência do que é realizado no único momento que realmente existe, o presente. E no presente o que tem sido feito é o mesmo de sempre. Raras as iniciativas que, de fato, construirão um formato diferente de educação.

               A construção de um futuro “ativo”, no entanto, pressupõe a desativação no presente, da educação “inativa/passiva”. Ainda estamos na fase da pregação, quando é mais fácil falar do que fazer. Em termos de metodologias ativas, a grande maioria das escolas está naquele momento em que o velho não morreu e o novo não nasceu. Os alunos continuam os mesmos, (agora têm mais brinquedos a distraí-los); o sucesso na aprendizagem continua sendo algo de foro íntimo, fruto da vontade própria; o professor continua fazendo o melhor que pode diante das condições que lhe são postas; as instituições de ensino, se privadas, continuam lutando pelos resultados – se não, pela sobrevivência. E a sobrevivência, pressupõe (na realidade) dar continuidade ao padrão estabelecido.  

               As metodologias ativas, considerando que são aquelas que tiram o aluno da inatividade, são o futuro e assim continuarão sendo caso não se ative a ação de mudança em todos os aspectos que envolvem este processo complexo. Mude-se a sala de aula; decida-se sobre quais metodologias – entre muitas – serão utilizadas; adeque-se as filosofias e princípios educacionais; modifiquem-se os objetivos; reveja-se o sistema avaliativo; capacite os incapacitados; altere-se tudo que deve ser alterado; sob pena do discurso cair no vazio. Como aqueles personagens de um antigo desenho: façam encontrar os anéis da vontade e da ação para que tudo seja ativado. (Super Gêmeos.)

               Enquanto o movimento de transformação do mundo inativo/passivo em mundo ativo não acontece, entre o passado e o futuro, sugere-se o equilíbrio no discurso.  Afinal, o mundo como o conhecemos foi construído de uma forma inativa e o brilhantismo dos resultados na educação sempre dependeram da vontade do Ser. Independente de metodologia inativa ou ativa, os talentos continuarão a ser bem ou mal utilizados; ainda continuarão a existir bons e maus professores; bons e maus alunos; boas e más escolas. Portanto, muita calma nessa hora!

               Faço essa última observação por perceber que no calor do desejo do futuro imediato, mata-se o esforço cotidiano, e não se valoriza as mudanças pelas quais passou a escola e seus elementos, condenando-os por um passado que não mais existe. A rigor, todas as escolas[2] já fizeram a passagem do século XIX para o século XX e deste para o XXI. A palmatória já foi abolida; o tablado elevado já não existe mais; o professor já não é o senhor do conhecimento; o aluno já percebeu que é seu papel ser o agente da aprendizagem; a tecnologia da informação foi incluída entre as ferramentas do conhecimento. Nessa equação, apenas a sala de aula e a avaliação dos resultados continua sendo a mesma (talvez esteja aqui um bom primeiro passo).

               Sendo pragmático, espero que a reforma do ensino, impulsionada no nível superior, alcance o ensino médio e fundamental, não destruindo a espontaneidade das metodologias ativas utilizadas nos primeiros anos. Nestes, para ensinar biologia, planta-se feijão; para ensinar geográfica, faz-se maquete de vulcão; para se ensinar matemática, faz-se teatro; para ensinar a língua pátria, escrevem-se poemas.

               Como é possível observar, antes das metodologias ativas... deve-se ativar os anéis.

              

* Dênio Mágno da Cunha, Doutor em Educação pela Universidade de Sorocaba, professor em Carta Consulta e Una.

 


[1] Neo ambulante ou newwalking NW: aquele que vive em busca de novidades, inovações em qualquer área do conhecimento. Para o NW tudo é ultrapassado e ultrapassável; ele não se fixa no presente, só no futuro.  A inovação descoberta pela manhã já é ultrapassada à tarde. É pós-moderno que conhece os clássicos para negá-los.

[2] Exceto aquelas nos países subdesenvolvidos.

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