Metodologia Científica e a Relação entre Autismo e Paracetamol
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Como afirmado no texto Educação e o Martelo de Niezsche[1], existe uma gritante diferença entre conhecer e acreditar, e quando se trabalha com metodologia científica, não há espaço para crenças, deve sempre sobressair o conhecimento comprovado pela ciência.
Infelizmente o Brasil está cheio de imbecis que simplesmente acreditam porque alguém mais imbecil fez uma afirmação baseada em especulação e achismo.
Peguemos como o uso da cloroquina no combate a covid-19. Percebe-se que esta informação totalmente infundada suscitou em mais de 17 mil mortes de brasileiros?[2]
O fato é que imbecilidades sempre serão ditas por imbecis, não se pode esperar algo inteligente de pessoas assim, como outro caso em que um pastor da Igreja Assembleia de Deus afirmou que nascimento de crianças autistas seria o diabo visitando o ventre das mães[3].
Observe a abrangência desta igreja, estima-se que hoje no Brasil, esta igreja tenha aproximadamente 22,5 milhões de fiéis, isto é, pelo menos 4/5 deverão acreditar nesta estultice.
Por isso é importante o rigor da metodologia científica, para acabar com estas falácias absurdas.
Afirmações a público assim só devem ser passadas mediante ao crivo da ciência e não mera especulação, vaidade ou oportunismo, porque isso gera desinformação, preconceito e exclusão.
A metodologia científica é baseada em um estudo crítico e analítico de instrumentos que norteiam um trabalho de cunho científico. Ela se subtrai por completo do achismo e se prende ao rigor científico, permitindo dessa forma, a produção de um conhecimento confiável e replicável por meio de um procedimento lógico.
O método científico utilizado nas pesquisas, valida o estudo como conhecimento verdadeiro, livre de qualquer subjetividade, envolvendo etapas como observação, formulação de hipóteses, experimentações e análise de dados.
Voltemos agora a outra afirmação estulta, dita ninguém menos de Donald Trump. Ele simplesmente afirmou que o uso do Tylenol (Paracetamol) na gravidez é responsável pelo aumento de autistas.
O Neurocientista Paulo Liberalesso[4] faz uma maravilhosa elucidação sobre essa afirmação totalmente equivocada de Trump, e que infelizmente, muitos acreditarão e reverberarão esta estultice como fizeram com a cloroquina.
Nas falas do profissional acima, não existe evidência científica entre Tylenol e Autismo.
Existe apenas especulações que se fundamentaram em um estudo de correlação e não em um estudo de causalidade, como explanado por Paulo Liberalesso.
Para o pesquisador, a metodologia utilizada não implica como resultado irrefutável, pelo contrário, é justamente a metodologia utilizada que coloca por terra qualquer afirmação de Trump.
Dito isso, é analisado que o estudo de correlação mede a existência de uma associação estatística entre as duas variáveis (Paracetanol x Autismo), isto é, este tipo de estudo chega se as duas variáveis tendem a variar juntas ou com algum nível de associação.
Em sua explicação é citado uma afirmação de que crianças que utilizam mais videogames têm dificuldades de sono, o que passa a considerar uma verdade mediante ao universo observado, existe uma relação da permanência no videogame com falta de sono, todavia não implica em afirmar que esta variável estar mais tempo no videogame provoque a falta de sono, isso porque pode aparecer uma terceira variável desconhecida, denominada variável de confusão.
Em relação ao estudo de causalidade, ele demonstra se uma variável provoca mudança na outra variável e como exemplo, é citado um medicamento fármaco antiepilético para crianças epiléticas e comprovado que o uso deste fármaco reduzirá o risco da recorrência da crise.
Paulo Liberalesso é enfático ao dizer que para se afirmar a causalidade, não adianta falar da associação, precisa mostrar quatro itens que comprovam o efeito da variável A sobre a Variável B, que são: A causa precede o efeito, isto é chamado de critério temporal, o que implica em dizer que se A provoca B, A tem que vir antes de B.
Outra coisa que tem que ser analisada é a relação consistente, o que implica em dizer que pode ser replicada em outros estudos.
O terceiro item é sobre não existir uma outra explicação plausível, o que neste caso, não tem espaço para variáveis de confusão, no caso da pesquisa, elas foram todas retiradas.
O quarto é que tem que existir uma plausibilidade biológica para a relação. Não se investiga coisas que não tem ligações como Paracetamol x Autismo.
Assim sendo, precisamos ser mais racionais e buscar conhecimento e não a crença em falas de pessoas negacionistas.
[1] http://www.gestaouniversitaria.com.br/artigos/educacao-e-o-martelo-de-nietzsch
[2] https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2024-01/estudo-estima-17-mil-mortes-por-tratamento-de-covid-19-com-cloroquina
[3] https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2024/07/18/pastor-diz-que-nascimento-de-criancas-autistas-seria-o-diabo-visitando-ventre-de-maes-video.ghtml
[4] https://www.instagram.com/reel/DO7LWqNjjqL/?utm_source=ig_web_copy_link