Marretadas de Cidadania

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

A Cidade de São Paulo é o principal centro financeiro do país e uma das cidades mais populosas do mundo.

Ela brilha esbanjando arte e cultura, e em contrapartida, é uma cidade que seus representantes elitizados demonstram como funciona a nossa política, pois como é sabido que politicamente não existe representante do povo, já que nossos políticos são narcisistas e representam o coletivo de sua ideologia manipuladora.

Antigamente era comum o dito popular de que uma maçã estragada no meio de boas maçãs estragaria as demais, e podemos metaforicamente dizer ao contrário em relação a nossa política. São várias maçãs estragadas e as vezes as boas que caem no saco, ficam totalmente comprometidas, pois o próprio sistema é corrupto e corruptível.

A política brasileira representa a própria decadência moral e a completa falta de ética, e o exemplo é o que temos hoje como representante da câmara e com total apoio de nosso necropolítico presidente, ninguém mais e ninguém menos que uma pessoa que é réu por corrupção passiva e de acordo com a própria Procuradoria-Geral da República (PGR), é também acusado de lavagem de dinheiro, prevaricação, desvio milionário de dinheiro, além de que em 2008, o mesmo meliante foi preso com ligação por grupos responsáveis por emissão fraudulenta de Carteira Nacional de Habilitação (CNH) em Alagoas e Sergipe[1].

Como se isso não bastasse para demonstrar como nossa política é podre, esta escória da sociedade espancou a mulher frente aos filhos e a babá por 40min arrastando-a pelos cabelos. Obviamente que este pacato cidadão foi inocentado de quase tudo, afinal de contas, para que serve a nossa "justiça"?

O Slogam "Brasil acima de Tudo, Deus acima de Todos" representa que Deus? Um deus da impunidade, da falta de ética, da corrupção?

Muitos usam nome de Deus para tirar proveito dos menos esclarecidos e alienados religiosamente, pois o que seria seu direito, este lhe foi e ainda lhe é negado, como uma educação de qualidade, esta que faz o cidadão pensar por si só e desenvolver o seu próprio discernimento.

Harari em seu livro 21 Lições para o Século 21, publicado pela Companhia das Letras em 2018 elucida uma fala de Hitler em que afirmava que "a mais brilhante técnica de propaganda não vai ter sucesso a menos que se leve em conta um princípio fundamental - ela tem de se limitar a alguns pontos e repeti-los sem parar", e assim foi feito: "Brasil acima de Tudo, Deus acima de Todos" e outra também apelativa e com direito a cola na mão: "Deus, família, Brasil"

A mentira ela acontece inclusive em nosso sistema educacional, pois pseudoprofessores fazem uso da pedagogia cínica, que para Forquini (1993) citado por Souza em seu livro Introdução a Sociologia da Educação, publicado pela Autêntica em 2007, é uma pedagogia que "é consciente de si como manipulação, mentira ou passatempo fútil".

De acordo com Souza, para se ensinar algo, este tem que ser verdadeiramente válido para quem ensina, dito isso, que ensinemos a verdade de nossa política e a importância de uma educação de qualidade.

A indiferença de nossos políticos com a realidade de seu povo faz ativistas serem mal vistos e até serem assassinados. Não se pode defender direitos das minorias como os indígenas ou até mesmo o meio ambiente, pois quem assim faz, morre e suas mortes ficam banalizadas e caem no esquecimento.

Em certos momentos, quando resolve-se discutir sobre tal assunto, fabricam fake news dizendo que tal pessoa assassinada estava envolvida com o crime, etc...

Temos como exemplo uma discussão sobre os direitos dos índios em que é fomentado o ódio mediante um discurso leviano afirmando que “a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país”

Apesar dos políticos representarem o câncer enraizado em nosso sistema político em todas as esferas (pública, estadual e federal), encontramos pessoas realmente humanizadas.

As vezes uma pessoa aqui ou acolá aparece, representando exército de um homem só, que luta pelo que acredita ser correto, como o caso do padre Júlio Lancellotti^[2]  que desafiou o sistema e como se fosse o próprio Thor, deus nórdico a destruir as pedras colocadas por um governo, não com um simples martelo, mas com sua marreta mjölnir.

No livro Educação um ato político, publicado pela editora Autografia em 2019, é ressaltada por mim a fala de James Farner Jr. defendendo a desobediência civil no filme o grande debate. O seu discurso cita Santo Agostinho quando fala que “uma lei injusta não é uma lei para todos. O que significa que eu tenho direito, até mesmo o dever de resistir. Com a violência ou a desobediência civil. Você deve orar para que eu escolha a segunda.".

Assim fez o nosso Thor, optando pela desobediência civil, enquanto milhares ficaram indiferentes com a situação.

Nem todos vestem camisas de cidadãos domesticados e subalternos, e posso com toda minha experiência, afirmar que este padre não fez tal atitude por ser apenas um padre, mas por ter recebido realmente uma boa educação tanto formal quanto informal o que obviamente, ressaltou ainda mais o seu caráter e amor pelo seu povo e por a uma sociedade mais equitativa.

Ao invés do governo minimizar a miséria de seus cidadãos, ele prefere fazer a vida destes coitados ainda mais desgraçada. É muita falta de humanismo de nosso poder público.

Outro contra-exemplo que temos é na esfera federal, pois em plena pandemia, os R$ 3 bilhões gastos com compra de voto para eleger o presidente da câmara, poderia ser usado para a compra de vacinas bem como oxigênio.

Que nós educadores, mesmo sendo desvalorizado e humilhado, não percamos nossa dignidade e possamos fazer valer o juramento da pedagogia como algo relacionado a todas as licenciaturas, assim sendo, "Prometo, no exercício de minha profissão, enfrentar os desafios que a educação me propõe, dentro e fora da escola, com criatividade, perseverança e competência, buscando novos caminhos para o processo educacional. Prometo trabalhar por uma educação, para responsabilidade social, ética e política, participando profissionalmente da construção do homem íntegro da humanidade e da pátria. Assim prometo."