13/02/2020

Mãe Especial

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            A educação é o que nos torna mais humanos, assim sendo ela passa a ser essencial para que a sociedade se desenvolva em todos os meios sem nunca abrir mão do humanismo, sendo que este jamais difere as pessoas, pois ele é a mais pura representação do amor ao próximo e a aplicação da empatia.

            Mas é difícil para muitos falarem em empatia quando lidam com crianças com Necessidades Especiais Educacionais, deste modo, o próprio ambiente escolar passa a ser um espaço para a continuidade da exclusão deste ser que precisa apenas de atenção, respeito e todos os cuidados para que o processo de ensino-aprendizagem ocorra da melhor forma, para que ele possa, mediante suas limitações, assimilar e se desenvolver.

            De acordo com dados da Unesco[1], "mais de um bilhão de pessoas em todo o mundo vive com alguma forma de deficiência" e isso representa 24% da população brasileira, e a parte mais triste é que as pessoas não percebem que as diferenças não excluem, elas nos complementam. Elas nos ensinam a amar sem distinção e a se entregar de corpo e alma ao próximo.

            A triste realidade é ressaltada quando AgênciaBrasil em uma pesquisa,  esclarece que apenas 1% dos brasileiros com deficiência está no mercado de trabalho[2] e observe que a exclusão começa na família e principalmente na escola.

            Na família porque é cultural os pais quererem sempre filhos "perfeitos" e quando nasce uma criança com Necessidade Especial, muitos pais preferem fechar os olhos para suas limitações, tolhendo-o de uma educação especial, de forma a desenvolver todo o seu potencial e respeitando suas necessidades e limitações, e na escola, porque apesar da mesma ter um corpo docente, uma infraestrutura para receber as crianças com Necessidades Especiais Educacionais (NEEs) e profissionais capacitados para atendimento e assistência (psicopedagogos com Sala Recursos, professores de apoio e cuidadores) o preconceito passa a falar alto nas ditas famílias de filhos sem NEEs, já que a imperfeição é intrínseca no ser humano.

            Está disponível no Youtube o depoimento de uma mãe que ilustra bem o que este texto está explicitando. O vídeo intitulado "a solidão das mães especiais" retrata a fé e o amor incondicional de uma mãe[3] para educar seu filho.

            A mãe (Lau Patrón) começa citando um provérbio africano dizendo que "é preciso uma aldeia inteira para educar uma criança, até que esta criança tenha Necessidades Especiais", pois ela sentiu a dor da exclusão e não se deixou abater, apesar de ter percebido nas pessoas a ignorância, a crueldade e o preconceito.

            Só uma mãe sabe o quão é Divino o desenvolvimento do seu filho com NEE, pode ser pequeno, mas é gradativo e isso aumenta a esperança e a vontade de buscar sempre mais.

            Lau Patrón é enfática ao esclarecer que "as palavras ditas com afeto tem o poder de ecoar dentro da gente por tempo indeterminado" e isso é uma verdade inquestionável e citado em meu livro Gestão Afetiva – Sistema Educacional e Propostas Gerenciais, em prelo que será publicado pela WAK.

            De acordo com o livro, existe uma forte relação entre o afetivo e a cognição, e isso implica em dizer que o racional e o emocional devem ser trabalhados juntos e não de forma distinta como se pensava antes, pois a afetividade engloba tanto sentimentos quanto emoções exercendo um papel de suma relevância na vida da criança, pois será através dela que a criança terá acesso ao mundo simbólico, originando a atividade cognitiva e possibilitando o seu avanço. Para o autor, o mundo objetivo é feito de forma sensível e reflexivo que envolve o sentir, o pensar o sonhar e o imaginar, e com base nestas informações, os professores passam a ter a afetividade como uma aliada a alavancar o gosto de estudar e a vontade em aprender e a descobrir.

            Lau Patrón é enfática ao afirmar que precisamos ultrapassar barreiras óbvias por afeto e sem medo, pois ele nos impede de viver experiências importantes, já que lidar com uma criança com NEEs para muitos é uma situação nova.

            Vale ressaltar nas falas desta exemplar mãe que Inclusão não é um favor é um processo de melhora do mundo para todos, então, que façamos valer as falas de Boaventura Souza Santos[4] quando esclarece que temos o direito de sermos iguais sempre que a diferença nos inferiorize; e temos o direito de sermos diferentes sempre que a igualdade nos descaracterize.

            Assim é a educação, uma ação intencional que nos dá oportunidade de também evoluirmos no âmbito moral e humanista, fazendo jus as falas de Jean Jaques Rousseau ao afirmar “que se destine meu aluno à carreira militar, eclesiástica ou à advocacia, pouco me importa. Antes da vocação dos pais, a natureza chama-o para a vida humana. Viver é o ofício que quero ensinar. Saindo de minhas mãos, ele não será, concordo, nem magistrado, nem soldado, nem padre; será primeiramente um homem”, sendo assim que este homem aprenda a amar o seu próximo independente as suas especificidades.

 

[1] Para mais informações vide http://www.unesco.org/new/pt/brasilia/education/inclusive-education/persons-with-disabilities/

[2] Para mais informações vide http://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2017-08/apenas-1-dos-brasileiros-com-deficiencia-esta-no-mercado-de

[3] Para assistir ao vídeo, vide https://youtu.be/9eyCmr7At04

[4][4] Boaventura de Sousa Santos é um Professor Catedrático Jubilado da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

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