Se a geração adulta não é capaz de zelar pelo nosso maior bem – o lugar onde vivemos, o Planeta Terra –, nem tudo está perdido. As crianças e jovens são excelentes multiplicadores e podem, sim, exercer e praticar o papel de guardiões da biodiversidade. A escritora Luciana Rosa confia nesta previsão e está bem otimista. Ela é voluntária em projetos de leitura para o público infanto-juvenil e acaba de lançar O Planeta está com febre (Zit Editora, 32 páginas, R$ 19,90), seu livro de estreia. Com texto fácil, mas nem por isso menos engajado, Luciana consegue explicar para os pequenos o que é aquecimento global a partir da metáfora que o planeta tem febre alta. O prefácio é do ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e belas ilustrações de Salmo Dansa.
O projeto não surgiu por acaso: a escritora percebeu que várias campanhas abordam o tema de Sustentabilidade, mas havia ainda uma lacuna entre o que se fala e o que é realmente absorvido pela juventude. Em conversa com o Balaio de Notícias, Luciana conta que a partir de uma experiência bem corriqueira – toda criança já teve febre um dia – seria uma boa hora de conversar sobre temas tão relevantes. “Acredito que precisamos conversar exaustivamente com as crianças sobre as questões ambientais. Infelizmente, o aquecimento global é uma realidade que faz parte da vida de todos nós. Não podemos somente sentar e esperar que no futuro elas deem um jeito nessa situação. Precisamos prepará-las, muni-las de informação e encorajar uma mudança de comportamento”, explica.
Luciana, 29 anos, é graduada em Comunicação pela PUC do Rio, com especialização em Arte e Ecologia. É fundadora do projeto Fome de Letra, na comunidade do Vidigal (Zona Sul), que promove o incentivo à leitura entre as crianças e do Espaço Asas, projeto que estimula as múltiplas inteligências das crianças, com oficinas de leitura e arte-ecologia. Também é voluntária da Fundação internacional Arte de Viver, participando de cursos que fortalecem os valores humanos entre os jovens.
Enquanto o agreste está alagado, o Sul sofre com estiagens. Alguém ainda tem dúvidas sobre os efeitos das mudanças climáticas? Acompanhe, a seguir, este alegre bate-papo no fim da semana passada, em um dia ensolarado deste julho mais frio do que o normal em pleno Rio de Janeiro.
Plurale em site - Como surgiu a ideia do livro O Planeta está com febre?
Luciana Rosa - Há alguns anos eu tive acesso a uma pesquisa publicada pelo Instituto Datafolha que informava que seis em cada dez jovens não sabiam o real significado da palavra sustentabilidade. Foram entrevistados jovens entre 13 e 18 anos. Isso me deixou muito inquieta. Naquele momento, várias campanhas estavam em atividade abordando esse tema. Fiquei pensando que existe uma lacuna muito séria entre o que se fala e o que realmente é absorvido pela juventude. Nesta época eu já estava encantada pelo universo da literatura infantil. Resolvi então unir as duas coisas e dar a minha contribuição para a construção de dias melhores. O destino acabou cruzando o meu caminho com o de muita gente comprometida e que abraça a mesma causa. Assim, juntos e, sempre em rede, fomos construindo O Planeta está com febre, que está sendo lançado este mês pela Zit Editora.
Plurale em site- O livro mostra que é possível falar de forma didática e fácil para eles de temas considerados "herméticos" por muitos, como aquecimento global, etc. Este é o caminho?
Luciana Rosa - Com certeza. Eu quis falar de uma maneira que não criasse um distanciamento e sim que aproximasse, gerasse curiosidade e, principalmente, inquietação. Procurei facilitar ao máximo o entendimento desse conteúdo, queria trazer o assunto para o dia a dia delas. Toda criança já teve febre alguma vez na vida, ela sabe que existe um aumento de temperatura e que isso causa um desconforto danado. Então, partindo de uma experiência pessoal fica mais fácil entender o que está acontecendo com o planeta Terra. Acredito que precisamos conversar exaustivamente com as crianças sobre as questões ambientais. Infelizmente, o aquecimento global é uma realidade que faz parte da vida de todos nós. Não podemos somente sentar e esperar que no futuro elas deem um jeito nessa situação. Precisamos prepará-las, muní-las de informação e encorajar uma mudança de comportamento. Por isso o discurso precisa ser de fácil entendimento.
Plurale em site - Que papel as crianças e jovens têm na conscientização ambiental?
Luciana Rosa - Eles têm um papel importantíssimo. As crianças e os jovens têm uma sensibilidade muito latente. Eles estão mais abertos a novos conceitos e por isso incorporam com mais facilidade atitudes positivas em prol do meio ambiente. Uma criança eco consciente é capaz de contagiar a família fazendo com que os adultos revejam sua relação com a natureza e seus hábitos de consumo. Eles são excelentes multiplicadores. A cada geração sinto que existe um aumento da responsabilidade ambiental e do senso de pertencimento. A grande maioria está preocupada com a questão do desperdício, do lixo e do desmatamento. Tenho certeza que vão contribuir muito. Cabe a nós, adultos, oferecermos ferramentas para que esse entusiasmo seja mantido.
Ainda é possível acreditar que o planeta será salvo?
Luciana Rosa - Claro! Sou extremamente otimista! Acho que a palavra do século é resiliência. Uma atitude resiliente significa ter uma conduta positiva apesar das adversidades. Observo que cada vez mais as pessoas estão atentas a essas questões e têm sim muita vontade de se engajar. Precisamos incentivar esse movimento. Tenho certeza que muitas soluções irão surgir através da criatividade. É preciso sair da zona de conforto e ir para a zona de coragem, pois é lá que as transformações realmente acontecem.
Plurale em site- Como você tem desenvolvido este trabalho com as crianças nos teus projetos?
Luciana Rosa - Nas rodas de leitura que promovo no Espaço Asas e no Fome de Letra sempre lemos livros que abordam a temática ambiental. Eles ficam muito curiosos e preocupados. Outro dia, após a leitura da Declaração Mundial do Meio Ambiente, adaptada pela Ruth Rocha e publicada pela UNESCO, uma criança disse que gostaria que existisse uma bolha em volta do planeta para protegê-lo. Esse comentário gerou um longo papo sobre a camada de ozônio. Foi uma delícia! Após a conversa todos desenharam um super “bolha” protetora, impenetrável e cheia de super poderes. Nem preciso dizer que adorei. Também tenho recebido convites de escolas que estão adotando o livro. Leio O planeta está com febre junto com as crianças e depois realizo com elas uma oficina de Arte Ecologia. Sempre com a proposta de resgatar o espírito de coletividade e engajá-los na causa.
Plurale em site- Poderia falar um pouco dos projetos? Em quais novos projetos está envolvida para o futuro?
Luciana Rosa - A literatura me pegou de jeito. Tenho produzido muitos textos. Nos meus trabalhos busco levar um olhar literário para as questões do meio ambiente. Procuro abordar o tema sempre com muita sensibilidade. Um assunto puxa o outro, inspira uma história diferente e acaba me apontando novos caminhos, afinal, é como uma grande teia. Estamos todos interligados. Além dos livros, também estou estruturando um projeto que terá como tema principal a poluição dos oceanos. É uma iniciativa que surge da mobilização da sociedade civil e que irá atingir vários segmentos da sociedade.
* Publicado pela Plurale, simultaneamente com a revista eletrônica Balaio de Notícias.
(Envolverde/Plurale)
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