31/10/2017

Livro Didático Nas Aulas de Inglês: Norteia ou Confunde?

LIVRO DIDÁTICO NAS AULAS DE INGLÊS: NORTEIA OU CONFUNDE?

Textbook in English Classes: guide or confused?

Victor Hugo Barbiero[1]

Edione Teixeira de Carvalho[2]

Antonio Gomes[3]

RESUMO

O enfoque do artigo se direciona em expor aspectos que envolvem o uso do livro didático em aulas de língua estrangeira, especificamente a Língua Inglesa. Como ferramenta importante no ensino, o livro didático se mostra como material que permite a relação entre o professor e os alunos, dentro de um ambiente de sala de aula, tendo em vista proporcionar uma maneira mais sistematizada de exposição de conteúdos, que sejam direcionados para o desenvolvimento da Língua Inglesa. A partir de 2011, o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) incluiu como material o livro de língua estrangeira para as aulas em escolas públicas. Dentro deste contexto, os dados e conteúdos expostos, em livros didáticos, apresentam aspectos relacionados com a seleção de conteúdos, a forma como estes são dispostos, ao lado dos tipos de exercícios e textos oferecidos pelo material, bem como os itens vinculados com a gramática que o material apresenta.

 

Palavras-chaves: uso do livro didático de língua estrangeira; análise do livro didático; relações entre ensino e aprendizagem.

 

ABSTRACT

The textbook is an important tool in English language teaching, for outlines and mediates content and teacher-student dialogues in the classroom. From 2011, the English language was included in the National Textbook Program (PNLD), providing opportunities for their use in public school classes. This article discusses the relationship that the basic school English teachers establish with the textbook as well as their selection criteria and evaluation of these materials. Bibliographically, the data show relationships of varying rigidity depending on the educational context. The selection criteria and evaluation involving teaching content, exercises, texts and grammar textbook.

 

Keywords: textbook English; influences on teaching and learning; evaluation of textbook.

1        INTRODUÇÃO

Na atual conjuntura tecnológica, econômica e cultural do mundo, em que as distâncias estão cada vez menores em função da globalização, a escola assume um papel ainda mais importante do que o habitual. Se no passado a escola era vista como mera transmissora de conhecimentos, atualmente, ela é para a maioria dos jovens da escola pública, o único meio destes ingressarem no mercado de trabalho, sendo o aprendizado efetivo da Língua Inglesa aspecto que se torna de extrema importância neste contexto da organização da sociedade.

O Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) propiciou para a escola de rede pública a adoção de livro didático direcionado ao ensino de Língua Inglesa, por ser tal material presente no dia a dia da escola, bem como em ser o livro que visa facilitar o trabalho do professor de línguas ao se mostrar como ferramenta de suporte em desenvolvimento de aspectos gramaticais, bem como de competência discursiva, uma vez que a língua é uma prática social e política que deve propiciar também o desenvolvimento do senso crítico.

Ao longo do Ensino Fundamental, o aluno estuda inglês por, no mínimo, quatro anos, o que acaba por levar os autores de livros de Língua Inglesa para o Ensino Médio a desenvolverem livros que visam consolidar conteúdos que, em tese, já teriam sido estudados em aplicação de conteúdos linguísticos em prática de quatro habilidades básicas como: audição, leitura, escrita e fala, sendo tal material frequentemente exposto em um nível acima do que os alunos conseguem acompanhar.    

 A escola pode, conforme a Lei de Diretrizes e Bases e os Parâmetros Curriculares, escolher a língua estrangeira a ser ensinada, sendo a Língua Inglesa a que mais comumente se escolhe desenvolver, visto o caráter universal do idioma citado, sendo tal domínio visto como um direito para que se forme um cidadão pleno.

Nesse sentido, enfocar o uso do livro didático de Língua Inglesa, como também das demais línguas estrangeiras, se mostra como material que deve priorizar atividades que gerem habilidades linguísticas em face dos objetivos de aprendizagem, se configurando como uma ferramenta de suporte ao professor no desenvolvimento das aulas.

2        FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A partir de 2011, a área de ensino de língua estrangeira passou a receber por parte do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) o devido enfoque em ser este material também proposto para essa disciplina, uma vez que o programa se destina, em seu objetivo básico, a nortear o trabalho pedagógico dos professores, por meio da distribuição de livros didáticos aos alunos da Educação Básica.

Importante explicitar que a língua estrangeira, de forma geral, sempre foi um problema para as escolas e os professores que ministram tais aulas, uma vez que com apenas duas aulas semanais, o professor pouco podia fazer sem um material de apoio, assim, a adoção de um livro didático era opção proposta para o uso integrado deste material durante os três anos do Ensino Médio.

Dessa forma, a prática pedagógica do ensino de língua estrangeira acabou por apontar o livro didático como um material indispensável por apresentar ao professor um conteúdo pronto e organizado por profissionais qualificados na área da Linguística Aplicada e do Ensino de Língua Inglesa, mesmo que autores, como Cunningsworth (1984, p.1 apud RAMOS, 2011, p.178) faça a exposição de que o livro didático se mostra como “um bom criado, mas um mestre pobre”.

Nesse aspecto, o livro didático deve ser analisado em vários aspectos como a apresentação de textos, de temas, de atividades oferecidas e dos devidos objetivos de ensino, de forma que seja tal material aplicado em acordo com o plano de ensino, propiciando o desenvolvimento de competências linguísticas do aluno.

Em relação aos aspectos que se vinculam com as percepções acerca da análise e aplicação do livro didático por professores e por alunos, se encontra em Pessoa (2009), a informação de que em alguns aspectos este material pode restringir o andamento de aula se for aplicado de maneira rígida, entretanto, por outra forma de abordagem, o livro didático em aula de língua estrangeira, em especial, a língua inglesa, pode auxiliar no desenvolvimento da autonomia do aluno, bem como em situação de ser uma fonte de pesquisa e suporte para o professor iniciante em desenvolvimento de plano de ensino e projetos de ensino associados com a língua estrangeira, acrescentando-se a exposição de Richards (2002) de que tal material é um facilitador visual para o aluno.   

Em uma perspectiva que implica a abordagem discursiva exposta por meio do uso do livro didático, que perpassa o ensino de língua estrangeira, se tem que esta é fenômeno social e ideologicamente constituído, de maneira que apresenta elementos inter-relacionados como o contato entre professor e aluno, ao lado da metodologia que utiliza e os conteúdos propostos.

 A sala de aula é ambiente em que se busca a discussão e negociação, o que acaba por levar ao entendimento de que o uso do livro didático para as aulas de língua estrangeira viria a ser aspecto questionado como material didático essencial, em especial por minimizar tal condição em ensino, tendo em vista a falta de entendimento sobre a verdadeira função do material didático como ferramenta auxiliar ao professor.

Assim, o material a ser escolhido precisa passar por uma profunda análise do professor em observar se a seleção de textos neste livro se encaixa no desenvolvimento de atividades consideradas como significativas para o universo social e cultural dos alunos, de forma que estes não fiquem desmotivados com o que se apresenta em estudo, mas que possam se envolver como indivíduos ativos e integrantes das aulas.

O livro didático precisa ser compreendido como material que se mostre delineado e complete a visão expressa por Tomslinson (2003), de que o material didático precisa ser entendido como auxiliar para os aprendizes de línguas, sendo material por meio do qual se possa direcionar os assuntos e conteúdos abordados.

Dessa forma, o livro didático de língua estrangeira que é selecionado por meio do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) precisa observar critérios como uma base de avaliação, em que a compreensão da linguagem seja expressa como atividade social e política, sendo também verificada a diversidade de temas e de gêneros de textos verbais e não verbais tentando, assim, representar a diversidade étnica do país. Estes aspectos se relacionam como objetivos da escolha das coleções de livros didáticos, em que propicia a construção de autonomia de seu usuário, na tentativa de fazer com que a Língua Estrangeira seja parte da formação do aluno como cidadão (BRASIL, 2011).

Embora haja diversas formas de definições que se relacionam com o material didático, se encontra em Tomlinson (2003) a compreensão de que estes sejam instrumentos direcionados ao serviço do professor, salientando-se que as relações que são estabelecidas devem se constituir em busca de propiciar uma relação continuada em influências diversas, pois o material didático precisa de forma fundamental auxiliar o processo de ensino e de aprendizagem, para que haja uma bem-sucedida compreensão da língua estrangeira ensinada, aspecto que ultrapassa a concepção restrita de que o livro didático seja apenas constituído por meio de material publicado, entendendo-se como suporte para diferentes atividades que levem a um ensino e aprendizagem significativo e prazeroso.

Nessa linha de abordagem, o livro didático segundo entendimento expresso por Cunnisgsworth (1995) desempenha múltiplos papéis em suporte aos alunos e professores como fonte de fundamentação da língua estrangeira em gramática,, vocabulário e pronuncia da língua em estudo, bem como deve ser visto como material que seja fonte de atividades práticas e de interação comunicativa, sendo o suporte fundamental para os professores e para os alunos.

O livro didático acaba por ser visto e compreendido como o material que desempenha a função de apresentador de conteúdos. Entretanto, esta capacidade de exposição é passível de ser questionada, em face da qualidade e da confiabilidade ao lado de aspectos qualitativos que envolvem a profundidade, a qualidade e a confiabilidade destes, da mesma forma que em termos quantitativos associados com a diversidade, a amplitude, a seleção de conteúdos explicitados, tendo em vista que todo material apresenta limitação de quantidade e profundidade de informação e de conteúdos.

Outro aspecto que faz parte da análise de uso do livro didático de língua estrangeira se vincula com a concepção de leitura que é aplicada, sendo esta leitura exposta em forma de decodificação de sinais, o que leva ao entendimento de que o livro didático precisa ir além da exposição básica de textos e de uso de glossários, possibilitando expressar que há uma falha em relação ao processo de modernização e aplicação deste material diante das práticas de leitura e recomendações que se apresentam para a área nas diretrizes propostas para cada Estado ou mesmo dos Parâmetros Curriculares Nacionais.   

3        O USO DO LIVRO DIDÁTICO NAS AULAS DE LÍNGUA INGLESA

A sala de aula se apresenta como um local de conflitos, por ser espaço em que se associam diferentes indivíduos, e estes trazem diferentes histórias que se misturam no momento de aprendizagem, pois quando conflitos são gerados em novas possibilidades de entender o mundo, são propiciadas perspectivas que se mostram integrantes de aulas e, em especial, no ensino de língua estrangeira.

Nesse sentido, o livro didático direcionado ao ensino de uma nova língua precisa considerar aspectos que se relacionam com um emaranhado de perspectivas, e que o usuário final, ou seja, professores e alunos precisam também fazer uso de interpretações próprias, que se vinculam com a procura e relação da instituição e os interesses que fazem parte deste processo.

Com foco na perspectiva de que o livro didático aplicado no ensino de Língua Inglesa surge como ferramenta para pensar a cultura e a língua, se tem em Kramsch (1993, p.1) a exposição de que: “cultura é diferença, variabilidade e sempre uma fonte em potencial para conflitos quando uma cultura entra em contato com outra”.

Dessa forma, o livro didático aplicado ao ensino de Língua Inglesa em ambiente escolar se mostra como uma ferramenta que se aplica em suporte de desenvolvimento de competências, em relações que sejam propiciadoras de uma dimensão de material para o ensino, por ser o material em recurso didático mais aplicado pelos professores deve ser compatível com a cultura de aprendizagem que se busca aplicar, ao lado de ser ferramenta que contribua para entendimento dos diversos aspectos da nova língua.

O professor precisa aplicar de forma devida o livro didático como maneira de exposição em suporte ao interesse propiciado pela nova língua, tendo em vista que a realidade da rede pública implica um aspecto de grandes adversidades enfrentadas pelos alunos tanto em sala de aula como em seu cotidiano, o que deve procurar ser minimizado por intermédio do professor em escolha adequada de uso do material didático, especialmente o uso do livro didático escolhido.

Bernardim (2004) expõe que os livros didáticos aplicados em ensino de Língua Inglesa precisam ser bem definidos pelo professor com foco em observar os pontos e aspectos primordiais do ensino a serem desenvolvidos, em sala de aula, com objetivo de propiciar certa facilidade no processo de ensino, bem como em ser um aspecto motivador de aprendizagem que pode ser acrescentado em uso de novos recursos associados com o livro ou por este indicado como músicas, filmes e outros meios de comunicação.   

Quando se aplica o livro didático como única forma de suporte para o ensino de língua inglesa há o risco de que ocorra um processo de acomodação por parte do professor e de desestímulo por parte do aluno, sendo importante lembrar sempre que “O melhor dos livros didáticos não pode competir com o professor” (CONSOLO, 1990 apud PESSOA, 2009, p. 57), uma vez que este profissional pode propiciar o uso de diversos recursos, em sala de aula, como forma de incentivar e motivar os alunos, despertando o poder de reflexão destes.  

Com foco nesse entendimento se pode afirmar que o professor bem preparado deve estar apto para identificar as necessidades dos alunos, bem como em identificar os aspectos que precisam ser melhorados ou exercícios aplicados em compatibilidade com a realidade do aluno, não importando dessa forma qual seja o livro didático adotado, mas que o professor tenha consciência de que esse deve ser ferramenta bem aplicada, conforme exposição de Lajolo (1996, apud PESSOA, 2009), que salienta que o professor precisa saber aplicar o livro didático em adaptação com as necessidades dos alunos.

4        CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao ser enfocado o uso do livro didático no ensino de línguas estrangeiras foi possível expor que o livro didático tem papel fundamental em propiciar conteúdos e atividades em suporte ao ensino e precisa ser aplicado, de forma consciente, pelo professor em sala de aula.

Embora existam diferentes níveis de influência nem sempre este material satisfaz plenamente as expectativas de alunos e de professores, sendo importante que o professor se apresente apto a complementar os textos ou acrescentar outras formas de recursos, que venham a motivar os alunos em associação com organização de conteúdo instrucional que contemple adequadamente aspectos gramaticais, exercícios, bem como suporte para que o professor possa acrescentar ou modificar conteúdos. 

O livro didático apresenta diversos aspectos que precisam ser analisados e que se mostram como fatores responsáveis por promover a motivação dos alunos e facilitar o entendimento do conteúdo instrucional. Contudo, o livro didático é um recurso que se faz presente no contexto escolar, sendo considerado por alguns professores como ferramenta indispensável de trabalho, mas que pode ser complementado caso necessário e, por muitos alunos, tem sido visto como fonte única de contato com a língua inglesa.

Porém, todo conteúdo, questionamento e discussões sobre crenças e o uso do livro didático no processo ensino/aprendizagem da língua inglesa apresentados mostram que ele não é o único caminho, uma vez que nada está em plano superior do que a relação professor/aluno em contraposição ao conhecimento. E, ainda, acrescenta-se a sugestão de apresentar situações cotidianas o mais próximo possível do real para que o processo ensino/aprendizagem se efetive de forma satisfatória.

Para concluir, a importância deste material na vida do professor implica a necessidade de uma reflexão mais sistemática sobre os seus conteúdos e as maneiras de como trabalhá-los, considerando objetivos de aprendizagem relevantes e significativos para o desenvolvimento do aluno-cidadão que participa e transforma a sociedade.

5   REFERÊNCIAS

BERNARDIM, A. M. P. Critérios para a escolha do livro didático - Língua Inglesa. Publicação do Centro de Estudos, Pesquisa e Produção Acadêmica do Instituto Superior. Anísio Teixeira. Revista do ISAT. n.3, 2º semestre, 2004.

BRASIL (MEC). Guia de Livros Didáticos: PNLD 2012: Língua Estrangeira Moderna. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2011. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/14_24.pdf. Acesso em: 01 dez. 2015.

CONSOLO, D. A. O livro didático e a geração de insumo na aula de língua estrangeira. In: Trabalho de Linguística Aplicada. Campinas. Jul./ Dez. 1992, p. 37-47.

CUNNINGSWORTH, A. Choosing your coursebook. Oxford: Heineman, 1995.

KRAMSCH, C. Context and Culture in Language Teaching. Oxford: OUP. 1993.

LAJOLO, Marisa. Livro didático: um (quase) manual de usuário. Em Aberto, Brasília, n. 69, v. 16, jan./mar. 1996.

PESSOA, R. R. O Livro didático na perspectiva da formação de professores. In: Trabalho de Linguistica Aplicada. Campinas. Jan./ Jun. 2009. p. 53-69.

RAMOS, R. C. G. O livro didático de língua inglesa para o ensino fundamental e médio: papéis, avaliação e potencialidades. In: DIAS, R.; CRISTOVÃO, V. L. L. (Orgs.). O Livro Didático de Língua Estrangeira: múltiplas perspectivas. Campinas, SP: Mercado de Letras, 2011, p. 173-198.

RICHARDS, J. C. The role of textbooks in a language program. New Routes, 17, São Paulo, SP: DISAL, April 2002, p. 26-30.

TOMLINSON, B.; MASUHARA, H. E Elaboração de materiais para cursos de idiomas. São Paulo: SBS Editora, 2005.

TOMLINSON, B. Developing Materials to Develop Yourself. Humanising Language Teaching. Year 5; Issue 4; July 2003.

 

[1][1]Discente da Universidade Alto Vale do Rio Peixe – UNIARP. Formado em Letras. Especialista em Educação Especial Inclusiva. victorbarbiero@yahoo.com.br / barbierovictor@gmail.com

[2] Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – IFMT - Dra. em Ciências Pedagógicas – UFBA – edione.carvalho@svc.ifmt.edu.br

[3] Mestrando em Ensino – UNIC/IFMT – toninhoppl@gmail.com

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