Liberdade de Expressão e a Educação Pública
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Interessante perceber como o comportamento de manada é algo "ininteligente", a ponto de ecoar discursos e ultrapassar a tênue linha do fanatismo e da imbecilidade.
Vivemos em um pais com liberdade de expressão, apesar de certas pessoas fomentarem a intervenção militar e o Ato Institucional Nº 5 (AI5), sem ao menos saber do seu poder devastador e o que isso acarretou à educação, cultura e democracia.
Vale lembrar que o intuito aqui não é defender direita ou esquerda, é apenas resguardar o dom da vida, pois toda a vida tem que ser preservada já que a mesma é o nosso maior bem e nenhuma política deve sobrepô-la.
Em relação ao comportamento comentado no primeiro parágrafo, foi postado um vídeo direcionado para meninas da direita, e neste vídeo, a pessoa (que não interessa saber o nome mas apenas ater aos fatos), chama os professores de vagabundos e analfabetos funcionais.
Infelizmente, está sendo comum chamarem professores de vagabundo, mas cabe uma pequena análise, porque eles são vagabundos sendo que todos estão trabalhando mais do que o normal?
A carga horária deles aumentou e em concomitância, as responsabilidades também, todavia, continuam sendo chamados de vagabundos.
O fato de nós professores não querermos voltar para sala de aula não é por vagabundagem e sim, zelo pelos filhos de quem nos chamam de vagabundos e zelo também por nossas vidas já tão desvalorizadas pelo próprio sistema.
Tal vídeo e comentários reforçam apenas o desespero de pais omissos que usam destas falas como pressão para retorno das aulas, mas o que prevalece mesmo, é a omissão com seus filhos, e falta de autoridade com os mesmos e a exasperação em deixá-lo nas escolas para que "estes professores vagabundos" sejam as babás de filhos mal-educados pelos pais.
São estes pais que fazem a educação ser o que é, e não a nova modalidade de ensino e aprendizagem, já que isso forçou os professores usarem metodologia ativas dinamizando ainda mais o processo ensino-aprendizagem.
São pais assim que fazem uso da escola, não como uma instituição para desenvolver o saber da criança e suas habilidades, mas como depositário para que estes possam se sentir mais livres de suas responsabilidades e ter a quem culpar por suas frustrações em relação ao seu filho mal criado.
Pais assim não estão preocupados com a educação de seus filhos, estão preocupados apenas com o próprio bem estar e o momento de "sossego", já que este sossego poderá variar de no mínimo 4h 30min caso a escol seja apenas em um turno até 10h, caso a escola seja integral, sem se preocupar com almoços e lanches, já que as instituições públicas oferecem este serviço a seus alunos.
Realmente os pais têm mesmo que estar desesperados e esbravejar com o dedo em riste a classe de docentes, pois como eles ficarão livres de suas responsabilidades? A quem culparão pela má educação recebida no próprio lar?
Hodiernamente, apesar do descrédito das pesquisas por parte do governo, faz-se mister considerarmos uma realizada pela Fundação Getúlio Vargas, pois ela faz uma projeção de aumento de mortes por Covid-19 entre crianças, na qual estima-se que 17 mil destas poderão morrer com a volta às aulas.
É certo que nós professores somos descartáveis e consequentemente substituíveis pelo sistema, mas e os filhos destas pessoas também são?
Será que o negacionismo é tão forte que eles farão o mesmo que o jogador do São Paulo Futebol Clube ao ser pego em uma festa clandestina, declara que "Vocês não sabemde nada, só falam bobagem".
Será que muitos ainda pensam que o Covid-19 é uma gripezinha? Para nosso governo, esta gripezinha não mataria mais que os 796 do H1N1[1], entretanto, até hoje ela já dizimou quase meio milhão de brasileiros.
O problema é que as pessoas que defendem a volta as aulas presenciais podem até ter alguns neurônios ativos, mas faltam inteligência emocional e empatia, pois estão banalizando a morte de brasileiros em predominância as falas e ações boçais oriundas de nossos representantes políticos que estão preocupados apenas com interesses próprios.
Ainda bem que estamos em um país com liberdade de expressão, mas o que é lamentável são pessoas fazerem uso desta liberdade sem saber das consequências de suas falas e o seu poder de influência, pois com a vida não se brinca.
Dito isso, que nós educadores possamos com o retorno das aulas presencias, ensinar nossos alunos que as palavras têm poder, e caberá a ele saber qual poder dará a estas palavras.
[1] Para mais informações vide https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2020/04/em-22-de-marco-bolsonaro-disse-que-mortes-por-covid-19-ficariam-abaixo-das-796-por-h1n1.shtml