03/11/2015

Leitura e Protagonismo

O que a escola deve fazer com seus educandos? Formar, adestrar, ensinar ou educar?

            Independente ao verbo, poderemos observar que a criticidade nem sempre se fará presente. Pensemos na situação real da educação brasileira, abrindo mão de um romantismo e sem pensamentos pessimistas e/ou utópicos.

O verbo formar nos leva a alusão de colocar em forma, o mesmo que padronizar, estandardizar, isto é, fazer com que os educandos tenham o mesmo comportamento, atitude e maneira de pensar. Isso nos remete ao pensamento procrusto, ou seja, todos do mesmo jeito, mesma forma.

            Procrusto era o mesmo que "o esticador". Ele pegava suas vítimas e as colocava em uma cama de ferro. Se a mesma tivesse um tamanho maior, ele cortava o que estava sobrando... se a mesma tivesse um tamanho menor, ele simplesmente a esticava até caber.

O verbo adestrar, nos remete a Pavlov (reflexo condicionado) conhecido por muitos como estímulo resposta, ou seja, bastaria um estimulo certo para se obter uma resposta esperada. Ambas situações convergem para a tradução livre da música Another Brick In The Wall de Pink Floyd: “nós não precisamos de educação, nós não precisamos de controle de pensamento” e na verdade, a educação pública tem tornado os alunos uma massa amorfa aumentando a estatística manipulada, beneficiando com isso, uma minoria elitizada.

Pode-se perceber com isso, que a leitura não se faz tão importante nos verbos formar e adestrar.

Faz-se mister percebermos que a prática da leitura é relevante em nosso dia a dia, a partir do momento em que compreendemos o mundo à nossa volta. Freire (1982) ressalta que a leitura do mundo precede a leitura da palavra, e esta implica em uma continuidade da leitura do mundo, dito isto, podemos perceber que a função da escola é educar, transformar o cidadão, dar subsídios para que este possa ser protagonista, cidadão crítico e ativo, e uma maneira de se conseguir tal intento, será através da leitura.

O ato de ler, não é apenas uma decodificação de símbolos, mas a sua interpretação e compreensão, e quiçá, uma intervenção no contexto do leitor, desde que seja uma leitura que implique a isso.

A leitura tem se tornado um fator secundário nas escolas e isso tem refletido negativamente em avaliações como Enem. De acordo com IG[1], houve um crescimento de 168% de redações inválidas entre 2009 e 2011. Obviamente isso se deve a alguns fatores e um deles é a falta de leitura, pois assim, o aluno não consegue explicitar com palavras inteligíveis as suas ideias e tampouco ordená-las, dando força a máxima que diz “quem não lê, não escreve”.

Sabendo ser a leitura uma atividade básica para a formação cultural do educando, o Programa Internacional de Avaliação de Alunos - PISA, (2009) demonstra o quanto estamos necessitados dela, pois não é a toa que a educação pública ocupa uma amarga posição de 53º no ranking de leitura em uma lista de 65 países.

Podemos pensar que esta estatística está desatualizada, pois a mesma refere-se a 2009, então para ficarmos mais pasmado ainda, se analisarmos o ano de 2011, veremos que tivemos uma queda de dois pontos, ou seja, estamos amargando a 55º neste ranking.

De acordo com PISA[2] quase metade dos alunos não alcança o nível 2 de desempenho que tem como teto o nível 6. O nível 2 significa que as pessoas não são capazes de deduzir informações do texto e de estabelecer relações entre diferentes parte do texto, além de não conseguirem perceber nuances da linguagem.

Estamos em 88 lugar no ranking de educação da Unesco. Perdemos inclusive para Venezuela, Peru, Colômbia dentre outros vizinhos americanos, mas como mudarmos essa realidade se 60% dos brasileiros nunca abrem um livro? É sabido que os brasileiros lêem apenas 1,3 obra literária ao ano, quase metade de Colômbia que lê 2,4, e essa realidade refletiu nas estatísticas do Enem, Unesco e outras que surgirão não como especulação, mas como dura e fria realidade.

A educação de qualidade deverá perpassar pela leitura, fomentando seus discentes a cidadania, protagonismo, criticidade, humanismo e a socialização, assegurando a estes, o afastamento de situações que os levem a uma alienação e manipulação, impedindo de se transformarem em pessoas politizadas e proativas, mudando assim as estatísticas e posicionamento do Brasil entre os 10 primeiros na educação.

            Para isso ocorrer, não podemos ficar apenas na esperança, que é um dos grandes males da humanidade. Nós educadores precisamos ser proativos, agindo e investindo na mudança deste sistema corrupto e corruptor para dessa forma, podermos colaborar com o desenvolvimento das potencialidades físicas, cognitivas e afetivas de nossos educandos.

            Necessitamos auxiliar em nossos educandos a paixão pela leitura porque uma criança que lê será um adulto que pensa.

Referências

FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler (em três artigos que se completam).  São Paulo, Autores Associados/Cortez, 1982.

TAVARES, Wolmer Ricardo. Caixa de Pandora por uma Educação Ativa. São Paulo: Ícone, 2010.

______________________. Do sujeito Néscio ao sujeito cognoscente. Profissão Mestre e Gestão Educacional - Jornal Virtual - Ano 9, No 208

______________________. Socialização Revista Gestão Universitária e Clipping Educacional - Edição 283

______________________.. O Devir na Educação. Revista Gestão Universitária e Clipping Educacional - Ano 9, Edição 284

______________________. A Deseducação no Brasil   Profissão Mestre e Gestão Educacional - Jornal Virtual - Ano 9, No 214

 


[1]    Informações extraídas de Clipping Educacional, 24 out 2012.

[2]  Para mais informações vide http://educacao.uol.com.br/noticias/2013/12/03/pisa-desempenho-do-brasil-piora-em-leitura-e-empaca-em-ciencias.htm

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