Laudato Si
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Em tempos remotos, a preocupação com a natureza não era peculiar ao homem. Esta preocupação passa a ter mais entonação bem depois da Revolução Industrial e com o sistema capitalista, que objetivando apenas o lucro, extrapola a dignidade do ser humano, deixando rastro de destruição e descaso.
A Carta da Terra que se trata de uma declaração de princípios fundamentais para a construção de uma sociedade global justa, sustentável e pacífico no século XXI, nos esclarece que “os padrões dominantes de produção e consumo estão causando devastação ambiental, redução dos recursos e uma massiva extinção de espécies”.
Alguns movimentos começaram a partir da década de 70, como a Conferência de Estocolmo, promovida pela ONU e tendo uma dimensão ambiental de cunho político internacional. Em 1992 a Rio-92 ou Eco-92 a qual foi sediada pelo Brasil focando uma preocupação mais global e fazendo surgir ideias de desenvolvimento sustentável.
Corroborando com as falas acima, em 24 de maio de 2015, o Papa Francisco redige uma Carta Encíclica Laudato Si[1] sobre o cuidado com a casa comum.
Interessante perceber que não precisa ser um ativista da natureza para perceber da gravidade que é o descaso das autoridades que ocupam funções de responsabilidade no âmbito econômico, político e social.
O filósofo político Edmund Burke afirmava que “para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada”, e assim tem sido. O descaso tem dado cada vez mais força ao mal, as atitudes inconseqüentes, imediatistas e insanas.
A natureza, com seu rico tesouro em fauna, flora e recursos hidrominerais não é motivo para barrar o “progresso” a custo de uma mentalidade extrativista e cultura do descarte, cultura esta que descarta até mesmo a vida humana que fica soterrada em toneladas de lama.
Afinal de contas, o lucro exorbitante compensa uma indenização e/ou multa miserável, pois tudo já está equacionado.
Muitos educadores trabalham em suas escolas o conceito de ecologia tendo como foco a Agenda 21 que se baseia em um plano de ação de cunho internacional para ser adotado em escala global, nacional e regional, tendo suporte de instituições e sociedade civil, atuando em todas as áreas em que a ação humana impacta o meio ambiente.
Algumas escolas trabalham com reciclados e/ou fomentam novas idéias que minimizem o impacto ambiental, visto que a cultura do extrativismo e do descarte se faz imperar na sociedade.
Vivemos em uma sociedade imediatista, com escolhas tão equivocadas que os incêndios atuais ocorrido na Região Amazônica tem tido impactos sem precedentes na economia e na política, e com perdas irreparáveis ao meio ambiente. Pode-se afirmar que tais incêndios são criminosos e visam apenas o lucro devido ao aumento das terras e a redução da vegetação nativa.
Triste perceber que a mentalidade extrativista extrapola o ético, o moral e até mesmo a vida, a ponto de grupos de ruralistas articularem o “Dia do Fogo” em algumas regiões.
De acordo com a revista Globo Rural, tais ruralistas querem menos fiscalizações do Ibama e atitude do governo tem encorajado estas ações nefastas com o decreto nº 9.760.
De acordo com o decreto, a multa poderá ser cancelada ou ter descontos que poderão chegar a 60%. “Com o novo decreto, o infrator ambiental ganhou mais uma facilidade: ele pode optar pela conciliação”. A conciliação poderá ocorrer até por meio eletrônico.
Interessante perceber que “atualmente, apenas 5% dos cerca de R$ 3 bilhões em multas que o Ibama aplica anualmente são de fato pagas” e este decreto tenderá a reduzir ainda mais este percentual e aumentar mais os que os ruralistas chamaram de “Dia do Fogo”.
As escolas educam seus jovens para a preocupação com o meio-ambiente e a improbidade política deseduca. Mais uma vez nossos jovens encontram-se em um paradoxo sem se quer, poderem ter o discernimento necessário para emitir uma opinião.
Já que é fácil fazer com que os culpados paguem por este mal, só falta mesmo é vontade política