23/04/2021

Interesse espontâneo ou forçado?

“Muitos professores  reclamam das dificuldades  em se fazer uma aula online  atraente, mas será que essa  aula era realmente interessante  quando era presencial? Será  que essa questão ficou mais  evidente agora, quando os  pais estão acompanhando  seus filhos de forma mais  próxima?” (Jaqueline Weigel, CEO da  W Futurismo)

Seguindo este pensamento, entrei em um debate de lógica e evidência, com algumas pessoas, de diversas áreas do conhecimento, a fim de validar essa ideia. O resultado foi um questionamento sobre a existência dessa “atração”, que tentamos colocar no conteúdo online. Quando o ensino era presencial, o interesse que os professores instigavam com suas personalizadas metodologias para os alunos, era espontâneo ou forçado? A minha percepção embasada pelos meus conhecimentos de bioinformática e startups é... em geral, 90% dos casos forçado.

O que força o aluno? A instituição, o ambiente, o professor e a cultura imposta na sala de aula.

Você já se perguntou se aquele aluno que o professor escolhe aleatoriamente para responder quanto é 2 + 2, ou aquele que se voluntaria, se ele se voluntariaria em outro ambiente que não o forçasse? Ou pense em trabalho em grupo, se os mesmos grupos de trabalhos, seriam formados se não estivessem dentro da instituição de ensino?

Vamos pensar um pouco mais na pratica e pegar um professor de química, que se sobressai em metodologia ágil nas aulas... explicando no quadro a teoria da densidade molecular, fazendo diversas comparações com o cotidiano dos alunos e interagindo o suficiente para a turma ficar ligada na aula, nos últimos 10 minutos ele permite que os alunos vão ao laboratório e fiquem livres para explorar a pratica do que lhe foi passado, com a tutoria dele, todos misturam água e óleo e observam. Agora vem a pergunta. Essa interação dos alunos seria a mesma sem a presença do professor no laboratório ou com os alunos tendo a possibilidade de ir embora dentro desse tempo de prática? Não sabe?

Então vamos para outra comparação... O professor agora gravando um vídeo, sobre o mesmo conteúdo e usando a mesma metodologia, só que o professor sabe que os alunos não vão responder suas perguntas em tempo real, logo ele deixa, na maioria, para os minutos finais da explicação e depois dá os 10 minutos para os alunos testarem isso na cozinha de suas casas. Quantos alunos assistirão o vídeo até o final? Quantos responderão essas perguntas não obrigatórias? Quantos farão os experimentos... pera aí... sobre o experimento, foi pedido o acompanhamento dos pais? Se sim, a maioria fez, mas e o que os pais vão pensar quando o aluno pedir para eles os ajudarem em um experimento de densidade molecular? “Caramba, deixa eu pesquisar aqui no google... que saco, tá atrapalhando meu trabalho” ou “filho, não temos nenhum laboratório aqui, responde ai no app da escola que não dá pra fazer” Nesse cenário, percebemos que o domínio do professor deve ir muito além da sala e do aluno, e sofre inúmeras interferências. Eu posso escrever várias outras metodologias para instigar ainda mais a hipótese inicial, mas para não ficar tão maçante, vamos entender que isso é um problema e pular para a solução.

Vou jogar para minha área de atuação: Startup. Vocês conhecem a técnica de compra de interesse chamada Pitch? Nada mais é que uma conversa de 30 segundos, em que seu objetivo é vender uma ideia ou em outras palavras, “comprar o tempo” e interesse daquela pessoa. Existem muitas variações de pitchs e complementos, mas a fórmula é a mesma: fazer o interlocutor ficar preso ao conteúdo exposto... fazê-lo não piscar de tão interessado ou piscar consecutivamente por conseguir entrar na ideia da outra pessoa. Em resumo a arte do pitch é fazer o pensamento, técnico, logico e complexo ser “atraente” ao ponto da pessoa pagar, para vê-lo em prática.

Vou deixar a conclusão em aberto para não entrar em áreas que não sou proficiente, mas é para dar essas respostas que existem coordenação e direção.

Para encerrar convido-os a pensar sobre a formação do professor e para isto primeiro precisamos dividir “habilidade” em dois pontos que chamaremos de Habilidade e Perícia. Habilidade – é a capacidade humana de executar qualquer coisa / Perícia – é o aprimoramento da habilidade para determinada coisa. Quando saímos da faculdade, formados em qualquer que seja a área, saímos com poucas perícias, mas principalmente hábeis a aprender e criar novas metodologias e perícias para executar a função que nos forem passadas, independente do recurso que nos forem disponibilizados ou existentes, pois esses recursos existem apenas para facilitar a jornada, quem torna ela possível somos nós. Assim, uma aula mal aplicada seja presencial ou remota não é complemento de um péssimo profissional, mas sim um sinal de que ele precisa estar em constante aprimoramento. Porém é sinal que a coordenação falhou em acompanhar e diagnosticar o suporte necessário a este profissional. E que a direção está falhando no processo de direcionar habilidades para um resultado competente... Em fazer acontecer e perceber a necessidade de todos complementarem seus conteúdos interagindo com os colegas que estão em sua volta. Um profissional é definido exclusivamente por sua dedicação, se ela está em falta ou sendo usado no lugar errado, isso é passivo de julgamento, o resto é aprendizado.

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