17/05/2017

Inteligência Cordial para continuar a existir!

Nilton Bruno Tomelin

Em sua obra A terra na palma da mão: uma nova visão do planeta e da humanidade, o teólogo Leonardo Boff, convida o leitor a uma reflexão fundamental acerca do ponto em que chegamos, após milênios de exploração, séculos de industrialização é décadas dedicadas a disseminação dos ideiais consumistas, em que todos estão sendo forçados a figurar como parte do “mercado”.

O autor chama a atenção para o estado de brutalidade e crueldade em que se situam as relações humanas, orientadas por instinto de sobrevivência às avessas, em que a sobrevivência de um pode custar a extinção de muitos outros (humanos, inclusive). O mesmo cenário é habitado por conhecimentos nunca vistos e tecnologias até pouco tempo inimagináveis, fruto de uma inteligência intelectual em crescimento vertiginoso. Como explicar essa condição de extinção da vida, se hoje sabe-se e faz-se como nunca?

É neste contexto que surge a chamada inteligência cordial. Para  Boff, é ela que pondera para o cuidado, para o zelo e para uso moderado daquilo que de fato é necessário e imprescindível para que este seja garantido à todos. É cordial por que acima da razão, mentora da inteligência intelectual, está o coração, fonte inesgotável da emoção, do afeto, da solidariedade, elementos que não podem ser determinados por métodos, quantificados por indicadores.

Foi a inteligência cordial que permitiu à humanidade existir de forma seguramente mais civilizada durante todo o período anterior à industrialização e tecnologização das relações humanas. Foi e é a cordialidade o princípio fundante das relações interpessoais entre os chamados povos originais, sempre guiados por autoridades legitimamente constituídas por conveniências éticas, jamais econômicas ou de poder material.

A submissão da inteligência intelectual à inteligência cordial é um caminho razoável para que se possa deter o avanço do crescente processo de deterioração da civilização moderna. Se antes havia uma preocupação com a possiblidade de reverte tal processo, hoje é possível dizer que podemos nos dar por satisfeitos se conseguirmos reduzir sua velocidade. Povos e nações, especialmente os que estão à margem da riqueza, são governados por autoridades legitimados economicamente, que lhe persuadem, prometendo-lhes crescimento e fartura econômica e não bem-estar e qualidade de vida à todos e à todas.

A inteligência cordial não apela à complexidade conceitual de seus princípios, mas ao comprometimento ético em favor daquilo que é direito de todos. É uma opção por utilizar saberes, valores e desejos em benefício de todos, com atenção especial aos mais fragilizados. A inteligência cordial, não dispensa a intelectual, ao contrário, serve-se dela para que os conhecimentos das ciências sejam postos à serviço dos bons propósitos essenciais à uma vida digna para todos os seres humanos.

Entretanto, um sujeito dotado de inteligência cordial, não orienta suas atitudes pelo tanto que sabe, mas pelo tanto que sente. Pessoas que estabelecem suas relações com o mundo a partir dela, certamente não praticam e tampouco toleram práticas que ofendam a dignidade das pessoas, a integridade da vida e o equilíbrio do planeta. Dotam-se de justiça, coerência e respeito e põe-se à serviço para que a existência continue sendo possível!

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