INDISCIPLINA ESCOLAR - AS VIAS DE FATO
Mariangela Pereira de Almeida da Costa
Pedagoga. Especialista em Letras Libras. Primavera do Leste, MT.
Teresinha Salete Nervis
Pedagoga. Especialista em Psicopedagogia Educacional e Clínica. Especialista em Educação Infantil e Series Iniciais. Primavera do Leste, MT.
Aldineia Albano de Oliveira
Licenciatura Plena em Pedagogia. Especialista em Educação Infantil. Especialista em Psicopedagogia. Primavera do Leste, MT.
Cleia Felismina de Oliveira
Licenciatura Plena em Pedagogia. Especialista Interdisciplinaridade na educação. Especialista em Psicopedagogia e Educação Infantil. Primavera do Leste, MT.
Jeovana da Silva Oliveira
Licenciatura Plena em Pedagogia. Primavera do Leste, MT.
Acerca da (in)disciplina escolar, ainda são precisas intensas reflexões por parte de e pesquisadores dos diferentes níveis de ensino, desde a Educação Básica até o Ensino Superior. Segundo estudos de Aquino (1996), Garcia (2008) e Torres (2008), tal fenômeno, além de não limitar-se a determinados níveis de escolaridade, também não pode se restringe a países ou culturas específicas.
A ausência de disciplina, segundo Taille (1996), tem se tornado uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos educadores a fim de desenvolver seu trabalho pedagógico. De acordo com Parrat-Dayan (2008, p.21), os conflitos dentro das salas de aula caracterizam-se pelo descumprimento de regras e normas, que permeiam desde a responsabilidade familiar, ao comportamento dentro das instituições de ensino.
Situações como, falar durante as aulas o tempo todo, não levar material necessário, ficar em pé, interromper o professor, gritar, andar pela sala, jogar papeis nos colegas e no professor, dentre outras atitudes que impedem o efetivo trabalho pedagógico de qualidade. Diante de tais constatações e evidências, percebe-se a necessidade de um maior engajamento por parte da escola em buscar de intervir e resolver de forma ética e moral os conflitos apresentados dentro do ambiente educacional.
Acredita-se que educar não é apenas instruir, mas oferecer uma experiência significativa que prepare para a vida, como cita Aquino (1998). Só quando as atitudes cidadãs passarem a ser uma constante no espaço escolar e principalmente, em sala de aula, a escola estará no caminho de exercer seu papel. A função do educador e dos profissionais da educação é mais do que atribuir conceitos positivos ou negativos quanto à sua aprendizagem. É necessário formar indivíduos, que logo após o período de aulas daquele dia, dos portões para fora, continuam sendo cidadãos, e é justamente lá que suas ações irão se materializar naquilo que ele abstraiu de conhecimento, obediência, respeito e maturidade (ARAÚJO, 2007; BENEVIDES, 1998).
Profissionais da educação e a sociedade como um todo, ainda carecem de esclarecimento das funções escolares. Seu papel não é só propiciar o conhecimento intelectual que faz parte de sua matriz curricular. Suas funções transcendem; cabe-lhes preparar jovens para o futuro. E se o futuro que almejamos é diferente deste que vivemos; nossas ações e posicionamentos devem ser diferentes destes já realizados até aqui. Se a pretensão é transformar o futuro para uma sociedade mais justa e igualitária, urge preparar os educandos para tal, para que não seja apenas um cidadão de papel. Isso não é utópico, nem irreal.
Provavelmente a indisciplina seja uma realidade vivida por todos os profissionais de educação na atualidade. Entretanto, suas materializações podem se apresentar em diferentes formas, diferenciados em função dos valores culturais, morais, familiares e de convivência social. Segundo Estrela (1992), de modo geral, a indisciplina apresenta-se como um importante obstáculo no processo ensino-aprendizagem, prejudicando o exercício da função docente e o aproveitamento dos conhecimentos ministrados por parte dos alunos envolvidos. Por se tratar de uma realidade comum às angústias dos docentes, é necessário entender o que está acontecendo com a disciplina nas escolas, para que se possam propor soluções (VASCONCELLOS, 1989).
Segundo Oliveira (2005), disciplina é entendida, pelo senso comum, como a manutenção da ordem e obediência às normas; a primeira significa a sua negação, ou seja, a quebra da ordem. Segundo Saviani (2005), até mesmo a forma com que eram organizadas as carteiras em sala de aula, tinha a ver com esse autoritarismo onde o poder é centralizado no professor. No entanto, é preciso abrir horizontes para que se compreenda a organização didática em sala de aula, não apenas como forma de autoritarismo, materializada na organização de carteiras. Ou apenas, o poder pelo poder, transfigurado na figura do docente.
Segundo uma professora, “[...] tem que ter alguma organização, não sei se exatamente fila”. Segundo um professor, a formação de filas é uma forma de predispor certa ordem e organização.
“[...] eu acho que é uma questão de aprendizado talvez de uma ordem, talvez de uma disciplina [...] eu acho que a fila impõe uma ordem pré-estabelecida [...] uma coisa até inconsciente, entretanto, em alguns momentos você até se utiliza dessa organização [...] ela tem seu ponto positivo, quando você consegue pelo menos dar uma organizada. Como eu vou distribuir alguma coisa se eu não tiver fila? Então, ela tem sua utilidade [...]”.
No atual contexto, a maioria das escolas enfrentam problemas com a indisciplina, que com o passar dos anos sofreram mudanças histórico e sócio-culturais, refletindo severamente nos processos pedagógicos. Para Parrat-Dayan (2008), a indisciplina é um problema sério; não tem forma e segue diferentes caminhos: falar, jogar papeizinhos, não estudar, não escutar etc. Segundo Aquino (1999, p.16), “o conceito de indisciplina, como toda criação cultural, não é estático, uniforme, nem tampouco universal. Ele se relaciona com o conjunto de valores e expectativas que variam ao longo da história, entre as diferentes culturas e numa mesma sociedade”.
É comum ainda no atual contexto alguns educadores trazerem para a realidade regras utilizadas há muito tempo oriundas de pedagogias tradicionais lugar onde o professor é visto como o detentor do saber e aos alunos cabe somente ouvir e fazer o que está sendo transmitido e muitas dessas regras foram continuamente trazidas para a sala de aula e permanecem até hoje em nossas escolas.
Nos tempos atuais, família e escola parecem perder o poder e o espaço que tiveram outrora no sentido da formação do indivíduo. Cabe à sociedade como um todo, não só os setores ligados à educação, através de pequenas ações no cotidiano da escola e da família, que compreenda a importância dos objetivos traçados pela escola, e torne possível ao aluno a aquisição de conhecimentos de forma utilitária ao seu cotidiano.
Partindo do princípio de que nenhum indivíduo nasce agressivo, este torna-se de acordo com as interações sociais que estabelece, pois o limite e disciplina transita no caminho do afeto e da liberdade, refletindo nos locais onde ele se insere.
De acordo com Aquino (1998, p. 8):
A indisciplina parece ser uma resposta dona do abandono à habilidade das funções docentes em sala de aula, porque é só a partir do seu papel evidenciado corretamente na ação em sala de aula que os alunos podem ter clareza quanto ao seu próprio papel, complementar ao do professor. (AQUINO, 1998, p. 8).
Em termos operativos e sociais, o comportamento de qualquer cidadão deve estar baseado pelo menos em cinco princípios: gratidão, disciplina, religiosidade, cidadania e ética. Estes valores, segundo Monteiro (2007), devem estar presentes nos processos educativos familiares e escolares.
O desenvolvimento da indisciplina corresponde ao surgimento de um controle interno, uma obediência às regras que não dependa mais exclusivamente do controle dos pais ou de outras pessoas. Isso implica em assimilação racional das regras, o que faz surgir a reciprocidade, o respeito mútuo que vem a ser a capacidade de respeitar o outro e por ele ser respeitado.