Importância de Campanhas Universitárias Para Melhoria Na Formação Acadêmica do Profissional de Saúde

AUTORES: MARIANA BIANCARDI, CLAUDIO MACIEL, ANA LUIZA BIANCARDI Resumo Objetivo: Melhoria na formação de profissionais da área da saúde através da inserção de um projeto de campanha de prevenção primária de doenças comunitárias em grades acadêmicas universitárias. Metodologia: Estudo bibliográfico sobre ferramentas práticas universitárias como monitorias, projetos de iniciação científica, estágios extracurriculares e projetos de extensão universitária, com o propósito de definir qual estratégia seria capaz de conjugar aprendizado acadêmico e benefícios diretos à população como elementos simbióticos de funcionamento. Conclusão: A introdução de um Projeto de Extensão Universitária dedicado a campanhas de prevenção de doenças como exemplo a Toxoplasmose pode ser uma ferramenta útil, não apenas a nível comunitário, mas principalmente acadêmico, pois levaria à formação de profissionais mais precocemente preparados e conscientes a respeito da relevância da profilaxia, ao invés do foco no tratamento de mazelas físicas já consolidadas. Descritores: profilaxia, toxoplasmose, campanhas de prevenção, atenção primária à saúde, uveíte, projeto de extensão universitária.   Introdução Campanhas de conscientização e saúde vêm acontecendo de forma intensa nos últimos anos(1). Diante do novo paradigma de saúde, movimentos coletivos em prol da conscientização e da preservação são indispensáveis(2). O panorama da Medicina atualmente apresenta uma inversão no fluxo de encaminhamento de pacientes, sendo grande a procura por centros terciários para tratamento de doenças e manejo de seqüelas, quando na verdade os setores primários da saúde estão em colapso, por diversas razões, entre elas a crescente diminuição do engajamento do próprio profissional em relação à atuação na profilaxia(3). O conceito básico de saúde, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) diz respeito "ao perfeito bem estar físico, mental e social do indivíduo e não apenas à ausência de doença, sendo que esta se caracteriza como um conjunto de sinais e sintomas específicos que afetam o indivíduo, alterando o seu estado normal de saúde"(4). Em se tratando de prevenção primária, principalmente quando existe possibilidade de seqüelas permanentes e de conseqüências não somente fisiológicas, mas psicológicas e sociais, as campanhas informativas devem ser iniciadas o mais precocemente possível(2). Um excelente exemplo é o “movimento colorido de conscientização e saúde”(1,2,5), que nasceu com o intuito de alertar a população sobre o perigo de algumas patologias e incentivar a preservação, bem como a busca do diagnóstico precoce. Não há nenhum calendário estipulado para a doença a ser divulgada ou para a cor que a representa. O que ocorre é que equipes médicas se reúnem e escolhem a doença e a cor para determinado mês. O que torna tal campanha grandiosa é sua divulgação. Quanto maior a sua propagação, melhores serão as possibilidades de êxito em virtude do impacto que causa de forma coletiva. A mídia, assim como redes sociais, é um exemplo de veículo colaborador. Dessa forma, clínicas, hospitais, empresas, indústrias farmacêuticas, instituições públicas e organizações não governamentais e privadas abraçam causas de interesse comunitário, afinal existe a conseqüente chamada de atenção para as instituições participantes (o que torna uma boa gestão aquela que insere sua instituição em tais iniciativas(2,6,7). A mobilização coletiva traz grandes resultados, pois muitas pessoas são ajudadas em diferentes situações, como a disseminação de informação e conhecimento, a realização de exames, o estímulo à mudança de hábitos, (8,9)entre outros. E em um cenário em que profissionais da área da saúde unem forças para divulgação dentro da própria classe de informação clara e consistente a respeito medidas básicas e transformadoras de profilaxia de doenças, a inserção da comunidade acadêmica no processo torna ainda mais precoce tais ações. Como exemplo de comunhão de idéias para divulgação de medidas preventivas pode-se citar a campanha "Todos contra a Toxoplasmose" que engloba o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), a Sociedade Brasileira de Uveíte (SBU), a Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Rio de Janeiro (SGORJ) e a Sociedade de Pediatria do Rio de Janeiro (SOPERJ). O desenvolvimento de um projeto de campanha com envolvimento universitário, além de inserir estudantes de diversas áreas em uma temática tão relevante à sociedade, se faz imprescindível como instrumento de manejo de informações, de inserção ativa da comunidade e sua conscientização, uma vez que ajuda a pessoa a cuidar da saúde de forma preventiva e não apenas a buscar a cura para o adoecimento já diagnosticado(5,6,8,9). Em vista dos fatos apresentados, o objetivo do presente estudo foi avaliar a melhor estratégia em nível prático em âmbito universitário para a introdução do conceito de prevenção primária de doenças comunitárias. Sendo assim, foi escolhida a Toxoplasmose(10) como exemplo de doença com informações atualmente pouco divulgadas e compreendidas, e cujas seqüelas são muitas vezes irreversíveis e devastadoras, como a cegueira por uveíte(11,12). Levando em consideração que prevenção significa um "conjunto de medidas ou preparação antecipada de (algo) que visa prevenir (um mal)", uma iniciativa de tamanha relevância se beneficiaria com a adesão de acadêmicos universitários, afinal, quanto mais precocemente é ensinado ao futuro profissional a valorizar e falar abertamente sobre prevenção, melhor o resultado em longo prazo(8). Em um projeto de extensão bem sucedido, tanto a academia quanto a sociedade aprendem, pois a interação incrementa o desenvolvimento de ambas, estabelecendo um ciclo virtuoso(13,14). A extensão é dever constitucional da Universidade e requer o mesmo grau de profissionalismo dedicado ao ensino e à pesquisa. Não se deve perder de vista, que ensino, pesquisa e extensão devem andar juntos, sendo comum que projetos de pesquisa e extensão abordem a mesma temática(15). Metodologia Estudo metodológico dedutivo, de tipologia de pesquisa teórica, explicativa e bibliográfica. Resultado A partir de discussões teóricas sobre comunicação comunitária(16), e de acordo com pesquisas bibliográficas previstas pela metodologia observou-se o impacto de campanhas universitárias de prevenção primária sobre o panorama de saúde pública. Na presente pesquisa, foram analisados textos cujas temáticas abordadas incluíam monitorias acadêmicas, iniciações científicas, projetos de extensão universitária e artigos diversos abordando assuntos, tais como práticas de conscientização sobre doenças, interação universitária e ensino fundamental, interdisciplinaridade em pesquisa(17), entre outros. Tendo em vista o fato de um dos maiores benefícios da iniciação científica ou seja, da pesquisa desenvolvida no meio universitário, consistir exatamente em poder voltar-se para as reais necessidades da sociedade brasileira como um todo, sua restrição ao ambiente de cunho analítico e pedagógico torna-se um obstáculo à sua efetiva abrangência a nível comunitário visando ao bem estar de todos e à melhoria da qualidade de vida(16). As atividades de pesquisa nos cursos de graduação constituem a melhor forma de introduzir os estudantes à futura prática científica, pois além de complementar sua formação profissional, os projetos de pesquisa submetem os mesmos à disciplina da organização, elaboração de metas, convivência com profissionais de diversas áreas, desenvolvimento pessoal e capacidade de contornar obstáculos e resolver problemas, entre outros(9,18–21). Entretanto, apesar da sumária importância do relacionamento do aluno com o professor, essa troca é a única aprofundada, em detrimento do contato de forma geral com a população, além de não haver levantamentos que forneçam dados sobre o alcance de tais projetos de Iniciação Científica em uma grande amostra de cursos de Medicina(19,20,22). Quando se fala em Programas de Monitoria Acadêmica(23) o enfoque é estimular no aluno o interesse pela docência, oferecendo-lhe oportunidade para aprofundar conhecimento nas atividades de ensino e de aprendizagem. Considerando a importância do compartilhamento de conhecimento, uma formação acadêmica voltada à difusão do saber se torna ferramenta valorosa em qualquer setor de uma universidade(23). Um trabalho pedagógico cuja configuração é a orientação do professor assistido pelo monitor, ou seja, pelo acadêmico, auxilia no processo de ensino aprendizagem. Contextualizando o papel das monitorias no contexto do presente estudo, fica claro o seu imperativo papel na propagação da relevância da profilaxia de doenças, ensinando os alunos e preparando os monitores a se tornarem profissionais atentos à importância da prevenção primária e não apenas ao diagnóstico e tratamento de doenças. Apesar de monitoria acadêmica ser uma ferramenta de auxílio, e contribuir tanto para o aprendizado e crescimento profissional e pessoal do discente quanto do docente, as diversas tarefas atribuídas ao aluno não incluem a denominada atuação de campo, ou seja, aprendizado associado ao contato direto com a comunidade(23). Em contrapartida, os projetos de extensão universitária somam o caráter acadêmico ao manejo prático, ou seja, permite ao aluno interação com professores, desenvolvimento de motivação, comunicação, aprendizado, busca ativa e aprofundamento em relação à temática proposta, mas também permite uma relação direta com a população a ser beneficiada com os estudos e resultados obtidos(24). Dado o exposto foi criado o Projeto de Extensão Universitária, chamado "Seleção de estudantes para atuação projeto de extensão e assessoria a movimentos de prevenção à Toxoplasmose". Discussão A capacidade influenciadora de uma Instituição Universitária assim como seu papel na pesquisa e inovação é inquestionável e de escopo inestimável(18,25). A gestão de qualquer instituição precisa de idéias para aumentar sua visibilidade e com isso angariar investimentos, reconhecimento e estímulo interno entre seus participantes(9). Dentro desse conceito, para uma Universidade Federal, o investimento em campanhas de saúde pode trazer um retorno extremamente positivo, afinal envolve setores diversos, como o acadêmico, o de pesquisa e o envolvimento da comunidade(8,9,26). Em se tratando de prevenção primária de doenças, principalmente quando existe possibilidade de seqüelas permanentes, não somente fisiológicas, mas psicológicas e sociais, as iniciativas de campanhas informativas devem ser iniciadas o mais precocemente possível. Quando a temática envolve doenças que quando não diagnosticadas e tratadas são devastadoras, a prevenção primária se torna a força motriz de resolução. Há casos relatados de surgimento de seqüelas de Toxoplasmose, não diagnosticada previamente, ocorrendo apenas na adolescência ou na idade adulta, como exemplo cegueira precoce em adultos jovens(12). Extensão é a interação da universidade com a sociedade, onde a primeira transmite conhecimentos acadêmico-científicos e a segunda transmite experiências vivenciais(15,24,27,28). Dentro desse contexto, projetos de extensão que buscam solucionar problemas existentes e de interesse da sociedade, ampliam a relação desta com a Universidade, pois envolvem ações de conscientização, capacitação, difusão de informação, tecnologia e cultura, consultorias, emissão de laudos, entre outras(13). No entanto, um projeto de extensão a ser submetido à PROEC (Pró Reitoria de Extensão e Cultura) não deve ser igual a um projeto de pesquisa. Mesmo que haja necessidade de pesquisa científica prévia para um melhor entendimento sobre a realidade a ser trabalhada, é preciso que um projeto de extensão contemple práticas que promovam mudanças identificadas como necessárias no momento em que a pesquisa científica for realizada. Além disso, a dimensão formativa de ambos, a dimensão acadêmica e a pública, devem estar sempre presentes. Cabe ressaltar ainda o avanço entre as características da Extensão Universitária entre primeiro e o segundo Plano Nacional de Educação (PNE – 2014) quando este revela um movimento de emancipação e popularização, representado pela prioridade dada à atuação em “áreas de grande pertinência social”.(29,30) Conclusão A criação de um projeto de extensão universitária para campanha de prevenção primária de doenças comunitárias consiste em ferramenta valiosa não apenas para aprofundamento acadêmico na temática de prevenção primária de doenças, como também para comunhão entre a Instituição e a comunidade, afinal a extensão é um espaço diferenciado que conecta a universidade aos demais setores da sociedade, conferindo à sua formação mais dinamismo e oportunidades de vivências práticas(27,28,31). Tal comunicação pode ocorrer de diversas formas, dentre elas, através de sua co-participação na referida campanha "Todos contra a Toxoplasmose", afinal se considerarmos a importância do impacto socioeconômico e pessoal das seqüelas da infecção não diagnosticada e não tratada sobre pacientes e familiares, fica clara a necessidade de maior atenção à divulgação de informações de fácil entendimento para a população, além de inserir alunos universitários não apenas no âmbito comunitário, mas principalmente condicionando os mesmos a respeito da importância da prevenção primária como ato crucial para profissionais da área de saúde. Reiterando que uma das principais e mais complexas seqüelas da infecção por Toxoplasmose não tratada é a uveíte, que afeta pacientes jovens e economicamente ativos, podendo resultar em baixa visão ou cegueira. Apesar de poucos dados sobre seu impacto sócio econômico, é dedutível supor o prejuízo na renda familiar, e principalmente na qualidade de vida dos indivíduos afetados, assim como sua independência(12,31). Desta forma, a prevenção primária da infecção comunitária se torna vital para o melhor funcionamento do organismo social como o que realmente é: um reflexo do interesse e desvelo do universo acadêmico em relação à sua comunidade, ou seja, o tratamento precoce de uma doença ou de sua seqüela, quando diagnosticadas não se configura solução e muito menos pode ser considerado uma vitória na área de saúde tendo em vista que o sucesso na prevenção primária reproduz o cuidado básico com o bem estar social. Essas considerações tornam-se particularmente relevantes para uma instituição universitária pública que tem o papel de gerar saber e conhecimento que contribuam para provocar transformações na própria sociedade em que está inserida. Tento em vista o exposto, pode-se concluir que a extensão influencia o ensino e a pesquisa de forma concomitante, ou seja, engloba a universidade como um todo e os anseios comunitários, unindo saberes e conhecimentos em uma via de mão dupla entre aprendizado e retorno à sociedade(24,27,28,31). A curricularização da extensão faz parte, de um lado, da indissociabilidade do ensino, da pesquisa e da extensão na universidade, e, de outro, da necessária conexão da universidade com a sociedade, realçando o papel social da universidade, bem como a relevância social do ensino e da pesquisa(14). Sendo assim, o projeto político-pedagógico institucional da Universidade deve explicitar sua teorização sobre ensino, pesquisa, extensão, gestão e suas articulações. Declaração de Interesse Os autores afirmam que não há conflito de interesses. Os autores são responsáveis pelo conteúdo e escrita. Bibliografia 1. 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