Idiotas Úteis ou Realidade Paralela?
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante, Articulista, Colunista, Docente, Consultor de Projetos Educacionais e Gestão do Conhecimento na Educação – www.wolmer.pro.br
Nosso presidente acredita mesmo que as pessoas que se manifestaram neste dia 15 de maio foram idiotas úteis, a famosa massa de manobra tão criticada por Freire, e olha que o atual governo quer justamente expurgar toda ideia freireana, entretanto, faz uso justamente de suas falas e princípios que era de, justamente, uma educação libertadora, fazendo com que os educandos não sejam mais massa de manobra como mencionado pelo próprio governo.
Tal fala é corroborada por Demo em seu livro Saber Pensar, publicado pela Cortez em 2000. O autor é enfático ao esclarecer que saber pensar diverge da cidadania tutelada que visa apenas a massa de manobra, submissos e ignorantes. Assim sendo, precisamos fugir da domesticação tão almejada por este governo.
Nossos estudantes não podem ser submissos e tampouco passivos a estas ações nefastas e néscias oriundas de pessoas inaptas a gerir qualquer coisa relacionada à educação pública e fazendo uso de um ardil discurso.
Este governo tem cultuado cada vez mais a ignorância e fomentado a alienação quando ataca os cursos de humanas como Ciências Sociais, História e Filosofia e até mesmo quando através de seu ministro ouve-se idiotices como “o Brasil tem doutor demais”.
Estes milhões de estudantes que foram as ruas neste dia 15 de maio de 2019 para protestarem contra os desmandos e cortes nos orçamentos de universidades e escolas públicas retratam um misto de inabilidades e imbecilidades vindas deste governo em relação à educação.
A imbecilidade chega a ser mais gritante quando o então ministro Abraham Weintraub ao invés de defender e lutar por uma educação pública de qualidade, ele simplesmente ataca os manifestantes e elogia o ensino privado a ponto de soltar esta pérola “o sonho das pessoas é colocar o filho no sistema privado, não no público”.
O ato de manifestar deve ser visto sob o prisma da cidadania. Demo, citado acima é conciso em ressaltar que toda manifestação faz com que o educando mostre o seu lado crítico, participativo e emancipado rompam com o objeto de manipulaçao que até então era ele mesmo, isso porque a Cidadania emancipada, almejada pela verdadeira educação deve fazer o educando saber o que quer, por que quer e como quer.
Uma educação de qualidade deve extirpar todo e qualquer processo flagrante de domesticação subalterna.
O simples ato de nossos educandos irem às ruas de todo país mostrou que apesar de quererem erradicar as ideias de Freire, os milhões de manifestantes simplesmente deram força as suas ideias, principalmente as ressaltadas no seu livro Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa, publicado pela Paz e Terra em 1996. Nesta obra, Freire ressalta que a verdadeira educação faz o educando ser mais que um ser no mundo, pois ele se torna uma presença no mundo, com o mundo e com os outros, presença essa que intervém e "transforma, que fala do que faz mas também do que sonha, que constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe".
Caber observar que este discurso prepotente que intitula os alunos de idiotas úteis é um discurso que ressalta o desequilíbrio e a falta de tato em trabalhar com problema de tal natureza.
Romão em seu livro Pedagogia Dialógica, publicado pela Cortez em 2002 ressalta a necessidade da educação "criar homens contextualizados em sua própria História, enquanto sujeitos construtores de seu desenvolvimento e de sua libertação".
Freire em seu livro Pedagogia do Oprimido, publicado pela Paz e Terra em 1981 é enfático ao afirmar que a "existência humana não pode ser muda, silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras, com que os homens transformam o mundo. Existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo".
O governo não pode fugir a sua obrigação que é contribuir para a criação de uma sociedade livre, justa e solidária, garantindo o desenvolvimento nacional; erradicando a pobreza e a marginalização além de reduzir as desigualdades sociais e regionais, promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Isso deve ser algo inalienável. Não se trata de uma fala de Paulo Freire ou de qualquer outra pessoa que possa ser taxada de comunista. Esta fala trata-se tão somente do texto do artigo terceiro da Constituição Federal Brasileira.
Tal artigo terceiro será alcançado quando a educação for encarada com seriedade e qualidade, assim sendo, cabe ao governo falar e fazer menos imbecilidades e agir para que se faça valer a obrigação do Estado e não viver em uma realidade paralela.