IDEB uma Realidade as Vezes Descontextualizada
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) das escolas públicas tem pontuado ora tímido crescimento, ora queda livre, mas o que tudo isso representa?
Como ressaltado em meu livro Educação um Ato Político, publicado pela Autografia em 2019, o Ideb tem como objetivo, fomentar a qualidade desta educação em todas as etapas e modalidades, baseada na aprendizagem em português e matemática (Prova Brasil) e/ou no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), bem como o fluxo escolar que é representado pela taxa de aprovação.
É elucidado por Jeduca[1] que o Ideb é calculado a partir do cruzamento da taxa de aprovação com o desempenho escolar dos estudantes, tendo como exemplo uma escola cuja taxa de aprovação seja 0,9 e o desempenho escolar, 6, o Ideb será 5,4, na escala de 0 a 10, ou seja, 0,9 x 6 = 5,4.
Observe que a taxa de aprovação não aumenta o resultado final, já que se esta taxa for de 100%, será 1,0 x 6 = 6, todavia, ela pode fazer com que o resultado final decaia, ciente do poder desta variável, algumas escolas estipulam uma taxa de aprovação de no mínimo 97%, que será 0,97 x 6 = 5,8.
Observe que teve um acréscimo de 0,4 (4 décimos) comparado com o primeiro exemplo, o que mostra um crescimento promissor, mas isso representa um ledo engano e mascaramento, causando a longo prazo um erro crasso, que comprometerá a vida acadêmica dos egressos.
O cerne deste texto não está na manipulação ou não desta taxa de aprovação, mas no estigma que as escolas com baixo Ideb tendem a carregar consigo, já que se trata de uma análise fria realizada por alguns profissionais.
E podemos citar como exemplo uma escola que teve um Ideb abaixo das outras escolas do próprio município e que se encontra no mesmo sistema de ensino.
O que não é compreendido por muitos é que sua nota pode ter sido baixa devido ao número de alunos de inclusão, visto que Rudá[2] é enfático quando esclarece que “escolas que cumprem seu papel em promover a inclusão, e têm de 30 a 40% de estudantes da Educação Especial, têm o Ideb mais baixo. A pesquisa nos mostrou que existem uma série de variáveis necessárias para fazer um estudo profundo do que implica no processo de aprendizagem”.
Outra curiosidade apresentada pelo pesquisador é que escolas com mais de 500 alunos o Ideb começa a cair, isso porque “educação é relação humana”, o que é complementado no meu livro Gestão Afetiva: Sistema Educacional e Propostas Gerenciais, publicado pela WAK em 2020 quando ressalto que educação é gestão afetiva, escuta pedagógica, é atenção, etc.
No livro Educação um Ato Político citado acima, sou enfático quando cito que as avaliações poderão ser melhoradas mediante o fortalecimento das redes públicas de ensino, com valorização e incentivo aos docentes, currículo contextualizado com a realidade dos educandos e relevantes para que os mesmos tenham prazer em aprender e a pesquisar, mas que seja uma pesquisa que submeta o educando ao crivo da crítica, que o remeterá a um protagonismo, pois de acordo com Freire em seu livro Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa publicado em 1996 pela Editora Paz, não há ensino sem pesquisa e nem pesquisa sem ensino, e quando o educando pesquisa, ele constata, intervém e se educa, além de conhecer o que não conhecia.
Dando continuidade as falas acima, para essa melhora se efetivar, deve-se também trabalhar mais e melhor a conscientização dos pais que em muitos casos, são omissos e displicentes quanto a educação de seus filhos, pois a "infrequência" dos alunos nas avaliações compromete todo o trabalho da escola, e a ausência dos pais no processo ensino/aprendizagem, enfraquece o elo que auxilia a escola a oferecer uma educação de qualidade, pois a mesma, necessita desta parceria escola e família, o que é corroborado pelos pesquisadores Almeida, Dalben[3] e Freitas quando pontuam que “cerca de 60 por cento dos resultados do desempenho é explicado pelo aluno e as características da família”
Ciente disso, que não foquemos apenas em resultados frios e sem contextualizarmos cada situação e que nossa educação possa realmente fazer a diferença para nosso educando e que o Ideb seja apenas uma forma de avaliarmos o quão está sofrível o rendimento de nossos alunos e nos permita enxergar as mazelas que o sistema educacional carrega consigo para que assim possamos ser mais incisivos.
[1] https://jeduca.org.br/guia/guia-explica-o-ideb
[2] https://educacaointegral.org.br/reportagens/ideb-os-limites-e-riscos-do-uso-do-indice-para-avaliar-uma-escola/
[3] ALMEIDA, L. C.; DALBEN, A.; FREITAS, L. C. DE .. O Ideb: limites e ilusões de uma política educacional. Educação & Sociedade, v. 34, n. 125, p. 1153–1174, out. 2013.