Holodomor
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
O Brasil só será um país de primeiro mundo quando sua educação pública for de qualidade, e para que isso aconteça, a mesma não poderá ser alienante como tem sido.
Uma educação de qualidade busca desenvolver em seu educando uma criticidade e protagonismo além de fomentar a busca do conhecimento.
Giles em seu livro Filosofia da Educação, publicado pela EPU em 1983 elucida que o processo de educação deve preparar o educando para uma vida essencialmente prática, pois este educando tem que conciliar o pensar e o viver, o falar e o agir, firmando-se assim na prática da liberdade, pois este terá a consciência de poder ser mais e de seus interesses e se dispor a lutar por eles abandonando toda e qualquer estagnação.
A educação de qualidade desenvolve em seu aluno a criticidade da conjuntura e contexto aos quais estão inserido, ou seja, ele tem a obrigação de politizar seu educando para que este possa perceber o seu papel na sociedade e como efetivá-lo.
Hoje o país vive um momento político intervencionista resultando assim em um crescimento alarmante da miséria, atingindo recordes infelizes com aumento de brasileiros desempregados e pessoas em situação de miséria que chegou a marca impressionante de 39,9 milhões de brasileiros[1]e para aumentar o problema social vivenciado por nossa nação que encontra-se indiferente com os menos favorecidos, e de acordo com o CadÚnico (cadastro para programas do governo federal) o país tem 14 milhões de brasileiros de pobreza extrema[2].
Observe que a educação tem o dever moral de relatar estas informações a seus alunos e incentivar meios de pesquisas, projetos que minimizem este mal que assola nosso país.
Estamos caminhando a passos largos para um Holodomor, que segundo Previdelli, em seu artigo intitulado A Grande Fome, publicado pela Aventuras na História em abril de 2021, é um termo cujo idioma é ucraniano e tem significado de morte por inanição, ou seja, morte por fome.
Demo em seu livro Saber Pensar, publicado pela Cortez em 2000 é enfático ao afirmar que fome é realmente grande miséria, entretanto para o autor, a maior miséria ainda é não saber que a fome foi inventada e imposta e esta fome para ser erradicada não basta o cidadão receber comida, ele tem que ter condições de prover o seu próprio sustento, e este sustento será alcançado quando este mesmo cidadão tiver garantido a sua educação de qualidade.
Rodrigues em seu livro Ética e Cidadania, publicado pela Moderna em 1994, relata que a fome é um atestado de miséria absoluta e deve ser visto como um grito, um alarme a sinalizar o desastre social.
A fome é a personalização da exclusão, da terra, da renda, do emprego, do salário, da educação, da economia, da vida e da cidadania.
Para o autor, quando uma pessoa chega ao ponto de não ter o que comer, é porque tudo o mais lhe foi negado.
Esta política intervencionista, implica nas falas do autor em uma espécie de cerceamento moderno ou de exílio, é a própria morte em vida, a morte dos menos favorecidos e é um verdadeiro holocausto brasileiro, efetivando assim uma "seleção natural" de que os miseráveis estão fadados a uma cruel morte.
Por isso é importante na educação pública politizar nossos educandos. A situação não é pior devido ao fato de muitos estarem fazendo a obrigação do Estado. Esta obrigação social está sendo efetivada com pessoas que deixam de lado suas ideologias políticas e veem o próximo como um olhar mais humanizado, compartilhando o pouco que tem para amenizar o sofrimento do outro.
Apesar de nossa educação pública estar sucateada e com profissionais desvalorizados, nós educadores possamos ser a luz a iluminar nossos educandos a trilharem este momento de treva e que jamais percam a esperança em um Brasil mais humanizado e coletivo.
Que a educação pública faça de seu aluno um protagonista cognoscente e que este possa realmente fazer a diferença neste país tão sofrido e indiferente com a sua população.