Historialização: O Recorte da Realidade
Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br
Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806
Há um adágio que afirma que contra fatos não há argumentos, todavia, tem algo que as pessoas usam como contra-argumento que é a historialização, que é um termo que também se refere a forma de como nossa percepção é limitada por nossa cognição, fazendo com que tenhamos uma realidade recortada, isso porque a nossa visão de mundo e história pessoal influencia o tempo todo em o que devemos ou não devemos acreditar, por mais que sejam explicitados a verdade e os fatos.
O nosso processo cognitivo molda o tempo todo a nossa percepção de realidade fazendo com que enxerguemos o mundo não apenas como ele é, mas pelo viés cognitivo, o que é justificado muitas vezes quando as pessoas fazem um recorte da realidade, aceitando o que no mínimo deveria ser inaceitável.
Tivemos e continuamos tendo vários exemplos, principalmente por parte dos parlamentares que têm suas decisões divergentes da vontade do povo que o elegeu.
O certo seria usar a historialização para entender acontecimentos e o seu contexto histórico, como se deu com filósofos e pensadores que na época do iluminismo, eram vistos como ateus, todavia, tais acusações eram comuns porque estes personagens professavam outras crenças ou não, sendo elas deístas ou, em menor grau, céticos, panteístas ou agnósticos.
Na verdade eram pensadores que se opunham ao dogmatismo da religião e buscam defender a tolerância religiosa, isso porque antes do iluminismo, a Igreja tinha o poder moral, espiritual, político, econômico e social, sendo que nestes últimos, ela controlava o que o aluno deveria ou não aprender e intencionalmente moldava a opinião pública suprimindo qualquer pensamento crítico.
A educação não era uma ação transformadora e intencional, ela era uma ação manipuladora, alienadora, docilizadora além de adestrar os poucos que tinham acesso a ela, o que representavam menos de 10% dos Europeus limitando-se ao clero, nobreza e alguns mercadores ricos.
Para Joffily e Ramalho (2024)[1], foi no século XXI que no Brasil houve uma crescente preocupação dos historiadores quanto ao uso manipulador e falseador do passado, justificado por algumas vertentes, sendo uma delas oriunda da preocupação quanto a política conservadora em calar os partidos de esquerda ou seja, governos progressistas representados pelo Partido dos Trabalhadores.
Joffily e Ramalho (2024) esclarecem que uma das estratégias efetivas utilizadas pela política conservadora é o distorcionismo que se encontra balizada pelas práticas manipulatórias perante a reconstrução do passado que apesar de simularem procedimentos metodológicos da historiografia acadêmica, se subtraem completamente do compromisso ético e epistêmico com a produção do conhecimento.
Foucalt (2004)[2] sempre nos alertou quanto a política de silenciamento em que certos grupos sociais eram submetidos, mas hoje, este silenciamento dá lugar ao distorcionismo.
Para Dalfré (2021)[3] a história tem que ser contestada a ponto de desafiar o projeto colonialista e a isso ele denomina de história (in)disciplinada, porque atualmente a história vem seguida de recortes intencionais romantizando barbáries dentre outros crimes, e isso tudo associado à crença no controle das emoções e das ideias, excluindo por completo as demais perspectivas consideradas primitivas e/ou incorretas, levando a limitação cognitiva supracitada porque por mais que se prove o contrário, as pessoas não terão discernimento para entender a manipulação.
Sendo assim, que a educação seja uma ação que leve todo educando a criticidade, tirando-o da inércia da imbecilidade imposta por um sistema conservador que busca única e exclusivamente a manutenção do próprio poder.
[1] JOFFILY, M.; RAMALHO, W.. Distorcionismo: uma nova categoria de análise para o campo de batalha da história no século XXI. Tempo, v. 30, n. 1, p. e300108, 2024.
[2] FOUCAULT, M. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 2004.
[3] DALFRÉ, L. A.. Por uma história (in)disciplinada: historiografia, teoria da história e politização do saber. Revista Brasileira de História, v. 41, n. 86, p. 207–214, jan. 2021.