08/08/2019

Há Tempos

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

            Os anos oitenta representaram o grande boom do rock brasileiro. Tinham-se músicas que tratavam de temas ligados a: problemas sociais, filosóficos, amor dentre outros que eclodiam, pois foi também a década em que sucedeu as diretas já.

            Em 1989 a banda Legião Urbana lançou o seu quarto álbum denominado “As Quatro Estações”, representando o disco mais vendido da banda, com mais de 2,6 milhões de cópias.

Renato Russo que era vocalista da banda,foi considerado um poeta e em suas músicas, ele conseguia ligar conceitos psicológicos, sociológicos, antropológicos e filosófico, e uma música que representa os dias de hoje é “Há Tempos”.

De acordo com o psicólogo e palestrante Rossandro Klinjey, esta música descreve tudo o que a sociedade passa nos dias atuais.

Ela começa com a seguinte fala: “Parece cocaína, mas é só tristeza”. A cocaína é uma droga ilícita e alucinógena que promove um momento de euforia que ao acabar o seu efeito, gera uma tristeza como reboot. Isso é fruto de um imediatismo devido a uma vida efusiva, e assim “muitos temores nascem do cansaço e da solidão”.

Apesar de estarmos em uma sociedade globalizada, a nova geração encontra-se só, mesmo rodeado de amigos virtuais, vendendo uma imagem que está longe de ser a realidade, prevalece o auto abandono, a reclusão e assim “há um descompasso e um desperdício”.

Rossandro Klinjey cita um artigo da área da psicologia lido por ele recentemente em que já afirmava o que foi ressaltado em 1989 por Renato Russo, pois a geração de hoje é herdeira das virtudes que perderam.

Para o psicólogo e palestrante, esta geração atual não é definida pelo que conquistou, mas pelo o que perdeu, pois ela perdeu respeito, a generosidade, a gratidão, e as virtudes.

Infelizmente, hoje “já estamos acostumados a não termos mais nem isso”, e assim os problemas são banalizados e o “resto é imperfeito” a ponto de poder afirmar que “Nem os santos sabem ao certo a medida da maldade”.

O que nos remete a interpretação de outra música, desta vez da banda Zero, da ainda saudosa década de 80.

Em uma de suas músicas denominada “Quimeras”, podemos dizer que estamos “sem caminhos pra seguir, na incerteza de chegar [...]Não consigo mais sonhar/Já me basta o que vivi/Sofrendo ao desejar/Quimeras que não consegui”.

O que reforça mais uma vez as falas de Rossandro Klinjey sobre a música "Há Tempos", quando cita que encontramo-nos em um mundo quimérico, ou seja, não conseguimos ver as coisas, “os sonhos vêm, os sonhos vão”. Não vivemos mais no mundo real. A vida tem que ser vista como ela é. Não precisamos viver em um mundo fantasioso.

E neste mundo fantasioso uns se imaginam como Johnny Bravo, sem ao menos perceberem que se trata de um personagem de desenho animado narcisista, machista, estúpido, que não gosta de trabalhar, está sempre encontrando uma forma de se dar bem, e para complicar ainda mais, este personagem é dotado de pouca inteligência.

Outros se imaginam como verdadeiros leões e fazem uso de uma fala motivacional que diz “Ande com os leões e será obrigado a tornar-se um deles para não ser devorado”, mas as pessoas se esquecem que na sociedade dos leões, o macho que liderar irá matar todos os outros filhotes para que nasça somente sua prole.

Assim acontece com nossa política. Os leões que lá estão, deixam morrer projetos promissores, mas que não foram criados por eles mesmos.

Como diz um provérbio oriental “homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos geram tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”.

A nova geração terá tudo para ter homens fortes já que estamos passando por tempos difíceis, mas esta geração deverá ser acompanhada de uma educação com qualidade, visto que esta mesma educação hoje, encontra-se totalmente deficiente.

Quando ela deveria educar o indivíduo para que este pudesse modificar seu entorno e se tornar um ser pensante, protagônico cognoscente, ela faz dele um sujeito docilizado, domesticado, alienado e submisso.

Realmente, "os sonos vêm e os sonhos vão, e o resto, é imperfeito"

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