21/08/2014

Gestão educacional : como gerir pessoas respeitando as diferenças

INTRODUÇÃO

            Educar e’ uma tarefa difícil e complexa. Gerenciar esse processo é mais difícil ainda. Por definição, gestão educacional consiste em coordenar os esforços cooperativos de um grupo de pessoas, alocando os recursos necessários para a concretização de objetivos na busca de resultados organizacionais (Paula, 2012).

            A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9394/96) norteou o ensino no Brasil, do básico ao superior, proporcionando uma maior liberdade a autonomia para as Instituições de ensino e seus gestores. Como exemplo das inovações curriculares da LDB em relação aos cursos superiores estão a flexibilização curricular com a extinção de um currículo mínimo, as avaliações internas e externas e a educação permanente e continuada, articulando a graduação com a pós graduação.

            Essa tendência também foi observada internacionalmente, como o Processo de Bolonha, iniciado em 1998, com articulação dos alunos , cursos e instituições , envolvendo os diversos países da Comunidade Européia.

            Tudo isso vai de encontro com a idéia desenvolvida por diversos educadores modernos e sintetizada pela UNESCO nas competências de aprendizado que o aluno deve desenvolver: aprender a aprender (competências pessoais), aprender a conviver (competências relacionais), aprender a fazer (competências produtivas) e aprender a conhecer (competências cognitivas). 

 

Gestão educacional e competências de aprendizado 

A nosso ver, a gestão educacional tem como um grande desafio trabalhar com o objetivo de desenvolver principalmente as competências relacionais no aluno. Isso se deve a diversos fatores: as diferenças entre os alunos, entre os professores e entre as gerações (professor- aluno).

Conhecendo as pessoas

            Educar o ser humano requer conhecimento em diversas áreas: pedagogia, filosofia e psicologia, principalmente. Ate o final do século XIX, essas relações eram intermediadas pela filosofia. Por volta de 1860 surgiu o conceito da  psicologia da educação. Para educar precisam-se analisar fatores pessoais e ambientais, avaliando as mudanças na maturação, no crescimento e no desenvolvimento das pessoas.

            As pessoas aprendem de maneira diferente, dependendo, por exemplo, da sua personalidade: conforme Alonso e Gallego (2002), existem quatro estilos definidos: o ativo, o reflexivo, o teórico e o pragmático. O estilo ativo valoriza dados da experiência, entusiasma-se com tarefas novas e é muito ágil;o reflexivo atualiza dados, estuda, reflete e analisa; o teórico é lógico, estabelece teorias, princípios, modelos, busca a estrutura, sintetiza; e o estilo pragmático: aplica a idéia e faz experimentos.

Entre os diversos autores dedicados ao assunto, Vygotsky desenvolveu a teoria sociocultural, também chamada de psicologia sóciohistorica. Segundo esse autor, para o desenvolvimento e aprendizagem do ser humano a interação social é muito importante (La Taille,1992).

            E o que isso tem a ver com gestão de pessoas? O mundo atual está em constante e rápida evolução. É muito difícil acompanhar o desenvolvimento tecnológico existente. Enquanto os professores lutam para trabalhar em sala de aula com tecnologias consideradas por eles como “modernas”, como por exemplo, o uso de PowerPoint em aulas expositivas, as crianças crescem usando IPad com milhares de jogos interativos e os adolescentes trocam informações pelas redes sociais.

            Essas diferenças levaram a criar termos como geração X, Y , Z  e os “Baby Boomers”, discutidas no gerenciamento de empresas e nos recursos humanos das mesmas para melhorar a produtividade das pessoas e diminuir os atritos existentes entre os diversos grupos. A Geração “Baby Boomer” são aquelas pessoas que nasceram entre 1946 a 1964, que gostam de uma carreira estável, sólida, que as realizam. A geração X (nascidos entre 1965 a 1978) são aqueles que trabalham para ganhar dinheiro, títulos e cargos, um pouco resistentes à tecnologia; A geração Y, (1979 à 1992, pessoas com cerca de 20 a 29 anos), são ambiciosas, querem mudanças, impacientes, ansiosas. A geração Z (nascidos depois de 1993, ou seja, com 12 a 19 anos, mais ou menos), já nasceu na era tecnológica, querem estudar, são mais maduros e tranquilos. O maior conflito costuma ser entre as gerações X e Y, ou seja, os novos professores e os alunos mais velhos. Estes não aceitam muito regras, são mais avessos à hierarquia. Enquanto os professores mais velhos são mais complacentes com esses alunos, mais paternais, os docentes mais novos tem a necessidade maior de impor suas ideias e sua posição.

            Voltamos então aos principais pontos críticos da gestão de pessoas visando respeitar as diferenças: a heterogeneidade dos professores, devido às  diferente formações  profissionais e características pessoais; as diferenças da maneira de aprendizagem dos alunos, devido não só as características individuais da personalidade secundarias `as diferenças genéticas e sócio- culturais como ambientais e os conflitos entre gerações pela falta de entendimento  da visão  do outro (aluno X professor). Como trabalhar com todas essas diferenças?

 

Trabalhando com as diferenças

            Antes de tudo, precisamos conhecer os professores. Podemos fazer isso em diferentes etapas, com diferentes abordagens:

  1. Uma entrevista por um profissional psicólogo que trabalhe na gestão de recursos humanos, para avaliação geral do profissional.  O objetivo seria ter uma  avaliação por um profissional idôneo e experiente, que domina os princípios da manifestação comportamental individual e grupal, gerindo os fundamentos da gestão relativa à aprendizagem de comportamentos, o seu reforço, a motivação e satisfação laboral, assim como a organização e direção eficaz de equipas de trabalho (Porras 2001);
  2. Uma avaliação individual dos professores, pelos membros do NDE, quanto à competência e empenho de cada um, para podermos trabalhar com a estratégia de liderança situacional  (Blanchard, 2004);
  3. Aplicação do Questionário Honey-Alonso  de estilos de aprendizagem nos professores e nos alunos para verificar qual é o estilo de cada um(Allonso, 2002);
  4. Capacitação do professor no sentido de conhecer as diferenças entre as gerações e os estilos de aprendizagem dos alunos, associada às estratégias pedagógicas para lidar com cada um dos estilos e com a geração dos alunos
  5. Construção de uma estratégia de ação, envolvendo o Núcleo Docente Educacional, onde os professores seriam divididos segundo as suas características pessoais e seu próprio estilo de aprendizagem, para trabalhar em grupos com alunos com características semelhantes, como por exemplo um professor com características reflexivas trabalharia em tutoriais com alunos reflexivos, os pragmáticos com os alunos do mesmo estilo, etc. Esses pequenos grupos professor-alunos desenvolveriam estratégias de aprendizagem mais adequadas para eles e desenvolveriam a capacidade de compreensão das diferenças entre os grupos.

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            Trabalhar em comunidade respeitando as diferenças individuais é muito difícil. Gerir pessoas diferentes é mais complicado ainda. O auto-conhecimento e o entendimento dos outros seres humanos e levam à melhor compreensão da situação facilitando o gerenciamento do grupo.

 
 

“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti”.

John D

 

 

 

 

 

 

REFERENCIAS 

1.    Amaral e Barros . Estilos de aprendizagem no contexto educativo de uso das tecnologias digitais interativas. 2004..http://lantec.fae.unicamp.br/lantec/pt/tvdi_portugues/daniela.pdf. Acessado em 12 de maio de 2014
2.    Adriana Prates- conflito de gerações- http://www.youtube.com/watch?v=tLd9sB3x2JA . Acessado em 15de julho.
3.    ALONSO, C. M.; GALLEGO, D. J.; HONEY, P. Los estilos de aprendizaje: procedimientos de diagnóstico y mejora. Madrid: Mensajero, 2002.

4.    Blanchard K, 2004. WWW.kenblachard.com.br. Acessado em 18 de maio de 2014.

5.    La Taille Y, Oliveira MK, Dantas H. Piaget, Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão Summus Editorial, 1992 - 115 pp

6.    Porras2001- O papel fundamental do psicólogo na gestão de recursos humanos das organizações do século XXI. Revista científica eletrônica de psicologia Ano VIII – Número 14. http://www.psicologia.pt/artigos/ver_artigo.php?codigo=a0111&area=d8&subárea. Acessado em 12 de maio de 2014.

 

Autora: Patricia Maluf Cury

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