30/05/2018

Gestão Democrática Na Educação Básica: Relatos do estágio de pedagogia

 

GESTÃO DEMOCRÁTICA NA EDUCAÇÃO BÁSICA: Relatos do estágio de pedagogia

 

Graziela Luz dos Santos ( Estudante de Pedagogia: Uniasselvi)

Fernanda dos Santos Paulo ( Professora do curso de Pedagogia e supervisora de estágio)

 

 

RESUMO

 

Diante da sociedade que almejo, mais justa e igualitária, bem como, em prol da luta pela garantia de uma educação de qualidade, faz-se indispensável a reflexão acerca da participação da comunidade escolar nos rumos da escola. Nesse viés, o presente artigo, realizado a partir de uma pesquisa bibliográfica, de natureza qualitativa, pressupõe a abordagem da gestão democrática na educação básica, tema abordado em meu projeto de estágio e entrevistas realizadas. Através do estudo bibliográfico, em articulação com o estágio, pude verificar a relevância da exploração do devido tema, de forma a compreender a gestão democrática como a participação de todos (as) os (as) envolvidos (as) no processo educativo, no que tange à construção e reflexão dos fins pedagógicos, das decisões e ações desenvolvidas no ambiente escolar. No tocante à minha formação acadêmica, o respectivo trabalho, representa a unificação entre os conhecimentos científicos e a prática pedagógica, a fim do meu entendimento em relação à dinamicidade das relações tecidas no contexto escolar, pautadas na participação, descentralização, autonomia e responsabilidade da coletividade que compõe a escola; e consequentemente, acerca do rompimento com o contexto de desumanização que enfrentamos, por meio, do pleno desenvolvimento da cidadania, fomentada pala gestão democrática na educação básica.

 

Palavras-chave: Gestão democrática. Educação. Participação.

 

1 INTRODUÇÃO

 

O presente texto é fruto do projeto e estágio obrigatório do Curso de Pedagogia, desenvolvido na gestão educacional em uma escola de Ensino Fundamental localizada na cidade de Viamão/RS, que atende alunos da Educação Infantil ao nono ano.

 

O respectivo trabalho, de natureza qualitativa, conforme Tafner e Silva (2012) pressupõe a abordagem da gestão democrática, contemplando a área de concentração Educação, escolas e políticas públicas. Nessa perspectiva, a escolha do devido tema, deu-se a partir das observações participantes e entrevistas estruturadas realizadas com a equipe gestora da escola. Logo, o projeto foi construído visando ao alcance dos seguintes objetivos:

- observar a dinâmica da gestão escolar na escola;

- realizar uma entrevista estruturada com a equipe diretiva;

- refletir e problematizar a gestão democrática na educação básica.

 

No decorrer do desenvolvimento, inicialmente, apresentar-se-á a área de concentração deste trabalho em consonância com a fundamentação teórica, realizada a partir de pesquisa bibliográfica, a qual, abrange as reflexões acerca da gestão democrática. Por conseguinte, será abordada, de forma problematizada a vivência do estágio, que compreende as observações e entrevistas realizadas. Por último, nas considerações finais, far-se-á uma reflexão crítica em relação às impressões oriundas do estágio realizado, pressupondo a qualidade da minha formação acadêmica e a continuidade dos estudos alcançados.

 

 

  1. ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: FUNDAMENTAÇÃO TÉORICA

     

O presente projeto de estágio é oriundo das observações realizadas em uma escola do município de Viamão/RS, na gestão da escola. A partir das relações identificadas, entre a equipe diretiva e a comunidade escolar, e o que isso implica na prática pedagógica, bem como, no processo de ensino-aprendizagem, o tema a ser abordado será a gestão democrática na educação básica, contemplando-se a seguinte área de concentração: Educação, escola e políticas públicas. A professora orientadora e supervisora desse estágio faz parte desse texto pelo acompanhamento do meu processo formativo do primeiro ao quarto ano.

 

Começamos a tecer a discussão a partir da seguinte reflexão de Freire (1987, p. 47):

Se o diálogo é o encontro dos homens para SER MAIS, não pode fazer-se na desesperança. Se os sujeitos no diálogo nada esperam do seu que fazer, já não pode haver diálogo. O seu encontro é vazio e estéril. É burocrático e fastidioso.

 

Nesse viés estando a escola em constante transformação, no que se refere às mudanças sociais e tecnológicas, adquirindo assim, um novo papel social, já não pode mais estar alicerçada numa ideologia centralizadora. Nesse novo contexto, faz-se indispensável a coparticipação de todos os envolvidos no processo educativo, professores, alunos, pais, comunidade local e equipe diretiva. Essa nova concepção de educação e escola, pautada no desenvolvimento da autonomia, criticidade e emancipação dos sujeitos, faz-me refletir acerca do rompimento com o paradigma de centralização ainda existente no ambiente escolar, como na prática de autoritarismo do professor sobre o aluno, assim como, da gestão escolar sobre os profissionais. Assim sendo, a dinamicidade da gestão democrática, está pautada numa perspectiva de descentralização, ou seja, na participação da comunidade escolar no que tange aos objetivos, finalidades, tomada de decisões e ações desenvolvidas pela escola.

 

Diante da complexidade crescente do funcionamento dos sistemas educacionais, em razão da diversidade de situações com que se defrontam e das diferenciações quanto aos perfis sociais de alunos e profissionais, a estrutura burocrática e altamente centralizada torna-se inoperante. Ao mesmo tempo, é necessária uma participação maior dos sujeitos envolvidos no processo educacional no interior da escola, na [...] medida em que suas responsabilidades aumentam com a descentralização [...]. (OLIVEIRA, 2009, pag. 40)

 

Em resumo, diante da educação que almejamos e pela qual lutamos, pautada no pleno desenvolvimento da cidadania, a gestão democrática no ambiente escolar, torna-se de grande relevância à participação, à autonomia e à responsabilidade de todos os envolvidos no processo educativo. Logo, eis a grandiosidade da reflexão acerca do presente tema: gestão democrática na educação básica.

 

    1. PRINCÍPIOS DA GESTÃO DEMOCRÁTICA

 

A considerar a nossa trajetória histórica, percebo que o processo de democratização em nossa sociedade, é muito recente, pois vivemos árduos anos sob um regime de autoritarismo, de poder dos senhores sobre os escravos e, por conseguinte, dos militares sobre o restante da população. E com o advento do capitalismo, começamos a rumar à democracia. Contudo, não numa perspectiva de igualdade, mas de livre iniciativa privada, de liberdade econômica, de competitividade, do acúmulo de bens pela minoria (classe burguesa). Nessa ideologia do mercado, da sociedade capitalista, não deixamos de vivenciar o autoritarismo, porém, de certa forma velado, o poder de quem detém o capital sobre a classe menos favorecida e excluída. “ E nós estamos ainda no processo de aprender como fazer democracia. E a luta por ela passa pela luta contra todo tipo de autoritarismo.” (FREIRE, 2000, p. 136)

 

A educação é um processo que perpassa a complexidade dos sujeitos. Logo, é uma via de mão dupla, pois ao mesmo tempo que, por meio dela, podemos perpetuar este poder centralizador, reforçando a ideologia que a concebe como produto, somos capazes de romper com esse contexto de desumanização, lutando pela equidade, solidariedade, criticidade e autonomia dos sujeitos.

Por esse motivo, deve-se pensar em uma escola que, ao invés de reproduzir padrões de dominação seja espaço de mudança e sinônimo de não opressão, com base em um modelo democrático, desdobrados em três grandes linhas de atuação: democratização do acesso ao ensino, democratização do conhecimento e democratização da gestão escolar – compreendendo-se a escola inserida na sociedade e em seus espaços de vivência participativa, contribuindo na construção da cidadania e na formação de cidadãos. (SANTOS, 2013, p. 50)

 

De acordo com a citação acima, posso perceber que o processo de democratização, está vinculado ao acesso ao ensino, ao conhecimento, bem como, à gestão democrática. Entretanto, sabemos que a história da educação brasileira, foi marcada pelo favorecimento à elite, aos filhos das classes burguesas, com a finalidade econômica, ou seja, sempre atendendo aos interesses das classes dominantes, sendo que à estas, era destinada a formação intelectual, e à classe proletária, a instrução técnica, que visava ao preparo para o trabalho, ou seja, qualificação da mão-de-obra. Esse cenário nos mostra que “[...] a educação era direcionada para a elite [...], valorizando o ensino secundário e superior em detrimento da formação primária e profissional, que atingia as camadas mais pobres, continuou no início dos primeiros governos presidenciais.” (BURG, FRONZA, 2013, p. 197)

 

Foi somente com a instituição da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/1996), que se buscou, de fato, uma educação laica, pública e de qualidade, como um processo democrático e subjetivo, ou seja, inerente a todos os sujeitos. Vejamos assim, o que preconiza tal documento, nos incisos em questão:

Art. 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I – igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;

[...]

IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância;

[...]

VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

VII – valorização do profissional da educação escolar;

VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;

IX – garantia de padrão de qualidade;

X – valorização da experiência extra-escolar;

XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

 

Ao considerar a referida lei, posso pressupor que, o ensino atenta para os princípios de gratuidade, qualidade, igualdade, liberdade e respeito, concepções estas, também inerentes ao processo de gestão democrática, sendo que esta, se dá em esfera macro, com a autonomia dos estados e municípios, no que tange à organização dos seus respectivos sistemas de ensino, quanto, em esfera micro, na autonomia dos gestores, em relação às deliberações da escola.

 

Nesse contexto, como já preconiza a lei, tais princípios do ensino, fazem-se indispensáveis a gestão democrática na educação básica. Logo, a fim de que possamos formar sujeitos verdadeiramente comprometidos com o meio no qual estão inseridos, precisamos romper com este modelo burocrático e autoritário sobre o qual a nossa escola foi construída. Nesse novo contexto que almejamos, docentes e discentes constroem o conhecimento em comunhão e o gestor, não é concebido mais como aquele que delega normas aos profissionais em nível hierárquico inferior ao seu, para assumir-se como mediador do processo de participação da comunidade escolar, no que se refere à finalidade, às ações e decisões do ambiente escolar. E essa perspectiva de gestão democrática, está vinculada à autonomia de todos os sujeitos envolvidos no processo educativo, diante das condições que garantam o compromisso ético e social da escola.

A partir das considerações tecidas até aqui, posso enfatizar que

A gestão democrática rompe com a concepção de imposição do poder, com a educação bancária e puramente burocrática, trazendo uma concepção de gestão compartilhada e embasada no ato pedagógico libertador e emancipatório, baseada no diálogo, no trabalho coletivo, no comprometimento com a qualidade da educação e na formação integral do educador e do educando, onde ambos conquistam a sua autonomia. (Santos, 2013, p. 60)

 

De acordo com a citação acima, uma gestão democrática, é aquela que envolve-se no processo educativo, de forma a fomentar a participação coletiva nas ações e decisões do ambiente escolar, bem como, na construção acerca do significado social da escola e sua relação com a sociedade.

 

Em última análise, a gestão democrática, no âmbito educativo, é concebida como a participação de todos os agentes educativos, no que tange ao comprometimento com a educação. É refletindo em comunhão, sobre o compromisso ético, filosófico e social da escola em prol da sociedade que almejamos, que vamos nos constituindo enquanto cidadãos críticos, solidários, autônomos e responsáveis com o pleno exercício de nossa cidadania.

 

 

  1. VIVÊNCIA DO ESTÁGIO

 

O projeto de estágio desenvolvido, como já mencionado, no município de Viamão/RS, na gestão escolar. Entre os dias nove ao dia onze de outubro de 2017, realizei as entrevistas com a equipe diretiva. A partir das observações, pude conhecer a organização da escola, o seu PPP, seu regimento escolar, bem como, a rotina da gestora, da orientadora e da supervisora, o que foi de grande importância em relação à construção e realização do meu projeto.

 

Nessa perspectiva, o presente estágio, além de possibilitar-me experiências significativas, levou-me a refletir sobre o verdadeiro sentido da gestão democrática na educação, e que apesar dos avanços legais e os diálogos tecidos nos dias atuais, ela ainda se faz um grande desafio.

 

A gestão democrática da educação básica é fruto de um palco de lutas dos movimentos sociais, ou seja, da classe trabalhadora e dos profissionais do magistério, em busca da democratização da educação e valorização do trabalho docente, respectivamente. E nesse contexto, também a organização burocrática da escola, começou a ser repensada pelos professores. Contudo, a concepção de gestão democrática, ainda é entendida pelos agentes educativos, como simples descentralização de deliberações e decisões, tomadas, porém, por uma minoria, o que acaba, por reforçar a ideologia e o poder centralizador do sistema vigente.

Isso é possível através da redefinição estreita da noção de democracia, na qual a participação de diferentes atores envolvidos consiste em aplicar as regulamentações e interpretações administrativas que parecem surgir de ninguém, mas que têm sua elaboração centralizada no governo ou em determinado setor da sociedade. São utilizadas estratégias de controle, regulação e convencimento que acabam por produzir o confinamento da democracia a uma prática que não questiona quem delibera, mas sim, conforma-se com a aplicação e fiscalização das deliberações. (LUCE; MEDEIROS, s/a, p. 3, grifos do autor)

 

De acordo com a entrevista realizada com a equipe diretiva, a partir da seguinte pergunta: Qual a sua perspectiva em relação à gestão democrática? Vejamos o que nos diz a gestora: “Uma escola aberta para todos, em poucos anos, integral”, nesse viés, o princípio de uma gestão verdadeiramente democrática, não significa somente uma escola aberta para todos, em que todos possam participar. Entretanto, a reflexão está em que participação é esta. Uma participação na qual, a comunidade participa da construção dos fins pedagógicos, éticos e sociais, ou meramente, executa ações determinadas por alguém?

 

A gestão democrática, assim sendo, está alicerçada na participação efetiva da comunidade escolar, desde a construção coletiva da proposta pedagógica e finalidades da educação, até a sua realização e avaliação. A democratização da educação, é, nessa perspectiva, concebida, em esfera macro, através de políticas públicas inerentes ao direito subjetivo de acesso e permanência na escola, ou seja, a universalização da educação. Já em esfera micro, dentro do ambiente escolar, constitui-se em um processo de participação de todos os envolvidos no ato educativo, de reconhecimento e valorização das diferentes vozes, da pluralidade cultural. E nesse contexto, contamos ainda com os pressupostos de Luce e Medeiros (s/a, p. 4-5)

No discurso pedagógico, a gestão democrática da educação está associada ao estabelecimento de mecanismos institucionais e à organização de ações que desencadeiem processos de participação social: na formulação de políticas educacionais; na determinação de objetivos e fins da educação; no planejamento; nas tomadas de decisão; na definição sobre alocação de recursos e necessidades de investimento; na execução das deliberações; nos momentos de avaliação. Esses processos devem garantir e mobilizar a presença dos diferentes atores envolvidos nesse campo, no que se refere aos sistemas, de um modo geral, e nas unidades de ensino – as escolas e universidades.

 

Nessa concepção de gestão democrática, qual seria então, o papel do gestor? A fim de refletir sobre o seu compromisso social, político e pedagógico, foi proposta a seguinte pergunta à gestora: Para você, quais são as principais responsabilidades de um gestor? Eis então, a sua resposta:

- Estar sempre presente na escola;

- Saber de tudo o que acontece;

- Ouvir colegas, pais alunos e funcionários;

- Fazer compras para a melhoria da escola e do ambiente em sala de aula.

 

Na gestão democrática, no entanto, gestar, está relacionado ao ato de estar presente, de ouvir a todos os envolvidos no processo educativo, como principalmente, promover espaços para esta participação, para o diálogo, mediando-se os diferentes pontos de vista, ideias, etc.; e isso implica em muito mais do que chamar a comunidade escolar somente para participar dos eventos anuais. E ainda de acordo com a perspectiva da diretora, ao fazer-lhe a seguinte pergunta: Você considera que sua gestão seja democrática? Consideremos o que ela me respondeu: “Sim. Escuto todos os setores antes de tomar qualquer decisão que envolva os colegas de trabalho, pais e alunos. ” Entretanto, ressalta-se novamente que, o papel do gestor, numa concepção de gestão democrática, não se resume a ouvir os profissionais, pais e alunos, mas envolvê-los também no processo de tomada de decisões, conforme os pressupostos de Luce e Medeiros (s/a, p. 6):

Para isso, a organização democrática, aquela que visa objetivos transformadores, não pode prescindir da participação efetiva dos envolvidos, dos interessados, nas deliberações da escola, ao mesmo tempo em que exige do Estado as condições para sua autonomia e funcionamento qualificado. Frisa-se aqui a necessidade da participação de todos, pais e estudantes, e não só da direção dada pelos funcionários públicos, evitando-se assim a supremacia dos interesses corporativos aos interesses educacionais coletivos; e a necessidade de recursos públicos suficientes para a manutenção das escolas, evitando processos de privatização que, de forma camuflada ou explícita, demandam que a escola organize processos de captação de recursos.

 

A comunidade escolar, nesse sentido, necessita sentir-se parte da escola e responsável pela transformação da mesma, bem como, do ambiente no qual estão inseridos, o que difere de estar por si só presente no ambiente escolar.

Nesse sentido, para que as transformações na qualidade do ensino ocorram, é necessário que o gestor motive para a participação da comunidade escolar. Para isso, o gestor deve estar em contato permanente, fazendo com que cada profissional, aluno e pai, sintam que a escola lhes pertence. (BUSS, 2013, p. 39)

 

Nesse viés, ao questionar a diretora acerca de como ela considerava a participação da comunidade escolar, no que tange à tomada de decisões, elaboração, execução e avaliação do PPP, resolução de problemas, bem como, na implementação e garantia de políticas públicas inerentes à qualidade da educação, ela me respondeu que esta, não participa, que a participação é muito fraca. Contudo, a partir da consideração da autora acima citada, para que ocorra a participação efetiva, faz-se imprescindível o senso de pertencimento da comunidade escolar nos rumos da educação, lutando pela garantia de acesso e qualidade da mesma. “Mulheres e homens, seres históricos-sociais, nos tornamos capazes de comparar, de valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper, por isso tudo nos fizemos seres éticos. ” ( FREIRE, 1996, p. 33)

 

Assim, uma educação digna e justa (concepção de educação da gestora entrevistada), está entrelaçada ao compromisso ético e social de todos os envolvidos no processo educativo, o que não pode dar-se fora da participação efetiva. “Afinal, minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da História. ” (FREIRE, 1996, p. 54, grifos do autor)

 

Através do envolvimento consciente da comunidade escolar no processo de democratização da educação e na emancipação dos sujeitos, somos capazes de construir uma sociedade mais justa e igualitária, perspectiva esta, que vem a contemplar a compreensão da gestora em relação ao tipo de sociedade que almeja construir, sendo que ela me respondeu o seguinte: “ Penso contribuir para uma sociedade crítica e atuante, participando de projetos realizados na escola e fora da escola. ” Nesse sentido, em meio à coletividade, cada sujeito torna-se capaz de

Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. É a “outredade” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu. (FREIRE, 1996, p. 41, grifos do autor)

 

Em última análise, a gestão democrática compreende a participação efetiva e a autonomia da comunidade escolar (pais, alunos, profissionais e comunidade local), no que tange às deliberações e ações desenvolvidas na escola, de forma a contribuir para a construção de um futuro melhor, com criticidade, dignidade, justiça social, solidariedade e fraternidade.

 

 

  1. IMPRESSÕES DO ESTÁGIO (considerações finais)

 

No tocante à uma reflexão crítica e aprofundada acerca da vivência do estágio, foi possível a compreensão da relevância da gestão democrática da educação básica, de forma a possibilitar a universalização da educação de qualidade, assim como, a formação de uma sociedade mais justa e igualitária, por meio do processo de democratização da gestão escolar, ou seja, da participação coletiva e efetiva da comunidade escolar, no que tange à construção dos fins pedagógicos, deliberações e ações desenvolvidas no ambiente escolar. Nesse viés, o presente estágio, contribuiu com a minha formação acadêmica, ao passo que, através da prática, bem como, de acordo com a pesquisa bibliográfica, foi possível a compreensão acerca da importância da gestão democrática, no que se refere ao reconhecimento e valorização de todos os envolvidos no processo educativo, em relação às decisões, ações e pressupostos que norteiam a prática escolar, e consequentemente, a construção da emancipação humana, de forma justa e igualitária.

 

Em relação aos objetivos propostos, no que tange à construção do projeto de estágio, acredito que as observações e entrevistas, permitiram-me conhecer o contexto político e pedagógico. E a partir dos estudos realizados, pude refletir de forma crítica sobre a gestão da devida escola, ou seja, sobre a dinâmica das relações tecidas.

Em última análise, para a minha formação acadêmica e profissional, o respectivo estágio, representa a consolidação entre os saberes teóricos adquiridos e suas implicações na prática pedagógica, de forma que eu seja capaz de compreender a relevância da gestão democrática na educação, e concebê-la como um processo pelo qual, somos capazes de romper com um poder centralizador, assegurando a participação e autonomia da comunidade escolar diante do compromisso pedagógico, ético e social da escola, a fim da efetiva democratização da educação e exercício pleno da cidadania.

Eu e a supervisora de estágio ( Fernanda Paulo) realizamos uma série de conversas sobre a necessidade de continuarmos a escrever sobre esse tema, sobretudo no atual contexto que a democracia está sendo, desconstruída. Acreditamos que o curso de Pedagogia deve trabalhar mais o tema das políticas educacionais e que o estágio em gestão é fundamental para que possamos olhar para a escola de modo globalizante, entendendo-a como um espaço potencializador de construção de práticas participativas e de uma educação crítica. Participamos de um grupo de pesquisa e estudos vinculado a um projeto de pesquisa: Educação Popular e Paulo Freire. Neste projeto temos encontros formativos mensais. O grupo é vinculado a um movimento de Educação Popular e Associação de educadores Populares. Percebemos que nós, estudantes da pedagogia, conhecemos muito pouco de Freire e Educação Popular, e pouco se usa esse autor nos escritos sobre gestão educacional. Finalizamos deixando esse desafio.

 

 

REFERÊNCIAS

 

BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, de 20 de dezembro de 1996. Diário Oficial [ da União], Brasília, DF, 20 dez. 1996.

 

BURG, Silvana Montibeller; Fronza, Silvio Luiz. Pensamento Pedagógico e a Construção da Escola. Indaial: Uniasselvi, 2013. 258 p. ISBN 978-85-7830-818-6

 

BUSS, Rosinete Bloemer Pickler. Gestão Escolar. Indaial: Uniasselvi, 2013. 194 p. ISBN 978-85-7830-660-1

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 17. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987

 

______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 31.ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. 148 p. ISBN 85-219-0243-3

 

______. A educação na cidade. 4. Ed. São Paulo: Cortez, 2000

 

LUCE, Maria Beatriz; MEDEIROS, Isabel Letícia Pedroso. Gestão democrática na e da educação: concepções e vivências. Disponível em: xa.yimg.com/kq/groups/23100729/746988120/.../Texto_08_LUCE_MEDEIROS.pdf. Acesso em: 20 de set. 2017

 

SANTOS, Darlene Angelita de Paula dos (Org.). Gestão, orientação e supervisão educacional: Saberes, Formação e Profissionalização. Porto Alegre: IERGS, 2013. 136 p. ISBN 978-85-64889-06-04

 

OLIVEIRA, Dalila Andrade (Org.). Gestão democrática da educação: Desafios contemporâneos. 9. Ed. Petrópolis: RJ: Vozes, 2009. 283 p. ISBN 978-85-326-1837-5

 

TAFNER, Elisabeth Penzlien; SILVA, Everaldo. Metodologia do Trabalho Acadêmico. Indaial: UNIASSELVI, 2011.

 

 

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