03/07/2007

Games ajudam a alfabetizar morador de rua

Por Talita Bedinelli, do PNUD

ONG do Rio de Janeiro usa jogos de computador para introduzir alunos jovens na leitura e escrita; cuso é parte de série de ações para o Pan.

Uma organização não-governamental do Rio de Janeiro vai oferecer a crianças e jovens de rua, a partir do início dos Jogos Pan-Americanos 2007, um curso de introdução à leitura e à escrita que dispensa livros e apostilas. Com a ajuda de pedagogos, a instituição desenvolveu um método que ensina os alunos a formar palavras usando jogos de computador.

Na metodologia, as consoantes e vogais do teclado viram comandos do game. É uma determinada letra que faz, por exemplo, um personagem pular e ajuda o jogador a avançar para a próxima fase do game.

Voltada para meninos e meninas de 7 a 24 anos, a oficina faz parte de um curso básico de informática que será oferecido a pessoas pobres durante o Pan, que vai de 13 a 29 de julho. “O objetivo é que eles aprendam a usar o computador e a internet, mas, como muitos não sabem ler, é necessário esse processo de alfabetização mínima”, afirma Antônio Monteiro, um dos coordenadores da Ex-Cola, ONG responsável pela capacitação.

A expectativa inicial é atender 30 alunos ao longo de seis meses (dez de cada vez, em cursos de dois meses). No começo, eles vão aprender a usar o mouse. “Temos um joguinho que treina a coordenação motora. Os meninos têm que posicionar uma lupa de forma que um raio de sol seja refletido e atinja uma formiguinha”, diz Monteiro.

Quando os meninos já estão craques no uso do mouse, eles começam a brincar com um novo jogo, que usa letras. “Para fazer com que o personagem da brincadeira pule, eles têm que apertar o A, por exemplo. Assim, eles começam a reconhecer as letras e, a partir daí, passam para jogos em que têm que escrever algumas palavras para mudar de fases”, descreve o coordenador.

Os alunos que avançarem mais, conta Monteiro, vão aprender pesquisar sites na internet. Os que precisarem de mais tempo para aprender a formar as palavras poderão continuar o aprendizado depois dos dois meses, quando começar uma nova turma. Como o atendimento é individualizado, alunos de diferentes níveis de alfabetização vão poder freqüentar uma mesma sala de aula e fazer as atividades de acordo com seus próprio ritmo. “Isso é uma forma de sensibilizar os meninos que estão em situação de rua. Não queremos substituir a escola, mas estimular que eles voltem a estudar”, diz Monteiro.

A Ex-Cola começou a trabalhar com jovens e crianças moradores de rua em 1989, mas só em 1994 passou a existir como uma ONG formalizada. Desde então, esse curso já foi aplicado outras vezes, mas teve de ser interrompido por falta de recursos. A entidade manteve então um espaço para que os meninos que freqüentavam o local pudessem acessar a internet gratuitamente.

Para recomeçar a atividade, a organização vai receber quase R$ 99,9 mil do projeto Medalha de Ouro, idealizado pelo PNUD e pela SENASP (Secretaria Nacional de Segurança Pública, ligada ao Ministério da Justiça). A iniciativa vai distribuir R$ 2 milhões para organizações não-governamentais e instituições públicas que vão desenvolver 22 projetos voltados a crianças de rua, entre julho e novembro. A atividade é uma das ações que a SENASP e o PNUD estão planejando para o Rio de Janeiro por ocasião dos Jogos Pan-americanos.

Oficina de rádio

Com a verba, a Ex-Cola vai comprar cinco computadores e estabilizadores, uma impressora, cabos para a conexão de rede, além de pagar o salário dos instrutores e lanches para os alunos. O dinheiro vai servir também para comprar equipamentos para uma oficina de rádio que será oferecida para 40 jovens moradores de rua. Eles vão aprender a produzir programas, fazer locução e operar áudio.

A oficina de rádio também costumava ser dada pela ONG, mas, assim como a de alfabetização, teve de ser interrompida por falta de verba. O instrutor das aulas será um dos alunos da primeira turma do curso. Fábio Campos de Oliveira começou a freqüentar a instituição em 1993, aos 12 anos. “Quando entrei no projeto, cheirava muita cola, não ligava muito para isso. Fui preso três vezes até os 18 anos, quando já estava na oficina. Da última vez, percebi que era minha última chance, que eu estava tendo uma oportunidade e que não estava aproveitando”, conta Fábio, que chegou a morar na rua quando criança e adolescente.

“No começo, eu não sabia o que falar na rádio. Não tinha o que falar, mas falava mesmo assim”, brinca o instrutor. Em 2003, ele passou a coordenar a programação da rádio comunitária Madame Satã, ligada à Ex-Cola. “Eu quero tentar tirar o maior número de jovens dessa situação [de morador de rua] e fazer com que eles sigam o meu caminho. Para isso, é preciso mais do que um curso, mas muito amor, carinho e força de vontade, inclusive dos jovens”, diz. “Isso tudo é um processo, porque é muito fácil pegar uma criança e tirar da rua, mas é muito mais difícil tirar a rua de dentro da criança”, completa.

Parte dos R$ 100 mil que a ONG receberá do Medalha do Ouro será para comprar um computador para a edição de áudio, mesa de som, gravador digital portátil, microfone, além de cabos e conectores para som, entre outros aparelhos específicos para o curso. Com isso, será possível dar continuidade ao trabalho após o término projeto da SENASP e do PNUD, Antônio Monteiro. (PrimaPagina)

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