04/05/2021

Fundamentalismo e a Guerra Cultural

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

Estamos vivendo um fundamentalismo político, e segundo o dicionário Oxford, entende-se como fundamentalismo, uma corrente, movimento ou atitude, de cunho conservador e integrista.

Este fundamentalismo segundo Oxford, tem o seu cerne na obediência rigorosa e literal a um conjunto de princípios básicos. Com isso podemos perceber que é algo totalmente acrítico, tendo sempre uma verdade absoluta.

Vale considerar as falas de Nietzsche quando afirma que não existem fatos eternos e tampouco verdades absolutas, corroborando com as falas supracitadas, Harari em seu livro Sapiens - Uma breve história da humanidade, publicado pela L&PM em 2016, enfatiza que os nazistas usaram como método a verdade final e absoluta, o que acarretou o holocausto.

Pode-se observar que o fundamentalismo gera verdadeiros alienados servindo como massa de manobra. O autor cita um exemplo ocorrido nas eleições americanas que usaram como método, muito difundido pelos brasileiros nas eleições de 2018 que são as fekenews.

Nos Estados Unidos da América, foi divulgado uma informação de que a candidata Hillary Clinton "chefiava uma rede de tráfico humano que mantinha crianças como escrevas sexuais no porão de uma pizzaria muito frequentada. Não foram poucos americanos que acreditaram na história,destinada a prejudicar a campanha eleitoral de Clinton".

Tal informação tornou-se tão verdadeira para certos fundamentalistas que uma pessoa chegou a entrar armada na pizzaria exigindo ver o porão e foi então que percebeu que imóvel sequer tinha porão.

Rocha em seu vídeo[1] esclarece que este fundamentalismo gerou uma guerra cultural no Brasil. Para o docente e escritor, o fanatismo está tão exacerbado que não se trata mais de uma eleição presidencial, e sim uma guerra cultural que prega a luta pela alma do Brasil com o intuito de dizimar todos que tiverem pensamentos contrários, pois estes são vistos como pessoas infiéis e ímpias.

Ainda Rocha, salienta que tal fundamentalismo inviabiliza a política abrindo espaço para uma imposição de uma visão torta do mundo onde todos que têm pensamentos divergentes são vistos como inimigos e não adversários.

Pensamentos assim emudecem o povo, pois não há mais espaço para diálogos, quiçá negociações.

Nesta guerra cultural, criam-se inimigos imaginários, pois a verdade absoluta passa a ser inquestionável e as fakenews passam a prevalecer sobre a ciência, prevalecendo um governo baseado em falácias, dados falsos e teorias conspiratórias.

As fakenews são vistas como técnicas para causar comoção no povo, além de levar a desinformação sistemática, passando a ser um terreno fértil para a retórica do ódio.

Rocha, elucida que

Retórica é uma técnica discursiva que consiste em adaptar o discurso a um público determinado a fim de atingir a uma intenção própria. 

Retórica do ódio trata-se de desenvolver uma técnica linguística que tem como finalidade a desqualificação desumanizadora do outro de modo a convencer a um público determinado da ameaça de inimigos constantes

 

Interessante perceber que esta guerra cultural cria uma divisão do mundo com um viés maniqueísta[2] que trabalha sob o dualismo que se relaciona com princípios opostos.

Hoje ela é uma visão limitadora e na seara política não existe mais adversários e sim inimigos. Dito isso, como esta visão se baseia no bem o no mal, quem pensa diferente do governo é inimigo do mesmo e para justificar esta inimizade, cria-se um mundo paralelo onde todos estão contra o governo, transformando em uma guerra de todos contra todos.

Infelizmente isso tende a exclusão social, por se ter um olhar diferenciado do governo o que acarreta na desumanização e marginalização deste, reduzindo o que pensa diferente a um nada.

Esta guerra cultural cria de forma tão efetiva a sua massa de manobra que estas pessoas alienadas são os verdadeiros cidadãos domesticados subalternos a ecoarem de forma acrítica toda e qualquer imbecilidade dita pelo governo.

Como visto anteriormente, é uma guerra de todos contra todos, isso porque constantemente criam-se inimigos imaginários, já que os discursos são fundamentados no ódio contra o próprio povo brasileiro.

Hoje temos nesta guerra cultural uma verdadeira seita. O país tem o seu próprio Jim Jones, com discursos imbecis para seus fanáticos ele conseguiu até agora com suas ações levianas, dizimar mais de 400 mil vidas que poderiam ter sido salvas se este governo não se abdicasse das compras das vacinas em tempo hábil.

O desgoverno é tão grande que ele conseguiu acabar com a principal estratégia que o Brasil tinha para enfrentar a pandemia, que era o Programa Nacional de Imunizações (PNI), criado em 1973 e era visto como uma arma vital que ajudou a combater e epidemia de meningite, fazendo o Brasil virar referência mundial de eficiência em campanhas de vacinação em massa[3].

Observe que esta guerra cultural vai na contramão da educação, já que a educação busca desenvolver a criticidade do educando e a guerra cultural através do fundamentalismo trabalha com uma massa de manobra formada por pessoas acríticas e fanatizadas por um mito que se embasa na manipulação, na desinformação e nas fakenews para difundir o suas imbecilidades que encontram eco na voz de seu gado, usando um slogan "Brasil acima de tudo, Deus acima de todos", porém um deus que foge as escrituras sagradas, pois não representa o amor ao próximo, porque o verdadeiro Deus é a personificação do amor incondicional.

 

[1] Para mais informações vide https://www.youtube.com/watch?v=CAEcthnbOac

[2] Para informações sobre maniqueísmo, vide http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/visao-maniqueista-e-visao-sociologica

[3] Para mais informações vide https://www.istoedinheiro.com.br/por-que-faltam-vacinas-para-o-brasil/

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