FORÇA ARGUMENTATIVA DAS FIGURAS DE LINGUAGEM
FORÇA ARGUMENTATIVA DAS FIGURAS DE LINGUAGEM NA EDUCAÇÃO BÁSICA
MARINHO ELESTINO DE SOUZA FILHO1
CLARIDES HENRICH DE BARBA2
Resumo: Esse artigo pretende demonstrar a importância do Ensino e da Aprendizagem das Figuras de Linguagem sob uma nova óptica na Educação Básica.
Palavras-chave: Educação Básica. Figuras de Linguagem.
Abstract: This paper aims to demonstrate the importance of the Teaching and of the Learning of the Language of Figures in a new perspective in Basic Education.
Keywords: Basic Education. Language of Figures.
- INTRODUÇÃO
Este estudo procura demonstrar a importância do uso das Figuras de Linguagem, no que tange, especialmente, à força argumentativa, persuasiva e ilocucionária dessas Figuras.
Nessa perspectiva, tentaremos indicar que ao utilizar as Figuras de Linguagem, OS SENTIDOS sempre são e sempre serão OUTROS.
Assim, para a construção desse trabalho, adotaremos os seguintes procedimentos:
- Citaremos algumas concepções de linguagem construídas no transcorrer da História da humanidade.
- Apontaremos também duas perspectivas existentes para o estudo científico de uma língua natural: Diacronia e Sincronia.
- Escolheremos uma das perspectivas mencionadas acima, mostrando os motivos pelos quais escolhemos uma delas.
- Traçaremos breve histórico da origem e do conceito da palavra Retórica.
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Apontaremos os conceitos de Figuras de Linguagem encontrados nos livros didáticos escolhidos por algumas escolas, utilizando apenas um desses livros, pois, sabemos que os conceitos utilizados na maioria dos livros, acima assinalados, são bem parecidos e semelhantes, por isso, escolheremos apenas um livro que será citado no transcorrer desse trabalho e, para finalizar, proporemos novos conceitos somente para aquelas Figuras encontradas na obra que será analisada, se esses conceitos precisarem realmente serem reformulados, visto que outras Figuras que não constam na obra por nós escolhida, serão analisadas em outro estudo, artigo, que será publicado a posteriori.
1 Mestre em Linguística e, Professor da Cadeira de Língua Portuguesa no IFRO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia – Campus Ariquemes. 2 Mestre em Filosofia, Doutor em Educação e, Professor do Departamento de Ciências Sociais da Unir – Universidade Federal de Rondônia – Campus Porto Velho.
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Portanto, após essa breve Introdução, trataremos, no item abaixo assinalado sobre as concepções de linguagem.
- CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
Neste item, apontaremos três das muitas concepções de linguagem criadas no transcorrer da História da humanidade, que, de acordo com Kock (1997, p. 9), são as que se seguem:
a. “como representação (“espelho”) do mundo e do pensamento;”
b. “como instrumento(“ferramenta”) de comunicação;”
c. “como forma (“lugar”) de ação ou interação.”
Apesar dessas três concepções de linguagem acima assinaladas, Ferrarezi (2010), defende que não é possível isolar nenhuma dessas três concepções, se queremos dar conta minimamente do que seja uma língua natural.
Nesse sentido, o autor defende que uma língua natural é um “sistema socializado e culturalmente determinado de representação de mundos e seus eventos”, concepção que abarca as três acima e acrescenta alguns ganhos importantes.
Assim, segundo Ferrarezi (2010), devemos respeitar todas as dimensões de uma língua natural, frisando que ela não é apenas um espelho do pensamento, mas também o espelha; não é apenas instrumento, mas também serve de instrumento, não é apenas lugar de interação, mas também é nela e por ela que os falantes interagem.
Além disso, Ferrarezi (2010) acrescenta as dimensões de cultura, criatividade e representação, o que torna a concepção de linguagem desse autor muito mais interessante para a construção desse trabalho do que as três anteriormente citadas, por isso, adotaremos ao longo desse texto, a concepção de linguagem proposta por Ferrarezi (2010).
Após essas breves considerações sobre as concepções de linguagem, apresentaremos, a seguir, breves comentários sobre a sincronia e a diacronia.
- PERSCPECTIVAS CIENTÍFICAS PARA SE ESTUDAR UMA LÍNGUA: SINCRONIA E DIACRONIA
Antes de iniciar o estudo profundo de uma língua. De acordo com Ferrarezi e Souza Filho (2011), torna-se necessário estipular critérios técnicos, científicos, que determinem os parâmetros de estudo e definam um método a ser seguido, de forma que os resultados do estudo feito possam ser comparados a resultados de estudos de outras línguas realizados nos mesmos moldes.
Nesse sentido, ainda de acordo com Ferrarezi e Souza Filho (2011), um dos primeiros linguistas a definir parâmetros de estudo bem claros para as línguas naturais foi Ferdinand Saussure, famoso linguista franco-suíço, considerado o pai da ciência que estuda a linguagem humana, a Linguística. Saussure deixou claro que os estudos linguísticos poderiam ser realizados em duas perspectivas distintas, a saber, a diacrônica e a sincrônica, que Ramanzini: (1990, p.30), considera como dois tipos de Linguísticas, assim conceituadas:
[...] a Linguística sincrônica (do grego sin = conjunto, simultaneidade+ chronos = tempo), também chamada de estática ou descritiva, e a Linguística diacrônica (do grego dia = através + chronos = tempo), também chamada de evolutiva ou histórica.
De acordo com essa citação, vemos que a Linguística sincrônica procura fazer um recorte na linguagem e estudá-la em uma determinada época.
Já a Linguística diacrônica é o estudo da linguagem durante o transcorrer do tempo, isto é, a perspectiva diacrônica determina um estudo histórico da linguagem, no transcorrer de distintas épocas, visando à descrição da evolução linguística.
Por isso, em consonância com Ferrarezi e Souza Filho (2011), essas duas perspectivas existiam antes de Saussure, mas não sistematizadas como ele as apresentou a seus alunos. Hoje, elas definem os programas de estudos dos cientistas da linguagem, marcados em dois grandes “troncos de pesquisa”: a sincrônica e a diacrônica.
Sendo assim, Ferrarezi e Souza Filho (2011) asseveram que torna-se necessário escolher uma dessas perspectivas, pois, entre outras coisas, essa escolha influenciará a escolha do método a ser adotado.
Nesse contexto, ainda de acordo com Ferrarezi e Souza Filho (2011), a pergunta que cabe aqui é: a escola deve optar por qual perspectiva de estudo? Cremos que seja a perspectiva sincrônica, que permite ao estudante da educação básica enxergar sua própria linguagem no cotidiano escolar. A perspectiva diacrônica apareceria raramente, a título de incremento cultural do aluno sobre sua própria língua.
Sobre isso, Kehdi (2000, p.7) afirma: “Não julguemos, todavia que a utilização de uma ou de outra postura seja uma mera questão de escolha; sincronia e diacronia podem contrapor-se quanto a métodos e resultados.” Se o resultado desejado pela escola é a boa comunicação hoje, como português brasileiro moderno, a sincronia parece ser a perspectiva mais adequada. Em se tratando de sincronia e diacronia, Kehdi, (2000, p.9) ainda afirma que:
De um ponto de vista metodológico, é aconselhável, portanto, que se separem as duas posições. Acreditamos que o conhecimento dos mecanismos de funcionamento de um idioma no seu “aqui e agora” deve anteceder as explicações de caráter histórico, indiscutivelmente necessárias e esclarecedoras, mas que devem ser invocadas num segundo momento.
Assim, acreditamos que se torna muito mais vantajoso estudar os fatos linguísticos na escola, considerando-os sob o prisma de uma visão sincrônica.
Isto posto, passemos a ver algo sobre o histórico, a origem e o conceito do termo Retórica.
- BREVE HISTÓRICO, CONCEITO E ORIGEM DA RETÓRICA
Antes de tratarmos do breve histórico da Retórica, observaremos alguns conceitos deste termo que serão úteis para a construção desse artigo.
Nesse aspecto, dentre os vários sentidos do vocábulo Retórica encontrados no Houaiss (2001, p. 2447), interessam para este trabalho estes: “[...] FIL RET a arte da eloquência, a arte de bem argumentar, a arte da palavra. 2 p. ext. RET conjunto de regras que constituem a arte do bem dizer, a arte da eloquência; oratória.” [...]
Dessa citação, percebemos que a Retórica é arte do bem dizer, ou seja, saber persuadir, convencer o outro de que o enunciador está sempre com a razão, ou melhor, que os argumentos do enunciador têm procedência, por isso, Houaiss (2001) afirma que a Retórica seria sinônimo de Oratória, a qual também consistiria ainda na arte do bem dizer, da eloquência, da persuasão por meio de argumentos sistematicamente elaborados, ou seja, para a Retórica o que é imprescindível é saber argumentar.
Nesse sentido, também é com Houaiss (2001), com Abreu (2005) e com Kock (1996) que veremos o conceito do verbo argumentar.
Para Houaiss (2001, p. 28), argumentar seria: “[...] 1. T.d. int. JUR apresentar fatos, ideias, razões lógicas que comprovem uma afirmação, uma tese. [...]”
Segundo o autor anteriormente mencionado, argumentar é apresentar fatos, ideias, razões lógicas para convencer alguém a respeito de algo, ou melhor, apontar para os motivos lógicos que comprovem uma afirmação, uma tese.
Nessa perspectiva, parece que argumentar seria convencer, persuadir o outro ou os outros de que os argumentos do enunciador têm procedência lógica e podem ser comprovados.
Já para Abreu (2005, p. 10), há dois tipos de argumentação, pois, para esse autor:
[...] argumentar é vencer alguém, força-lo a submeter à nossa vontade. Definição errada! [...] Seja em família, no trabalho, no esporte ou na política, saber argumentar é, em primeiro lugar saber integrar-se no universo do outro. É também obter aquilo que queremos de modo cooperativo e construtivo, traduzindo nossa verdade dentro da verdade do outro. [...]
Contudo, para Kock (1996, p. 19), que é considerada uma das principais autoras no que tange a arte de argumentar, o ato de argumentar implicaria em:
[...] orientar o discurso no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato linguístico fundamental, pois a todo e qualquer discurso subjaz uma ideologia, na acepção mais ampla do termo. A neutralidade é apenas um mito: o discurso que se pretende “neutro”, ingênuo, contém também uma ideologia – a da sua própria objetividade. [...]
Assim, de acordo com as considerações assinaladas anteriormente sobre a palavra Retórica e o termo argumentar, estamos convencidos de que o conceito dado por Abreu (2006) sobre a palavra argumentação está totalmente equivocado, porque, ele acha que argumentar seria conseguir o que almejamos de forma cooperativa e construtiva, relacionando nossa “verdade” com a “verdade” do outro.
Nesse sentido, o equívoco acima mencionado é originado por alguns motivos muito óbvios:
- Nem a Filosofia conseguiu um conceito adequado para o termo verdade;
- Pelas citações anteriormente feitas embasadas no Houaiss (2001), Kock (1996), os quais apontam que argumentar é convencer, persuadir, inclusive Kock (1996) sugere que argumentar seria manipular o outro, considerando a ideologia contida em todo e qualquer discurso, pois, de acordo com essa autora, não há discurso neutro, porque, mesmo que se tente apontar para a objetividade do discurso científico, já se marca aí uma posição ideológica, por isso, não há discurso neutro.
Sendo assim, quando se trata de argumentar, persuadir, convencer, não há como contar com a cooperação voluntária, consciente do outro, pelo menos no primeiro momento dialógico, porque, o outro também está tentando lhe convencer, lhe persuadir de que o ponto de vista dele tem procedência e que seus argumentos são inclusive melhores do que os do enunciador, pois, o outro pode ou não ser persuadido independente de sua cooperação, aliás, no palco da vida, dos discursos, pode não haver cooperação alguma por parte do outro, por isso, Bakhtin (1997) afirma que é a linguagem que estrutura o pensamento, e, este, é afetado, atravessado, perfurado pela ideologia.
Dessa forma, linguagem, pensamento e ideologia se confrontam, complementam-se, inter-relacionam-se gerando enunciados, discursos, sentidos outros no palco da vida, no mundo dos argumentos, dos discursos, das expressões, por isso, argumentar seria, por meio de enunciados, discursos, argumentos, expressões lógicas, persuadir o outro, convencê-lo de que, naquele momento, o que eu digo, afirmo, mostro, ou melhor, meu discurso, minha linguagem são os mais adequados e possíveis, os quais influenciarão o outro a tomar a atitude que eu quero que ele tome e, não a que ele quer tomar.
Enfim, embasados nos autores citados anteriormente e, agora, neste, Citelli (1995), podemos ratificar com toda certeza de que argumentar é persuadir, convencer o outro de que os meus argumentos são muito melhores do que os dele, já que para o autor acima citado, a arte de argumentar não tem relação alguma com a ética, pois, em consonância com a Retórica não importa o que está sendo dito, mas sim, como se diz o que é que se diz e esses dizeres têm obrigatoriamente que serem eficazes, eficientes.
Assim, por meio dos argumentos anteriormente apontados, esperamos ter provado aos nossos leitores que o conceito de argumento concebido por Abreu (2006) está totalmente equivocado.
Isto posto, passemos ao subitem abaixo: breve histórico da Retórica.
4.1 BREVE HISTÓRICO DA RETÓRICA
De acordo com Meyer (1997), a Retórica surge devido a uma situação de ordem social e política, ou seja, porque, na Sicília no século V. a. C, surgem dois tiranos Gelon e Hieron que almejavam povoar Siracusa.
Nesse sentido, enviam pessoas de outras cidades para a cidade assinalada acima, roubando e redistribuindo as terras de maneira escusa.
Em virtude desse fato, foram depostos por uma rebelião popular, e, são abertos processos; compostos por grandes júris populares, cuja finalidade principal era a devolução de forma justa da terra pelos exploradores aos seus antigos donos.
Assim, ainda em conformidade com Meyer (1997), os litígios eram resolvidos no âmbito do discurso.
Nesse aspecto, para persuadir os juízes, quem falasse melhor com mais eloqüência, ganharia a pendenga, por isso, os recursos da eloquência ganharam destaque.
Nesse contexto, segundo Meyer (1997), surge a Retórica no século V a.C. com os seus principais criadores: Empédocles, Córax e Tísias, por isso, a Retórica, a princípio foi ensinada para fins lucrativos, ou melhor, os criadores anteriormente assinalados utilizavam a arte do bem dizer para obter lucros, pois, exigiam dos antigos donos das propriedades dinheiro para defendê-los nos júris populares.
Nesse primeiro momento, ainda de acordo com Meyer (1997), a Retórica conheceria duas vertentes:
1ª – uma apresentação prática e de ordem da razão do que podia ser a verdade, isto é, do verossímil;
2ª – uma noção psicagógica, isto é, evocação mágica da alma ou direcionamento dela.
Assim, a primeira vertente, conforme Meyer (1997) tinha como seus principais defensores Coráx, Tísias e Protágoras, já a segunda, imbuída da magia oriunda das almas embasada em Pitágoras, utilizava como intervenção social, psicológica para recuperar a saúde dos doentes, a magia, a medicina etc.
Dessa forma, a Retórica, na atualidade, tem sido muito procurada por muitos profissionais, especialmente, profissionais do direito, do jornalismo, da educação, da saúde etc, caracterizando desse modo a sua relevância para se expressar adequadamente em algumas circunstâncias sociais que exigem o seu uso, tais como: palestras, debates, cursos de argumentação, comércio, indústrias, escolas, enfim, onde exigir a arte do bem falar, a Retórica estará aí.
Todavia, para a construção desse trabalho, o objetivo principal é mostrar como a arte do bem dizer está indelevelmente presente nas Figuras de Linguagem, utilizadas, nesse contexto, para convencer, persuadir o outro de que os argumentos do enunciador têm lógica, fazem sentido e, ainda podem ser belos e elegantes.
Por isso, abaixo no próximo item, trataremos da força argumentativa das Figuras de Linguagem, para executar essa empreitada, primeiro daremos o conceito de cada Figura e, se ele precisar ser reformulado, reformularemos, no entanto, caso não precise, adotaremos esse conceito mesmo, geralmente encontrado na maioria das gramáticas normativas e nos livros didáticos, depois disso, daremos exemplos demonstrando a força argumentativa das Figuras de Linguagem.
4.2 FORÇA ARGUMENTATIVA DAS FIGURAS DE LINGUAGEM
Antes de tratar das Figuras de Linguagem, é imprescindível, tratar de alguns termos: signo linguístico, sentido denotativo e sentido figurado.
Assim, para Orlandi (1986), o signo linguístico corresponderia a um conjunto de sinais utilizados pelo homem para se comunicar, os sinais de fumaça utilizados, principalmente, pelos antigos indígenas para se comunicarem, convidando outros de suas tribos para festividades, reuniões e, até mesmo para a guerra, assim como as batidas de tambor, dependendo do número das batidas, da tonalidade, se mais altas ou mais baixas ou se mais fracas ou mais fortes, as quais poderiam também servir para os mesmos tipos de comunicação acima assinalados.
Além disso, gestos como o indicador sobre a boca, sinaliza universalmente que o silêncio é imprescindível naquele ambiente, também o uso do polegar estendido em posição vertical, apontando para quem vê, que está tudo bem e ainda os sinais luminosos: verde, amarelo e vermelho que assinalam respectivamente que o primeiro é para seguir em frente, o segundo significa atenção e, o terceiro sinaliza para parar, são esses e tantos outros sinais que o homem utiliza para se comunicar, por isso, esses sinais, de acordo com Orlandi (1996) são considerados signos linguísticos.
Contudo, de acordo com Saussure (1995), o signo linguístico se divide em duas distintas partes; significante e significado.
Nessa perspectiva, o significante seria a “imagem acústica” e o significado a representação mental dessa imagem, ou seja, parece que o próprio Saussure (1995) no Curso de Linguística Geral não precisou adequadamente o que seria essa “imagem acústica”, em virtude desse fato, adotaremos a posição de Hjelmslev (1959), que, mesmo embasado em Saussure (1995), conceitua o signo linguístico da seguinte forma: plano da expressão ao qual corresponde o conceito saussuriano de significante e plano do conteúdo que também corresponde ao conceito de significado fornecido por Saussure (1995).
Após as considerações acima assinaladas, passemos para os conceitos de sentido denotativo e sentido figurado.
Assim, parece que todas as línguas naturais apresentam esses conceitos, porém, não os encontramos de forma adequada mesmo em obras especializadas que tratam, a priori, dos termos acima mencionados, por isso, para que o leitor tome ciência desse fato, citaremos, a seguir, algumas dessas obras:
- Fundamentos da Linguística contemporânea, onde se trata da Linguística, da Fonética, Fonologia, Morfologia, enfim, da Semântica, inclusive dos vários tipos de Semântica: de Saussure a Greimas e Rastier, contudo, não apresenta uma noção adequada de denotação e de conotação, pois, nessa obra nas páginas 92 e 93, há uma menção de sentido denotado e conotado cujo objetivo único seria conceituar metáfora e metonímia.
- Semântica, série princípios, Editora Ática. Também apesar de ser uma obra superinteressante que analisa os princípios relevantes da Semântica: significação das construções gramaticais, operações semânticas sobre construções, significações das palavras e significação e contexto, essa obra também não faz alguma alusão à questão da denotação e da conotação.
- Linguagem e Linguística: uma introdução, obra de fundamental importância para compreender o que seja a linguagem, a língua, as gramáticas de uma língua, a Fonética, a Fonologia, a Semântica etc. Também nessa obra, dividida em dois volumes, não existe noção do que seja sentido figurado e sentido denotativo.
- Introdução à Linguística: domínios e fronteiras, apesar dessa obra ser importante para os estudos da linguagem e das partes de uma gramatica, inclusive, nos seus dois volumes, não há, ao menos, uma citação do que possa ser conotação e denotação.
- Introdução à Semântica: brincando com a gramática, embora seja uma obra bastante interessante no que tange à Semântica tanto para a Educação Básica quanto para o Ensino superior, também essa obra não nos dá alguma noção do que seja conotação e denotação, apesar de tratar do uso figurado da linguagem, apenas para perceber os processos analógicos, relações de semelhanças, por isso, o uso do sentido figurado na obra anteriormente mencionada serve, exclusivamente, para conceituar metáfora e comparação, não esclarecendo de fato o que seriam o sentido denotativo e o figurado.
- Por fim, (apesar de que poderíamos mencionar tantas outras obras relevantes no que tange à questão da linguagem, da língua, da gramática, da Semântica, da Educação Básica, do Ensino Superior, muitas dessas obras, infelizmente, não tratam da denotação e da conotação) citaremos a última obra que também é imprescindível para os estudos linguísticos e gramaticais, trata da questão anteriormente apontada de forma muito superficial, confusa, que é Introdução à Linguística: princípios de análise, volume I e II.
Assim, no volume I, página 141, é apresentado um conceito de denotação que serve somente para expressar noções nominais e referências, ou melhor, representar um sujeito, uma pessoa no mundo, por isso, esse conceito está equivocado, pois, a denotação é muito mais do que isso, de acordo com o que veremos no transcorrer desse trabalho.
Já no volume II, página 125, há duas referências: a primeira é sobre a denotação que serviria para expressar o grau zero da linguagem e o sentido objetivo dessa mesma linguagem e, a segunda no que tange ao sentido figurado, este se prestaria tão somente como “desvio da linguagem”.
Portanto, os dois conceitos acima mencionados não esclarecem de forma adequada a denotação e, muito menos a conotação ou sentido figurado.
Isso posto, tentaremos mostrar um conceito adequado de sentido figurado e de sentido denotativo, (o qual só encontramos, apesar de pesquisar nas obras anteriormente mencionadas e ainda em tantas outras) em Garcia (2000, p. 178), que, apesar disso, confessa:
Por mais variados que sejam, os sentidos das palavras situam-se em dois níveis ou planos: o da denotação e o da conotação, duas antigas denominações [...], que a lógica e a linguística moderna vêm remanipulando e reconceituando em termos nem sempre muito claros e nem sempre coincidentes, o que dá margem – como dizem os autores do Dictionnaire de linguistique [...], no verbete “connotation” – a uma “desordem terminológica”.
Nesse sentido, para Garcia (2000, p. 178), denotação seria:
[...] o elemento estável da significação de uma palavra, elemento não subjetivo (grave-se esta característica) e analisável fora do discurso (= contexto), ao passo que a conotação é constituída pelos elementos subjetivos, que variam segundo o contexto. “Em alguns sistemas semânticos – diz Umberto Eco em A Estrutura ausente (trad. Port., p.22) indica-se como denotação de um símbolo a classe das coisas reais que o emprego do símbolo abarca (‘cão’ denota a classe de todos os cães reais), e como conotação o conjunto de propriedades que devem ser atribuídas ao conceito indicado pelo símbolo (entender-se-ão como conotações de ‘cão’ as propriedades zoológicas mediante as quais a ciência distingue o cão de outros mamíferos de quatro patas). Nesse sentido, a Denotação identifica-se com a extensionalidade, e a conotação com a intencionalidade [...] do conceito.”
Dessa citação, depreende-se que a conotação ou o sentido figurado relaciona-se com a subjetividade, com as emoções, intenções do indivíduo, ou seja, seria uma espécie de sentido que gera SENTIDOS OUTROS, os quais não se relacionariam com o chamado sentido “real”, concreto, visível, tangível da palavra.
Já a denotação, seria o oposto de tudo o que fora dito acima, ou melhor, a denotação estaria intimamente ligada com o chamado sentido “real”, concreto, visível, tangível da palavra, seria, praticamente, o sentido oriundo dos dicionários.
Portanto, após as considerações anteriormente feitas sobre signo linguístico, denotação e conotação, passemos à força argumentativa das figuras de linguagem.
4.2FIGURAS DE LINGUAGEM
De acordo com o que afirmamos na Introdução desse trabalho, na página três, item (e), trataremos agora dos conceitos de Figuras de Linguagem oriundos do livro didático por nós escolhido. Português: literatura, gramática, produção de texto: volume único cuja autoria é atribuída a Sarmento e a Tufano (2004).
Contudo, antes disso, é imprescindível conceituar as Figuras de Linguagem, elas são Figuras que ocorrem no sentido figurado, por isso, também conhecidas nas gramáticas normativas e nos livros didáticos como: Figuras de Pensamento, Figuras de Palavras e, Figuras de Construção ou de Sintaxe, porém, nesse trabalho, adotaremos somente uma nomenclatura: Figuras de Linguagem, por acreditarmos que elas expressam o pensamento, estão contidas e servem para enfatizar, realçar a sintaxe de uma língua e ainda são expressas por meio de palavras.
Além disso, as Figuras de Linguagem, nessa pesquisa, assumem outra perspectiva, pois, além de embelezarem os enunciados, tornando-os mais elegantes, mais singulares, ímpares, assinalando ainda que os SENTIDOS deles SÃO SEMPRE OUTROS e, caracterizarem a Poesia/Arte, encontram-se presentes em quase todos tipos de textos: propagandas, contos, fábulas, crônicas, poesias e, até, atualmente, em textos jornalísticos, científicos, por isso, esse trabalho pretende apresentar uma característica das Figuras de Linguagem que ainda não foi explorada nos livros didáticos e nem nas gramáticas normativas: o aspecto naturalmente, essencialmente argumentativo dessas Figuras.
Assim, chegamos à penúltima parte do nosso trabalho (porque, na última, teceremos as considerações finais acerca dessa pesquisa), que é conceituar, apontar o caráter essencialmente argumentativo das Figuras de Linguagem, mostrando também os conceitos dessas Figuras que acreditamos adequados, oriundos do livro didático escolhido por nós para essa finalidade (mencionado anteriormente nesse artigo), no entanto, os conceitos que pensarmos inadequados, reformularemos.
Nesse sentido, mostraremos, em conformidade com Sarmento e Tufano (2004), as seguintes Figuras: Comparação, Metáfora, Metonímia, Antítese, Personificação ou Prosopopeia, Eufemismo, Hipérbato, Hipérbole e Pleonasmo.
Assim, em consonância com Sarmento e Tufano (2004), Comparação seria uma Figura de Linguagem que estabelece relações de semelhanças entre enunciados, esses enunciados adquirem características de um elemento a outro através de um termo comparativo explícito.
São exemplos de Comparação:
- Fala que nem papagaio.
- O teu olhar é fulminante como um raio.
Dos exemplos citados, pode-se intuir que as Figuras de Linguagem são Figuras de Retórica, procedimentos estes altamente argumentativos, pois, se alguém diz: Ela fala muito ou Ele fala bastante, teremos um sentido “X”, no exemplo a), acima mencionado, percebemos sentidos outros, porque, falar semelhante ao papagaio está além de falar muito ou bastante, inclusive, aí, nesse caso, poderíamos ainda cogitar outra Figura de Linguagem embutida: a Hipérbole, já que, normalmente, sabe-se que as pessoas não falam igual a um papagaio.
Já no exemplo (b), olhar fulminante não é um olhar qualquer, mas, um olhar que pode acabar com a pessoa, inclusive, até matá-la, pois, sabemos que um raio, quando cai sobre alguém pode levar essa pessoa a óbito, por isso, percebemos que além da Comparação e da Hipérbole, há também nesse enunciado uma força ilocucionária ímpar, singular, porque, não é qualquer olhar que é fulminante, mas sim, aquele comparado com um raio, esse olhar sim pode acabar, destruir o indivíduo.
Nesse aspecto, nota-se que o uso das Figuras de Linguagem não constitui apenas “um desvio de linguagem”, de acordo com alguns autores ou servem somente para embelezar, tornar mais elegante, poéticos os enunciados, segundo outros autores.
As Figuras de Linguagem servem, prestam-se e muito para argumentar, persuadir, convencer, por isso, denominamo-las Figuras de Retórica.
Assim, trataremos agora da segunda Figura de Linguagem citada anteriormente: Metáfora, que de acordo com Sarmento e Tufano (2004, p. 360) seria: [...] uma figura de linguagem que emprega uma palavra em sentido figurado, baseando-se em uma comparação subentendida entre dois termos.
Dessa citação, observa-se que o conceito proposto à Metáfora está totalmente equivocado:
- Primeiramente, todas as Figuras de Linguagem empregam as palavras em sentido figurado, porque, se assim não o fosse, não existiriam as Figuras de Linguagem.
- Em segundo lugar, Comparação é comparação e, Metáfora é Metáfora, ou seja, não existe esta história de que a Metáfora é uma comparação subentendida ou implícita entre dois termos.
Devido aos dois motivos acima expostos, pensamos que urge reformular o conceito de Metáfora apontado por Sarmento e Tufano (2004).
Para isso, a priori importaremos da Matemática um conceito, que acreditamos ser indispensável para o ensino-aprendizagem de Metáfora na Educação Básica, esse conceito é o de Intersecção, o qual será mostrado em forma de chaves, apesar de que John Venn, famoso Matemático Inglês, de acordo com Cruz (2014), criou o conceito anteriormente assinalado em forma de diagramas.
Assim, apresentaremos a noção de Intersecção, proposta pelo matemático acima apontado, para melhor precisar o que é a Metáfora, por isso, observemos abaixo alguns exemplos em que a noção de Intersecção será mostrada e, por que ela se relaciona com a Metáfora:
- Cláudio é um leão. Nesse primeiro exemplo, vamos fazer a Intersecção do que chamaremos de características, qualidades, estados ou defeitos do conjunto Cláudio, agora representado pela letra C e das do Leão que será representado pela letra L, (aliás, é imprescindível frisar que os conjuntos são representados, geralmente, pela primeira letra em Maiúscula dos elementos os quais se querem representar), apenas em forma de chaves, já que a representação em forma de diagramas estenderia muito o nosso trabalho, o que não é nosso objetivo principal, pois esse objetivo já foi apontado no transcorrer desse trabalho:
C {bravo, forte, egoísta, caçador, inteligente}
L {bravo, forte, silvestre}
Desse modo, quando faço a Intersecção de C com L (o símbolo da Intersecção é um U invertido ou de cabeça para baixo): C ∩ L, teremos {bravo, forte}.
Assim, é justamente na Intersecção que reside a Metáfora, ou melhor, quando se relaciona características semelhantes entre dois conjuntos, no caso da Metáfora, essa relação se dá por meio da Subtração, isto é, tiram-se os elementos comuns entre os conjuntos relacionados.
Isto posto, a Metáfora seria uma das Figuras de Linguagem que mostra uma relação de semelhança entre as características, estados, qualidades, defeitos entre dois termos, ainda que exista apenas um dos termos em comum nessa relação, haverá Metáfora.
Sendo assim, vejamos mais alguns exemplos:
- Jaqueline é uma rosa, as características, qualidades, defeitos ou estados emocionais de Jaqueline serão representados pela letra J e rosa pela letra R:
J {cheirosa, nervosa, triste, desanimada, fofoqueira}
R {cheirosa, espinhenta, firme}
Desse modo, quando fazemos L∩R, teremos somente um termo em comum {cheirosa}, mesmo assim, ocorre a Metáfora, para verificar esse fato, basta ler o que diremos na página 16 desse trabalho.
Nesse sentido, poderíamos multiplicar os exemplos para mostrar por meio da Intersecção de dois termos a ocorrência de Metáforas, contudo, precisamos assinalar outros conceitos de Figuras de Linguagem, analisando-os, examinando-os e, se for o caso, reformulando-os.
Por isso, nesse momento, examinar-se-á o conceito de Antítese dado pelos autores anteriormente elencados, pois, afirmam que ela se constitui numa oposição ou o sentido contrário de enunciados ou vocábulos.
Dessa forma, são exemplos de Antítese:
- A tristeza e a alegria, muitas vezes, caminham de mãos dadas.
- William viveu amargamente e morreu docemente.
- Quando casaram se amavam, mas, quando se separaram, se odiaram.
Logo, de acordo com os exemplos dados, acreditamos que o conceito de Antítese proposto por Sarmento e Tufano (2004), adéqua-se ao ensino e a aprendizagem de Figuras de Linguagem na Educação Básica, por isso, não vamos aprofundá-lo nem reformulá-lo.
Passemos, nesse momento, a analisar a Metonímia.
A Metonímia, para Sarmento e Tufano (2004, pg. 361) [...] é a substituição de uma palavra por outra com a qual tenha relação de semelhança de sentido [...], dessa citação depreende-se que o conceito de Metonímia empregado pelos autores acima apontados, confunde-se com o conceito de Metáfora, porque, a Metáfora, consoante mostramos anteriormente, é justamente uma relação de semelhança entre dois ou mais termos, por esse motivo, devemos reformular o conceito de Metonímia encontrado no livro didático de Sarmento e Tufano (2004).
Nesse sentido, Metonímia, a nosso ver, seria a substituição de um termo pelo outro, desde que haja entre esses termos uma relação de contiguidade, proximidade.
Portanto, nessa substituição, teríamos vários casos, entre eles;
- Autor pela obra: Gosto de Drummond.
- A ferramenta pela pessoa que a utiliza: Luís é um bom garfo.
- A marca pelo produto: Comprei dois pacotes de Bombril.
- O continente pelo conteúdo: Comi dois pratos etc.
Após analisar a Metonímia, analisaremos as últimas Figuras de Linguagem contidas no livro de Sarmento e Tufano (2004): Eufemismo, Hipérbato, Personificação ou Prosopopeia, Hipérbole, finalmente; Pleonasmo e, caso seja realmente necessário, reformularemos os conceitos dessas Figuras propostas pelos autores acima apontados.
Isto posto, passemos a análise das Figuras de Linguagem citadas no parágrafo anterior, comecemos pelo Eufemismo.
Assim, de acordo com Sarmento e Tufano (2004, p. 361), Eufemismo: é [...] a substituição de uma palavra ou expressão para suavizar ou atenuar intencionalmente o seu significado.
Desse modo, são exemplos de Eufemismo:
- O político faltou com a verdade.
Nesse enunciado, se disséssemos o político é um mentiroso, teríamos uma nova figura, oposta à anterior: Disfemismo.
Contudo, quando se afirma que o político faltou com a verdade, temos efeitos de sentidos outros, a força argumentativa desse enunciado tende a favorecer o político, todavia, se houvesse um Disfemismo: o político é um mentiroso, a força argumentativa tenderia contra o político.
Já o Hipérbato, conforme, os autores anteriormente mencionados (2004, p. 361), é: [...] uma inversão da ordem direta dos termos da oração.
Dessa maneira, são exemplos de Hipérbato:
- Ouviram do Ipiranga as margens plácidas de um povo heróico um brado retumbante [...]
- Foram convocados para a reunião todos os docentes que participavam do colegiado daquela instituição. Assim, no exemplo (a), temos um caso típico de Hipérbato oriundo do Hino Nacional Brasileiro.
Nesse sentido, no caso do Hino, o uso do Hipérbato aponta que a força argumentativa dessa figura provoca efeitos de sentidos bastante interessantes, pois, se o Hino fosse todo escrito na ordem direta, talvez não chamaria tanto a atenção dos brasileiros e, ficaria um texto comum, sem graça.
Todavia, na ordem indireta, ainda que seja só a primeira parte do Hino, além de tornar o Hino algo especial, exclusivo, inédito, as pessoas que o ouvem, escutam-no com mais atenção, e, por se tratar de um texto que exalta a pátria brasileira, os autores criaram-no com o propósito realmente de surpreender, evocar sentimentos de brasilidade, patriotismo, heroísmo nos cidadãos que habitam essa nação.
Já no segundo exemplo, um enunciado comum, apesar disso, assume uma nova roupagem, pois, a presença do Hipérbato açula a atenção e, por isso, para compreendermos melhor esse enunciado, temos de levar em conta a ordem indireta (Hipérbato), já que nessa ordem parece que os sentidos não são assim tão evidentes, quanto na ordem direta, aí reside uma das relevâncias do uso do Hipérbato, além disso, essa figura fornece sentidos outros, mostra que a força argumentativa centra-se justamente na ordem indireta dos enunciados.
Logo, acreditamos que o conceito de Hipérbato dado pelos autores Sarmento e Tufano (2004) é adequado, por isso, não vamos aprofundar esse conceito e nem reformulá-lo.
Isto posto, passemos a analisar agora a Prosopopeia ou Personificação.
Consoante Sarmento e Tufano (2004, p. 361), a Prosopopeia é [...] a atribuição de atitudes e outras características de seres animados a seres inanimados, irracionais e abstratos.
Nesse sentido, vejamos exemplos da figura acima mencionada:
- O vento uivou forte, ontem, à noite.
- A cadeira disse que jamais olharia para as pernas fracas, toscas, cheias de varizes daquela velha mesa.
No exemplo (a), percebemos que é concedido ao vento uma característica de um animal: cachorro ou lobo etc, isto é o que caracteriza a Prosopopeia, a força argumentativa e também os sentidos são muito mais fortes do que se dissesse: o vento fez muito barulho, ontem, à noite, além disso, o enunciado (a) fica bastante elegante e poético, enquanto que o outro enunciado acima citado sobre o vento, fica totalmente sem graça, comum.
Já no exemplo (b), parece que a coisa fica mais interessante ainda, porque, além de se atribuir características de pessoas tanto a mesa, quanto à cadeira, há uma pitadinha de sensualidade nesse enunciado, pois, a cadeira só não olharia para as pernas daquela mesa, indicando implicitamente que se fosse uma mesa mais nova, ela olharia com maior prazer, por isso, percebe-se que tanto a força argumentativa, quanto os sentidos desse enunciado, tornam-no mais interessante, mais poético.
Contudo, no que tange ao conceito de Prosopopeia dado pelos autores analisados nesse trabalho, gostaríamos de afirmar que esse conceito não é adequado, porque, os autores mencionados, dizem que a Prosopopeia atribui características, atitudes de seres animados a seres inaminados.
Assim, gostaríamos de chamar a atenção do leitor para o seguinte fato: preocupado com muitos conceitos gramaticais que utilizam a palavra ser em seu arcabouço teórico para definir alguns termos gramaticais, tais como: sujeito, predicado, adjetivo, substantivo, resolvemos, consultar a Filosofia sobre o que a palavra ser nos remeteria, e, o que encontramos nos causou certa estranheza, nem a Filosofia tem um conceito adequado para a palavra ser, pois, a Filosofia nos remete a Ontologia, que é uma parte da Filosofia que se dedica exclusivamente ao estudo do ser, por isso, o leitor ficará surpreso de como a Ontologia define a palavra ser.
A definição é a que se segue: o ser é o ser enquanto ser, parece brincadeira, porém, não há um conceito claro de ser nem para a Ontologia muito menos para a Filosofia.
Por isso, pensamos ser adequado o seguinte conceito de Prosopopeia: é a figura de linguagem que tem força argumentativa, mostrando que os sentidos sempre são outros e atribuindo características, defeitos, qualidades humanas a objetos e, a animais e plantas.
Já quanto à Hipérbole, penúltima figura apresentada na obra de Sarmento e Tufano (2004, p. 361), é: [...] uma figura de linguagem que ocorre quando se escolhe usar uma palavra ou expressão exagerada, em geral para dar maior ênfase à frase.
Concordamos com os autores acima mencionados sobre o conceito de Hipérbole, esse conceito mostra-se adequado para o ensino e a aprendizagem de Figuras de Linguagem na Educação Básica Brasileira.
Dessa forma, observemos, abaixo, alguns exemplos de Hipérbole:
- Tio Patinhas nadava no dinheiro.
- A mãe chameou o filho para almoçar mais de mil vezes.
Nesse contexto, pelos exemplos anteriormente demonstrados, podemos inferir que a Hipérbole, assim como todas as Figuras de Linguagem, constituem-se em procedimentos altamente argumentativos.
Posto isso, passemos a última Figura de Linguagem, apontada pelos autores anteriormente citados nessa pesquisa: Pleonasmo.
Essa figura de retórica, de acordo com Sarmento e Tufano (2004, p. 362), seria: [...] repetição de um termo ou reforço ou realce de uma idéia (sic). [...]
Sobre esse conceito apontado pelos autores acima citados, não parece adequado, pois, a nosso ver, o Pleonasmo funciona como uma reafirmação do que se disse antes, ou seja, enfatização, fortalecimento substancial do que se disse antes, o que não teria nada a ver com a repetição.
Assim, vejamos, abaixo, alguns exemplos de Pleonasmo:
- Aquele assassinato, eu o vi com os meus próprios olhos.
- O jogador chutou com o pé a bola e foi superfeliz, marcou um supergol.
Após os argumentos anteriormente assinalados sobre as Figuras de Retórica, passemos agora, às considerações finais a cerca desse estudo.
5.CONSIDERAÇÕES FINAIS
Do exposto, parece que para melhorar e incrementar o ensino e a aprendizagem das Figuras de Linguagem na Educação Básica, seria de bom alvitre não mais considerá-las, de acordo com o que os livros didáticos e as gramáticas normativas as consideram, ou seja, é mais interessante mostrar como funcionam essas Figuras, a força argumentativa e o poder de persuasão que delas emanam e ainda a poeticidade contida no uso dessas Figuras, ou melhor, a arte poética expressa nos textos os quais contêm essas Figuras.
Além disso, para não confundir os alunos com tantas nomenclaturas para uma coisa só: Figuras de Pensamento, Figuras de Palavras e ainda Figuras de Construção ou Sintaxe, bastaria apresentar apenas uma nomenclatura: Figuras de Retórica.
Assim, talvez, facilitaria o uso, o gosto dos alunos pelo ensino e aprendizagem dessas Figuras na Educação Básica.
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