20/05/2020

Fofoca

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

 

Apesar dos humanos viverem há 1 milhão de anos, mesmo com seus cérebros grandes e ferramenta de pedras, eles não tinham uma comunicação inteligível. Estas informações são elucidadas por Harari em seu livro Sapiens - Uma Breve História da Humanidade, publicado pela L&PM em 2016. O autor ainda complementa que "o surgimento de novas formas de pensar e se comunicar ocorreram entre 70mil anos e 30 mil anos atrás", ou seja, é pouco o tempo em relação a nossa existência, entretanto, esta forma de se comunicar foi a que deu início, segundo o autor, a Revolução Cognitiva.

Para Harari, a afirmação se faz pertinente, pois todos os animais têm uma forma de se comunicar, ou seja, uma linguagem entre eles, como as abelhas e formigas que usam maneiras sofisticadas que direcionam para a localização de alimentos.

Existe uma teoria sobre a evolução de nossa singular linguagem, já que a mesma foi justamente para partilhar informações do mundo, entretanto, as informações mais importantes não eram sobre bisões ou outros animais para se caçar e tampouco leões e outros predadores.

Para o autor, as partilhas das informações a serem comunicadas foram sobre humanos, ou seja, nossa linguagem evoluiu como forma de fofoca, e Gouveia em seu artigo intitulado Escala de atitude frente à fofoca: evidências de validade e confiabilidade[1], publicado em 2011 complementa ao informar que por estarmos em um ambiente social complexo, necessitamos requerer informações sobre o que está em nossa volta, ou seja, sobre as pessoas.

Para o autor, a fofoca faz parte do nosso dia a dia, e a mesma é utilizada tanto por adultos quanto por crianças e se faz presente em todas culturas explicando alguns comportamentos sociais, tanto que sua transmissão é considerada importante para reforçar algumas amizades.

Muniz em sua dissertação intitulada A Fofoca como Fonte de Sofrimento na Vida Organizacional: Um Estudo com Base na Psicodinâmica do Trabalho, apresentada na FGV, no curso de Mestrado Executivo em Gestão Empresarial[2], esclarece que a fofoca, trata-se de uma comunicação informal entre duas pessoas ou mais, entretanto, com a ausência do principal sujeito, e esta comunicação tem um caráter avaliativo.

Para o autor, a fofoca serve também para criar laços, influenciar pessoas e/ou grupos, mas temos que perceber que as vezes a intenção do informante é disseminar discórdia e até mesmo difamar as pessoas, e quanto a isso, podemos denominar de maledicências.

Muniz relata que por este motivo uma fofoca pode ser positiva ou negativa, sendo que a primeira visa promover sentimentos de generosidades bem como melhorar a reputação da vítima, e em contrapartida, a fofoca negativa ataca a sua reputação.

Dito isso, o autor correlaciona a fofoca com uma curiosidade pessoal ou desejabilidade social.

Apesar da fofoca ser comum, muitos fazem uso dela para maldizer  e/ou difamar alguém, e é comum em toda sociedade e instituições, inclusive de educação, o que cabe a nós educadores atribuirmos uma valia ou não a mesma.

Quanto seria bom se tivéssemos discernimento e moralidade para fazermos uso dos crivos socráticos que é verdade, bondade e utilidade, antes de disseminarmos uma informação sobre alguém. Infelizmente, basta uma pessoa dizer algo sobre um desafeto nosso, que sequer procuraremos saber da fundamentação, então nos disporemos como divulgadores desta maledicência sem nos colocarmos no lugar da vítima.

            Atitudes assim nos faz abrir mão da empatia e principalmente da humanidade. A fofoca usada como maledicência é como uma folha lisa, depois de amassada, é difícil voltar a mesma forma.

Pessoas maledicentes não se preocupam com o que pode acontecer com o que foi mal dito e/ou interpretado.

Assim sendo, que nós educadores consigamos ser exemplos, e se um dia tivermos que passar informações sobre alguém sem a presença do mesmo, que seja para exaltar seus valores e não para julgar. E que ensinemos a nossos educandos a serem críticos e não acreditarem em tudo que lerem e ouvirem, pois também as Fake News é uma forma de fofoca totalmente maledicente.

Lembre-se, quem fala mal dos outros para você, fala mal de você para os outro

 

[1] GOUVEIA, Valdiney V. et al . Escala de atitude frente à fofoca: evidências de validade e confiabildade. Psicol. cienc. prof.,  Brasília ,  v. 31, n. 3, p. 616-627,    2011 .   Disponible en <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932011000300013&lng=es&nrm=iso>. accedido en  19  mayo  2020.  https://doi.org/10.1590/S1414-98932011000300013

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