24/09/2024

Falsos Entendedores de TEA

Por Wolmer Ricardo Tavares – Mestre em Educação e Sociedade, Escritor, Palestrante e Docente – www.wolmer.pro.br

Currículo Lattes http://lattes.cnpq.br/9745921265767806

Emitir um laudo e/ou diagnóstico tardio ou não de TEA é de muita responsabilidade do profissional cuja especialidade está em lidar com observações e testes clínicos, não existindo exames laboratoriais ou de imagem que comprovem o parecer dos especialistas, por isso faz-se necessário ser especialista na área.

Um especialista é um profissional que se preparou e deu o que tinha de mais sagrado, o seu tempo para poder aprender e aplicar a aprendizagem em seu trabalho amparado sempre pela ética profissional resguardando assim seu nome e índole.

Um diagnóstico foge a qualquer achismo, pelo contrário, exige baterias de exames, observações, feeling, enfim, tudo uma expertise por parte do profissional.

O fato é que quando os profissionais emitem diagnósticos estes são embasados em técnicas aprovadas pelo SATEPSI que foi desenvolvido “pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP) com o objetivo de avaliar a qualidade técnico-científica de instrumentos psicológicos para uso profissional, a partir da verificação objetiva de um conjunto de requisitos técnicos e divulgar informações sobre os testes psicológicos à comunidade e às(aos) psicólogas(os)”[1], além de outras técnicas complementares como escalas e tarefas de avaliação neuropsicológica, levando em consideração inteligência (WISC-IV – Escala de Avaliação de Inteligência de crianças e adolescentes), memória (RAVLT – memória espódica que é considerado um de memória declarativa que faz com que lembremos de eventos e experiências vivenciadas contextualizadas no tempo e no espaço, Figura de Rey – Recordação imediata; Dígitos ordem inversa – memória operacional), velocidade de processamento (Teste de cinco dígitos – FDT: partes de leitura e contagem), funções executivas (FDT – Five Digit Test – partes escolha e alternância, Semelhaças – Wisc-IV), linguagem (Vocabulário do Wisc-IV, Linguagem compreensiva e expressiva – análise qualitativa), atenção (TAVIS-4, Teste d2-R), visuoconstrução (Figura de Rey – Cópia, Cubos WISC-IV), personalidade (BFP – Bateria Fatorial de Personalidade – análise qualitativa), escala de avaliação de comportamento (SRS-2 – heterorrelato).

Interessante pontuar que nem todos os pacientes passam por estes exames, dependerá claro, da idade e também da capacidade cognitiva dos mesmos.

Assim sendo, é obvio que o profissional não se limita apenas as técnicas supracitadas, pois eles fazem uso também de entrevistas de anamnese com pais e pessoas mais próximas do paciente para que o laudo seja assertivo sem qualquer margem para dúvidas.

O interessante que os especialistas não param por aí já que o amadorismo nunca poderá prevalecer em situações em que um paciente busca um melhor entendimento sobre sua atual situação, assim sendo, outros complementos são abordados como tarefas clínicas (não padronizadas) e ecológicas (que simulam demandas cognitivas do dia-a-dia, principalmente relacionadas as demandas comportamentais e motivacionais), para a observação do processamento atencional (atenções concentrada, alternada, focalizada), mnemônico (operacional, episódico), linguístico-comunicativo (oral), emocional (humor, autoestima e percepção da autoimagem cognitivas, atenção a regras, postergação de ganhos, tolerância a frustração, desejabilidade social e acadêmica).

Cabe aqui ressaltar que a desejabilidade social faz o entrevistado dar respostas que são mais aceitáveis socialmente e não expressar suas opiniões ou comportamentos verdadeiros.

Vale lembrar que que muitas ações destes pacientes são baseadas em masking que vem do inglês mascaramento social[2].

Em suma, um diagnóstico tardio ou não tem que ser emitido por um profissional especialista em TEA levando em consideração as informações acima bem como avaliação completa do comportamento e desenvolvimento da pessoa; entrevistas e questionários auxiliados por ferramentas como o ADOS (Autism Diagnostic Observation Schedule) e o CARS (Childhood Autism Rating Scale), além de entrevistas com familiares; histórico de desenvolvimento da pessoa e isso incluirão milestones, comportamento social e comunicação; observação direta da pessoa em diferentes ambientes entendendo melhor o seu comportamento e por fim, o profissional deve excluir outras condições, ou seja, é necessário descartar outros transtornos que possam apresentar sintomas semelhantes.

Assim sendo, quando um profissional como fonoaudiólogo ou outro qualquer que não seja especialista em TEA emite um parecer baseado em achismos e comparações com outros autistas e também explicitam questionamentos de especialistas, isso pontua apenas a sua falta de ética já que esta pessoa não se limita as suas atividades e denigre o trabalho dos outros, fazendo com que se sinta valorizado profissionalmente, mero engano.

Como dizia Freud, quanto mais fraco, inculto, solitário e desesperado for o sujeito, maior será o desejo de integrar movimentos autoritários que prometem redimi-lo de sua insignificância pequenez e frustrações cotidianas.

Dito isso, para um profissional ser bom, não precisa colocar em dúvida o trabalho de outro profissional que não faz parte de sua seara, ou seja, se as pessoas se limitassem as suas especializações, teríamos uma sociedade mais profissional, humanista e ética.

 

[1] https://satepsi.cfp.org.br/

[2] http://gestaouniversitaria.com.br/artigos/educacao-publica-entendendo-o-masking-no-autismo

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